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PERSONALIDADES - abril 8, 2006
Tércio Garcia
Durante entrevista ao Jornal Vicentino o prefeito de São Vicente, Engenheiro Tércio Garcia,
se emocionou ao falar do apoio que recebeu da família e de amigos na época em que estava combatendo uma grave doença e ao falar da experiência de
ser pai.
A trajetória pública de Tércio Garcia se iniciou em 1989, assumindo a diretoria de Parques e Jardins da Prefeitura, no Horto Municipal. Em 1997, com
a eleição de Márcio França, Garcia foi convidado a assumir a presidência da Companhia de Desenvolvimento de São Vicente (Codesavi), passando pelas
secretarias da Fazenda e de Governo, até ser eleito prefeito de São Vicente.
Além de contar sobre sua vida pública, Tércio também fala sobre seu livro autobiográfico, família e o que espera realizar em São Vicente até o fim
de seu mandato. Leia a seguir entrevista concedida pelo prefeito Tércio Garcia em seu gabinete.
Jornal Vicentino - O senhor nasceu em São Vicente. Como foi sua infância e adolescência na Cidade?
Tércio Garcia - Nasci em São Vicente, no hospital São José. Foi uma infância normal, como qualquer criança. Passei a infância no Parque Bitaru,
em frente ao (colégio) Raquel de Castro na (rua) Newton Prado. Estudei no Raquel até a oitava série (ensino fundamental) e depois até o terceiro
colegial (ensino médio) no Martim Afonso. Mudei com 14 anos para a rua Treze de Maio e ali fiz o grupo de amigos que tenho contato até hoje.
JV - Como foi sua vida escolar?
Tércio Garcia - Foi boa. Estudei no Raquel de Castro e a gente têm boas recordações da fase escolar, da infância. A professora Maria Irene, a
professora Nadir Sobral, que era diretora. Foi uma fase muito gostosa da vida. O Bitaru era um bairro ainda muito pequeno, com poucas pessoas.
JV - Após concluir o segundo grau (atual ensino médio) o senhor já sabia qual profissão seguir?
Tércio Garcia - Eu tinha uma tendência e sempre fui muito ligado com as coisas da terra. Fui cursar Agronomia em Taubaté com a intenção de fazer
uma especialização em paisagismo. Como acabou acontecendo mesmo.
JV - O senhor é casado. Como e quando conheceu sua esposa?
Tércio Garcia - Conheci nessa fase de juventude mesmo. Nós estudávamos juntos no Martim Afonso, depois fizemos cursinho juntos. Começamos a
namorar, acabamos casando e constituindo família.
JV - O senhor foi estudar em Taubaté (cidade há 134 km de São Paulo). No começo o senhor sentiu alguma dificuldade para se adaptar à nova cidade?
Tércio Garcia - Quando fui estudar em Taubaté eu já namorava com a Márcia (Papa Garcia, primeira-dama) e claro que a gente sempre sente falta,
mas havia uma proximidade. Eu voltava todos os finais de semana para São Vicente, então nunca abandonei a raiz de fato. Levamos a faculdade com
tranquilidade.
Com certeza me adaptei a Taubaté, uma cidade também muito gostosa. A gente cria vínculos com a
Cidade e também com amigos da faculdade. Alguns nos acompanham até hoje, inclusive alguns amigos, que cursaram Agronomia, são da região. Vez por
outra nós nos encontramos com a turma da faculdade. Uma época muito gostosa da vida. A infância e a juventude são épocas que a gente aproveita muito
e consolida, na verdade, o que nós vamos ser para frente.
JV - Infelizmente o senhor enfrentou uma grave doença aos 22 anos de idade cursando o penúltimo ano da faculdade e já era noivo. Sem dúvida foi
um grande choque para o senhor e sua família. Como e quando o senhor percebeu que estava com a doença?
Tércio Garcia - A doença foi diagnosticada até em função da Márcia, que já era enfermeira, trabalhava na Beneficência Portuguesa e percebeu um
caroço no meu pescoço, um gânglio, e me levou para fazer uma biópsia e foi constatado a doença. É uma fase muito difícil mesmo, um choque. O
diagnóstico de câncer é um choque para qualquer família, sem dúvida. Especialmente porque nós havíamos acabado de ficar noivos. Aí você desestrutura
qualquer plano de futuro, mas na verdade isso é um choque inicial que as pessoas precisam aprender a absorver.
Hoje o câncer é totalmente curável. Na época em que contraí a doença, ainda havia uma consciência
médica de não se falar em cura em casos de câncer. Hoje, em 75% dos casos é totalmente curável, desde que diagnosticado com precocidade. É um
tratamento difícil, longo. É uma caminhada árdua, mas a vida vale qualquer sacrifício. Especialmente naquela época de juventude onde a gente tinha
um horizonte muito grande pela frente. O apego a vida e os objetivos fazem você tirar forças, sabe lá da onde, para vencer o problema.
JV - O senhor é autor do livro Sobreviver Vale a Pena, uma autobiografia. A quem o senhor credita sua vitória contra o câncer? E qual o intuito
de escrever a obra?
Tércio Garcia - Credito a Deus, sem sombra de dúvida. Porque é ele que acaba dando forças, te sustentando para enfrentar. E a família também.
Você, com estrutura familiar sólida, com o apoio das pessoas você vence os obstáculos. A ideia desse livro nasceu dos próprios médicos. Não era a
princípio um livro, era um texto. Porque o diagnóstico de câncer causa esse choque nas pessoas, então os médicos frequentemente te indicam como um
exemplo de vitória. ‘Olha vai lá conhecer tal pessoa que ele venceu o câncer’.
Como a história é muito longa e cheia de detalhes, as vezes em uma conversa você não consegue
passar a dimensão para quem você quer apoiar de verdade, então eu escrevi esse texto com a finalidade de dar as pessoas que estavam acometidas por
câncer a pedido dos médicos, para detalhar melhor o problema do enfrentamento em si. Depois, com o decorrer da vida isso vai se diluindo e a gente
cultiva os amigos desde a infância.
A professora Lúcia (França), ex-primeira-dama, esposa do Márcio França, conhecia essa história,
esse texto e toda essa passagem, porque acompanhou. Com o objetivo da construção do CROI, que é o nosso Centro de Referência em Oncologia Infantil,
ela sugeriu que se havia a possibilidade de eu dar o texto para que transformasse em um livro e publicasse com a verba revertida para o CROI.
JV - Pesou na balança você expor a sua vida particular, já que o senhor é um homem público?
Tércio Garcia - A despeito da dúvida das pessoas se eu iria expor a minha vida pessoal, tenho uma carreira política e isso poderia não ser bom.
Eu julguei que o objetivo disso era mais importante, a construção do CROI. Pela importância, pela dimensão que ele tem no tratamento das pessoas,
valeria também qualquer sacrifício. Sem sombra de dúvidas dei o texto para o Fundo Social de Solidariedade para que produzisse o livro.
JV - O senhor e sua esposa tinham o sonho de ter filhos. O senhor enfrentou muitas dificuldades para ser pai?
Tércio Garcia - Em decorrência do tratamento nós precisamos tomar algumas atitudes. Aí fala o engenheiro, a importância do planejamento na
dimensão da vida inteira da gente. Ainda sem saber se eu poderia sobreviver ao câncer, mas sabendo que sobrevivendo ao tratamento me impediria de
ter um filho, nós fizemos a coleta de sêmen antes de começar o tratamento e foi o que possibilitou o nascimento do Daniel que hoje já é um homem.
JV - O senhor atuou como engenheiro agrônomo?
Tércio Garcia - Logo que saí da faculdade, comecei a buscar os caminhos. Distribuir os currículos, como é normal, e meu pai tinha um sítio e uma
câmara de climatização de bananas. Enquanto isso eu cuidava do sítio e da climatização, mas logo, graças a Deus, fui chamado para cuidar dessa área
de jardins na Carbocloro. Passei lá quase um ano e em seguida fui chamado para assumir a diretoria de Parques e Jardins da Prefeitura, no Horto
Municipal e estou na prefeitura até hoje.
JV - Quando e por que o senhor ingressou na vida pública?
Tércio Garcia - Dia 2 de janeiro de 1989, iniciei minha vida pública no Horto Municipal. Depois trabalhei todos esses anos até 1997 no Horto
Municipal, cuidando da manutenção dos jardins da Cidade. Em 1997, quando o ex-prefeito Márcio França assumiu a prefeitura, me convidou para dirigir
a Companhia de Desenvolvimento de São Vicente (Codesavi).
JV - No começou foi complicado administrar a Codesavi?
Tércio Garcia - É uma empresa grande. Sem dúvida é um desafio. É uma empresa com quase mil funcionários e que tem suas particularidades. E como
toda área pública, tem peculiaridades do contato e das necessidades públicas, mas é um trabalho como outro qualquer. Quando a gente encara com
seriedade, com prestresa, você consegue gerar as transformações necessárias.
JV - O senhor também foi secretário da Fazenda e secretário do Governo no fim do segundo mandato do governo Márcio França. Há diferença em
administrar a Codesavi e atuar como secretário?
Tércio Garcia - É uma dimensão maior, claro que tem diferenças fundamentais. A prefeitura é um gigante e cuida, a rigor, de todas as coisas da
Cidade. Aqui em São Vicente, especialmente, toda a economia, o bem estar social das pessoas giram muito em torno da prefeitura. Há uma
interdependência da Cidade muito forte com o poder público municipal e acho que essa experiência foi fundamental no conhecimento, sobretudo do
aspecto administrativo mesmo, das dificuldades administrativas que a prefeitura tem.
JV - Com todas as obrigações como chefe do executivo, o senhor encontra tempo para acompanhar seu filho e sua família?
Tércio Garcia - A gente se esforça bastante. Claro que é diferente, mas por um outro lado eu posso contar com a compreensão deles e a
participação da minha esposa. Ela se dedicou ao Fundo de corpo e alma, e com certeza tem um envolvimento completo. Quem assume uma postura de
prefeito no Município, precisa entender que na verdade por pelo menos por quatro anos a vida se altera completamente. Se é prefeito 24 horas por
dia, seja dentro de casa, fora de casa, na rua, no gabinete ou viajando. O prefeito é sempre o prefeito e em última análise é o responsável pelas
coisas que acontecem. Você pode até em um sistema de organização muito bom, delegar grande parte das tarefas, mas a responsabilidade você nunca
delega. Ser prefeito é dedicação integral, 24 horas, sem tempo de parada.
JV - No discurso de posse o senhor ficou muito emocionado. Como foi para o senhor assumir o cargo mais alto do Município?
Tércio Garcia - Com certeza. É uma responsabilidade muito grande. Eu nasci em São Vicente, no hospital São José. Naquele momento (posse) o
hospital passava por uma crise, estava fechado e isso mexe muito com a gente. Quem ama a Cidade, que gosta, reconhece os desafios que estão postos
aqui. É uma Cidade muito difícil de se administrar sem dúvida. Se emociona até pela responsabilidade e pelo poder de transformar essa realidade.
Porque nós somos ligados por raízes da terra. Nós vivemos aqui, desde o nascimento e vamos continuar vivendo. Então é uma responsabilidade muito
grande, uma emoção muito grande.
O reconhecimento público sobretudo, foi uma eleição com 84% dos votos válidos, uma carta branca da
população. É a crença da população na continuidade de um governo que vinha muito bem, que gerou grandes transformações na Cidade. A responsabilidade
a cada passo se multiplica. Quando você substitui um governo que fez essa grande transformação na Cidade, com um apoio tão grande da população e
tendo raízes na Cidade a sua responsabilidade se multiplica por mil.
JV - Toda mudança de administração é complicada. Qual balanço o senhor faz desses primeiros 15 meses de governo?
Tércio Garcia - É um desafio muito grande, não resta dúvida. Também não há dúvida de que você substituir qualquer pessoa é muito mais fácil do
que substituir uma pessoa que gerou essa transformação como o Márcio. Administrativamente a gente já conhecia e as pessoas conheciam, o que é um
facilitador. A nossa postura e a nossa forma de agir. É claro que a máquina (administrativa) sofre algumas adaptações em função do estilo pessoal de
governo de cada um, mas a nossa corrida é de fundo não de 100 metros que você corre desesperadamente para atingir o objetivo.
A gente tem a exata noção do plano todo de governo, temos a consciência que a Cidade precisava de
uma continuidade de governo e numa corrida de bastão cada um tem sua função. O importante é conhecer o objetivo final e caminhar nesse objetivo com
segurança no que se faz, então toda essa necessária adaptação da máquina pública e a adaptação da Cidade de momentos diferentes de governo, a Cidade
quando foi assumida pelo Márcio tinha algumas necessidades fundamentais, hoje tem outras necessidades. E o que faz a diferença é exatamente essa
consciência, de saber onde vai chegar e assumir todo o ônus e todo bônus daquilo que acontece.
JV - Como o senhor vê São Vicente em 2008, quando o senhor completará o mandato?
Tércio Garcia - Vejo uma São Vicente, com certeza, melhor do que quando a gente assumiu. É uma corrida de fundo, uma sequencia de governo. Você
assume com objetivos claros e com noção exata de onde se quer chegar. Nós hoje estamos promovendo algumas obras na Cidade que são fundamentais, com
o objetivo claro. Naquele momento de 1997, havia a clara necessidade de um grande plano de pavimentação. A imensa maioria das ruas era de terra,
valas a céu aberto, enfim, hoje esse problema foi superado.
Eu entendo que a prioridade fundamental da Cidade, do aspecto físico e de estrutura, é a contenção
das enchentes. Lidar com a questão de uma cidade de praia que sofre o efeito da maré alta e baixa, das chuvas fortes e está nas encostas da mata
atlântica, então, com certeza, hoje, o principal objetivo e nossa maior busca na parte estrutural da Cidade é a questão das enchentes dos canais. De
lidar com essa coisa que acontece todos os verões que a gente tem que conviver com nossa população perdendo móveis, imóveis e isso é a nossa maior
bandeira de enfrentamento. Mas quem administra tem que ter a consciência do todo e como em todo o governo tem que ser prioridade nesse governo
também as questões que não se vê. Que são as questões essenciais e fundamentais.
É verdade que o que é essencial é invisível aos olhos, então a questão da educação tem que ser
prioridade e isso nós já dissemos também. Esta fase de educação que as pessoas passam nas nossas escolas, são a fase de formação do nosso futuro de
verdade. As pessoas que certamente administraram a Prefeitura e estarão na Câmara Municipal, estão hoje nos bancos das nossas escolas. Dar formação
coerente, de qualidade e não só quantitativa é lidar com futuro da Cidade. A qualificação da educação, sem dúvida, é um objetivo muito claro nosso.
O aspecto da saúde, que é uma grande luta do Município também, não só da nossa mas hoje do País
inteiro. Transformar um plano totalmente socialista, de qualidade muito boa, mas que financeiramente não se sustenta não consegue se sustentar, em
um plano que realmente atenda a população. A nossa esperança para 2008 é uma Cidade certamente muito melhor. Muitas coisas já vêm acontecendo nesse
sentido.
As obras de ligação com a Área Continental, de estrutura, hoje o plano de pavimentação está na Área
Continental, não está mais na Ilha. A questão da base para o esporte das nossas crianças tem recebido obras e investimentos grandes. Agora já nesta
linha da infraestrutura, a Linha Azul que é uma obra fenomenal que movimenta um valor expressivo, feito junto com o Dade, mas direcionada para
resolver os problemas de drenagem na questão das enchentes. Depois a Linha Amarela, duplicação e repavimentação.
A praia do Itararé que certamente é um objetivo nosso. São Vicente há 50 anos espera a urbanização
do Itararé e tenho convicção de que até 2008 a orla vai ser completamente urbanizada. Isso mexe muito com a auto estima do vicentino. Sem esquecer
dos nossos monumentos, a Ponte Pênsil que receberá uma iluminação de primeiro mundo, digna de qualquer monumento na Europa. Então tenho a convicção
que 2008 São Vicente estará muito melhor do que já esteve e do que já está hoje. |