Foi o primeiro de uma série de 13 vapores, todos de desenho e concepção similares. Oito destes foram construídos em Greenock (Escócia) pelo estaleiro Caird & Co., um também foi
construído nessa mesma localidade, porém pelo estaleiro Robert Steele & Co., e os quatro restantes, pelo estaleiro Earle's, do porto e cidade de Hull (Inglaterra). No espaço relativamente curto de dez
anos, de 1866 a 1876, a NordDeutscher Lloyd (NDL) incorporou à frota nada menos do que 29 novos vapores por ela mandados construir, desde o Deutschland, de 1866, até o Habsburg, de 1876.
Destes 29 navios construídos, 23 o foram pelo estaleiro Caird & Co., situado às margens do Rio Clyde.
O Deutschland, da Hapag, foi em sua época o maior navio de passageiros do mundo
Foto: cartão postal europeu do início do século XX
Se considerarmos a data de fundação da NDL (1857), podemos dizer que a armadora, no período de 20 anos (de 1857 a 1876) ordenou a construção de 36 vapores, ou seja, em média um navio a cada seis meses.
O estopim para o crescimento acelerado da NDL na década de 70 do século XIX foi o término do conflito entre França e Prússia, em 1871. Três anos mais tarde, porém, a economia europeia encontrava-se em recessão e a
NDL, tal como todas as outras armadoras do continente, viu-se face a um período de dificuldades financeiras.
Novo mercado - Esta crise econômica em nível continental fez com que os povos europeus procurassem emigrar para as Américas em busca de novos horizontes. Foi assim que, a partir de 1875, o ritmo de embarques
de passageiros emigrantes aumentou consideravelmente em todos os países europeus com destino sobretudo à América do Sul.
A NDL, como empresa competitiva, não podia ficar fora desse novo e promissor mercado e, em março de 1876, aparelhou o Hohenzollern para a primeira viagem com destino aos portos do Brasil e do Prata. Este
vapor foi seguido por outros três da empresa (o Salier, o Habsburg e o Konprinz Friedrich Wilhelm), que no mesmo ano zarparam para a costa Leste da América do Sul.
O Strassburg, pioneiro da série de 13 que leva seu nome, só realizou sua primeira viagem na Rota de Ouro (Brasil) e Prata (Argentina/Uruguai) no ano de 1881. Lançado ao mar em 1872, iniciou suas
atividades na linha que ligava Bremen (Alemanha) a Nova Orleans (Estados Unidos) via Nova Iorque. Sua viagem inaugural ocorreu com a saída do porto hanseático em 3 de setembro de 1872.
O Strassburg atracado em Santos, no quadro de Benedito Calixto
Imagem: reprodução, publicada com a matéria
Características - Tal como os sucessores da série, o Strassburg era um vapor de linhas bem avançadas para a sua época, de construção robusta e linear. Possuía dois grandes mastros equipados com velas
quadradas que auxiliavam a propulsão dada pelo maquinário a vapor. Este era constituído por uma máquina do tipo Compound, com dois cilindros que lhe permitiam desenvolver uma velocidade média de 10 nós (18,5 km/h).
Dessa série faziam parte os seguintes vapores, por ordem de lançamento, com os respectivos estaleiros construtores:
1
|
Strassburg |
4/1872
|
Caird |
2
|
Mosel |
8/1872
|
Caird |
3
|
Braunschweig |
4/1873
|
R.Steele |
4
|
Feldmarchal Moltke |
4/1873
|
Caird |
5
|
Hohenzollern |
5/1873
|
Earle |
6
|
Minister Roon |
6/1873
|
Caird |
7
|
Nürnberg |
9/1873
|
R.Steele |
8
|
Hohenstaufen |
9/1873
|
Earle |
9
|
Oder |
11/1873
|
Caird |
10
|
Neckar |
11/1873
|
Caird |
11
|
General Werder |
2/1874
|
Caird |
12
|
Salier |
6/1874
|
Earle |
13
|
Habsburg |
1/1875
|
Earle |
Destes 13 vapores, além do Strassburg, somente outros quatro foram utilizados pela NDL na Rota de Ouro e Prata: os já mencionados Hohenzollern, Salier, Habsburg e o
Hohenstaufen.
Detalhe do quadro de Calixto mostra os carregadores de café para bordo do Strassburg e, ao fundo, o trapiche com os vagões ferroviários
Quadro - Após ter permanecido estudando pintura em Paris (França), por dois anos, Benedito Calixto retornou em fins de 1884 ao Brasil e à sua casa de São Vicente (SP). É fato sabido que, durante sua estadia
francesa, o jovem Calixto iniciou a se interessar por fotografia, arte que muito viria a influenciar sua obra posterior.
Sua visão artística, já até então bastante realista, tornou-se, com o auxílio da fotografia, de uma precisão impressionante, e em suas telas encontrou-se o ponto de equilíbrio entre essas duas artes: a primeira,
clássica; a segunda, revolucionária desde a sua invenção.
Uma de suas obras de cenografia documentária das mais preciosas retrata o vapor Strassburg fundeado no porto de Santos, na altura do que depois seria o Armazém 4. A tela,
pintada em delicadas cores apasteladas, apresenta um belíssimo contraste de claro-escuro, com o céu e a Serra do Mar e as águas do estuário dando luz à obra e contrastando com as cores mais escuras do casco do navio, das construções de beira-água e
do verde escuro da Ilha de Barnabé.
À esquerda da tela reconhece-se o trapiche da estrada de ferro, com sua fileira de vagões e dois grandes veleiros. Através de um pontilhão de madeira arqueado sobre o castelo de popa (ré) de uma pequena embarcação,
notam-se os carregadores de café que, com suas sacas no dorso, se dirigem para o Strassburg.
Este, vazio, com a parte vermelha do fundo do casco aparecendo, encontra-se ligeiramente adernado (inclinado) para bombordo (lado esquerdo) e leva à popa a bandeira vermelha, branca e negra do Império teutônico,
assim como o nome claramente visível em letras douradas.
Assim, Calixto fixou para a posteridade um momento da história santista e do Strassburg e, nessa obra extraordinária, pela nitidez dos detalhes e composição, deixa sua melhor marca como o pintor do porto de
Santos.
Final - Após permanecer por cerca de 15 anos em serviço ininterrupto na Rota de Ouro e Prata, o Strassburg foi vendido pela NDL como sucata a demolidores de navios do porto de Gênova, na
Itália, onde foi desmantelado. |