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ROTA DE OURO E PRATA
Navios: o Sobieski

1939-1975 - depois Gruziya

Nelson Antonio Carrera (*)

Em 1919, o Tratado de Versalhes deu à Polônia 100 quilômetros de costas no Mar Báltico, em cuja extensão incluíam-se trechos áridos e estéreis, recantos bucólicos de verão, bem como vilarejos de pescadores.

Era nessa área que se localizava a cidade de Gdynia, que na época contava apenas 500 habitantes. Entretanto, os poloneses lançaram febrilmente mãos à obra em 1924 para desenvolver a região e, seis anos mais tarde - ou seja, em 1930 -, a população de Gdynia já chegava à marca de 42 mil habitantes. Tornou-se a sede da Gdynia-Amerika Linje (GAL), depois conhecida como Polish Ocean Lines (POL).

Naquele crítico ano de 1930, enquanto a Europa e os Estados Unidos, sobretudo, partilhavam os amargores de uma crise sem precedentes, a Gdynia-Amerika Linje despachava a Nova Iorque seu primeiro transatlântico, o Pulaski.

Construído em 1912, em estaleiros britânicos, por conta e ordem de uma armadora russa, sobreviveria à Primeira Guerra Mundial para, em 1930, inaugurar o serviço de passageiros da então GAL.

Em 1936, o Pulaski realizou sua primeira viagem ao Brasil e à Argentina, saindo de Gdynia em 25 de abril daquele ano. Outros três navios se seguiriam ao Pulaski, a saber: Kosciuzko, igualmente antigo, e dois inteiramente novos, dos quais o primeiro deles chamou-se Sobieski.


O Sobieski na sua viagem inaugural para o Brasil e o Prata

Herói polonês - Construído nos estaleiros do Rio Tyne, Swan Hunter & Wigham Richardson, na divisão denominada Neptune-Works, o Sobieski foi assim batizado em honra ao grande herói polonês Jan Sobieski, que governou a Polônia de 1674 a 1696, em cujo período venceu a batalha de Viena, em 1683, recebendo o cognome de Defensor da Fé.

O casco nº 1.572 teve sua quilha batida em 15 de julho de 1937 e foi lançado ao mar na data de 25 de agosto de 1938. Inteiramente acabado em 22 de maio de 1939, realizou suas provas de mar atingindo a velocidade aproximada de 19 nós, o que lhe dava dois nós de margem em relação à sua velocidade de serviço, fixada em 17 nós (31,5 km/h). O Sobieski tinha um calado de verão de 8,20 m (com capacidade de carga total de 300 mil pés cúbicos, distribuídos em cinco porões).

A bordo, haviam sido montados dois motores diesel patente Burmeister & Wain produzidos na oficina mecânica de Kincaid, com oito cilindros cada um e dando ao transatlântico uma potência de 8.800 CV a 12 rpm nos hélices. Estes eram dois de quatro pás cada um. O Sobieski, cujo número de registro marítimo era 86365, no início de sua carreira foi classificado com a máxima distinção pelo Lloyd's Register.

Festa em Santos - Após as provas de mar, tomou rumo a Gdynia, na Polônia, de onde saiu em 15 de julho de 1939 em viagem inagural a Buenos Aires, com escalas em Kiel (Alemanha), Boulogne (França), Dacar (Senegal), Rio de Janeiro e Santos.

A chegada a Santos, procedente de Gdynia, estava marcada para o dia 5 de julho de 1939. Como primeiro transatlântico inteiramente novo, a armadora Gdynia-Amerika Linje (que no porto de Santos era representada pela agência F. Hampshire, agentes e representantes da Lamport & Holt Lines, de Londres) organizou um coquetel dançante, abrilhantado pelo grupo de jazz Cadetes Santistas, da Rádio Atlântica.

Foram convidados o interventor federal do Estado, autoridades civis, militares, federais e municipais de Santos. Da capital paulista, sairia naquele dia, as 10h20, um trem conduzindo 150 pessoas da colônia polonesa, bem como um ônibus da Viação Cometa com 50 passageiros sairia às 13h30. Não obstante todos os preparativos para assinalar o evento, o Sobieski atrasou-se no percurso, chegando a Santos às 21h00 na barra, atracando às 22h00 do mesmo dia.

Devido ao adiantamento da hora, com saída marcada para a manhã seguinte, às 6h00, a confraternização foi transferida para a viagem de retorno de Buenos Aires, quando, detendo-se no porto por um período mais longo e em horário apropriado, foi então realizada a grandiosa festa costumeira nas viagens inaugurais de transatlânticos naquela época.

Viagem interrompida - De retorno à Polônia, o Sobieski chegou a Gdynia e ainda deu início à segunda viagem, a qual foi interrompida no meio do Oceano Atlântico, em razão da invasão de forças nazistas à Polônia em 1º de setembro de 1939.

No início de setembro, durante a escala em Dacar, o comandante Zdenko Knoegten recebeu ordens para abandonar a viagem e de retornar ao continente europeu. O destino? Inglaterra, onde havia sido construído!

Lá, foi submetido a trabalhos de conversão em navio-transporte de tropas, e durante toda a Segunda Guerra Mundial transportou tropas aliadas. Como em todos os navios de passageiros assim empregados, seus rumos eram sempre ignorados pela maioria, até mesmo por seus tripulantes.

Terminada a guerra, foi devolvido à Gdynia-Amerika Linje no início do ano de 1946 e em bom estado! Reconvertido à sua condição original de navio de passageiros, o Sobieski não mais voltou à América do Sul, para cuja rota fora construído.

Período comunista - A Gdynia-Amerika Linje era agora uma armadora de um país que perdera a liberdade. O Tratado de Varsóvia subordinara a Polônia e tantos outros países do Leste Europeu ao jugo comunista, que fecharia intermináveis fronteiras ao mundo.

Saindo da guerra com apenas dois transatlânticos, que construíra antes do conflito, a GAL colocou um na linha da América do Norte, o que já bastava para satisfazer a procura do limitado número de cidadãos poloneses que saíam para o estrangeiro.

Como o fluxo de emigrantes dos portos do Mar Mediterrâneo era mais numeroso, foram tomadas providências imediatas, principalmente nos portos italianos de Gênova e Nápoles, para o embarque desses emigrantes.

A 14 de maio de 1947, o Sobieski saiu de Gênova em viagem inaugural do período de pós-guerra, efetuando uma escala em Cannes, na França, de onde foi direto a Nova Iorque. Realizou 29 viagens redondas, sendo que, nas viagens subseqüentes à inaugural, incluiu-se Nápoles no continente europeu e Halifax no Canadá, do lado do continente norte-americano, como portos de escala regulares.

Em 1950, com a paulatina reconstrução da frota mercante italiana, o Sobieski não conseguiu se manter na concorrência e acabou sendo vendido à empresa soviética Black Sea Shipping Company, de Odessa, na Ucrânia.

Rebatizado com  o nome Gruziya, não voltaria a singrar mares internacionais, ficando sua atividade confinada à rota doméstica de Odessa a Batumi, na Geórgia. Navegou 25 anos sob bandeira soviética e em 14 de abril de 1975 chegou a La Spezia, na Itália, onde foi sucateado. Esta foi sua única saída de águas soviéticas neste longo período e o fim de sua história.

CRONOLOGIA:

15/07/1937 - batimento da quilha
25/08/1938 - lançamento
22/05/1939 - provas de mar e entrega à armadora
15/06/1939 - largada de Gdynia em viagem inaugural a Brasil, Uruguai e Argentina
Setembro/1939 - durante escala em Dacar, no Senegal (na África atlântica, a ocidental), recebeu ordens de abandonar a segunda viagem à América do Sul e ir à Inglaterra. Convertido em navio de transporte de tropas aliadas
1946 - restituído aos armadores, a Gdynia-Amerika Linje
14/05/1947 - saiu de Gênova em viagem inaugural do período pós-guerra à América do Norte
Março/1950 - vendido à armadora estatal soviética Black Sea Shipping Company, de Odessa. Linha doméstica de Odessa, na Ucrânia, a Batumi, na Geórgia
14/04/1975 - chegou a La Spezia, na Itália, onde foi demolido como sucata

(*) Nelson Antonio Carrera, de Santos, é pesquisador de assuntos marítimos.

Sobieski:

Outros nomes:Gruziya
Bandeira: polonesa
Armador: Gdynia-Amerika Linje
País construtor: Grã-Bretanha
Estaleiro construtor: Swan Hunker & Wigham Richardson (porto: Newcastle-on-Tyne)
Ano da viagem inaugural: 1939
Tonelagem de arqueação (t.a.b.): 11.030
Tonelagem bruta: 7.336 t
Capacidade de carga: 299,175 pés cúbicos, em cinco porões
Comprimento entre perpendiculares: 147,82 m
Comprimento total: 155,81 m
Boca (largura) extrema: 20,51 m
Boca na ossada: 20,42 m
Calado de verão com carga total: 8,20 m
Hélices: 2, de quatro pás cada uma
Velocidade média: 17 nós
Velocidade de provas: 19 nós
Propulsão: 2 motores diesel patente Burmeister & Wain, produzidos na Inglaterra, na oficina mecânica Kincaid, com 8 cilindros. Potência: 8.800 HP a 12 RPM nas hélices
Tripulantes: 260
Passageiros: 1.154
Classes: 1ª -       44
                2ª -     250
                3ª -     860

Artigo publicado no jornal A Tribuna de Santos em 28/10/1993