Urna eletrônica é debatida
na TV santista
A não
ser que a população se mobilize imediatamente, nas eleições
brasileiras de 2002 vão se repetir os problemas das últimas
eleições, em que a falta de transparência no processo
conduzido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em especial no que se
refere à urna eletrônica, vem causando cada vez mais protestos.
Um dos primeiros a protestar foi o engenheiro Amílcar Brunazo Filho,
coordenador do fórum de debates Voto
Eletrônico. Esse é o tema do programa de debates Ponto
Capital, apresentado em 9/5/2001 (a partir das 14 horas, com retransmissão
na madrugada seguinte, após o programa Flash) pela jornalista
Isabel Machado, na emissora para a Baixada Santista da Rede Bandeirantes
de Televisão.
Participaram também do debate
Luiz Ezildo da Silva, do comitê Baixada Santista do Movimento de
Fiscalização e Aplicação da Lei 9840 (Comitê
9840), e o editor de Novo
Milênio, Carlos Pimentel Mendes, que em 15/10/1996 publicou a
primeira
matéria abordando a preocupação que já
se manifestava via Internet com relação à segurança
das urnas eleitorais. Nessa matéria, Amilcar já era um dos
entrevistados, e eram apontadas as principais objeções à
forma como estava sendo informatizado o processo eleitoral.
Desde então, a situação
piorou: além da falta de transparência - motivo pelo qual
a urna brasileira foi rejeitada na Argentina e também não
foi escolhida em dois estados norte-americanos nos quais foi apresentada
(Florida e Maryland), bem como não foi adotada em nenhum dos mais
de 20 países que enviaram observadores para acompanhar a eleição
informatizada de 2000 - a urna eletrônica sofreu uma alteração
fundamental: suprimiu-se a impressão do voto, impossibilitando desde
então qualquer conferência dos votos em caso de dúvida.
Painel do Senado - Amílcar
traçou um paralelo entre os problemas de violação
do painel eletrônico do Senado Brasileiro e a urna, lembrando que
nos dois casos a votação ocorreu quando o sistema rodava
um programa adulterado. No caso do Senado, agora debatido na Comissão
de Ética, em processo que poderá levar à perda do
mandato dos senadores Antonio Carlos Magalhães e José Carlos
Arruda, a diretora do Prodasen confessou ter alterado o programa de votação
de forma a permitir a extração fraudulenta de uma listagem
de votos dos senadores, quebrando o direito constitucional ao sigilo do
voto.
No caso da urna, embora o TSE afirme
seguidamente que os programas de computador são apresentados previamente
aos partidos políticos para verificação, Amilcar lembrou
que na verdade o programa instalado nas urnas é outro, além
de ser vedada, sem qualquer justificativa aceitável, a conferência
do bloco de criptografia, no qual seria possível inserir instruções
secretas para desviar votos de um candidato para outro e/ou para relacionar
o eleitor ao seu voto, ao arrepio da norma constitucional que garante o
sigilo do voto.
Foi justamente esse detalhe que levou
Amilcar a se preocupar, já em 1996, ao observar que o número
do título de eleitor é digitado pelo mesário em um
terminal de computador ligado por um cabo à urna eletrônica.
Não há qualquer justificativa aceitável para tal procedimento,
já que para a liberação da urna para uso pelo eleitor
bastaria apenas o mesário apertar um botão. Ao se inserir
o número do título no sistema imediatamente antes do voto,
torna-se tecnicamente possível vincular o voto ao eleitor.
Três poderes - Na questão
da urna, curiosamente, o TSE exerce os três poderes da República:
Legislativo, pois elabora ou altera as normas relativas à eleição
e às urnas; Executivo, pois interpreta as normas e as executa; e
Judiciário, pois quando há alguma reclamação
contra o TSE, é o próprio TSE que julga. Como no caso de
uma ação movida pelo PDT, que o juiz negou com a curiosa
alegação de que negava porque ninguém havia feito
a mesma solicitação anteriormente, não havendo portanto
antecedentes (e como isso seria possível?).
Amilcar, que foi convidado a participar
de uma subcomissão do Senado para os assuntos referentes à
urna eletrônica, comentou que está tramitando um projeto de
lei do senador Roberto Requião para obrigar o TSE a promover a impressão
dos votos pelas urnas (como em 1996). Porém, o projeto vem sofrendo
seguidos adiamentos na tramitação, daí a necessidade
de grande mobilização popular para reverter a situação
a tempo de se obter mais transparência no processo eleitoral de 2002.
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