O visitante que estiver de passagem por Paris, e que se interesse pelo mar, deve visitar o Museu da Marinha Francesa, que está instalado no Palais de Chaillot, numa das alas
daquela imponente construção, que se encontra face aos jardins do Trocadero e à magnífica Tour Eiffel. O museu em si é relativamente pequeno, embora rico em histórias, objetos e inúmeras maquetes de navios ligados à tradição marítima da França.
Foi ali exposta, pela primeira vez, a coleção dos objetos recuperados do fundo do Atlântico Norte e que se encontravam a bordo do Titanic, afundado em abril de 1912, após o choque com um iceberg. Estes
objetos foram trazidos à superfície em 1987 pelo mini-submarino Nautile, pertencente ao Ifremer.
O Ifremer, organização francesa especializada em pesquisa submarina, havia participado em 1985, junto com a equipe do doutor Robert Ballard, do Instituto Oceanográfico de Woods Hole (Massachusetts, Estados Unidos),
na busca do Titanic, busca que permitiu localizar os restos do transatlântico da White Star Line no dia 1º de setembro daquele ano.
Dois anos mais tarde, os técnicos do Ifremer voltaram ao local onde jaz o Titanic, recuperando cerca de 400 itens que se encontravam a bordo da primeira e última viagem daquele que era, então, o maior navio
de passageiros do mundo.
Mas, voltemos ao museu. Aí estão maquetes de navios de guerra dos séculos XVII, XVIII e XIX, esplêndidos exemplares da construção naval daquelas épocas em que a propulsão eram a vela e o vento.
Maquete - Na ala dedicada ao século XX, encontram-se maquetes de alguns dos mais importantes navios de passageiros de bandeira francesa: Normandie, Ile-de-France, Pasteur e o France,
que ainda hoje (1997) navega sob o nome de Norway. Mas a maquete mais interessante é sem dúvida aquela que reproduz o transatlântico misto Paraguay, navio construído no porto de Saint Nazaire (França) pelos estaleiros Ateliers et
Chantiers de la Loire entre 1887 e 1888.
Esta maquete, medindo quase dois metros, é a original feita pelo próprio estaleiro construtor do Paraguay e o apresenta com um corte longitudinal ao longo do casco todo, este medindo quase dois metros.
Pode-se assim visualizar como era o navio no seu interior, desde os salões e cabinas de passageiros até os porões de carga e os depósitos de carvão que alimentavam as caldeiras.
O efeito visual é esplêndido e a experiência - oferecida por essa obra de arte em miniatura - altamente enriquecedora, pois se trata do testemunho de uma determinada época da navegação a vapor.
No cartão postal, o Paraguay saindo do porto de Le Havre, na França
Maior da frota - No momento de seu lançamento, o Paraguay era o maior navio da frota da Chargeurs Reunis, a qual se encontrava em plena expansão; o volume de tráfego de
passageiros e carga entre a América do Sul e a Europa não fazia senão aumentar e a armadora previa assegurar uma saída rotativa a cada quatro dias com destino ao Brasil e o Prata.
Encomendado em 21 de julho de 1887, o Paraguay seria precedido pelo aparecimento, em 1883, dos protótipos Uruguay e Rio Negro, construídos também pelo mesmo estaleiro, em Saint Nazaire.
No dia 15 de outubro de 1883, quatro meses depois do lançamento do Paraguay, a Chargeurs Reunis ordenou a construção de quatro outros vapores, destinados somente ao transporte de carga, e que seriam chamados
de Concórdia, Colonia, Campana e Corrientes - todos do tipo do Cordoba, cargueiro construído na Inglaterra por conta da Chargeurs Reunis em 1887.
O Paraguay foi lançado ao mar, do estaleiro, em 19 de junho de 1888, realizando sua primeira viagem para o Brasil e o Prata em 1º de outubro do mesmo ano. Sua carreira e vida seriam marcadas por um número
menor de acidentes que caracterizaram os outros navios da mesma companhia. O Paraguay possuía aparelho propulsor a tríplice-expansão com quatro caldeiras cilíndricas que lhe davam uma potência de 2.000 cavalos-vapor.
Compasso - Nos primeiros anos, possuía, na parte avante da ponte de comando, uma caixa de madeira onde havia sido colocado o compasso principal, que oscilava a dois metros do piso do convés numa posição de
cabeça para baixo.
Isto provocava uma menor influência magnética nesse compasso, e o marinheiro e o oficial de guarda podiam, a qualquer momento, comparar o compasso de navegação com o primeiro mencionado. Tal sistema permitia
ligeiras correções de rota, que por sua vez representavam grande economia de tempo.
No dia 6 de dezembro de 1890, à entrada do porto de Buenos Aires, perto da doca denominada La Boca, o transatlântico colidiu com o rebocador Cardiff I, o qual afundou, com a perda de um homem de sua
tripulação.
Um ano após, no primeiro dia de 1892, outra colisão, desta vez com a aparelhagem submersa de mergulhadores do porto de Dunquerque, resultando em pequenas avarias em seu casco.
Em agosto de 1894, o vapor Pampa, da Chargeurs Reunis, sofreu uma avaria no eixo do timão quando se encontrava em passagem de Tenerife, nas Canárias, para Montevidéu. O Pampa, sem motor, foi socorrido
pelo Ville de Maranhão e levado até São Vicente (Cabo Verde) a reboque. Daí, com consertos provisórios, seguiu por seus próprios meios até Tenerife.
Verificada a impossibilidade de reparos definitivos, o Pampa saiu em 19 de agosto desse último porto a reboque do Paraguay, que o conduziu até Le Havre, onde chegaram no dia 27.
Em 1895, o Paraguay foi afretado, junto com outros dois navios da companhia, para o governo francês, que o utilizou para o transporte de tropas que compuseram a Expedição de Madagascar.
Ouro - Nos anos que se seguiram, o Paraguay alternou viagens, ora na Rota de Ouro e Prata, ora no serviço de linha para a costa ocidental da África. Numa dessas viagens, em 1898, embarcou em Lourenço
Marques (Moçambique) uma grande quantidade de ouro destinado ao Banco da França. Ao escalar no porto da Cidade do Cabo (África do Sul), foi abalroado pelo vapor inglês Raglan Castle e sofreu avarias de pequena monta.
No ano seguinte, foi recolhido ao porto de Marselha, onde sofreu uma reforma, substituindo-se então suas caldeiras por outras novas. Estas modificações tiveram como objetivo a previsão da Chargeurs Reunis de
colocá-lo na linha entre Le Havre e Matadi (Zaire), com escalas em Cherbourg e Bordeaux, Lisboa, Dacar, Conacri (Guiné), Cap Palmas, Cotonu (Benin), Benito, Libreville (Gabão) e Loango (África Equatorial Francesa, atual República do Congo).
A primeira viagem do Paraguay nesse serviço foi efetuada no início de 1901, permanecendo nessa rota até o ano de 1909, quando - com a entrada, nessa mesma linha, dos três navios gêmeos, o Amiral Aube,
o Amiral Baudin e o Amiral Coubert - os três, 11 anos mais novos que o Paraguay, fizeram com que este fosse retirado de serviço e vendido pela Chargeurs Reunis para sua demolição em Cardiff. |