O ar de fazenda do salão de festas, cercado de extensa
área verde, faz com que muitos acreditem que aquele lugar foi sede da fazenda dos Felicianos. A maison é ponto de referência do Jardim Três
Estrelas
Imagem: reprodução da página 83 da
publicação (cor acrescentada por Novo Milênio)
Uma geografia especial
A natureza foi pródiga com São Vicente. Sua geografia peculiar foi
recebendo novos contornos pela mão do homem, e seus bairros, a partir das edificações, reformas e adaptações, estão sempre apresentando uma "nova
geografia".
Não há quem consiga passar pelas ruas do Jardim Três Estrelas, localizado entre a Avenida Antonio Emmerich e o
bairro do Catiapoã, bem pertinho do centro da cidade, sem ficar encantado com seus sobrados, alguns de tijolinhos
vermelhos, ao lado de casas em estilo colonial que lembram fazendas do século passado e que dividem seu espaço com casas geminadas de estilo mais
atual.
O encanto cresce quando se fica sabendo que as ruas daquele quadrilátero, que começa na Rua Emílio Carlos e
termina nas avenidas Martins Fontes e Alcides de Araújo, no bairro do Catiapoã, não pertencem ao Jardim Três Estrelas, mas também a outros três
loteamentos.
Biguá
Imagem: reprodução da página 86 da
publicação (cor acrescentada por Novo Milênio)
No princípio tudo era mangue
"No final dos anos 40, isto aqui era tudo mangue. Nas proximidades
ainda viviam uns índios e no Canal Alcides de Araújo, que naquela época era um belo rio, a gente ainda pescava à vontade. Sem mentira nenhuma, em
1952, pesquei aqui mesmo uma lagosta de nove quilos", diz o aposentado Altamiro Ferreiro, de 64 anos, mais conhecido por Biguá, que mora numa
área do Jardim Vila Nova, à beira do canal da Avenida Alcides de Araújo.
Imaginação ou realidade, ninguém ousa desmentir Biguá. Afinal, os que moram no Jardim Três Estrelas e no
Catiapoã o conhecem desde que esta área próxima ao centro da cidade ainda era formada por pequenos morros, onde as crianças, apesar da vigilância
severa de Biguá, se arriscavam a passar pelas cercas de arame e subir no morro para roubar jambolão. Quando alguma criança conseguia o feito,
tornava-se verdadeiro líder entre os colegas, lembram os que ali residem desde pequenos.
Embora não seja o primeiro morador da área formada pelos jardins Três Estrelas, Feliciano, Pedro Gomes e Vila
Nova, Biguá conhece cada palmo daquela área. Não é para menos; afinal, ele foi um dos vigias contratados pela família Feliciano para tomar
conta daquele extenso loteamento, em 1948.
O próprio Biguá comenta que a história da sua vida começa a ter uma definição a partir do momento que
chegou ao local. "Saí de Paraibuna (interior do Estado de São Paulo), onde moravam outros membros da família Feliciano, em 1943. Estava fazendo o
serviço militar e fui convocado para a II Guerra Mundial. Embarcamos para o Rio de Janeiro e, quando lá chegamos, a guerra havia acabado. Ficamos
livres e cada um se virou como pôde. Eu tinha um parente em São Vicente e vim para a cidade, mas não achei ninguém. Dormi uma semana sob a ponte da
antiga Sorocabana, aqui perto do Três Estrelas".
Depois, encontrei meu parente trabalhando no Tradicional Café Mundial, em Santos, e fui para lá. Um ano depois,
vim trabalhar na Fábrica de Vidro São Vicente. Em 1948, ingressei na Polícia Marítima e naquele tempo já estava contratado para cuidar da vigilância
do loteamento da família Feliciano".
Até o final da década de 50, Biguá ainda morava na casa ao pé do morro que existia em frente à Rua XV de
Novembro, 158. "No princípio, tínhamos ordens de não deixar ninguém passar pelo loteamento, que era uma área única desde a divisa do Catiapoã até a
Avenida Antonio Emmerich. Depois, com a divisão da propriedade entre os membros da família, a situação mudou. Foram feitos atalhos, para diminuir as
distâncias. A Estrada de Ferro Sorocabana transferiu o mangueirão que ficava no início da Avenida Alcides de Araújo com a Avenida Martins Fontes
para a esquina com a Avenida Mota Lima, pegando um trecho do loteamento Pedro Duarte, que muitos confundem com Vila
Cascatinha ou Vila Melo".
Segundo Biguá, o mangueirão era, a exemplo dos pés de jambolão, uma tentação para a molecada. Era um
transtorno quando algum moleque conseguia soltar os animais. Os bois saíam desembestados pelas ruas, principalmente na área do Jardim Três Estrelas.
"Já nessa época, a família do ex-prefeito de Santos, Antonio Feliciano, não
residia mais no local, e seus parentes, Ilo e Nico Feliciano, assim como meu patrão, Celso Vila nova, já haviam loteado toda a área que aos poucos
foi se tornando este conjunto de ruas bonitas e de casas bem cuidadas", concluí Biguá.
Casa pertence, na verdade, ao Jardim Vila Nova
Imagem: reprodução da página 87 da
publicação (cor acrescentada por Novo Milênio)
Desafio à Geografia
Graças à geografia peculiar de São Vicente e à divisão de terras
entre famílias num passado não muito distante, é que uma casa localizada em um bairro pertence a outro loteamento. isto acontece com a casa
instalada no que seria uma praça, na confluência da Rua XV de Novembro com a Avenida Alcides de Araújo.
Por mais evidente que seja a localização da casa dentro do bairro do Catiapoã, ela pertence, na verdade, de acordo
com registros, ao Jardim Vila Nova. É como se este último bairro tivesse deixado sua marca no bairro vizinho.
As ruas dos quatro bairros são parecidas, mas todas apresentam uma
característica que, para os moradores, as tornam diferentes uma das outras. Todas calçadas de paralelepípedo, exceto um trecho do Jardim Vila Nova,
as ruas, que outrora pertenceram a uma única área, distinguem-se uma das outras pela arborização, estilo das casas e estabelecimentos comerciais.
A Rua Emílio Carlos, no Jardim Três Estrelas, considerada a principal da área, abriga uma salão de festas numa
casa de estilo colonial e a sede do Clube Amigos do Menor Patrulheiro. No Jardim Feliciano, a principal rua atrai pela arborização. O Jardim Pedro
Gomes tem como característica a existência de garagens de empresas e o Jardim Vila Nova, além de muitas árvores, ainda apresenta áreas desocupadas.
As ruas dos quatro bairros são parecidas
Imagem: reprodução da página 87 da
publicação (cor acrescentada por Novo Milênio) |