FEBEANET
Amazônia (ainda) não
é área internacional - I
Apesar
dos biólogos e químicos travestidos de missionários
indígenas; apesar dos estranhos interesses
envolvidos no Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam); apesar
do contrabando de amostras da diversidade biológica amazônica
que gera patentes de produtos no exterior sem que isso reverta para o Brasil;
apesar
da curiosa forma como são demarcadas as reservas indígenas,
coladas às fronteiras tanto pelo lado brasileiro como nos países
vizinhos (mesmo que para isso seja preciso deslocar os índios para
mais perto das fronteiras); apesar da contaminação
dos rios amazônicos (e mortandade de peixes) pelo agente laranja
(desfolhante usado pelos EUA nas plantações colombianas de
onde é extraída a matéria-prima para entorpecentes);
apesar
de forças militares estrangeiras serem treinadas na Amazônia
pelo próprio Exército Brasileiro... para quê? (programa
Fantástico,
Rede Globo de Televisão, 10/6/2001); apesar
da notória cobiça internacional pela área, disfarçada
em interesse de preservação ecológica por parte de
governos que não têm o mesmo interesse em outras regiões...
...a Amazônia continua pertencendo
aos países onde se situa, notadamente o Brasil. É falsa a
história que, por mais de uma vez, já circulou pela Internet,
de que nas escolas norte-americanas haveria um livro de Geografia em que
o mapa apresentaria a Amazônia como território sob controle
internacional, não mais percencendo ao Brasil e países vizinhos.
O boato corre as listas de mensagens há alguns anos, já foi
levado a sério por publicações importantes, mas está
definitivamente desmentido.
A mais recente seqüência
de mensagens começou a circular em 11/2001, desta vez mais completa,
incluindo a suposta página do livro escolar com tal informação:
Acompanhando a imagem da suposta página
de livro, havia esta mensagem:
Que absurdo!
Todos nós
já ouvimos falar que os americanos querem transformar a Amazônia
num parque mundial com tutela da ONU, e que os livros escolares americanos
já citam a Amazônia como floresta mundial...
Pois chegou
a nossas mãos o livro didático "Introduction to geography"
do autor David Norman, livro amplamente difundido nas escolas públicas
americanas para a Junior High School (correspondente à nossa sexta
série do 1ºgrau).
Olhem o
anexo e comprovem o que consta à página 76 deste livro e
vejam que os americanos já consideram a Amazônia uma área
que não é território brasileiro, uma área que
rouba território de oito países da América do Sul
e ainda por cima com um texto de caráter essencialmente preconceituoso...
Vamos divulgar
isso para o maior número de pessoas possível a fim de podermos
fazer alguma coisa ante a esse absurdo..."
<<international[1].jpg>> |
A imagem também foi repassada
a muitas pessoas com o seguinte texto, assinado por Celso Santos (funcionário
de uma importante editora de revistas na capital paulista), que acreditou
na veracidade da informação e inclusive colocou seus números
de telefone para contato:
Subject:
INDIGNACAO
Para ficar
indignado!
No dia 24/5
o jornal "Estadao" publicou sem destaque nenhum, e em tres minusculas linhas,
a denuncia gravissima de uma brasileira residente nos EUA.
Os livros
de geografia de la, estao mostrando o mapa do Brasil amputado,sem o Amazonas
e o Pantanal.
Eles estao
ensinando nas escolas, que estas areas sao internacionais....ou seja, em
outras palavras, eles estao preparando a opiniao publica deles,para dentro
de alguns anos se apoderarem de nosso territorio com legitimidade.
Nos somos
brasileiros e, no minimo, temos de nos indignar com esta afronta. Vamos
passar este e-mail para o maior numero de pessoas que conhecermos, e para
que eles saibam que, embora eles nao noticiem o fato, nos, povo, estamos
sabendo.
Celso Santos |
A tradução aproximada
da página do livro seria:
Introdução
à Geografia
América do Sul
Na seção
norte da América do Sul, formando uma área de mais de 3.000
milhas quadradas.
3.5.5. -
A antiga reserva internacional da Floresta Amazônica
Desde meados
de 1980 a mais importante floresta do mundo passou à responsabilidade
dos Estados Unidos e Nações Unidas. É chamada de FINRAF
(Reserva Internacional da Floresta Amazônica) e sua fundação
deu-se ao fato de a Amazônia estar localizada na América do
Sul, uma das mais pobres regiões do planeta e cercada por países
irresponsáveis, cruéis e autoritários. Ela era parte
de oito países diferentes e estranhos, que são em sua maioria,
reinos de violência, comércio de droga, ilegalidade e povos
primitivos.
A criação
da FINRAF foi apoiada por todas as nações do G-23 e foi realmente
uma missão especial de nosso país e um presente para todo
o mundo, desde a posse dessas valorosas terras de modo que países
primitivos e povos possam condenar o pulmão do mundo ao desaparecimento
e destruição total em alguns anos.
Nós
podemos considerar que essa área tem a mais (biodiversidade ???)
no planeta, com um vasto número de todos os tipos de animais e vegetais.
O valor dessa área é impossível de se calcular, mas
o planeta pode estar certo de que os Estados Unidos não permitirão
a esses países latino Americanos explorar e destruir esta real propriedade
de toda a humanidade.
FINRAF é
como um parque internacional, com severas regras de exploração. |
A tradução foi repassada
à lista Idioma
pelo internauta Paulo Henrique de Oliveira, da capital paulista. Sua amiga,
ao fazer a tradução, incluiu alguns comentários:
Procurei ser
até condescendente na tradução, buscando entender
o sentido do trecho. Não corresponde a uma linguagem didática,
nem aqui e tão pouco nos Estados Unidos. Vários erros de
concordância e aplicação de palavras inadequadas, dando
até um sentido dúbio.
Tendenciosa
esta matéria. Se fosse parte de literatura escolar, certamente seria
precisa nas colocações. A linguagem me lembra muito cartilhas
dos Sem-Terra. Algum ultra-conservador estrangeiro que vive nos Estados
Unidos, que não aprendeu a escrever corretamente o Inglês
ou algum patrício brincalhão, ou ainda algum babaca que não
tem o que fazer.
Você
acha que o próprio Governo dos Estados Unidos iria permitir em livros
didáticos esse histórico: “países irresponsáveis,
cruéis e autoritários”?
De qualquer
maneira, vou mandar para meu cunhado que é jornalista em Washington
e editor da revista US & Latin América. Vou pedir a opinião
dele também. |
Circulação nacional
- Essa mensagem influenciou, entre outros, o internauta Carlos Tebecherani
Haddad, que acreditou na informação e a repassou (com a imagem
do suposto livro) a todos os deputados e senadores em Brasília,
a diversas importantes listas de debates e contatos na imprensa (inclusive
Novo
Milênio), gerando por sua vez uma série de outros repasses:
Assunto: A
AMAZÔNIA FOI INTERNACIONALIZADA (notícia SÉRIA!!! )
Data: Tue, 20 Nov 2001 12:45:22 -0200
De: "Carlos Tebecherani Haddad" <(...)>
Para: (...)
CC: (...)
Senhores parlamentares,
Amigos das listas de discussão,
Amigos particulares,
Houve quem duvidasse de que nos Estados Unidos havia mapas do
Brasil sem
a Amazônia.
Pois vejam este livro, no anexo, onde a Amazônia é dita como
da responsabilidade dos Estados Unidos e das Nações Unidas,
pois ela está localizada na "...América do Sul, uma
das regiões mais pobres do mundo", é
parte de "...
oito países diferentes e "estranhos"... irresponsáveis,
cruéis e autoritários...", povos cruéis, tráfico
de drogas, e o "...povo é inculto, ignorante"...", podendo
"...causar a morte do mundo todo dentro de poucos anos..."
É só conferir na página 76 do livro DIDÁTICO
norte-americano "Introdução à Geografia", do autor
David Norman, utilizado na Junior High School (equivalente à 6ª
série do 1º grau brasileira) anexo a esta.
Isso explica a "Operação Colômbia", as tropas americanas
(80 mil homens! ...) no Suriname, a apropriação da base aérea
(da FAB) de lançamentos de Alcântara, a intenção
dos Estados Unidos de colocar um escritório da CIA na tríplice
fronteira (Foz do Iguaçu), e a implementação de DUAS
bases militares na Argentina, uma na Patagônia e outra próxima
a Buenos Aires.
Ou seja, a Amazônia está CERCADA, sitiada por forças
americanas, que garantirão a posse da região a qualquer hora
dessas.
Essa notícia eu havia escutado há mais ou menos 8 anos atrás,
em uma palestra na Maçonaria, proferida pelo professor J.W.
Bautista Vidal,
da Universidade
de Brasília e Universidade Federal da Bahia.
Como já foi mostrado (ou justificado?) que a "guerra" contra Osama
Bin Laden (de quem não se tem a MÍNIMA prova de que tenha
realizado os ataques de 11 de setembro) e o Talibã é muito
mais uma questão de passar um oleoduto pelo Afeganistão (para
tirar o petróleo russo do Mar Cáspio), que o Talibã
não concordava, é de uma clareza solar os motivos dos Estados
Unidos na sua pretensão de "pacificar" a América do Sul,
e de "combater" o narcotráfico na Colômbia, enviando para
lá imenso arsenal e 100 MIL homens!
Vamos ficar de braços cruzados e boca calada?
Ou vamos reagir?
Dos parlamentares, esperamos AÇÃO IMEDIATA.
Dos cidadãos, que REPASSEM esta notícia a todos os seus conhecidos!
Dos jornalistas, que DIVULGUEM este absurdo, para que a Nação
se levante contra essa violência inominável!
Fiquem em Paz.
Carlos Tebecherani Haddad
<<pic23805.jpg>> |
Falso inglês
-
Uma das melhores pistas para desmontar a farsa foi apresentada em 20/11/2001,
em duas mensagens na lista de debates Idioma,
pela tradutora profissional de inglês para português Jussara
Simões, de São Paulo:
Não
vou comentar o texto todo por falta de tempo, mas o último parágrafo
(aquele que fica no canto inferior direito da página) contém
erros que só seriam cometidos por pessoas que não têm
convívio com a língua inglesa, isto é, por estrangeiros
ao idioma inglês. Na minha opinião, isso pode indicar falsificação
do texto.
O texto
apresenta indícios de que foi escrito por algum nativo de língua
latina. Contém a palavra "explorate", que é palavra em desuso
nos EUA e a palavra com mais probabilidade de aparecer num texto desses
seria "explore".
O trecho
"We can consider that this area has the most biodiversity in the planet"
parece tradução literal do português ou do espanhol
e "has the most biodiversity in the planet" não tem sentido em inglês.
"The value
of this area is unable to calculate" é "o valor dessa área
é incapaz de calcular". Desde quando valor tem capacidade de fazer
contas? Se o autor quisesse dizer que "o valor dessa área é
incalculável", deveria dizer que "the value of this area is incalculable"
-- isso em tradução literal, pois existem diversas maneiras
de se dizer isso em inglês.
O verbo
"to calculate" exige sujeito pensante, e "value" não pode ser sujeito
de "calculate", além de vários outros detalhes com relação
ao uso de "unable" etc. É uma frase impossível em inglês.
"the planet can be cert" também não faz sentido. "won't let
there Latin American countries", idem. Em resumo, o parágrafo inteiro
é inglês macarrônico. |
Até
o momento, já recebi umas 8 respostas, cada uma mais engraçada
que a
outra.
Uma delas diz que aquele texto mais parece manual de videocassette
chinês!
Esses meus
mais de 20 anos traduzindo do inglês para o português pelo
menos me deixaram com o faro apurado para o inglês autêntico
e para o forjado por quem não sabe. Assim como a gente ri quando
um alemão diz "o salsicha', os ianques estão rolando de rir
do inglês daquele texto falsificado. (Em tempo: só repassei
para eles o último parágrafo, pois eu não estava interessada
em fazer com que meu país virasse alvo de piadas. O parágrafo
que enviei não deixa transparecer do que se trata exatamente.) |
Outra análise
da mensagem transcreve o original inglês {as chaves acrescentadas
se referem a comentários incluídos no final}:
An Introduction
to Geography / SOUTH AMERICA
... in the northern section of South America, forming a land of more than
3.000 {1} square miles.
3.5-5 - THE FORMER INT'L RESERVE OF AMAZON FOREST
Since the middle
80's the most important rain forest of the world was passed to the reponsability
{2} of the United States and the United Nations. It is named as {3}
FINRAF (Former International Reserve of Amazon Forest) and its foundation
was due to the fact {4} the Amazon is located in South America,
one of the poorest regions on earth {5} and surrounded by irresponsable
{6},
cruel and authoritary countries. It was part of eight different and strange
countries, which are in the majority of cases, kingdoms of violence, drug
trade, illiteracy and a {7} unintelligent and primitive people.
The creation
of FINRAF were {8} supported by all nations of G-23 and was really
a special mission of our country and a gift of all the world, since the
possession of these valuable lands to such primitive countries and people
could comdemn the lungs of the world to disappearance and full destroying
in few years.
We can consider
that this area has the most biodiversity {9} in the planet, with
a vast number of species of all types of animals and vegetals {10}.
The value of this area is unable to calcule {11}, but the planet
can be cert {12} that The United States won't let these Latin American
countries explorate {13} and destroy this real ownership {14}
of all humanity {15}.
FINRAF is like
an international park, with very severe rules of exploration.
LEGENDA DO
MAPA:
map 2.5-5.1
{16}
- We can see the location of the International Reserve. It took area of
eight South America's {17} countries: Brazil, Bolivia, Peru, Colombia,
Venezuela, Guyana, Suriname and F. Guyana. Some of the poorest and miserable
countries of the world.
Foi obviamente
obra de um brasileiro tentando escrever em inglês:
1.
"3.000 square miles" - Usou ponto para separar milhar
2.
"passed to the responsability" -- Não se usa o termo e o certo é
"responsibility" com "i".
3.
"is named as FINRAF" -- Não se usa o "as".
4.
"due to the fact the Amazon" -- Seria "the fact that the Amazon".
5.
"earth" -- Usa-se com maiúscula: Earth.
6.
"irresponsable" - O certo é irresponsible, com "i".
7.
"a unintelligent" -- O certo é "an".
8.
"the creation of FINRAF were" - O certo é "was".
9.
"has the most biodiversity" - Errado.
10. "vegetals"
-- Pouco usado.
11. "unable
to calcule" -- Construção errada, seria "impossible to calculate".
12. "be
cert" -- Tradução grosseira. Certo seria "be sure", "be certain".
13. "explorate"
-- Verbo errado, seria "explore".
14. "ownership"
-- Termo mal empregado.
15. "humanity"
-- Pouco usado, prefere-se "mankind".
16. "map
2.5-5.1" -- A seção é 3.5-5
17. "eight
South America's countries" -- Seria "South American countries".
Pesquisando
via Google, conclui-se também
que:
A. O único
David Norman escritor famoso é especialista em dinossauros. Os outros
são apenas homônimos e nenhum escreveu nada sobre geografia
para crianças:
http://www.powells.com/search/DTSearch/search?author=David%20Norman
http://www.google.com/search?hl=pt&newwindow=1&q=%22david
+norman%22+%22Sedgwick+Museum%22&lr=
http://shopping.yahoo.com/shop?d=a&id=2003990&clink=
dmbk-tr/titlelist/2065006580&cf=author
http://www.amazon.co.uk/exec/obidos/ASIN/0713656905/
qid=1005941060/sr=1-7/ref=sr_sp_re/202-1087825-8995842
http://www.amazon.co.uk/exec/obidos/Author=Norman%2C%
20David/202-1087825-8995842
http://www.netstoreusa.com/phbooks/082/0822319624.shtml
http://www.nd.edu/~remarx/Marxism2000/schedule.html
http://devel.diplom.org/DipPouch/Zine/W1999A/Clarke/Deposits.html
http://devel.diplom.org/DipPouch/Postal/Zines/TAP/abyss249.html
http://www.du.se/bibliotek/nyfhdf/hdfjuni00.html
B. G-23
e FINRAF são meras invencionices.
Saudações,
- c.a.t.
Em vez de divulgar
a mensagem, verifique este link:
http://groups.yahoo.com/group/parabtec/files/novo-hoax-amazonia.htm |
Um internauta estadunidense (que
vem estudando o idioma português na forma utilizada em Portugal)
fez os seguintes comentários (usando a forma ortográfica
do português de Portugal), em mensagem enviada através de
uma participante da lista de debates Idioma:
Procurei o
livro em amazon.com (irónicamente!)
mas não o encontrei lá nem noutro sítio no Web tampouco.
A história é uma peça. Observa por exemplo o trecho
seguinte do texto:
Since the middle 80s the most important rain forest of the world
was passed to the responsability [_sic_] of the United States and
the United Nations. It is named as [_sic_] FINRAF ..., and its
foundation was due to the fact the [_sic_] Amazon is located in
South America, one of the poorest regions on earth and surrounded
by irresponsable [_sic_], cruel and authoritary [_sic_] countries.
It was part of eight different and strange countries, which are in
the majority of cases, [_sic_] kingdoms of violence, drug trade,
illiteracy and a [_sic_] unintelligent and primitive people.
(Tradução:
«Desde o meio [?] dos anos 80 a floresta tropical a mais importante
do mundo passou na responsabilidade dos Estados Unidos e as Nações
Unidas. Se nome como FINRAF ..., e a sua fundação é
devida ao fato de que a Amazônia fica em América do Sul, uma
das regiões as mais pobres da Terra e é rodeada de países
irresponsáveis, crueles et autoritários. Foi parte de oito
países diferentes e extranhos, do que a maioria são reinos
de violência, comércio de drogas, analfabetismo e um povo
pouco inteligente e primitivo.»)
Os «
[_sic_] » no parágrafo em cima indiquem erros de gramática,
pontuação e ortografia de quais muitos não são
típicos de pessoas de língua materna inglês. Aparentemente
o texto foi falsificado.
Espero que
a qualidade do português basta pela compreensão dos teus correspondentes
brasileiros. |
Sobre a suposição
de que um livro didático não poderia ser encontrado na Internet
por ser enviado diretamente às escolas, o internauta estadunidense
Murray Gross informou à tradutora Jussara Simões que "as
livrarias e as lojas da Internet não têm estoque da maioria
dos livros didáticos porque eles não vendem. Qualquer livraria
encomenda livros didáticos, ou você também pode comprá-los
diretamente na editora. A única dificuldade talvez seja no caso
de livro modificado especialmente para determinado distrito escolar, pois
nesse caso os únicos exemplares impressos são entregues diretamente
à escola. Contudo, essas versões modificadas quase sempre
se baseiam nos textos dos livros normais, que são bem fáceis
de se adquirir".
Novo Milênio
também pesquisou o assunto, descobrindo que o livro não existe
na Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos (Library
of Congress), que normalmente recebe ao menos um exemplar de cada livro
editado naquele país. O suposto autor também não foi
encontrado (apenas homônimos), e a chave de busca Finraf remete a
uma empresa italiana do setor financeiro, sem qualquer relação
com o caso. Também não há nada relacionado sob a chave
de busca [G-23].
Outros desmentidos
- Desde a onda anterior desse boato, em 8/2001, os internautas se mobilizavam
para apurar a história. O jornalista Paulo
Rebêlo, por exemplo, informou em 23/8/2001 à lista de
debates Widebiz "que as escolas
americanas não possuem a matéria Geografia no currículo."
Outro internauta, Gevilacio A. C. de Moura, em Recife/PE, colocou esclarecimentos
sobre esse trote em sua página Web sobre essas Lendas
Urbanas.
Na lista de
debates RPraxis, dentro
do tema "Os EUA amputaram o mapa do Brasil", o internauta Evandro Oliveira,
de Belo Horizonte/MG, informou em 23/11/2001: "Alguns amigos que estão
nos EUA pesquisaram e confirmaram que o tal livro não existe...
A figura mostra uma montagem mal feita de uma publicação
(jornal) do oeste norte-americano (Califórnia) que fez uma simulação
e colocou textos COMPLETAMENTE diferentes naquele mapa. O mapa foi desenhado
pelo jornal EXATAMENTE daquela forma, com contexto COMPLETAMENTE diferente.
Eles estão enviando para mim uma edição do jornal."
53.654
Assinantes
Edição número
286 - Ano IV - 24 de Novembro de 2001
http://www.relatorioalfa.com.br
- Enviado somente para assinantes
R E L A
T Ó R I O
A L F A
Descubra
o que não querem que você saiba.
©1998-2001
- Diretor Responsável: Aldo
Novak |
Destaque:
Mapa da Amazônia
como
sendo "área
internacional",
separada
do Brasil, é falso
Um trote velho
se espalha pela rede novamente,
trazendo um
mapa anexado que indica que nos
livros americanos
os alunos aprenderiam que
a Amazônia
está separada do Brasil. Em
péssimo
inglês, com colagens primárias em
Photoshop, tudo
é falso. Notícia, mapa e conceito.
Por
Aldo
Novak
(www.relatorioalfa.com.br)
O Relatório Alfa tem recebido centenas de e-mails com a mesma
afirmação: "um suposto livro usado nos Estados Unidos estaria
trazendo a imagem da Amazônia como área internacional". No
início de outubro começaram a chegar as primeiras mensagens
para a redação, vindos de leitores bem intencionados. Não
fizemos nenhuma matéria porque este é um assunto que morreu
-- ou deveria -- há mais de um ano, quando foi esclarecido. Até
o Itamaraty teve que se pronunciar sobre o caso, ano passado. Entretanto
chegou a um ponto inaceitável novamente. No momento em que escrevemos
essa edição, já são mais de 40 mensagens por
dia -- entre assustadas e indignadas -- muitas anexando a cópia
do suposto livro. O e-mail apresenta um título dramático:
Subject: Que
absurdo! Para ficar indignado!
Em seguida ele
cita uma informação real (do jornal Estado de S. Paulo):
No dia 24/5/01
o jornal "Estadão" publicou sem destaque nenhum, e em três
minúsculas linhas, a denúncia gravíssima de uma brasileira
residente nos EUA.
Os livros
de geografia de lá, estão mostrando o mapa do Brasil amputado,sem
o Amazonas e o Pantanal. Eles estão ensinando nas escolas, que estas
áreas são internacionais....ou seja, em outras palavras,
eles estão preparando a opinião pública deles,para
dentro de alguns anos se apoderarem de nosso território com legitimidade.
Logo depois o
e-mail apela para o patriotismo dos leitores e pede que a mensagem seja
retransmitida para o maior número possível de pessoas:
Nós
somos brasileiros e, no mínimo, temos de nos indignar com esta afronta.Vamos
passar este e-mail para o maior número de pessoas que conhecermos,
e para que eles saibam que, embora eles não noticiem o fato, nós,
POVO BRASILEIRO, estamos sabendo.
Essa é
para as pessoas que acham, ainda, que os norte-americanos são santos,
e que tudo que se fala deles é maledicência. Todos nós
já ouvimos falar que os americanos querem transformar a Amazônia
num parque mundial com tutela da ONU e que os livros escolares americanos
já citam a amazônia como floresta mundial... Pois chegou a
nossas mãos o livro didático "Introduction to geography"
do autor David Norman, livro amplamente difundido nas escolas públicas
americanas para a Junior High School (correspondente à nossa sexta
série do 1ºgrau).
Curiosamente,
este livro "amplamente difundido" nas escolas americanas não existe
para compra em lugar algum, e o autor -- até onde sabemos -- também
não existe. Em seguida o e-mail termina com a suposta "prova", uma
página escaneada do livro.
Olhem o anexo
e comprovem o que consta a página 76 deste livro e vejam que os
americanos já consideram a Amazônia uma área que não
é território brasileiro, uma área que rouba território
de oito países da América do Sul e ainda por cima com um
texto de caráter essencialmente preconceituoso...
(a
foto está aqui).
COMO SURGIU
A história, entretanto, é
velha e bem conhecida. A brincadeira, de péssimo gosto, foi feita
por um grupo de brasileiros (sim, foram brasileiros, não americanos).
Eles criaram um site extremista e inventaram a notícia de que os
livros escolares americanos não traziam a área da Região
Amazônica como parte do Brasil. No lugar aparecia uma região
de controle internacional. Feito por um grupo anônimo, o site promoveu
a falsa informação e usou o nome de uma professora do Texas,
como se a mensagem partisse dela. Trata-se de Michelle Zwede, do Brazil
Center da Universidade do Texas, em Austin. Na verdade ela entrou em contato
com os autores do site pedindo provas e acabou tendo o nome dela usado
ilegalmente no trote.
Em maio do ano 2000 a isca foi mordida
pelo Jornal da Ciência da SBPC (a sisuda e politizada Sociedade Brasileira
para o Progresso da Ciência). O Jornal da Ciência é
um interessante clipping de notícias enviadas aos assinantes. A
jornalista que recebeu a notícia, entretanto, não verificou
a credibilidade da fonte e o JC-Email distribuiu a falsa notícia
para milhares de pessoas, muitos dos quais formadores de opinião.
Ela acreditou que a mensagem partira mesmo de Michelle Zwede.
Acreditando que a SBPC teria feito
a pesquisa da fonte, o jornal O Estado de S. Paulo publicou uma nota, na
coluna Persona, assinada por César Giobbi, reproduzindo com indignação
o texto do newsletter da SBPC no dia 23 de maio de 2000 -- que trazia novamente
a assinatura (falsa) de Michelle Zwede. Foi a gota d'água. O jornal
tirou o texto do ar.
Imediatamente todos começaram
a perguntar "qual é a fonte"? Foi então que a SBPC resolveu
investigar o caso e descobriu que tudo não passava de um "hoax",
uma notícia falsa plantada para incautos, e teve que vir a público
pedir desculpas -- junto com o Estadão, que produziu uma matéria
sobre isso em 12
de junho do ano 2000. Mas já no dia 11 do mesmo mês, a
alta cúpula das Forças Armadas era citada como preocupada
com o "fato", no artigo Forças
Armadas Preocupadas com a Internacionalização da Amazôna.
O site que divulgara a notícia
falsa era recheado de informações falsas, como a dos mapas.
Para ver o mapa, visite:
http://www.relatorioalfa.com.br/arquivos/20011124_docs_mapa_amazonia
Depois de tudo ter ficado esclarecido
uma nova onda de e-mails varreu a rede em outubro do ano passado e nosso
parceiro InfoGuerra produziu uma
completa
matéria a respeito. Em outubro deste ano começou novamente,
indicando que os responsáveis pelo trote estão escondidos
mas bem ativos, lançando as informações falsas de
tempos em tempos.
SERIA ISSO
POSSÍVEL?
É importante lembrar que mesmo
que um autor de livros didáticos maluco incluísse fronteiras
inexistentes em um livro, ele seria imediatamente detectado pelos conselhos
federais de educação nos Estados Unidos. Naturalmente um
vigarista poderia até publicar um livro assim, mas jamais seria
adotado em uma rede de ensino americana. E se isso chegasse a acontecer,
no mesmo ano o livro seria retirado de circulação pela editora.
Aldo Novak
Editor
aldonovak@relatorioalfa.com.br
PS: Se você enviou para seus
amigos a informação falsa, sugiro que envie esta edição
do Relatório, para corrigir o boato e impedir que se espalhe ainda
mais...
Abaixo há alguns links interessantes,
que tratam deste assunto em profundidade:
Infoguerra publicou uma matéria
completa sobre o assunto em Outubro do ano passado
http://www.infoguerra.com.br/infonews/viewnews.cgi?newsid971496000,19416,/
Estadão explica o que aconteceu
http://www.estadao.com.br/agestado/nacional/2000/jun/12/311.htm
Forças Armadas temem internacionalização
da Amazônia
http://www.estadao.com.br/agestado/nacional/2000/jun/11/115.htm
Volta a circular e-mails com mentiras
sobre a Amazônia
http://www.estado.com.br/editorias/2000/10/07/ger696.html
Roubaram a Amazônia? Mitos da
Web Brasileira http://www.estadao.com.br/agestado/nacional/2000/out/06/258.htm
Mitos da Web Brasileira (outro artigo
de Carlos Orsi Martinho)
http://www.estadao.com.br/tecnologia/colunas/midia/2000/jun/15/171.htm
Roubo da Amazônia, o boato que
não morre
http://www.estado.com.br/jornal/00/05/23/news095.html
Os culpados que forjaram as informações
e jamais tiveram seus nomes conhecidos possuem um site extremista (sem
atualização desde o ano passado) localizado em http://brasil.iwarp.com |
Veja mais:
Amazônia
(ainda) não é área internacional - II (Cristóvam
Buarque)
Amazônia
(ainda) não é área internacional - III (projeto no
Congresso)
Amazônia
(ainda) não é área internacional - IV (análise
militar)
Amazônia
(ainda) não é área internacional - V (o
tema em Harvard)
Pela bagunça que esses trotes
novamente causaram nas listas de debates no Brasil, nos Estados Unidos
e na Europa, e principalmente pelo desleixo com que as autoridades brasileiras
têm tratado a questão da soberania nacional na Amazônia,
esta história tem duplo motivo para ser inscrita no Festival de
Besteiras que Assola a Internet (Febeanet)...
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