Religião
A fé
no poder
Transformações
estão ocorrendo, motivadas mais pela economia e pela política
do que pelas religiões em si
Carlos Pimentel Mendes (*)
2006
é um ano predestinado? Para os que acreditam na chamada Nova Era,
sim, é agora que começam as grandes transformações.
Outros pensarão que neste ano apenas haverá a continuidade
das mudanças pelas quais a Humanidade passa, e que vem de longe,
do tempo de Cristo, de Maomé, de Alá, dos profetas, de Buda...
ou do macaco. Os mais céticos dirão que na verdade, existe
apenas um processo de luta pelo poder temporal, por coisas tão mesquinhas
como... petróleo.
Os sintomas de que algo mais borbulha
sob a superfície podem ser observados pelos mais atentos. Por exemplo,
vemos novos embates entre cristãos e muçulmanos, como no
tempo das Cruzadas. Da mesma forma, com interesses mais geopolíticos
do que de propagação da fé. Como antes, as forças
armadas dos cristãos chegam ao centro dos países islâmicos,
e estes invadem por dentro o núcleo dos países católicos.
Ou seja, antes os cavaleiros cruzados,
com a cruz de Cristo e santa autorização para grandes pilhagens
pelo caminho, chegavam a Meca. Agora, são os fuzileiros que, em
nome do combate ao terrorismo dito islâmico, invadem Iraque e brevemente
o Irã, não por acaso os principais produtores de petróleo,
junto com o já invadido Afeganistão. Na mão contrária,
os mouros e judeus - que deixaram suas marcas até na península
ibérica, séculos atrás – retornam como imigrantes
e usam os sistemas legais do Ocidente para reclamar seus direitos. Ou bombas
explodem em Londres e Madrid, carros são incendiados na França
e na Alemanha, aviões atingem prédios em New York e Washington.
Não há santos nessa
história... Poderosos interesses movem todas as facções,
nessa luta que está longe de terminar. Religião? Só
uma desculpa, para fazer com que fanáticos de todos os tipos cumpram
ordens, após condicionamento cerebral. Homens-bomba se explodem
acreditando em promessas de Paraíso. Soldados morrem crendo que
seu governo leva as benesses da democracia a regiões "bárbaras",
assim libertadas de lideranças opressoras.
Dentro de 40 anos, acabado o petróleo
no mundo, virão buscar a água do Brasil. As desculpas já
estão prontas: dar autonomia aos povos indígenas, acabar
com o narcotráfico, talvez mesmo combater imaginários terroristas
que os mesmos impérios fabricaram, da mesma forma como criaram Osama
bin Laden – que nem todos os recursos de satélites espiões
e ampla rede de espionagem permitem capturar. Bem, interessa tal captura?
Ou é melhor deixar solta uma ótima desculpa, a ser usada
a qualquer momento em que se queira invadir um país?
Afinal, não dá mais
para usar aquela história de levar a civilização e
os ensinamentos divinos aos povos "bárbaros" – em troca da prata
do Potosí, do ouro de Vila Rica, da escravidão. A História,
bem estudada, geralmente mostra que quando os ditos "civilizados" atacavam
os "bárbaros", na verdade a cultura do povo "bárbaro" era
muito mais rica e pura que a do invasor. Tanto, que boa parte dos costumes
do povo invadido eram adotados pelo invasor. Que é a Páscoa
dos cristãos, se não uma adaptação dos cultos
pagãos da fertilidade? Que é o Dia das Bruxas, a nova sensação
do Primeiro Mundo civilizado? Quem foi Papai Noel?
Por outro lado, que é a Noite
de São Bartolomeu (24/8/1572), senão o massacre de 70.000
protestantes, nas ruas de Paris, festejado pelo papa Gregório XII
com um culto em ação de graças? E a Santa Inquisição,
pouco antes? E os hoje escondidos laços entre o nazismo e a cúpula
da igreja Católica? Por que essa comunidade, tão inflexível
em normas como as do celibato e do divórcio, age tão diplomaticamente
quando seus representantes maiores praticam atos condenáveis por
qualquer moral? Se tantos passam fome no mundo, o que justifica a suntuosidade
dos templos – aliás, não só católicos -, só
comparável à dos bancos?
E a paz, pela qual todas as religiões
oficialmente suspiram, quem cuida dela? Os judeus, impedindo a formação
da pátria palestina num solo biblicamente palestino? Os católicos
e protestantes, lutando entre si pelo poder na Irlanda do Norte? Talvez
a milionária Igreja Universal, expandindo suas bases econômicas
(digo, de fiéis) na África, em atritos com as religiões
dos povos locais? O não menos milionário Vaticano, que apesar
das boas intenções de alguns de seus líderes, tem
ramificações econômicas estranhas – como ser acionista
de fábricas de armamentos e de laboratórios produtores de
anticoncepcionais –, enquanto o papa faz discursos em prol da paz e condena
o controle da natalidade...
Será que as religiões
querem mesmo a paz? Antigamente, seus líderes se diziam apóstolos
da fé. Hoje, são guerreiros na causa do Senhor. Guerreiros
que transportam malas de dinheiro entre diferentes pontos do mundo, arrecadado
da própria miséria intelectual de seus fiéis, que
não percebem quando são manipulados para dar até o
que não têm, sob pena do Divino Castigo - como se o Pai de
Todos fosse um carrasco ególatra, vaidoso, que castiga os filhos
que não O glorificarem (lógico, através dos "passadores
de sacolinha", que evidentemente não dizem isso aos dizimistas,
eles têm formas mais eficientes de aterrorizá-los com a cólera
divina...).
E a Bíblia, o Alcorão
e outros livros sempre têm uma frase que justifica qualquer coisa,
desde que devidamente "interpretada"... Já os livros e filmes que
contrariarem as interpretações "adequadas" são imediatamente
expurgados, tanto pelos islâmicos como pelos católicos. Nos
subterrâneos do papado, por exemplo, corre agora uma guerra para
forçar uma interpretação do terceiro segredo de Nossa
Senhora de Fátima, que o Vaticano quer considerar assunto encerrado,
não hesitando até em adulterar uma mensagem escrita pela
irmã Lúcia em maio de 1982, para esconder que nem a Rússia
foi consagrada àquela santa, nem a profecia se refere ao ataque
sofrido pelo papa João Paulo II. Esconder, portanto, que a profecia
ainda não se cumpriu.
Os exemplos são recentes.
Até mesmo nas escolas primárias de um país que investe
alto na pesquisa científica, os EUA, tenta-se proibir o ensino da
teoria evolucionista, comprovada nos principais pontos por evidências
arqueológicas, colocando-se no seu lugar a nada científica
tese revisionista.
No dia 24/1/2002, às 8h40,
um trem especial deixou a estação do Vaticano, levando mais
de 300 representantes de todas as principais religiões do mundo,
numa viagem a Assis, promovida pelo próprio Papa João Paulo
II. Ali, pela primeira vez, firmaram um solene compromisso pela paz, pelo
fim da violência, das guerras, do terrorismo.
Mas, querem mesmo as religiões
a paz? Como continuam então abrigando as respectivas facções
fundamentalistas, que se acreditam as verdadeiras representantes de Deus
na Terra, com a missão de expurgá-la de todos os não-fundamentalistas?
Se o objetivo é o mesmo, por quê a Opus Dei briga com o Vaticano,
e bispos evangélicos saem para fundar suas próprias "religiões"?
Ante essa atitude dupla ou dúbia,
quem tem assumido o papel de promotor da paz, no lugar das religiões,
é a sociedade civil, através de organizações
não governamentais civis e laicas, que se articulam via celular
e Internet, realizando, por exemplo, manifestações simultâneas
mundiais contra a invasão do Iraque. Mesmo que Nações
Unidas, governos e religiões finjam não ouvir o clamor internacional.
Há quem diga que esses embates
políticos e religiosos, toda a nossa perplexidade ante o crescimento
dos atos ditos de "barbarismo" e dos entrechoques violentos de ideologias
são parte de algo maior. Que são conseqüências
necessárias do processo de mudança de mentalidade, de uma
transição conduzida por espíritos de luz habitantes
de dimensões paralelas, que nos guiam com suas altas vibrações.
A novidade é que já
teríamos ultrapassado o "ponto sem volta" nessas mudanças:
2006 é apregoado como o ano em que a massa crítica dos seres
humanos que completaram a transição para um nível
superior torna possível enfim chegar ao clímax na transformação
da terra. Um portal de luz foi aberto para nos ajudar nessa passagem, afirma-se.
Religião é uma palavra
que vem de re-ligare, religar ou reconectar. Muitos acreditam que essa
reconexão começa efetivamente agora, com os seres humanos
assumindo os novos papéis a que estão destinados, como Trabalhadores
da Luz, em seus papéis humanitários em todo o mundo. Como
dizem eles, agora a luz vai chegar e "a festa vai começar". Oxalá...
(*) Carlos
Pimentel Mendes é jornalista, editor do jornal
eletrônico Novo Milênio.
Todas
as religiões buscam alcançar o Céu/Paraíso:
muitas, na verdade, constróem grandes templos tentando alcançar
o Céu terreno, o poder temporal. Daí as guerras, em que o
interesse religioso é apenas desculpa. Nesse contexto, organizações
leigas têm de intervir, mobilizando-se em busca da paz que as religiões
não encontram. Foto: divulgação
|