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TRILHOS (07)
No tempo dos bondes da City... (2)

Contava Manuel Henriques Ribeiro, funcionário da Cia. City e da Companhia Municipal de Transportes Coletivos na época áurea dos bondes santistas:

"Quando comecei a trabalhar na City, em 1933, o superintendente era Bernardo Browne. Nessa época, ainda havia lampiões a gás nas ruas. Muitos empregados ganhavam ordenado extra para acender e apagar os lampiões.

"Os bondes então já eram todos elétricos, mas a City ainda mantinha a cocheira dos burros na Rua Júlio Conceição, porque os reboques dos bondes eram tirados da estação na Vila Mathias e puxados pelos burros até a Rua Rangel Pestana, para serem ligados aos bondes. A empresa também tinha uma locomotiva elétrica com dois vagões para transportar o gado, que vinha de trem pela estação Santos-Jundiaí até um cercado junto à estação de carga e descarga do Saboó (o "Desvio do Gado"). A locomotiva da City levava o gado até a estação do Emmerick (o Matadouro), na Avenida Nossa Senhora de Fátima.

Manoel (com o característico boné da SMTC) e companheiros, junto ao jipe de inspeção da empresa, por volta de 1965
Manoel (com o característico boné da SMTC) e companheiros,
junto ao jipe de inspeção da empresa, por volta de 1965

"No tempo da guerra (Segunda Guerra Mundial), todos os bondes receberam quebra-luzes para não serem vistos à noite pelos aviões inimigos. Os faróis da frente foram pintados de preto, para darem um mínimo de iluminação possível ao motorneiro. As casas tinham de permanecer de janelas fechadas e a iluminação das ruas tinha globos especiais para não ser vista de cima.

"Os bondes na época eram todos do tipo aberto. E estavam sempre no horário. Perguntava-se ao motorneiro de que horário ele era, e ele dizia: - Sou de 58... - Sou de 39. Os minutos eram contados e ele tinha que estar em determinado lugar naquele horário.

"Na linha 1, ligando a Praça dos Andradas a São Vicente, havia um motorneiro apelidado de mata-burros: era raro o mês em que ele não matasse um burro - os animais se metiam na linha, e ele não parava o bonde...

A história continua!

Carlos Pimentel Mendes