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SANTOS DE ANTIGAMENTE
Ampliação do porto, 1930/60 (5)

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No período entre as duas guerras mundiais, apesar da Grande Depressão econômica de 1929, o porto de Santos continuou sendo expandido. Em 10 de julho de 1941, o jornal santista A Tribuna, publicava uma reportagem sobre as mudanças que estavam ocorrendo no porto (página 3 - ortografia atualizada nesta transcrição):


Obras de desdobramento do porto de Santos, na previsão de futuro aumento de seus serviços

A reportagem da A Tribuna visita os trabalhos de ampliação e remodelação das instalações da Docas, em que estão sendo despendidas dezenas de milhares de contos de réis

Alargamento do cais, novos cais, tanques de óleo, poderosos guindastes, vinte quilômetros de vias férreas e outras obras em execução


Aspecto dos trabalhos em conclusão para o alargamento da faixa do cais, em frente aos armazéns 20 e 23, do Paquetá a Outerinhos, com a ligação ferroviária ao trecho em prosseguimento
Foto e legenda publicadas com a matéria original

Com a assinatura dos recentes tratados de comércio entre o Paraguai e o Brasil, procuramos verificar quais as providências tomadas para o desenvolvimento de nosso porto, por onde se fará, em começo, pequena parte da exportação e importação de produtos procedentes ou destinados àquele pais.

Com uma população de apenas cerca de 1.500.000 habitantes, o Paraguai será, antes, um bom consumidor de produtos da indústria brasileira, que grande importador de mercadorias de outros países, através de nosso porto, e mesmo porque faltam comunicações ferroviárias, permitindo ligação direta entre Santos e Assunção, como é projeto que haja em futuro próximo, com o prolongamento da Estrada de Ferro S. Paulo-Paraná até Guaíra, ou com a construção de um ramal da Noroeste do Brasil partindo de Campo Grande, como está, aliás, previsto no plano geral de viação brasileira.

Todavia nos interessava saber se também o porto se aprestava para receber, nesse futuro que se aproxima, essa nova corrente de tráfego. E a nossa reportagem, pondo-se em campo, verificou que a Cia. Docas, acompanhando o crescimento progressivo do porto, projetou, propôs ao governo, e está executando, um largo programa de obras para ampliação e maior aparelhamento de suas instalações.

As partes do projeto em execução - Assim observamos que as obras de alargamento da faixa do cais entre o Paquetá e Outeirinhos estão em plena execução, encontrando-se já pronto o trecho compreendido entre o armazém 20 e o pátio entre os armazéns 23 e o Frigorífico, numa extensão de 550 metros e com uma despesa que monta a cerca de 12.000 contos de réis.

Essa nova parte do cais ficou com 30 metros de largura em vez de 19 que tinha antigamente, terá 11 metros de profundidade em vez de 8, podendo dar assim atracação mesmo aos super-transatlânticos; dispõe de 4 linhas férreas em vez de três, e ainda de uma faixa de 10 metros de largura para passagem de caminhões.

Desse modo, os serviços serão enormemente facilitados, quer quanto ao movimento de vagões, quer quanto ao de caminhões, tornando-se um independente do outro.

Para esse novo trecho de cais devem vir guindastes de 20 metros de raio de ação, maiores do que já o porto possui e serão assim, também, os maiores do país.

É preciso notar que na América do Sul nenhum porto tem obras de cais com 11 metros de profundidade em água mínima, e assim ficaremos na vanguarda por alguns anos.

Concluídas estas obras, já a Companhia atacou as obras do outro trecho do cais entre o Paquetá e o canal de Doca do Mercado, numa extensão de 765 metros, de modo a que esse novo trecho tenha as mesmas características do que descrevemos anteriormente.

Essas novas obras estão orçadas em 19.300 contos de réis.

Quinhentos metros de novos cais - Tendo verificado que seu cais tinha já um coeficiente de utilização elevado, a Companhia propôs ao governo a construção de 500 metros de novos cais a partir das proximidades do Rio Saboó, compreendendo mais o aterro de uma área de mangues de 200.000 metros quadrados.

Destas obras, que vão em franco progresso, já estão construídos 150 metros de cais e aterrados 130.000 metros quadrados, onde se colocaram mais de meio milhão de metros cúbicos de terra.

Essa obra representa cerca de 33.800 contos de despesas e destina-se especialmente à descarga de carvão, sal e outros gêneros a granel, instalação de pátios de manobras, carvoeiras e depósito de madeiras.

Mas não só estas grandes obras se executam.

Nada menos de dezessete grandes tanques para depósitos de combustíveis líquidos estão se construindo, uns em vias de conclusão, outros com suas fundações atacadas.

Estes tanques estão sendo situados na ilha do Barnabé e na Alemoa.

Para atender à condução do óleo para a Alemoa, a Companhia está construindo um oleoduto de 3 quilômetros de extensão e uma casa de bombas com capacidade para permitir a descarga de 700 toneladas de óleo por hora.

Essas obras estão envolvendo também despesas no valor de 20.000 contos de réis.

A guerra não permitiu que chegassem os vagões encomendados na Bélgica, mas a Companhia já encomendou os trucks na América do Norte e está construindo 40 deles em suas oficinas. A guerra também não permitiu a entrega de novos carrinhos elétricos encomendados na Alemanha, assim como vários outros materiais.

No entanto, a Companhia adquiriu na América 2 guindastes movidos sobre lagartas ou caterpilars, que já estão em serviço na movimentação de cargas a granel ou pesadas, e tem em estudo a aquisição de outros mais.

Outras obras prevendo o desenvolvimento do porto - Ainda prevendo o desenvolvimento do porto, a Companhia construiu em 1939 e 1940 mais 20 quilômetros de linhas férreas e tem em construção neste ano mais 18 quilômetros.

Foi igualmente aterrada, além do canal da Mortona, uma área de 12.0000 (N.E.: SIC) metros quadrados onde se construiu um pátio de manobras para facilitar a movimentação de vagões no trecho de descarga de carvão.

Para atravessar esse canal a Companhia está construindo duas pontes de tipo elevador e que serão as primeiras que se constroem no país, pois seu estrado é móvel, podendo elevar-se em um minuto até 20 metros acima do nível do cais. Uma delas já está em serviço. Esta obra é das mais interessantes até aqui executadas sob o ponto de vista técnico.

A despesa com estas obras montará em mais de 2.500 contos.

A aquisição de materiais dia a dia se torna mais difícil, e licenças especiais têm de ser pedidas aos governos brasileiro e americano para sua importação, mas, apesar de tudo, a Companhia não está medindo sacrifícios, empenhando-se em obras que atingem a casa dos 100.000 contos, porque, além das obras de Santos, construiu ela em Itatinga dois túneis, um de 543 metros de extensão e outro de 405 metros, para condução de água para a sua usina, em substituição a 1..60 (N.E.: SIC) metros do antigo canal. Esses túneis permitirão o aumento da capacidade da usina de energia elétrica, de cerca de 6 vezes. Aqui também as despesas sobem já a mais de 2.700 contos.

Vimos a abertura de uma vala desde Outeirinhos até a Alemoa, para colocação de dois cabos alimentadores de energia elétrica sob 12.000 volts. Esta obra está custando, sozinha, mais de 1.000 contos.

Assim, o porto está realizando obras importantes para o futuro, num período de dificuldades de toda a ordem, pois tem acontecido que o material encomendado perde com o inexorável afundamento de navios a que se procede nesta guerra, e quando se recorre à indústria nacional ela às vezes também não pode atender, por lhe faltar a matéria-prima indispensável e que era importada.


Vista aérea do trecho que está sendo aterrado para a construção de novos cais, com 500 metros de extensão, no Saboó
Foto e legenda publicadas com a matéria original



Publicamos ontem uma detalhada reportagem sobre as novas obras do porto de Santos. Nela fizemos referência aos 17 novos grandes tanques para depósitos de combustíveis líquidos, que se está construindo, alguns já em vias de conclusão, outros com as suas fundações atacadas. Esses tanques se acham localizados na Ilha Barnabé e na Alemoa. Acima, o clichê mostra a montagem de dois desses tanques, na Alemoa, vendo-se, em primeiro plano, os trabalhos no tanque OCB-6; ao fundo, aspecto da montagem do tanque OCB-5.
Foto e legenda publicadas no jornal A Tribuna, na sexta-feira, 11 de julho de 1941


Entre as obras complementares do desdobramento do porto de Santos, a que fizemos referência há dias, destacam-se as duas pontes de tipo elevador, que são das primeiras que se constroem no país, servindo para atravessar o canal da Mortona. Uma dessas pontes, cuja característica principal é o estrado móvel, que pode ser elevado até 20 metros acima do nível do cais, já se acha em funcionamento. Vemo-la aqui, tendo ao fundo o estaleiro da Mortona, com as embarcações em reparo
Foto e legenda publicadas no jornal A Tribuna, no sábado, 12 de julho de 1941