Filho de um pastor não-conformista, William James Lamport chegou à cidade de Liverpool, Inglaterra, em 1829, com 14 anos de idade, para trabalhar como office-boy da
empresa armadora e mercante "Gibbs, Bright & Co". Durante 16 anos, até 1845, ele colaborou fielmente na empresa, fazendo sobretudo um excelente aprendizado em todos os departamentos ligados à navegação. Quando o sr. George Holt começou a se inquietar sobre o futuro de seu filho, George Holt Júnior, ele pensou que o amigo deste último, William James Lamport, poderia ser o homem certo para dar uma carreira ao filho como armador e
negociante. G.Holt. Jr. tinha então 21 anos.
L-H - Assim, nesta ordem lógica de pensamentos e fatos, nasceu, no ano de 1845, em Liverpool, na Rua Fenwick, a empresa de navegação Lamport & Holt (L-H).
A idéia e o capital vinham de George Holt sênior, a experiência e capacidade de trabalho se encontravam na personalidade de W. J.Lamport.
O primeiro navio da jovem empresa e dos jovens armadores foi o barco de madeira a vela Christabel, de 335 toneladas, construído nos estaleiros pertencentes ao tio de W. J. Lamport, o sr. Charles Lamport, em
Workington.
Entre 1845 e 1871, a L-H foi proprietária de outros 41 veleiros, que viajavam entre a Inglaterra e a costa Leste dos Estados Unidos, o Rio da Prata, a Índia, a África do Sul e a costa Oeste da América do Sul.
Como era comum naquela época, além de armadores, os jovens Lamport e Holt faziam também bons negócios como mercantes, pois eles compravam com freqüência as cargas de terceiros, que seus próprios navios carregavam e
freqüentemente também a revendiam, enquanto o navio se encontrava ainda na navegação. Algumas cargas mais preciosas eram vendidas e revendidas várias vezes antes do desembarque do navio.
Em 1861 entrou na frota da L-H o primeiro navio a vapor. Era o Memnon, de 1.290 toneladas, construído em Greenock (Escócia) especialmente para a companhia.
O pioneiro da empresa a ser utilizado na Rota de Ouro e Prata foi o navio misto Kepler, de 1863, com 1.500 t.a.b. que naquele mesmo ano de lançamento realizou a primeira viagem com passageiros para o Brasil
e a Argentina.
Entre a viagem pioneira do Kepler em 1863 e 1933 (ano em que a L-H deixou de transportar passageiros em grande número em seus navios para o Brasil e o Prata), nada menos do que 107 outros navios da companhia
tiveram também o privilégio de fazê-lo, transformando a Lamport & Holt em uma das três principais empresas a servirem a Rota de Ouro e Prata.
Em 1865, a associação dos senhores Lamport e Holt havia já se desenvolvido de tal maneira, que foi decidido criar uma empresa subsidiária que levaria o nome de Liverpool, Brazil & River Plate Steam Navigation
Company e da qual os dois se tornariam principais acionistas e diretores.
Seria sob esse novo nome oficial que a linha da costa Leste da América do Sul seria servida, mas por razões de simplificação o nome de Lamport & Holt continuaria a ser utilizado na linguagem corrente do dia-a-dia.
Construído em Hebburn-on-Tyne, o Tycho Brahe foi o 19º navio da Lamport & Holt
Correio - No ano de 1867, a companhia havia requerido à Direção Geral dos Correios do Reino Unido e Grã-Bretanha a autorização de transporte oficial de malas de correio. Este serviço havia sido concedido em
caráter de monopólio à Royal Mail em 1850 e em 1868 estava previsto o vencimento da concessão em exclusividade. Nesse mesmo ano, a Lamport & Holt receberia o primeiro contrato para o transporte de correspondência entre os
países do Reino Unido, o Brasil, o Uruguai e a Argentina.
No dia 20 de agosto de 1868, o vapor Hipparchus, da L-H, embarcou o primeiro carregamento de correio, chegando ao porto do Rio de Janeiro em 11 de setembro, a Montevidéu no dia 18 e a Buenos Aires no dia 20.
Havia sido assim encerrado o monopólio dourado da RMSP (Mala Real Inglesa).
Construído em 1867 pelos estaleiros de Hebburn, A.Leslie & Co., por ordem da L-H, o vapor Tycho Brahe era o 19º encomendado pela empresa e 13º a sair do mesmo estaleiro. No ano de sua construção e lançamento
(1867), realizou-se em setembro a sua primeira viagem na Rota de Ouro e Prata, saindo de Liverpool e escalando em Lisboa, Bahia, Rio de Janeiro, Montevidéu e Buenos Aires.
Entre 1868 e 1876 (ano em que a L-H perdeu a concessão dos correios britânicos), o Tycho Brahe realizou 27 viagens com o título oficial de steamer-packet (vapor postal). Este título distinguia os
navios comuns dos navios transportando correio oficial e significava para o armador um pagamento de subsídio para as despesas da viagem (ida ou volta) por parte da administração dos correios.
Podia acontecer que o navio saísse da Inglaterra com correio a bordo destinado ao Brasil e ao Prata, mas que na volta o mesmo navio não carregasse nenhuma mala-correio. Isto explica o porquê de somente 20 viagens
do Tycho Brahe como vapor-postal de 100 viagens não redondas (ida ou volta) realizadas no período entre 1867 e 1876.
Cada viagem levava cerca de 30 dias entre Liverpool e Buenos Aires, com quatro escalas intermediárias. A viagem redonda levava portanto dois meses. A última viagem do Tycho Brahe na Rota de Ouro e Prata com
o título de steamer packet aconteceu em 1876 com saída de Liverpool em 18 de abril e chegadas ao Rio de Janeiro, Montevidéu e Buenos Aires respectivamente em 13, 20 e 22 de maio.
Novas bandeiras - Em 1877, foi fundada uma nova companhia subsidiária da Lamport & Holt. Tratava-se da Societé de Navegation Royale Belge Sud-Americaine, com sede em Antuérpia e de direito belga. Esta
empresa tinha por missão transportar o correio oficial do governo da Bélgica entre este país e outros espalhados pelo globo.
Como conseqüência de sua fundação, à nova empresa foram transferidos nada menos do que oito navios do grupo L-H, entre esses o Tycho Brahe, que passou assim a arvorar o pavilhão belga em seus mastros.
Antes que tal transferência acontecesse, o Tycho Brahe realizou algumas poucas viagens entre Rio de Janeiro e Nova Iorque sob o patrocínio do Governo Brasileiro.
Em 1892, o Tycho Brahe foi vendido a Charles Wells, cidadão inglês que alguns anos antes havia conseguido o impossível: quebrar a banca do cassino de Montecarlo, num dia de sorte.
O sr. Wells mudou o nome do Tycho Brahe para um explícito Palais Royal, mas provavelmente se tratava de um investimento especulativo, pois no ano seguinte o Palais Royal era revendido duas
vezes, indo finalmente parar nas mãos de um armador turco de Constantinopla (Istambul, Turquia), que o rebatizou como Taif.
Sua utilização sob esse nome e bandeira turca é praticamente desconhecida. O fim do Taif (ex-Tycho Brahe, ex-Palais Royal) chegou com a colisão ocorrida no dia 30 de outubro de 1908, ao largo
da Ponta Sereglio, perto do porto de Constantinopla, com o vapor turco Bagdad. |