Até o início do século XX, duas vias
se destacavam na topografia do centro de Santos, ligando os dois principais núcleos habitados, os Quartéis e o
Valongo. Eram as ruas Setentrional (mais junto ao mar, antes chamada de Rua Pequena) e Meridional (mais afastada da água,
antes uma parte da Rua do Pelourinho à Santa Catarina), que seguiam mais ou menos paralelas até se encontrarem com a Rua
Direita (atual XV de Novembro), no local conhecido como Largo do Carmo (atual
Praça Barão do Rio Branco). As
vias Meridional e Setentrional principiavam na atual Praça Antonio Telles, nos lados da Igreja
Matriz, cuja demolição até 1908 seria o marco da remodelação da área, quando as duas vias se juntaram para dar lugar
à futura Praça da República.
Esta era a Rua Meridional em foto de 1865, vista do Pátio do Carmo:
Rua Meridional vista do Pátio do Carmo, em foto de Militão
Augusto de Azevedo
(albúmen com 11,2 x 16,6 cm – Acervo Museu Paulista)
Imagem reproduzida no livro Santos e seus Arrabaldes - Álbum de Militão Augusto de
Azevedo, de Gino Caldatto Barbosa (org.), Magma Editora Cultural, São Paulo/SP, 2004
Sobre essa foto, escreveu o arquiteto Gino Caldatto Barbosa, no livro Santos e
seus Arrabaldes - Álbum de Militão Augusto de Azevedo, em 2004:
"O surgimento da Rua Meridional se confunde com o
crescimento urbano direcionado para o Valongo, no sentido Oeste do povoado. Expansão que contribuiu para comunicar o terreiro dos jesuítas com o
adro da Igreja do Carmo, presente em Santos desde o final do século XVI, influenciando, com o prolongamento, a estruturação da Rua Direita. No
início do século XIX, a vocação religiosa do lugar cedia espaço ao comércio, potencializado pela existência das casinhas,
o primitivo mercado que se revelou importante ponto de encontro da população. Em 1865, ainda se encontrava em funcionamento, podendo ser
identificado na fotografia pela concentração de animais de carga em frente.
"Militão realizou três vistas da rua, possivelmente o último registro do quarteirão
das casinhas, demolidas posteriormente pela administração pública para permitir a urbanização da atual Praça da República. As duas tomadas
direcionadas para a Igreja do Carmo, Militão tratou como peças complementares, procurando com a junção das fotos reconstruir, à sua maneira, uma
visão panorâmica idealizada da paisagem".
As duas imagens se complementando, tal como citou o arquiteto, embora com
perspectiva inexata, pois as imagens foram tomadas de lados diferentes da rua Meridional, a distâncias variáveis do Carmo:
Fotos de Militão Augusto de
Azevedo
A primeira dessas imagens da Rua Meridional, em direção ao Carmo, tomada desde as
proximidades do Largo da Matriz:
Rua Meridional, em foto de Militão Augusto de Azevedo
(albúmen com 10,7 x 17,4 cm – Acervo Museu Paulista)
Imagem reproduzida no livro Santos e seus Arrabaldes - Álbum de Militão Augusto de
Azevedo, de Gino Caldatto Barbosa (org.), Magma Editora Cultural, São Paulo/SP, 2004
Mudando seu equipamento de posição na rua, aproximando-se mais das casas
fotografadas acima, Militão fez esta outra foto, em que ao fundo aparece a igreja do Carmo:
Rua Meridional vista do Largo da Matriz, em foto de Militão
Augusto de Azevedo
(albúmen com 10,8 x 14,1 cm – Acervo Museu Paulista)
Imagem reproduzida no livro Santos e seus Arrabaldes - Álbum de Militão Augusto de
Azevedo, de Gino Caldatto Barbosa (org.), Magma Editora Cultural, São Paulo/SP, 2004
Detalhando as fotos acima, é possível flagrar um pouco do cotidiano da cidade em
1865, com suas tropas de animais, o comércio lojista conhecido como mercado das casinhas, um raro lampião para a iluminação noturna da via:
Imagem: detalhamento de foto de Militão Augusto de Azevedo
Lojistas e populares observavam o então bastante incomum trabalho do fotógrafo:
Imagem: detalhamento de foto de Militão Augusto de Azevedo
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