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ROTA DE OURO E PRATA
Navios: o Alberto Dodero

1951-1985 - depois Cormoran

Dentro do aspecto relativo ao transporte de passageiros por via marítima transatlântica, é de se ressalvar a importância da emigração européia a partir do fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945.

Com a Europa em ruínas ainda fumegantes, emigrar, para muitos, significava sobreviver, e o Eldorado latino-americano era chamariz ainda muito forte entre os povos da Europa e do Levante Mediterrâneo.

Portugueses, espanhóis, franceses, italianos, gregos, turcos, sírios e libaneses partiram aos milhares, tão logo foram reabertas as vias de comunicação marítima para a Venezuela, o Brasil, o Uruguai, a Argentina e o Chile.

De um modo geral, os países recebedores de emigração não possuíam muitos navios que se ocupassem do transporte desses imigrantes.

Depois do fim da Segunda Guerra Mundial, a Argentina e o Brasil passaram a receber um grande número de imigrantes europeus e japoneses, que fugiam das difíceis condições de vida existentes nos países da Europa e no Japão, devastados pela guerra.

Do Brasil e da Argentina, só este último país apresentou interesse em equipar sua marinha mercante com navios capazes de participar do lucrativo tráfego de homens entre o Velho Continente e a América do Sul.

A Compañia Argentina de Navegación Dodero, fundada em Buenos Aires em 1947, foi obra do Señor Alberto Dodero. Reunindo capitais próprios, de sua família e de terceiros, o senhor Dodero conseguiu criar sua empresa de navegação, com o objetivo de explorar o potencial de cargas de exportação argentina e, ao mesmo tempo, a crescente demanda por espaço de passageiros entre a Europa e a costa Leste da América do Sul.

Três linhas - Foi assim que, entre 1949 e 1951, a Companhia Dodero introduziu oito navios de passageiros no serviço da Rota de Ouro e Prata. Uma linha ligava Buenos Aires a Londres e empregava três navios recém-construídos com acomodações luxuosas de primeira classe e poucos lugares para as faixas inferiores. Esses três eram o Presidente Perón, o Eva Perón e o 17 de Octubre.

Uma segunda linha havia sido aberta para atender o fluxo de emigração européia para a Argentina, o Uruguai e o Brasil. As saídas eram mensais nas duas pontas da linha, Gênova e Buenos Aires, com escalas em Nápoles, Marselha, Barcelona, Lisboa, Rio de Janeiro, Santos e Montevidéu.

Os dois navios usados na ligação eram do tipo padrão C-3, construídos durante a Segunda Guerra Mundial por ordem das autoridades navais norte-americanas e mais tarde transformados em navios de passageiros. Com acomodações modestas, esses navios, rebatizados Salta e Corrientes, foram empregados por mais de 12 anos na condição de navios de emigrantes.

Outra linha, esta exclusivamente para emigrantes, ia de Hamburgo a Buenos Aires. Para servi-la, foram encomendados três navios a dois estaleiros holandeses. O estaleiro Van Der Giessen, do porto de Krimpen, foi responsável pela construção do Yapeyu, enquanto o estaleiro KMS, do porto de Flushing, se encarregou do Maipu e do Alberto Dodero.


O Alberto Dodero foi um dos navios mais conhecidos a escalar em Santos

Aparência ilusória - Esses três transatlânticos se caracterizavam por um desenho no qual a superestrutura se apresentava numa linha compacta e baixa; porém, a aparência de possuir pequena capacidade era ilusória, já que eles podiam acomodar 740 passageiros em classe turística e somente 13 em primeira classe.

O primeiro a ser lançado ao mar foi o Yapeyu, em outubro de 1950, seguido em janeiro do ano seguinte pelo Maipu e em junho pelo Alberto Dodero (que levava o nome do fundador da empresa).

O Maipu teve vida útil extremamente curta, pois no mês de novembro do mesmo ano de seu lançamento (1951) foi abalroado na embocadura do Rio Weser pelo navio-transporte-de-tropas americano General M.L.Hersey, afundando três horas depois, felizmente sem perdas de vidas. O Alberto Dodero foi, dos três, o que teve vida mais longa, sendo demolido em 1985, depois de 34 anos de serviço diferenciado.

Em 1955, o governo argentino, presidido por Juan Domingo Perón, foi deposto, e a mudança do regime levou à criação da Flota Argentina de Navegación de Ultramar (FANU). Os navios que eram propriedade da Dodero foram transferidos para a recém-criada companhia, que englobava diversas companhias de navegação do País, e o Alberto Dodero incluído. Ele continuou, porém, a servir na mesma rota em que vinha sendo usado.

Em 1962, nova modificação no registro de sua propriedade. Naquele ano, a FANU foi amalgamada com a Flota Mercante do Estado, formando assim uma nova empresa, que levaria o nome de Empresa Lineas Maritimas Argentinas (ELMA). Dois anos mais tarde, o Alberto Dodero seria transformado e transferido para o serviço na linha Buenos Aires-Gênova-Buenos Aires, onde permaneceria em uso até 1969.

Durante sua carreira como Alberto Dodero, o transatlântico levou três cores diferentes, representando suas três armadoras: casco cinza, chaminé azul com borda preta (Dodero); casco branco, chaminé mantida (FANU); e casco preto, chaminé preta com faixa branca e emblema da armadora (ELMA).

Concorrência aérea - A entrada em serviço de aviões de passageiros, a jato, com maior capacidade e potência, provocou a decadência do número de passageiros transportados por via marítima, e este fator foi fatal para um grande número de navios nas décadas de 1960 e 70.

Envelhecido, com seus 18 anos de existência, o Alberto Dodero não escapou da regra geral, que impunha, por razões financeiras, a retirada, transformação ou demolição de muitos navios de passageiros transatlânticos.

Retirado da linha sul-americana em 1969, foi vendido a uma empresa argentina, especializada no transporte de animais vivos, a Sacifi, e transformado em cargueiro especializado, com o nome de Cormoran. Nessa nova condição, o Cormoran, ex-Alberto Dodero, passou a transportar rebanho de bovinos e ovinos, de portos australianos a portos do Gofo Pérsico.

Em 1973 e 1974, a propriedade do Cormoran mudou por duas vezes, mas ele permaneceu nas mesmas funções e linha até que, em 1980, interesses sauditas o compraram.

Poucos detalhes são conhecidos de sua utilização entre 1980 e 1985, ano em que foi vendido para ser demolido em Taiwan, encerrando-se assim uma carreira de 34 anos, durante os quais o Alberto Dodero foi um freqüente visitante do porto de Santos.

Alberto Dodero:

Outros nomes: Cormoran
Bandeira: argentina
Armador: Compañia Argentina de Navegación Dodero
País construtor: Holanda
Estaleiro construtor: K.M.S. (porto: Flushing)
Ano da viagem inaugural: 1951
Tonelagem de arqueação (t.a.b.): 11.521
Comprimento: 150 m
Boca (largura): 19,5 m
Velocidade média: 18 nós
Motores: 2, do tipo Sulzer diesel, de 10 cilindradas
Mastros: 2
Chaminé: 1
Passageiros: 753
Classes: duas

Artigo publicado no jornal A Tribuna de Santos em 9/4/1992