Imagem: reprodução parcial da matéria original
NOTÍCIAS DE S. VICENTE
Meios ao nosso alcance para combater a erosão das praias
Politi: "Erram os que negam e os que afirmam possíveis causas" - Deve, o problema, ser
encarado genericamente - Fatos diversos, a que poderia ser atribuída a alteração das correntes, concomitam com o princípio da erosão - Prolongamento
dos "narizes": medida mais prática de reação - Solução dada a caso idêntico, na Flórida
Conforme noticiáramos com bastante antecedência, passamos a
focalizar o sempre momentoso problema da erosão das praias. Trata-se, como é de domínio público, de um assunto que constantemente vem à baila. A
respeito dele muitos se têm pronunciado, sem que, contudo, fosse apontado algo de objetivo quanto às providências a serem adotadas no sentido da
extinção desse mal que, dia a dia, se agiganta.
O Diário, iniciando hoje mais uma série de entrevistas com técnicos e autoridades,
procurará colaborar com os poderes na árdua luta encetada contra o mal. Transmitindo a opinião credenciada daqueles que melhor podem se referir ao
assunto, visará o condensamento de pareceres positivos e baseados em fatos concretos, o que, sem dúvida, abrirá novos horizontes para a solução do
caso.
Os enrocamentos de pedras, conforme mostra a foto,
provocam o acúmulo de areia, permitindo a formação de praias entre essas pontas
Foto publicada com a matéria
Nosso entrevistado de hoje é o dr. Rafael Faro Politi, vereador à Câmara Municipal e competente
engenheiro civil da cidade. Em resposta às perguntas do repórter, declarou-nos aquele técnico:
"Com referência às causas do desbastamento
das praias, existem, na cidade, duas correntes de opiniões. Uma delas, constituída de 90% da população, tem atribuído o fenômeno, de modo
predominante, à ponte que liga o bairro da Boa Vista à Ilha Porchat.
A outra, de 10%, aponta outras causas. Não estou de um lado nem do outro, pois nada de positivo foi dito, ainda, a respeito, pelos técnicos que
estudaram o assunto. Ainda recentemente, elementos do Inst. de Oceanografia andaram pela baía e admitiram hipótese, nada concluindo afinal por falta
de elementos técnicos auxiliares dos estudos, tais como circulação das correntes marítimas e outros.
"Tanto erra quem afirma com o quem nega que a ponte é causa da erosão, porque ainda não existe uma
verdade básica e provada, sobre a qual se possa alicerçar um raciocínio legítimo com referência ao caso. Não me parece coerente afirmar ou negar,
com temeridade, qualquer coisa com relação às causas. Só técnicos profundamente entrosados na questão - e isso depois de acurados estudos - poderiam
chegar a uma conclusão exata e precisa.
"A propósito, lembro-me, como se fosse hoje, do que meu mestre de Oceanografia nos ensinava que,
com alusão ao oceano, aos rios, aos canais e congêneres, nunca deveríamos afirmar nada com precipitação, pois, muitas vezes, um efeito próximo tem
causas muito remotas.
"Em minha modesta opinião, os estudos partiram sempre de uma premissa duvidosa. Em lugar de
partir-se de um estudo genérico e amplo do fenômeno para - por eliminação de partes - chegar-se às causas básicas prováveis, tomou-se sempre como
verdade a construção da ponte da Ilha Porchat
para, dentro dos fenômenos mais amplos, provar-se aquela mesma verdade; e ocorre que a especificação pode conduzir a conseqüências formalmente
certas e materialmente erradas.
"Realmente, a construção da ponte tem certa relação de tempo com a fase mais violenta dos estragos
ocorridos na praia, por volta de 1947. É preciso, contudo, considerar que dessa mesma época datam também os serviços de construção dos diques do Rio
d'Avó, do Sá Catarina e do Saquaré, e as grandes obras de prolongamento e extensão do cais do Saboó, com grandes aterros. É claro que essas obras
poderiam ter afetado sensivelmente o regime das correntes marítimas - em sentido e intensidade -, com possíveis influências na Baía de São Vicente e
conseqüente alteração no movimento de areias de suas praias.
"Embora não tenha elementos para afirmar, com segurança, que sejam essas as causas - como não os
têm aqueles que julgam ser a ponte a razão da anomalia - não posso admitir como certo que se enquadre o problema apenas sob um ponto de vista
particular: a ponte. Aliás, melhor seria se isso, de fato, se combinasse com a realidade, porque seria obstáculo de remoção relativamente fácil, com
a substituição do atual aterro de acesso à ponte por um tabuleiros sobre pilotis, de modo a oferecer o mínimo de resistência à ação eólica ou
marítima no movimento das areias.
"Por outro lado, é de se notar que qualquer das outras causas apontadas apresentaria soluções
praticamente inatingíveis nos recursos atuais. Contudo, nada está provado e é até mesmo admissível que nenhuma das causas apontadas seja a
verdadeira ou ainda que, em conjunto ,constituam esta causa em torno de que tanto divergem as opiniões.
"Na falta de material suficiente para um bom e seguro exame e enquanto os órgãos especializados
não chegam a uma conclusão, interessante será que procuremos diminuir as conseqüências erosivas pelos meios que possuirmos ao nosso alcance. Várias
soluções poderiam ser aventadas, mas nem todas poderiam ser consideradas, em face do alto custo que representariam.
"Entretanto, duas há que, embora custosas, estão ainda ao alcance dos poderes interessados na
preservação não só das praias como das obras nelas realizadas, entre as quais o emissário de esgotos e o ajardinamento, cuja reposição custa
fortunas.
"Destas duas soluções, a mais imediata para o combate à ação erosiva do mar, nas praias, seria o
prolongamento dos atuais enrocamentos de pedras ("narizes") que, na forma de lanças avançando para o mar, anulam a ação das correntes marítimas,
protegendo a orla das praias, possibilitando mesmo a reposição de areia, entre um e outro, como pode ser verificado pelas inúmeras fotografias
aéreas da região.
"Atualmente, existem sete dessas pontas de pedra e o seu prolongamento permitirá maior eficiência
e melhores resultados. Concomitantemente, outros braços devem ser feitos - no mínimo mais dois - em localização adequada, um deles mais ou menos
defronte à Rua Frei Gaspar. Estas pontas, posteriormente, poderão ser aproveitadas, de modo a serem ajardinadas, servindo também para pescarias de
paredão e para acostamento de pequenos barcos.
"A propósito, é conveniente ressaltar que na Flórida, Estados Unidos, em face de caso idêntico,
essa medida foi adotada e ocasionou resultados dos mais satisfatórios, uma vez que, além de proteger a segurança das praias, complementou a obra da
Natureza, criando mais logradouros públicos, como pequenos jardins.
"Outra medida que pode ser tomada, de imediato, é a do uso de um perfil mais favorável para o
paredão de contorno da orla das praias, visto que o atual, de paredes verticais, não é o mais indicado, por oferecer grande resistência ao embate
das ondas, nas marés agitadas, quando o mais aconselhável, nesses casos, é oferecer o mínimo de resistência, o que pode ser obtido com o perfil
inclinado, como aliás foi feito junto à Ponte Pênsil.
"Com estas palavras, creio ter dado minha modesta colaboração no grande problema que preocupa
nossa população, representando um rápido resumo do conhecimento que dele tenho, mercê de meus contínuos estudos e de minha constante observação
sobre o assunto".
O eng. Rafael Faro Politi, falando ao repórter: "Tanto
erra quem afirma como quem nega que a ponte é a causa da erosão"
Foto publicada com a matéria
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