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Edição 147 - Dez/2005
Inverno Boreal

Uma capela toda em gelo e neve faz parte do IceHotel instalado em Quebec, no Canadá
Foto: Etolane/Flickr - Quebec/Canadá - janeiro/2005

Um hotel que derrete toda Primavera

A cama também é de gelo, mas o hóspede não precisa se preocupar com a temperatura...

Carlos Pimentel Mendes (*)

No momento em que os brasileiros se preparam para mais um tórrido verão, um hotel novinho em folha está sendo construído para os turistas que preferem climas menos quentes. Suas paredes são feitas de blocos de gelo, mas como a temperatura externa é de uns 25 graus centígrados negativos, não há perigo de desmoronamento.


Discoteca do N'Ice Club Mount Tremblant, parte do complexo do hotel canadense
Foto: Etolane/Flickr - Quebec/Canadá - janeiro/2005

As camas também são de gelo, mas quem tiver a curiosidade de conhecer melhor o sistema vai descobrir que um eficiente sistema de bolsas de dormir (sleeping bags) garante uma confortável noite de sono. E, se, apesar de tudo, os hóspedes não gostarem do hotel, não se preocupem: quando o último cliente sair, o hotel simplesmente derrete e some na paisagem, no início da Primavera Boreal.

O primeiro desses hotéis foi construído na Suécia em 1990, cerca de 200 quilômetros ao Norte do Círculo Polar Ártico, e desde então vem sendo reconstruído a cada dezembro e aumentando de tamanho, tendo atingido já cerca de 5.000 metros quadrados de área ocupada, com 25 suítes e 60 dormitórios.

Localizado em Jukkasjärvi, e com página Web à disposição dos interessados, o IceHotel AB tem cinema, capela de gelo, numerosas esculturas em gelo e, claro, um "ice bar". As camas são feitas de gelo e cobertas com peles de rena. 


Ice Hotel, em Quebec, no Canadá surge todos os anos em janeiro: ocupa área de 3.000 m² 
Foto: Etolane/Flickr - Quebec/Canadá - janeiro/2005

A cada ano, o IceHotel é remodelado por artistas de todo o planeta, que exibem sua arte efêmera e ali se reúnem, junto ao rio Torne, para trocar experiências sobre formas, espaços e técnicas. Esse rio é coberto com uma camada de gelo de um metro de altura, de transparência cristalina, que serve como fonte de material para sua criação artística e arquitetônica. As únicas cores disponíveis são as das luzes artificiais e as do ambiente ártico. Com apenas esse material e sua sensibilidade artística, os artistas criam os ambientes das dependências do hotel, que permanecerão intactos somente até a volta do sol, em março seguinte.

Conta o arquiteto Ake Larsson, que visitou pela primeira vez o IceHotel sueco em 1993, quando era apenas um pequeno igloo (casa esquimó feita de gelo): "O gerente Yngve Bergkvist me entregou um esboço em papel para que construísse uma cidade inteira em gelo e neve e eu disse 'sim'. Desde então nós temos desenvolvido técnicas de arquitetura e construção e observado como a neve e o gelo reagem como material de construção".

O próprio hotel, diz ele, é um trabalho de arte. Sem referências diretas sobre como construir um hotel de gelo, ele começou estudando catedrais européias, aplicando formas em abóbadas e domos para a água congelada. As formas em que o hotel é moldado são baseadas nas abóbadas catenárias, um molde feito pela suspensão de uma corrente de peças entre dois pontos. A adega do Ice Bar, por exemplo, é inspirada na catedral basílica de Reims, na França.


O hotel canadense tem inclusive uma Ice Chapel, 
para inesquecíveis casamentos em ambiente de brancura total
Foto: Etolane/Flickr - Quebec/Canadá - janeiro/2005

No Canadá - Um segundo IceHotel foi criado há cinco anos em Quebec, no Canadá, abrindo todos os anos nos primeiros dias de janeiro e fechando no começo de abril, quando começa a brilhar o sol da Primavera. Nesta temporada, por exemplo, abre em 6 de janeiro e fecha no dia 2 de abril de 2006. Ocupa uma área de 3.000 metros quadrados, distante cerca de 30 minutos de carro a Oeste do centro urbano de Quebec, no centro da estação turística Duchesnay, nas margens do lago St. Joseph.

O premiado hotel é composto por 400 toneladas de gelo e 12 mil toneladas de neve. Suas paredes com quatro pés (1,3 metro) de espessura e 5,4 metros de altura são um excelente isolador e mantêm uma temperatura constante no interior do hotel, funcionando de forma semelhante a uma garrafa térmica. Assim, a temperatura interna é de 2 a 5 graus Celsius negativos, enquanto do lado de fora pode baixar a 28 graus negativos. Erguer essa estrutura básica demora cerca de cinco semanas, e neste ano são 32 salas e suítes temáticas.


Entre as atrações do Ice Hotel, as suítes todas de gelo, mas com eficiente sistema para dormir 
Foto: Etolane/Flickr - Quebec/Canadá - janeiro/2005

Os hóspedes contam até com lareiras, bem como dispõem de instalações sanitárias e de banho dentro do hotel (com banheiras tipo Jacuzzi), além de cinema, piscinas cobertas, saunas, centros de ginástica e áreas de exposição, integradas no centro turístico de Duchesnay.


Uma lareira, no interior do Ice Hotel de Quebec 
Foto: Etolane/Flickr - Quebec/Canadá - janeiro/2005

Crianças de todas as idades são bem vindas ao hotel, que conta com instalações para elas se divertirem, além de atrações para os adultos, e nos primeiros cinco anos de atividade já recebeu mais de 220 mil visitantes, 10.500 dos quais ali se hospedaram por uma noite ao menos. Entre as atrações, há passeios em carros-de-neve (snowmobilings), esqui, sliding, cross-country skiing, skating, pesca no gelo, passeios em trenós puxados por cães.


Vista noturna parcial das instalações do Ice Hotel de Quebec 
Foto: Etolane/Flickr - Quebec/Canadá - janeiro/2005

Além do Absolut Ice Bar, do N'Ice Club Hôtel de Glace e do novo N'Ice Club Mont Tremblant, o hotel inclui a Ice Chapel, que vem se firmando como um grande atrativo turístico: uma capela feita de gelo, com todos os requisitos para a realização de inesquecíveis casamentos, em ambiente de brancura total.

E os donos dos hotéis de Quebec e da Suécia já estudam uma parceria, visando a construção de um terceiro IceHotel, talvez no estado norte-americano do Alasca, onde também existe uma corporação não lucrativa, formada na cidade de Fairbanks em outubro de 1989, para promover o turismo de inverno naquela região, com exposições de arte no gelo. É a Ice Alaska Inc.


A Grande Muralha da China, esculpida em gelo no Ice Park/Kids Park, em Fairbanks, no Alasca
Foto: Nicole Blair

Festivais – Esculturas monumentais em neve e gelo também são encontradas do outro lado do planeta, merecendo destaque os festivais anuais realizados em Sapporo (o Sapporo Snow Festival tem página Web) e outras localidades japonesas.


Escultura em gelo Young Dreamer, pelos artistas Hong Tao (China) e Carl Eady (EUA), 
realizada em Fairbanks, no Alasca
Foto: Nicole Blair

Mas, um dos maiores festivais é o de Harbin, na China, que realiza em seu parque Zhaolin o China Harbin Ice Lantern Garden Party, com grandes esculturas de gelo colorido. Uma página Web do fotógrafo R. Todd King mostra as principais cenas dessa promoção anual.


O festival de esculturas em gelo de Harbin, na China, em 2003, visto da réplica da Grande Muralha
Foto: R. Todd King

E várias outras cidades ao redor do mundo também estão descobrindo as novas possibilidades turísticas geradas pelas grandes esculturas em gelo e neve. Que deixam bem para trás os tempos em que o máximo que se fazia no inverno era um boneco de neve, com uma cenoura no lugar do nariz e galhos à semelhança de braços...


Escultura em gelo colorido no parque Zhaolin, na chinesa Harbin
Imagem: captura de tela


(*) Carlos Pimentel Mendes é jornalista, editor do jornal eletrônico Novo Milênio


Um navio totalmente feito em gelo, e com passageiros a bordo, na cidade de Harbin, na China
Foto: R. Todd King



Imagens de Quebec com alguns direitos reservados:
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