Exposição
Novas tendências
na Europa
Casa auto-sustentável
e que ainda vende a energia que sobra
Carlos Pimentel Mendes (*)
Logo
da feira parisiense em 2005Imagem: divulgação
Num
momento em que a construção civil européia parece
sair de um período de estagnação, mas os especialistas
ainda se mostram reticentes em anunciar uma nova fase de crescimento, realizou-se
em Paris a exposição e conferência Batimat 2005 (de
7 a 12 de novembro, no Paris Expo/Porte de Versailles), onde os construtores
e as autoridades governamentais se dispuseram a, enfim, sair da retórica
e começar a aplicar efetivamente as políticas de crescimento
sustentável no setor.
Construção inteligente
foi uma das expressões mais ouvidas durante esse evento, enfeixando
uma série de conceitos como a racionalização do processo
construtivo, o emprego de materiais que não agridam a natureza na
sua confecção e no uso, e principalmente a criação
de imóveis que não apenas reduzam o consumo de energia, mas
também possam gerá-la e vendê-la à rede pública.
Com mais de 2.700 expositores de
52 países, numa área de 130 mil metros quadrados, e cerca
de 500 mil visitantes de 140 países, a mostra bienal Batimat, em
sua 25ª edição, está entre as maiores do mundo
no setor, além de funcionar como barômetro desse mercado.
Seus conferencistas, neste ano, estão
fortemente influenciados por estatísticas como as feitas em 2004
pelo instituto francês Ademe, que mostra o interesse de 98% dos franceses
pelo uso de energia renovável - em 2002, os arquitetos pioneiros
no ramo de construção bioclimática formavam um grupo
ainda bastante reduzido, verificando-se portanto uma tendência de
rápida expansão: em apenas dois anos, a noção
de construção bio-sustentável passou da micro para
a macro-economia, até em conseqüência de várias
políticas públicas de incentivo, como a subvenção
ao emprego de energia solar. E os franceses descobriram que estão
até atrasados neste setor, em comparação com os austríacos
e escandinavos.
Ao mesmo tempo, o mercado europeu
de construção apresenta os primeiros números positivos
após um período de estagnação, conforme constatou
há um ano a 58ª Euroconstruct. O documento final dessa conferência
traçou para o triênio 2005-2007 perspectivas de moderado crescimento,
motivadas principalmente pelos efeitos da expansão do mercado comum:
antes restritas às fronteiras nacionais, muitas empresas estão
adequando suas estratégicas de localização a uma área
geográfica continental, o que implica em novas instalações
e principalmente na remodelação das instalações
antigas, impulsionando assim o mercado construtivo.
Abertura
da mostra Batimat 2005 em Paris Foto: divulgação
Casa auto-sustentável
- O desenvolvimento de novos materiais e processos construtivos chega enfim
à maturidade, viabilizando o conceito de habitação
que gera a energia de que precisa e ainda "exporta" a parte excedente para
a rede pública. Isso se traduz, por exemplo, na existência
de dois medidores de fluxo elétrico: o tradicional, que registra
o consumo, e um segundo, para marcar a quantidade de energia fornecida
pela habitação à rede pública. A conta final,
de crédito ou débito, é expressada pela diferença
entre esses dois números. O que implica também numa nova
postura das autoridades e concessionárias de energia, que sempre
direcionaram suas políticas no sentido da venda de eletricidade,
nunca na compra de energia no mercado varejista representado pelo consumidor/produtor
final.
E como as habitações
conseguem essa proeza? Primeiro, com os novos painéis solares nos
telhados, que já atingem altos graus de eficiência na transformação
da energia luminosa em elétrica. Segundo, com o uso de materiais
construtivos e equipamentos para regular e conservar a temperatura interna
ideal com o mínimo de desperdício: paredes e pisos termo-isolantes,
técnicas construtivas que permitam melhor aproveitamento dos recursos
naturais (ventilação, por exemplo), filtros solares nas janelas,
condicionadores de ar e aquecedores mais precisos, cabos condutores de
eletricidade com menor perda, além de eletrodomésticos, torneiras
e chuveiros mais econômicos.
Casa na
Flórida (EUA) construída dentro do padrão Energy Zero, que objetiva
obter autosuficiência no consumo de energia Foto: divulgação
Bio-construção
- O processo não termina aí. A preocupação
se estende ao uso de materiais que não agridam a natureza, tanto
na fabricação da matéria-prima como na construção
imobiliária em si e no uso posterior do imóvel. Substitutos
da madeira, tintas e vernizes menos tóxicos, vidros com filtragem
seletiva de raios solares (evitando excessos e raios nocivos), equipamentos
para reutilização da água e reciclagem de outros materiais
(reduzindo principalmente os rejeitos sanitários e seus efeitos
ambientais), até mesmo isolantes acústicos mais perfeitos,
técnicas construtivas que permitam reduzir o canteiro de obras e
conseqüentemente a agressão ambiental causada pela construção
em si (e pelas demolições necessárias), são
alguns dos exemplos.
O impulso, na Europa, é dado
por uma série de regulamentações transnacionais, como
os acordos para o uso da madeira (projeto europeu de florestas certificadas),
a certificação ambiental voluntária ISO 14001, as
leis de orientação energética, o Plano Solar, as leis
de renovação urbana, o conceito de Alta Qualidade Ambiental
(haute qualité environnementale - HQE), o novo projeto europeu
LCC-Refurb (Life Cycle Cost analysis in Building Refurbishment),
o projeto de regulamentação térmica RT-2500 que será
adotado em 2006. Aliás, a União Internacional dos Arquitetos
(UIA) apresentou na conferência Batimat os resultados de seu programa
de formação de arquitetos em desenvolvimento sustentável
e integração de energias renováveis. Também
está surgindo o Intelligent Building Group (IBG), para reunir os
participantes desse novo mercado internacional de construções
inteligentes.
E não se fala em redução
de lucros, pelo contrário. Os industriais estão descobrindo
um novo e lucrativo mercado para produtos com características de
proteção ambiental, com maior durabilidade e menor despesa
de fabricação. Os novos processos construtivos também
resultam em economias importantes, que se traduzem num menor custo final
das obras. O conhecimento dos novos materiais disponíveis no mercado
permite aos empreendedores oferecer produtos imobiliários com novos
atrativos aos consumidores. E estes ganham a perspectiva de menores custos
de manutenção do imóvel, e até de obter algum
lucro, como na possibilidade da venda da energia excedente.
Como observou o diretor da Batimat,
Dominique Tarrin, em recente entrevista, essa tendência começou
a ser notada nas edições 2001 e 2003 daquele salão,
mas não se traduzia em avanços concretos. "Hoje, a noção
de desenvolvimento durável é um fato. Esta é uma oportunidade
de progresso e de agregar valor à construção. Esses
profissionais estão cada vez mais determinados a encontrar soluções
visando reduzir o impacto de suas atividades sobre o meio-ambiente, desenvolver
planos que se integrem à solidariedade social, tudo objetivando
uma eficácia econômica durável. Eles serão um
sujeito privilegiado na comunicação das sociedades do setor".
As
técnicas de reciclagem de materiais, aproveitamento e conservação
de energia são cada vez mais empregadas na construção
imobiliária
Fotos: divulgação
(*) Carlos
Pimentel Mendes é jornalista, editor do jornal eletrônico
Novo Milênio.
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