COPA 2006
Segurança
especial na Alemanha
Preocupação é
com o terrorismo e a gripe aviária. Frango, só no gol...
Carlos Pimentel Mendes (*)
Sem
esquecer o ataque terrorista ocorrido na Olimpíada de Munique, a
continuada onda de violência urbana desencadeada em Paris, as charges
dinamarquesas de Maomé que irritaram os muçulmanos, a onipresente
Al-Qaeda do sempre ausente Osama Bin Laden, os alemães ainda precisam
se preocupar com os vários focos de gripe aviária que começam
a surgir na Europa, e todos os riscos de se reunir pessoas procedentes
do mundo inteiro – que poderiam ser focos irradiadores da ameaçadora
pandemia.
Logo da
Fifa para a Copa do Mundo da Alemanha-2006 Imagem: divulgação
Receando que
a gripe aviária se transforme em "gripe alemã", em analogia
ao que aconteceu em 1919 com a chamada "gripe espanhola", os organizadores
da Copa do Mundo de 2006 já decidiram: nada de pratos à base
de carne de ave nos serviços de refeições prontas
da Copa. A Aramark, detentora dos direitos de venda dessas refeições
durante a competição, só oferecerá carne de
bezerro ou de porco, mesmo sob os protestos do setor aviário alemão,
que enfrenta uma crise de demanda por causa da gripe aviária. Detalhe:
o vírus não está mais limitado às aves, transmitindo-se
para mamíferos em alguns casos – como porcos e gatos.
De qualquer
forma, frango na Copa, só no gol. O que não impede os turistas
de se alimentarem em outros locais, fugindo à proibição
e mesmo ao controle sanitário. Mas, este é apenas um dos
problemas que a Alemanha precisa enfrentar – e que quase suspenderam essa
competição futebolística internacional. Trabalhadores
jovens e imigrantes protestam por toda a Europa por serem tratados como
sub-indivíduos e, após milhares de carros queimados entre
Paris e Berlim, talvez usem a Copa do Mundo como vitrine para suas queixas.
World Cup
Stadium Munich, conhecido como Allianz Arena, será chamado de Estádio
de Munique Foto: divulgação
Da mesma forma,
depois do 11 de setembro em New York/Washington, dos ataques terroristas
em Madrid e Londres e das explosões diárias de carros, bicicletas
e homens-bomba no Iraque, das questões atômicas dos EUA com
o Irã e a Coréia do Norte, e de todas as convulsões
sociais na ex-URSS, para citar apenas alguns exemplos, as autoridades alemãs
têm muito com que se preocupar em termos de segurança dos
próprios alemães, dos jogadores e dos torcedores – já
não bastassem os próprios riscos inerentes às paixões
futebolísticas.
Peritos da
Fundação Warentest (criada em 16/9/1964 pelo governo alemão)
apontaram (em janeiro de 2006) problemas de segurança em todos os
estádios do Mundial, inclusive "falhas graves" em quatro deles:
deficiências na proteção contra incêndios em
Kaiserslautern e falta de saídas de emergência para situações
de pânico em Gelsenkirchen, Leipzig e Berlim. Nestes três últimos
estádios, fossos ou muros impediriam que os torcedores corressem
para o gramado em caso de evacuação das arquibancadas. E
os peritos lembram que, embora a probabilidade de ocorrer situação
de pânico seja baixa, mais de 60 acidentes já ocorreram nos
últimos 60 anos, deixando mais de 1.500 mortos e 10 mil feridos.
Waldstadion,
em Frankfurt: teto móvel que permite proteção contra
o mau tempo Foto: divulgação
Nos estádios
de Hamburgo, Frankfurt, Dortmund e Stuttgart, os analistas encontraram
"falhas evidentes", como perigo de tropeçar, degraus de escadas
irregulares, proteção contra incêndio e saídas
de emergência insuficientes. Nos demais (Munique, Hannover, Nurembergue
e Colônia), também foram detectadas "falhas mínimas".
Apesar disso, o Comitê Organizador da Copa afirmou não haver
risco para os torcedores, especificando que, em Berlim, Gelsenkirchen e
Leipzig, a recomendação de relatórios independentes
é de que as saídas de emergência sejam para fora dos
estádios, não em direção ao gramado.
Nos últimos
seis anos, a Alemanha investiu 1,4 bilhão de euros na construção,
reforma ou remodelação dos estádios, adotando medidas
que "cumprem a legislação vigente na construção
civil alemã e que são bem mais rígidas do que em outros
países comparáveis", como garantiu o Comitê Organizador,
asseverando ainda que as falhas ainda existentes seriam eliminadas antes
do início dos jogos.
Zentralstadion
de Leipzig, inaugurado em 2004, com capacidade para 44 mil espectadores Foto: divulgação
Recebendo "quatro
cartões vermelhos" antes mesmo do início dos jogos, os organizadores
iniciaram um jogo de ataques e contra-ataques nada objetivo quanto à
solução dos problemas apontados.
Eles defendem
que a disposição das arquibancadas segue modernos conceitos
de segurança, evitando conscientemente o uso de blocos de patamares
e eliminando o risco de esmagamento em uma direção frontal
graças à disposição das fileiras de assentos:
"Assim que os espectadores deixam suas fileiras de assentos, eles naturalmente
escolhem a rota que seguiram para chegar a seus assentos, um caminho direto
utilizando os degraus (que ficam mais largos à medida que sobem),
rumo a uma abertura que leva ao foyer, onde está provado que não
há risco de esmagamento".
Enquanto isso,
a polícia alemã se preocupa com a segurança nos 300
lugares em que serão instalados telões para os torcedores
acompanharem os jogos. Para as autoridades, os milhares de torcedores correm
mais risco nesses lugares que nos estádios. O maior problema são
os torcedores violentos (na Alemanha há sete mil hooligans, aos
quais se juntarão os estrangeiros), e a polícia alemã
contará com a colaboração dos colegas de outros países
para conter essa ameaça. De qualquer forma, já está
sendo recomendado que se impeça a transformação desses
locais em centros de acampamento, sabendo-se que muitos jovens viajarão
sem dinheiro ou local de hospedagem.
Estádio
de Hannover, reconstruído Foto: divulgação
Arquitetura
– Dentro ou fora dos estádios, nas 12 cidades onde se situam, os
apreciadores de belezas arquitetônicas encontrarão amostras
dos mais diversos estilos arquitetônicos europeus. O Olympiastadion
de Berlim, por exemplo, foi construído para os Jogos Olímpicos
de 1936 e é tombado pelo Patrimônio Histórico. Mesmo
assim, este que é o maior estádio alemão - e sediará
os jogos finais da Copa, no dia 7 de julho - foi reconstruído e
modernizado em 2004, tendo capacidade para 74.176 torcedores.
Em Colônia,
o World Cup Stadium Cologne foi reformado e tem capacidade para 51 mil
espectadores, sendo reconhecido pela sua principal característica,
os gigantescos pilares de iluminação existentes nos quatro
cantos. Não poderá usar na copa o nome original, RheinEnergie
Stadion, em razão dos regulamentos de patrocínio da Federação
Internacional de Futebol (Fifa).
Em Dortmund,
foi reconstruído o Westfalenstadion, um dos maiores da Alemanha,
com capacidade para 69 mil espectadores. Sua reforma completa quase levou
o clube Borussia Dortmund à falência. Também o Hanover
Stadium foi reconstruído, tendo sua capacidade aumentada para 45
mil espectadores. Já o Fritz-Walter-Stadion, construído em
1920 na cidade de Kaiserlautern, ganhou uma extensão nas arquibancadas
Leste e Oeste, contando agora com 48 mil cadeiras. Outro reconstruído
é o Franken-Stadion de Nuremberg, agora com capacidade para 45.500
espectadores, e que desde 2001 passou a contar com a Arena Nürnberg,
construída ao lado. Em StuttGart, o Gottlieb-Daimler-Stadion foi
reformado em 2004, podendo receber 54 mil torcedores.
|
|
Estádio
de Hamburgo
|
Estádio
Kaiserslautern
|
|
|
Estádio
de Stuttgart
|
Estádio
de Dortmund
|
Fotos:
divulgação
São
novos os demais locais dos jogos desta Copa, como o World Cup Stadium Munich,
inaugurado em maio de 2005, e que - embora seja internacionalmente conhecido
como Allianz Arena – será, por determinação da Fifa,
chamado de Estádio de Munique. Com capacidade para 66 mil pessoas,
destaca-se pela sua parede semitransparente, que pode ser iluminada nas
cores das equipes que estão em campo.
Também
novo é o Zentralstadion de Leipzig, inaugurado em 2004 em substituição
ao anterior, de 1956, e que chegou a ser o maior da Alemanha, com capacidade
para 100 mil torcedores. O atual comporta 44 mil espectadores. Já
em Hamburgo foi inaugurado (em 2/9/2000) o FIFA World Cup Stadium, para
51 mil torcedores, sobre o antigo Volksparkstadion, de 1953.
Com gramado
removível e teto retrátil, sistema eletrônico de pagamento
de ingressos e estacionamento, capela (para quem quiser rezar antes do
jogo...) e até um reservatório central de cerveja, o novo
estádio de alta tecnologia Arena AufSchalke da cidade de Gelsenkirchen,
inaugurado em 2001, é considerado o melhor estádio do mundo,
com capacidade para 53.804 torcedores.
E o novo Waldstadion,
substituindo a instalação que existia há 80 anos em
Frankfurt, tem capacidade para 48.132 espectadores e um teto móvel
que permite protegê-los do mau tempo. Eles já não terão
que fazer como os torcedores da Copa do Mundo de 1974, que viram sob forte
chuva a semifinal entre Alemanha Ocidental e Polônia.
Enfim, entre
chuvas e trovoadas, talvez o clima seja a menor das ameaças que
os torcedores e turistas enfrentarão a partir do dia 7 de junho
na Alemanha.
|
|
Estádio
de Nuremberg
|
Estádio
de Colônia
|
|
|
Estádio
de Gelsenkirchen
|
Estádio
de Berlim
|
Fotos:
divulgação
(*) Carlos
Pimentel Mendes é jornalista, editor do jornal eletrônico
Novo
Milênio. |