A Societá Rocco Piaggio & Figli - fundada em Gênova (Itália), em 1870, pelo armador Rocco Piaggio - havia sido constituída para explorar uma linha de
passageiros entre a Itália e a América do Sul, na época pioneira da emigração italiana para o Brasil e o Prata. O início modesto era condicionado pelos poucos recursos financeiros disponíveis e só
permitia a entrada em serviço de um navio de linha. Era este o Ester, construído no Estaleiro de Briasco, em Sestri Ponente, no mesmo ano da fundação da companhia.
Era um clipper de madeira de apenas 807 t.a.b., que inaugurou o serviço em outubro, saindo de Gênova para Nápoles, Rio de Janeiro, Montevidéu, Buenos Aires, Rosário e Assunção, fazendo a viagem com apenas
seis nós por hora de velocidade e levando dois meses para realizar só a ida. Em 1880, rebatizado Pampa, o navio pioneiro foi destruído por um incêndio no porto de Santos.
No entretempo, a Rocco Piaggio havia comprado outros navios de segunda mão e colocado os mesmos na linha sul-americana. Eram estes o Columbia, o Ester, o Maria e o L'Italia.
Novo navio - Em 1878, fora encomendado, aos estaleiros MacMillan, na Escócia, um navio que deveria permitir à companhia enfrentar a concorrência na rentável linha de emigrantes. No mesmo ano, no mês de
agosto, foi lançado ao mar, batizado com o nome de Umberto I (numa homenagem ao rei italiano de então) e, no mês de dezembro iniciou a sua viagem inaugural, entre Gênova e Buenos Aires, com o casco branco e sob o comando do capitão Merlani.
Com uma circular - datada de 1º de julho de 1872 e assinada pelo Sr. Bartolomé Bignone, italiano emigrado e proprietário de terras na Argentina - fazia-se um convite publicitário destinado àqueles que tinham a
intenção de partir para a América do Sul.
Esta circular era distribuída nas regiões italianas através do agente do Sr. Bignone, um tal Pellegrino Buscaglia, de Gênova, e dava uma idéia do pensamento existente na época em Buenos Aires em relação à
imigração.
Transcrevemos aqui alguns pontos desta circular:
O abaixo assinado, Bartolomé Bignone, encorajado pela absoluta falta de braços que se faz sentir na República Argentina, como também por um decreto-lei do governo argentino que protege o imigrante, e na
consideração que uma nova era de paz e progresso é iniciada para esta república, estabeleceu um grande escritório, onde, ao chegarem, as famílias de imigrantes possam rapidamente encontrar trabalho nas províncias deste país. A falta de braços
na agricultura é muito grande, sobretudo nas regiões onde a ferrovia estendeu a sua presença no interior do país. O clima é muito saudável e os terrenos, férteis. A colocação (dos colonos) é gratuita,
assim como o são o transporte ferroviário ou de barco para aqueles que querem de Buenos Aires prosseguir com destino a uma colônia no interior; tais pessoas devem, porém, imediatamente avisar nossa agente no momento da atracação de seus navios
em Buenos Aires.
As vantagens mencionadas são dadas preferencialmente a:
1) aqueles que sejam agricultores não idosos e que possuam família;
2) aqueles que tenham uma profissão, como carpinteiro, ferreiro, operário de construção, operário de máquinas;
3) aqueles que possuam um certificado de boa conduta e de profissão emitido por autoridade local italiana;
4) aqueles que não tenham cumprido alguma pena de prisão.
Serão excluídos automaticamente os aleijados e os que não puderem trabalhar por razões médicas |
Antes da criação, na Itália, da agência oficial Comissariado Geral para a Emigração, era assim que vinham sendo recrutados aqueles que sonhavam com uma nova vida nas Américas, homens que embarcavam em navios como o
Umberto I.
Na NGI - O Umberto I realizava a viagem Gênova-Rio de Janeiro-Santos-Montevidéu e Buenos Aires em 22 dias e, até 1885, data de sua incorporação à NGI, foram realizadas mais de 40
viagens redondas (ida e volta) na Rota de Ouro e Prata.
Em julho de 1885, a companhia Rocco Piaggio foi absorvida pela Navigazione Generale Italiana, e o Umberto I, junto com outros quatro navios, passou para as cores preta e branca do novo
armador, continuando porém a servir a linha para a América do Sul.
Em outubro de 1887, o Umberto I encalhou na costa tirrênica, quando em viagem de Nápoles a Gênova. Foi safado da incômoda situação alguns dias depois por rebocadores e conduzido em seguida até La Spezia,
onde sofreu reparos aos danos.
No verão de 1896, sob o comando do capitão Chiodo, o Umberto I realizou o que na época constituía uma verdadeira novidade no Mediterrâneo, ou seja, uma viagem-cruzeiro de luxo que o levou a diversos portos
da Espanha, do Marrocos, da Tunísia e da Sicília.
Dois anos antes, ele havia sido retirado da rota sul-americana e empregado na linha que ligava Gênova a Alexandria, no Egito, linha esta que havia sido concedida à NGI em 1893, junto com outras de importância
média. Tais concessões faziam parte da reforma iniciada em 1891 pelo governo italiano, reforma destinada à melhoria das ligações marítimas entre o reino e outros países.
O Umberto I permaneceu em serviço nessa rota mediterrânea até o ano de 1910, quando foi cedido pela NGI a outra empresa de navegação italiana, a Societá Nazionale di Servizi Maritimi (SNSM). Cabe notar que,
além do Umberto I, nada menos do que outros 64 navios da NGI passaram ao mesmo tempo à propriedade da SNSM.
O Umberto I é visto aqui atracado no porto de Livorno (Itália) por volta de 1898
Cargueiro - A Societá Nazionale di Servizi Maritimi logo em seguida revendeu o Umberto I à empresa dos estaleiros Orlando, de Livorno, Itália, que procedeu à sua transformação em navio cargueiro.
Quis o destino que nessa nova condição, e com o mesmo nome, o Umberto I voltasse a freqüentar a velha rota para a América do Sul, desta vez levando em seu bojo mercadorias, ao invés de passageiros. A idade
do navio, no momento de sua transformação em cargueiro, já era respeitável, 32 anos de mar!
Durante a Primeira Guerra Mundial, de 1914 em diante, o ex-transatlântico, ex-mercante de carga, foi transformado em cruzador-auxiliar de escolta pela Marinha Italiana e é nessa condição de uso que o Umberto I
encontrou o seu fim.
No dia 14 de agosto de 1917, às 18h30, quando se encontrava ao largo da ilha de Gallinara, escoltando um comboio que se dirigia ao porto de Gênova, foi atacado e alvejado com o canhão de bordo pelo submarino UC-35.
O disparo posterior de um torpedo fez com que o antigo navio desaparecesse imediatamente, com a perda de 26 homens de sua tripulação. |