Nos anos de campanha eleitoral, a praça é o local
preferido pelos candidatos
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Praça Barão, o centro das decisões políticas
SÃO VICENTE - A Praça Castro Alves, em Salvador, pode ser do povo, mas a Praça Barão
do Rio Branco, em São Vicente, além do povo, pertence também aos políticos. Situada a dois quarteirões da Prefeitura e a apenas alguns metros da
entrada da Câmara, esse retângulo, transformado em bulevar no fim de 79, aglutina todas as vibrações políticas da Cidade. Ali se sabe de tudo o que
aconteceu, por exemplo, na última sessão do Legislativo e "naquela" audiência no gabinete do prefeito, ou até mesmo na reunião "sigilosa" ocorrida
na noite anterior na residência de um proeminente líder partidário. E os fatos sempre têm duas versões: a oficial e a extra-oficial, esta,
geralmente, bem mais comprometida com a verdade do que a primeira. Nestes meses que nos separam das eleições de 15 de novembro, a Praça Barão
deverá, como se diz, "fervilhar", e os primeiros sintomas desse processo já começaram a ocorrer.
É impossível, para alguém relativamente conhecido no centro da Cidade, passar pela praça sem
ser, de uma forma ou de outra, informado sobre as últimas novidades. Na parte da manhã, basta que a nossa personagem resolva tomar um cafezinho.
Essa simples decisão envolve mil e uma possibilidades de ficar sabendo em que direção os ventos estão soprando, na tumultuada atmosfera política do
Município, às vésperas da disputa eleitoral. O café pode ser tomado no Floresta ou na Padaria Chic.
Os dois estabelecimentos ficam no cruzamento das ruas Frei Gaspar e Martim Afonso, uma das
chamadas esquinas-termômetros da praça. Nesse local, se formam as tão conhecidas rodinhas, que aglutinam políticos, aposentados e comerciantes, em
animados debates sobre os últimos acontecimentos. As personagens mudam, e as siglas partidárias idem, mas as rodinhas estão sempre se formando. "Mas
o prefeito disse que...", "Eu juro que vi quando ele meteu a mão na cara do outro...", "Por ele eu não boto a mão no fogo", "Para variar, eles
fizeram um conchavo durante a madrugada". Os diálogos se sucedem e as roupas, sujas ou limpas, vão sendo lavadas avidamente.
Boatos com garantia - Depois de tomar o seu cafezinho, a nossa personagem, a quem
daqui para a frente chamaremos de "observador", pode sentir fome, mas fica indecisa sobre qual restaurante escolher. Como sua curiosidade é
incomensurável, ele opta por almoçar no Amigo Campos. Afinal, ele sabe que, na Adega Central, as coisas costumam acontecer à noite, bem tarde da
noite. No Amigo Campos, as notícias correm entre as mesas e, nesse período eleitoral, é comum os candidatos surgirem por ali, marcando presença para
aumentar o Ibope. Após o almoço, o nosso observador sai do restaurante, mas voltará, no início da noite, horário da formação de outra
importante rodinha, ao redor do balcão do bar, considerada imprescindível para quem deseja ficar bem informado.
Durante a tarde, o ritmo de boatos, fofocas e comentários políticos prossegue intenso. E,
por falar em boatos, essa expressão geralmente nunca é a adequada para classificar as informações colhidas na praça. Essa é outra das
características da Barão: as notícias que circulam por ali são, na grande maioria das vezes, "quentes". E as diversas "fontes" que marcam ponto na
praça fazem questão de manter a idoneidade de suas informações. Quando há alguma dúvida, o relato do fato vem sempre acompanhado do aviso: "Estou
vendendo o peixe pelo preço que comprei".
A famosa pizza - Se no almoço nosso observador optou pelo Amigo Campos, no final da
noite o local ideal para deixar as antenas ligadas é, sem dúvida, a Adega Central. O restaurante possui um variado cardápio bem conhecido dos
freqüentadores habituais, mas os políticos têm uma predileção especial por pizzas. É na Adega que os políticos se reúnem quando a madrugada se
aproxima e os vereadores vêm acabar ou aprofundar as suas famosas brigas, iniciadas momentos antes, durante a sessão da Câmara. Por iso, a expressão
"acabar em pizza" tem um significado todo especial para a política vicentina. Quantas e quantas desavenças, algumas entremeadas de pesadas
acusações, tapas e cabeçadas, não foram e continuam sendo contornadas entre o sabor da mussarela e o molho de tomate.
Mas, antes da pizza, podem ocorrer muitos lances nada amistosos, como lembram os
freqüentadores mais antigos e habituais do restaurante. A Adega já foi palco de brigas memoráveis entre diversos políticos vicentinos. Esses
incidentes, porém, costumam acontecer bem tarde da noite, sob o testemunho de garçãos discretíssimos, dos quais o nosso observador não consegue
arrancar nada, a não ser um também discreto sorriso. As notícias, contudo, logo ganham a praça na manhã seguinte, dando força para outro dos mitos
da Barão do Rio Branco: é impossível esconder seja lá o que for.
Aparecer é fundamental - Daqui a três meses e meio, a população de São Vicente vai
escolher novos prefeito e vereadores. Com exceção do PDS, todos os partidos já escolheram seus nomes para a disputa eleitoral e a praça já vive
congestionada de candidatos. Os observadores políticos vicentinos mais antigos costumam dizer que prestígio na praça não ganha eleição para ninguém.
Eles estão certos, mas comparecer, o mais intensamente possível, à Barão do Rio Branco, é considerado vital para o sucesso dos candidatos nas urnas,
especialmente para os candidatos a prefeito. Com isso, os experientes observadores também concordam.
Por isso, o ritual de marcar presença na praça vem sendo cumprido pelos prefeituráveis
de todos os partidos. No PDS, o prefeito Jonas Rodrigues está levando vantagem em matéria de horas de vôo na praça. Invariavelmente com seu
cigarro 100 mm nas mãos, o ex-prefeito aumentou bastante sua freqüência à Barão, nos últimos tempos, depois de ter desaparecido de cena por quase
cinco anos. Mas o outro provável candidato pedessista à prefeitura, o delegado de Polícia, Marcelo Ribeiro, já está forçando passagem.
No PMDB, a disputa está na base do olho mecânico. Os três candidatos do partido (Sebastião
Ribeiro da Silva, Raimundo dos Santos Oliveira e Ramez Lascani) são assíduos freqüentadores da Barão do Rio Branco, não se descuidando para que um
ou outro não ganhe mais espaço com suas aparições na praça. E o importante não é só aparecer, mas chamar o máximo de atenção sobre si, porque
discrição nunca elegeu ninguém.
No PTB, os candidatos a prefeito Jorge Bierrenbach e Evaristo Martins não ficam um dia sem
passar pela praça. Evaristo prefere a esquina da Padaria Chic, e Bierrenbach o Café Floresta. E nem mesmo o candidato único do PT à Prefeitura, o
advogado Luiz dos Santos Rodrigues, dispensa suas caminhadazinhas pela Barão do Rio Branco, embora com bem menos ostentação do que seus
concorrentes, obedecendo à filosofia petista.
"Nossa senhora, a gente atravessa, esbarra em candidato, volta, esbarra em candidato, vai
para o outro lado e esbarra em candidato. É comício por todo o canto". A frase, de um dos mais antigos freqüentadores da Barão do Rio Branco,
representa bem o clima da praça às vésperas das eleições e caracteriza também, segundo observadores, que a política vicentina não sofreu grandes
alterações, desde o último pleito municipal, em 1976. |