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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 11/25/01 13:54:16
FEBEANET
Amazônia (ainda) não é área internacional - V


Outro texto, apresentado como sendo parte do boletim Binfo 06-07/2001, referente aos meses de junho e julho de 2001 (e que circula no meio militar, especialmente entre os oficiais da reserva), reproduz crônica que tem sido divulgada assim nos meios castrenses, relacionando-se também com a questão amazônica. O arquivo chegou a Novo Milênio em 22/7/2001. Como reflete uma visão particular do problema, editorializada, deve ser analisado com as naturais reservas dispensadas a um texto opinativo. O texto é apresentado tal como recebido, não podendo ser garantida a autenticidade das informações:
 

Colhemos no Boletim da Resistência Patriótica de 17/07/2001 da APADDI - Associação Paulista de Defesa dos Direitos Individuais, a seguinte crônica, de nosso especial interesse:

A divisão do Brasil apaddi@apaddi.org.br
Por que Harvard e o Chase sonham subdividir o Brasil?

NOVA YORK (EUA) - Se Brasil, China, Índia e Indonésia, com quase metade da população do mundo e colossais recursos naturais, continuam a ser países em desenvolvimento, e pequenos países como Luxemburgo, Cingapura e Suíça, sem os mesmos recursos, estão entre os que prosperaram mais depressa depois da II Guerra Mundial, não seria melhor desmembrar os gigantes e pôr fim à obsessão deles com soberania nacional?

Claro que para nós, brasileiros, a tese é absurda. Mas é exposta desde 1999 como mais um possível efeito da globalização. E nasceu aqui nos EUA, sugerida por artigo da revista "Foreign Policy" (número do outono daquele ano), pelo professor Juan Enriquez, do Centro David Rockefeller para Estudos Latino-Americanos, um "think tank" da Universidade de Harvard, a principal do país.

Em meados da década Enriquez foi negociador do governo mexicano no conflito de Chiapas e entre os exemplos dele na tese estão nações indígenas (os maias teriam partes do México e Guatemala, os mapuches do Chile). Isso na certa basta para justificar a paranóia dos que temem complôs contra a Amazônia - por exemplo, para dar independência aos ianomâmis, com partes do Brasil e da Venezuela. 

Em vez de cidadãos, acionistas

Há quase dois anos chamei atenção pela primeira vez nesta coluna para a especulação do professor Enriquez. Ela não parece ter surgido por acaso - mas nem por isso mereceu suficiente atenção no Brasil, nem mesmo pelos que revelam preocupação com as ameaças estrangeiras sobre a Amazônia brasileira. Talvez já seja tempo de se começar a discutir o tema, antes que seja tarde demais.

Os ianomâmis, como outros índios brasileiros, contam com o "lobby" permanente de ONGs (organizações não-governamentais) nos EUA e na Europa. Para Enriquez, nos grandes países em desenvolvimento (México, Brasil) os mais pobres dos pobres - maias, mapuches - já se perguntam que benefícios reais terão se permanecerem com sua atual identidade nacional. 

Relacionando o artigo do acadêmico de Harvard a certos números citados na mesma época pela "The Economist", de Londres, um jornalista do "Miami Herald" especializado em América Latina, Andrés Oppenheimer, deixou-se conquistar pela idéia. E concluiu que o mapa latino-americano será diferente em 2050. "O mundo tinha 62 países em 1914. Em 1946 o total já era 74. Hoje já pulou para 193", disse.

A parte que Oppenheimer achou "mais interessante" na análise de Enriquez é a que compara países com corporações, sob o império globalizante do neoliberalismo: "Hoje os governos que querem manter intactas suas fronteiras têm de tratar seus cidadãos como se fossem acionistas, que podem vender suas ações, forçar mudanças na administração ou reduzir o tamanho do estado".
Soberania? 

É "doutrina velha"

O pesquisador de Harvard acredita que as vozes dos indígenas, como as de outros setores dos países grandes e pouco desenvolvidos, podem crescer porque quanto mais globalizado se torna o mundo menos traumático será para os nacionalistas a separação de seus estados. "A globalização está reduzindo o mundo às suas partes componentes, mesmo quando junta essas partes", escreveu ele.

Para sobreviver com as fronteiras atuais, acha Enriquez, os governos da América Latina terão de dar mais autonomia aos grupos regionais e não insistir nas "velhas doutrinas autoritárias obcecadas por soberania". Exemplificou com os casos de Escócia, Irlanda e Gales na Grã-Bretanha e dos países que formavam a URSS.

Nem fez referência à diferença dos vínculos coloniais nuns, ideológicos em outros.

Além disso, Enriquez esquece que ao longo dos anos os EUA só se expandiram. Apoderaram-se de larga extensão do território mexicano onde havia mais riqueza petrolífera. Tampouco levou em conta que alguns dos menores entre os 193 países do mundo são tão miseráveis como as regiões mais pobres do Brasil e da
Índia e não prósperos como Suíça e Luxemburgo.

A "generosidade" dos Rockefellers

Enriquez faz pesquisas no Centro David Rockefeller, fundado por esse banqueiro em 1994 e hoje dirigido por John Coatsworth, que diz ser sua existência devida à "generosidade extraordinária" do ex-presidente do Chase. Os objetivos declarados são expandir a pesquisa e o ensino sobre América Latina e temas relacionadas a ela. "Por sua história e reputação Harvard tem a capacidade de legitimar e validar temas, literalmente colocá-los no mapa e insistir na importância deles", disse Rockefeller.

Segundo um acadêmico do centro, autoridades dos EUA queixam-se de que "os militares brasileiros são os únicos na América Latina (à exceção de Cuba) a usar linguagem marxista". Os dois temas sensíveis no debate sobre segurança entre Brasil e EUA há pouco tempo, disse ainda, eram proliferação nuclear e soberania territorial brasileira sobre a Amazônia - o que foi revertido parcialmente pelo governo Collor.

Mas o que Collor aparentemente não conseguiu foi neutralizar a preocupação dos militares nacionalistas com a Amazônia. Setores das Forças Armadas, conforme tal estudioso, reagiram negativamente à tentativa de impor enfoque global à questão ambiental amazônica, via ONGs locais e internacionais. Para eles, isso atenta contra a soberania nacional - tema reavaliado na tese de Juan Enriquez na "Foreign Policy".

ArgemiroFerreira@hotmail.com  - Tribuna da Imprensa

Veja mais:
Amazônia (ainda) não é área internacional - I    (Finraf)
Amazônia (ainda) não é área internacional - II  (Cristóvam Buarque)
Amazônia (ainda) não é área internacional - III (projeto no Congresso)
Amazônia (ainda) não é área internacional - IV (análise militar) 

Pela bagunça que esses trotes novamente causaram nas listas de debates no Brasil, nos Estados Unidos e na Europa, e principalmente pelo desleixo com que as autoridades brasileiras têm tratado a questão da soberania nacional na Amazônia, esta história tem duplo motivo para ser inscrita no Festival de Besteiras que Assola a Internet (Febeanet)...