E, como a simples observação dos atos dos políticos de então já
permitia prever, de fato a linha turística de bonde criada em 1984 não durou mais que dois anos. No dia 4 de fevereiro de 1987, as empilhadeiras
retiraram o bonde dos trilhos e o levaram para a garagem da CSTC, encerrando o projeto. O fato foi noticiado no jornal Cidade de Santos do
dia seguinte, 5/2/1987:
Com a retirada do bonde turístico, esse transporte foi
riscado da história da cidade
Foto de Adalberto Marques, publicada com a matéria
Bonde turístico sai definitivamente da orla
A última pá de cal sobre a tradição do bonde que circulava na
área turística da cidade foi lançada ontem. Quatro empilhadeiras, desviadas dos serviços que prestam à Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp),
foram usadas para tirar dos trilhos o bonde turístico instalado defronte da Igreja de Santo Antônio, no bairro do Embaré, e levá-lo, numa enorme
carreta, também emprestada pela Codesp, para a garagem da Companhia Santista de Transportes Coletivos (CSTC), riscando assim definitivamente, da
história de Santos, a imagem do último bonde, o turístico, que circulou algum tempo na administração passada, entre a Igreja e a Rua Oswaldo
Cóchrane.
Assistindo à remoção não faltaram vozes discordantes e críticas, todas elas dirigidas a um único
homem: o prefeito Oswaldo Justo, apontado ali por populares como um insensível administrador que pouco ou quase nada tem feito para preservar as
poucas tradições que restam na cidade. O bonde tipo camarão, número 13, removido da linha para a garagem da CSTC, foi transportado com uma
versão oficial: ele voltará a circular depois de ser submetido a reparos.
Tal informação, contudo, não coincide com a verdade. Embora o esforço para que o argumento oficial
prevaleça, é fácil perceber que o bonde turístico não voltará porque o trecho, onde era feita a manobra de retorno, o Demutran já bloqueou com uma
cerca de concreto armado. Aliás, alguns funcionários que ajudavam na remoção, de modo muito discreto, por temerem punições, foram claros em dizer
que era a última viagem, o ponto final do bonde turístico, que vai para a garagem da CSTC de onde, por certo, deve desaparecer, ao invés de, como se
tentou argumentar oficialmente, ser reposto na linha, em funcionamento.
Bonde do Barbosa - Um antigo morador do bairro do Embaré, que se identificou como Oswaldo
Frangetto, disse claramente que não tem dúvida que a retirada do bonde turístico e a suspensão de seu funcionamento não passa de uma birra política:
"Ele - referindo-se ao prefeito Oswaldo Justo - não aceita a idéia do bonde turístico ter sido instalado por outro prefeito".
Outro morador do bairro, que chegou quase a agredir um dos operários da empilhadeira, de tanta
indignação ao ver a retirada do bonde dos trilhos, comentou: "Não se justifica a retirada do bonde do Barbosa. Muita gente vinha aqui - e eu sou
testemunha - só para olhar o bonde e entrar dentro dele. Tornou-se uma atração. Eu não acredito na história de que o bonde será reformado".
Desde junho de 1986, o prefeito Oswaldo Justo tinha idéia de dar fim ao bonde do Barbosa, como
algumas pessoas chegaram a tratar aquela linha que percorria uma distância de aproximadamente mil metros entre a Igreja de Santo Antônio e o
restaurante Vista ao Mar. Resistiu, no entanto, temporariamente à tentação e chegou a divulgar uma nota através de sua assessoria de que o bonde
funcionaria só nos finais de semana, com a cobrança simbólica de Cz$ 0,10. E anunciou mais: o bonde funcionaria também para o atendimento de creches
e escolas, tudo para passeios programados, visando dar às crianças uma diversão diferente e colocá-las em contato com o transporte que chegou a
dominar na cidade até a década de 60.
Os membros da Associação dos Amigos dos Bondes fizeram vários apelos, através de manifestações
escritas e por intermédio da imprensa. Nada adiantou. Justo alegou até certa ocasião que o bonde era deficitário. A União Cívica Feminina, na época
da desativação do bonde turístico, acompanhou o pensamento da Associação dos Amigos dos Bondes, hipotecando solidariedade à causa.
O presidente da CSTC, Marcus Alonso Duarte, querendo acompanhar a mesma linha de raciocínio do
prefeito Oswaldo Justo, falou na instalação de um Museu do Bonde, mas tudo ficou na mesma e a linha 13, turística, permaneceu inativa.
Preparação - Na segunda quinzena de janeiro, através de veículos de informações, começaram
os preparativos para dar fim ao bonde do Barbosa, inaugurado em 7 de julho de 1984. O diretor da CSTC, Eurico Carmine Del Galatro, na ocasião, falou
em "reforma", sem contudo assumir a responsabilidade de dizer que o bonde retornaria à circulação. Galatro disse apenas que "é preciso deixá-lo em
condição de trafegar. Terá pintura nova, com as novas cores e o logotipo da companhia, e todos os maquinismos voltarão a funcionar, como bonde de
verdade, de acordo com projeto já elaborado".
A Associação dos Amigos do Bonde, inconformada, não mediu
esforços para engrossar o movimento de ganhar a linha da orla da praia e recebeu, inclusive, mensagem de apoio do presidente José Sarney, através do
governador Franco Montoro, do ministro Aureliano Chaves e do deputado Gastone Righi, PTB, que prometeram em março do ano passado intervir junto às
autoridades municipais. Mas nada disso supera a ordem do prefeito Justo cumprida ontem, que usou nada menos que quatro empilhadeiras da Codesp,
prefixos 480, 437, 484 e 487, e a carreta placas WR 7822, fazendo desaparecer o bonde do Barbosa, linha 13, que, no mínimo, era turística e teve
planos no outro governo de ser estendida de ponta a ponta como uma atração que arrasta também por trás de si uma carga de parte da tradição da
cidade.
Completando o passeio, algumas fotos desse bonde
em 1983... |