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ROTA DE OURO E PRATA
Navios: o Conte Rosso

1922-1941

A companhia de navegação italiana Lloyd Sabaudo foi fundada em Torino, em 1906, para o transporte de passageiros entre a Itália e os países das Américas; assim, a linha do Atlântico Norte ligava Gênova e Nova Iorque, e a do Atlântico Sul, os portos italianos a Rio de Janeiro, Santos, Montevidéu e Buenos Aires.

À diferença, porém, de outras companhias italianas, que se concentravam no tráfego de emigrantes em busca de fortuna, o Lloyd Sabaudo visava também uma clientela mais selecionada, disposta a pagar por um bom serviço de linha.

Para tanto, e também para poder fazer face à concorrência de outra companhia italiana, a NGI, o Lloyd Sabaudo ordenou, logo após a assinatura do armistício de 1918, a construção de dois transatlânticos de 18 mil toneladas que receberiam, mais tarde, os nomes de Conte Rosso e Conte Verde.


O Conte Rosso, na época de seu lançamento, era o maior navio de passageiros de bandeira italiana

Transatlântico - O Conte Rosso foi lançado ao mar em fevereiro de 1921, no estaleiro escocês de Beardmore & Co., de Glasgow, com 17.870 toneladas de arqueação bruta. O navio havia sido bem desenhado, do ponto de vista técnico e náutico, e possuía uma linha perfilada bem elegante e moderna para seu tempo.

Possuía oito conveses, dos quais quatro corriam ao longo de todo o casco e os quatro restantes em superestrutura. Esses conveses eram atravessados por nove bulkheads (divisões verticais) que estabeleciam os espaços relativos a cinco porões de carga, duas casas de caldeiras, uma sala de máquinas, dois tanques de água doce e um de óleo combustível.

O maquinário consistia de duas máquinas à turbina Parsons, que produziam uma potência integrada de 17.800 CV, ou seja, uma velocidade de cruzeiro de 18,5 nós. O consumo de óleo dessas máquinas era de cerca de 150 toneladas por dia à velocidade de cruzeiro.

Tinha capacidade para 450 passageiros de primeira classe. As instalações de bordo representavam o que de mais moderno fazia a construção naval da época, e a decoração interna não ficava por menos em termos de luxo e esplendor.

Confiada aos decoradores da família Coppede de Florença (o quarteto era formado pelo pai, Mariano, e por seus filhos Gino, Adolfo e Carlo), a decoração do Conte Rosso, assim como a do Conte Verde, assumiu um aspecto de grandeza que, na época, foi chamado ironicamente pelos passageiros de "monumentalmente coppedeiano".

Em 1922, quando foi completado e entregue aos armadores, o Conte Rosso possuía a bordo uma coleção de estilos decorativos dos mais heteróclitos: mouresco, florentino, pompeano, art-déco, formalismo, renascentista, liberty, entre outros.

Bloqueado na rampa - O Conte Rosso teve sua quilha batida em janeiro de 1920 com o número 611 do Estaleiro Beardmore. Em fevereiro do ano seguinte foi lançado ao mar, mas na primeira tentativa o casco só deslizou cerca de oito metros na rampa e bloqueou-se. Na segunda tentativa de lançamento, no dia 10, tudo correu normalmente.

A viagem inaugural aconteceu em 22 de março de 1922, entre Gênova, Nápoles e Buenos Aires, via Rio de Janeiro e Santos; na viagem seguinte, a rota era em diração a Nova Iorque e, nessa linha do Atlântico Norte, o Conte Rosso permaneceria até março de 1928.

De 1928 até 1932, o transatlântico cobriu a linha para a América do Sul, fazendo cerca de 10 viagens redondas por ano, entre Gênova e Buenos Aires. Em 1932, pintado de branco no casco e de ouro na chaminé, iniciou serviço para os portos do Extremo Oriente sob a bandeira de outra companhia italiana, o Lloyd Triestino, que o havia comprado.

Nessa ocasião, o Conte Rosso, além de perder os anéis da borda de suas chaminés, teve suas acomodações internas alteradas para 250 passageiros de primeira classe, 170 de segunda e 2.200 de terceira classe. A rota, via Canal de Suez, incluía os portos de Bombaim, Colombo, Cingapura e Xangai, com ponto final em Kobe.

Quatro anos mais tarde, o transatlântico foi posto em doca seca para uma reforma total, que incluía a troca de seus motores, com aumento de potência e de velocidade, para mais dois nós (37 km/h).

Com o início da Segunda Guerra Mundial, o navio continuou a fazer viagens regulares entre Trieste e Austrália, via canal de Suez, mas a entrada da Itália na guerra, em junho de 1940, interrompeu o serviço de linha. Em dezembro, o transatlântico foi requisitado pela Marinha.

O Conte Rosso foi então transformado em navio-transporte-de-tropas e começou a transportar soldados da tropa italiana para a Líbia, onde a Itália lutava contra os ingleses, para a conquista do Egito.

Final - Em meados de fevereiro de 1941, junto aos transatlânticos Esperia, Marco Polo e Victoria, todos transformados em navios-transporte-de-tropas, o Conte Rosso zarpou de Nápoles para mais uma viagem com destino à Líbia, levando a bordo tropas do Afrika Korps. Na primeira noite de travessia, uma violenta tempestade obrigou o comboio e sua escolta a voltarem ao porto de Nápoles, onde permaneceram por bem cinco dias aguardando a melhoria do tempo.

Na noite de 23 de maio de 1941, partiu de Nápoles um comboio de transporte de tropas composto pelos transatlânticos Esperia, Marco Polo, Victoria e Conte Rosso, escoltados pelos contratorpedeiros Freccia e Camicia Nera, além de três torpedeiros, com destino a Trípoli.

Aproximadamente às 21 horas do dia seguinte, dez milhas a Leste do porto de Siracusa (Sicília), o Conte Rosso foi atingido por dois torpedos lançados pelo submarino inglês Upholder, do comandante Wanklyn.

O Upholder havia zarpado de sua base em Malta no dia 15 de maio e feito rota em direção ao Sul da Sicília. Três dias mais tarde, Wanklyn avistou um pequeno comboio de três navios mercantes italianos escoltados por uma torpedeira e os atacou, danificando um navio-tanque.

Na manhã do dia 23, outro avistamento e outro ataque a dois navios-tanques, um dos quais foi afundado. Na tarde do encontro com o Conte Rosso só restavam ao Upholder dois torpedos, dos quais Wanklyn fez excelente uso, explodindo-os no casco do navio italiano.

Ficou logo claro que o transatlântico estava perdido e assim foi dada ordem de abandoná-lo. Estavam a bordo cerca de 2.500 soldados, além de 300 tripulantes; apesar da intervenção dos navios de escolta, cerca de 1.200 soldados e 100 tripulantes perderam a vida na confusão do naufrágio, pois o Conte Rosso foi a pique em apenas dez minutos, na posição 36º 41' de latitude Norte e 15º 42' de longitude Leste (Sul da Sicília).

A tragédia da perda do Conte Rosso lotado de soldados se repetiria, alguns meses mais tarde - sempre por obra do Upholder e de seu já então famoso comandante Malcom Wanklyn -, com os dois grandes transatlânticos da Cosulich, o Neptunia e o Oceania, torpedeados e afundados. O ataque do Upholder ocorreu a 60 milhas do porto de Trípoli e provocou a morte de 400 homens, do total de sete mil que estavam a bordo nesses dois navios.


Conte Rosso e Conte Verde, da armadora italiana Lloyd Sabaudo Società Anonima di Navigazione, em  postal da época do lançamento (foram lançados ao mar respectivamente em 1921 e 1922)

Foto: acervo do cartofilista Laire José Giraud, publicada na rede social Facebook em 4/8/2014

Conte Rosso:

Outros nomes: nenhum
Bandeira: italiana
Armador: Lloyd Sabaudo Società Anonima di Navigazione
País construtor: Grã-Bretanha
Estaleiro construtor: W.Beardmore & Co. (porto: Glasgow)
Ano da viagem inaugural: 1922
Tonelagem de arqueação (t.a.b.): 18.107
Comprimento: 174 m
Boca (largura): 23 m
Velocidade média: 18 nós
Motores: 2, Parsons, de turbina de redução dupla, potência de 17.800 HP
Hélices: 4
Chaminés: 2
Mastros: 2
Cap. carga: 6.500 t, em cinco porões
Conveses: 8
Tripulação: 320 homens
Passageiros: 2.465
Classes: 1ª -     450
                2ª -     215
                3ª - 1.800

Artigo publicado no jornal A Tribuna de Santos em 4/6/1992