Este bairro, que fica às margens da
Rodovia Cônego Domênico Rangoni, tem 57 habitantes e uma característica marcante: é formado por muitos sítios. Esta vasta área servirá de chamariz
para as empresas
Foto: Cláudio Vitor Vaz, publicada com a
matéria
A tecnologia brotará aqui
Por enquanto, nem os moradores sabem que este é o Guarapá,
na Área Continental de Santos. Mas a Prefeitura quer transformá-lo em um grande polo de desenvolvimento
Lucas Krempel
Da Redação
Uma
região da Área Continental de Santos é considerada a menina dos olhos da Prefeitura: Guarapá, bairro a 32 quilômetros de distância do Centro, nas
margens da Rodovia Cônego Domênico Rangoni.
Lá, a Administração Municipal garante ter uma grande área para o Parque Tecnológico, a terceira frente de desenvolvimento do Município, após os
setores de porto e petróleo e gás. A expectativa é que empresas do setor de tecnologia construam ali seus centros de desenvolvimento.
Guarapá é uma área desconhecida pelos munícipes, inclusive os que moram nela. A Tribuna percorreu boa parte da Área Continental, seguindo até
Caruara, último bairro antes de Bertioga. No caminho, muita desinformação e brincadeiras por parte de moradores e trabalhadores da região.
Um guarda rodoviário, por exemplo, que trabalha em um posto próximo ao bairro, diante do pedido de informação sobre a direção de Guarapá, devolveu
com outra pergunta: "Isso é uma praia? Não conheço". Em um pequeno restaurante na Cônego Domênico Rangoni, funcionários e frequentadores também
disseram que nunca ouviram falar do bairro. "Aqui é Ilha Diana. Se existir Guarapá, deve ficar
próximo de Caruara", disse um dos balconistas do estabelecimento.
O primeiro a reconhecer Guarapá como um bairro de Santos foi um funcionário da Administração Regional da Área Continental de Santos, na Praça das
Palmeiras, em Caruara.
Em um primeiro momento, no entanto, ele estranhou o nome. Pegou um mapa, viu a localização e mostrou a direção. Voltamos ao restaurante, que pelo
mapa estava localizado em Guarapá, e conversamos com o balconista novamente. Ele, então, falou com o filho do proprietário do estabelecimento. "Olha,
Guarapá não é um bairro. É um sítio próximo ao posto de gasolina desativado e o pedágio. Tem um bananal lá",
disse, depois da consulta.
Uma das principais características do bairro, com uma população de apenas 57 pessoas, são os sítios. Neles, as pessoas mantêm criação de búfalos,
plantação de palmeiras, além de muitos cachorros, gatos, aves e outros animais.
Infografia publicada com a matéria
Valores - Os donos das terras não gostam de falar em
valores, mas A Tribuna apurou que um dos terrenos está avaliado em R$ 130,00 o metro quadrado. Muitas das áreas, apesar de contar com grandes
cultivos e criação de animais, são negociáveis. "Nada aqui é inegociável. Se for uma proposta
interessante, podemos sentar e fechar negócio", revela um dos proprietários.
A Savoy Imobiliária Construtora, responsável pelo Shopping Interlagos e outros 180 mil metros quadrados de área comercial em São Paulo, tem a posse
de muitas terras no bairro. Procurada pela Reportagem, essa empresa não se pronunciou sobre o que pretende investir nesta região de Santos.
Quem mora ali, no último bairro antes de
Bertioga, tem criações de búfalos e planta palmeiras, entre outros cultivos. ...
Foto: Cláudio Vitor Vaz, publicada com a
matéria
Parque é trunfo. Mas há concorrentes
Com a consolidação do setor portuário e o desenvolvimento da
área de petróleo e gás, a Prefeitura de Santos pretende abrir uma terceira frente de geração de emprego e renda. O Parque Tecnológico é o grande
trunfo na atração de empresas de tecnologia e inovação.
Mas Santos não está sozinha na disputa. Tem a concorrência de outras cidades de São Paulo, como Jundiaí, Campinas, Hortolândia, Indaiatuba,
Jaguariúna, Sumaré e São José dos Campos, que já contam com grandes companhias instaladas.
O ex-prefeito de Jundiaí, Miguel Haddad, diz que as empresas desse setor não precisam de grandes áreas para se fixarem. "Se
fossem montadoras de carros, Jundiaí não teria espaços disponíveis". Jundiaí reúne hoje cinco
das principais fabricantes do setor de tecnologia: Foxconn (iPad e iPhone, da Apple), Itautec, AOC, Compal e Arima.
De acordo com a Prefeitura de Jundiaí, 7,5 mil pessoas foram contratadas para atuar nesse segmento. Os salários para profissionais com Ensino
Técnico estão acima de R$ 2 mil nessas fábricas. Com Ensino Fundamental ou Médio, o salário cai para R$ 1.150 iniciais.
Fundação - O Parque Tecnológico de Santos, que recebeu o credenciamento definitivo no Sistema Paulista de Parques Tecnológicos (SPTec) no
início deste ano, é controlado por diretorias e conselhos administrativo e técnico – este último toma decisões relacionadas às pesquisas.
O parque nasceu formalmente por iniciativa da Prefeitura de Santos, que integra o Conselho de Administração ao lado do Governo do Estado e Agência
Metropolitana (Agem), além da Petrobras, Usiminas e Codesp. Também participam as universidades da região, a Associação Comercial de Santos, Sebrae,
Sistema S (Senai, por exemplo) da Fiesp e Ciesp.
O Governo de São Paulo criou o SPTec, que dá apoio e suporte aos parques tecnológicos. Os objetivos são atrair investimentos e gerar novas empresas
intensivas em conhecimento ou de base tecnológica, que promovam o desenvolvimento econômico.
Em todo o Estado, existem 28 iniciativas para implantação desses empreendimentos. Os parques de São José dos Campos, Sorocaba, Ribeirão Preto,
Piracicaba e Santos são os únicos com o credenciamento definitivo até o momento.
Sede |
O escritório sede da Fundação Parque Tecnológico de Santos está localizado em uma das
salas do prédio da Incubadora de Empresas, na Rua Brás Cubas, 154, na Vila Nova. Uma área livre do antigo Colégio Santista, no entanto, já foi
reservada para a construção do prédio da fundação. Serão seis andares, com laboratórios e centros de pesquisas, além das salas
administrativas.
Um projeto de lei para atrair empresas de tecnologia está tramitando na Câmara. O objetivo é criar incentivos fiscais globais para atividades
ligadas à tecnologia, apostando em projetos, incentivando talentos, além de abrigar os profissionais de empresas que tenham novas ideias. |
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Mas, segundo um dos proprietários de
terras, tudo pode ser negociável, dependendo da proposta
Foto: Cláudio Vitor Vaz, publicada com a
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