Arquitetura
A
Torre de Dubai deverá ser a mais alta do mundo Foto: divulgação
Sonhos
que se concretizam
Obras fora do convencional,
projetadas, em execução ou recém-entregues, no mundo
todo
Carlos Pimentel Mendes (*)
Imagine
o maior prédio
do mundo construído
em 1930, logo após a Grande Depressão Econômica causada
pela quebra da Bolsa de Valores de New York: o edifício Crysler,
com 319 m de altura. E também o Empire State, que o superou no ano
seguinte, com 381 m. Empilhe um sobre o outro. Ainda faltarão cinco
metros para igualar o que será o maior arranha-céu do mundo
dentro de quatro anos. Com 705 metros de altura, o Burj
Dubai (Torre
Dubai) está sendo construído na capital dos Emirados
Árabes Unidos.
Grandes números dificultam
a compreensão. Lembre então que cada torre do World Trade
Center destruída em 2001 tinha 417 metros de altura. E que a Torre
da Liberdade projetada para New York terá 541 metros (ou 1.776 pés
– uma referência ao ano da Declaração da Independência
dos EUA). Mesmo o maior arranha-céu do mundo atual — a torre Taipei
101 (o número é o de andares e o nome é o da cidade
taiwanesa onde se situam), inaugurada em 2004 - tem 509 metros de altura.
Ou seja, em 75 anos a corrida pelo
prédio
mais alto resultou num incremento de "apenas" 190 metros. Agora, em
menos de cinco anos, teremos um "salto" de mais 196 metros. Para comparar:
o primeiro arranha-céu da História, construído em
Babel uns 120 anos após o bíblico Dilúvio Universal,
uns 7 milênios atrás, tinha apenas 90 metros de altura...
Projeto
do Burj Dubai, em obras nos Emirados Árabes Unidos Foto: divulgação
E os modernos construtores de Babéis
têm outros planos. Em Katangi, na Índia, poderá surgir
uma torre de 677 metros, a projetada Torre Centro da Índia; em Moscou,
a Torre da Rússia, proposta para construção até
2010, chegaria a 649 metros. Em Istanbul, na Turquia, há projetos
para se construir a Torre 3 Impérios, com 600 m; na Coréia
do Sul, estão propostos o Centro de Negócios Internacionais
(580 m) e a Torre Lotte World (555 m), ambas em Seul.
Torre Centro
da Índia, pelo projeto, terá 670 metros de altura Foto: divulgação
Zona de terremoto – Nas construções
modernas, segurança é fundamental. É o caso da Taipei
101, inaugurada no último dia de 2004, na presença do presidente
de Taiwan. É o único super-arranha-céu no mundo construído
em uma zona altamente ativa de terremotos. Mas o único receio dos
construtores C.Y. Lee & Partner é que ocorra algum terremoto
econômico, pois a obra, também conhecida como Taipei Financial
Center, foi projetada para enfrentar sem problemas os abalos da natureza.
Taipei
101, sem preocupações com terremotos naturais Foto: divulgação
A estrutura do prédio – que
ocupa um terreno de 30.278 m², é em aço com concreto
reforçado, com a base em granito. Cada elevador, que custou mais
de US$ 2 milhões, tem freios de emergência, pressurização,
formas aerodinâmicas e o primeiro sistema com três estágios
de segurança antiqueda no mundo.
Ventos – Já em Dubai,
a preocupação é chegar ao céu. Os construtores
têm um segredo bem guardado: fundações extra-profundas,
para garantir a supremacia de sua torre. Se alguma outra tentar sobrepujá-la,
novos andares serão acrescentados. A Bauer Spezialtiefbau da Alemanha
e a Middle East Foundations (UAE), foram premiadas com um contrato de 14
milhões de euros para esse trabalho subterrâneo.
Uma flor
local inspirou as formas da torre de Dubai, com dois "Y"s cruzados Foto: captura
de tela
Quanto à natureza, o formato
inspirado numa flor da região (a Hymenocallis), com dois
"Y"s cruzados quando vista de cima, promete reduzir drasticamente o impacto
do vento, "enganando-o", garantem os arquitetos e engenheiros Skidmore,
Owings and Merrill, de Chicago (EUA). Incorporando referências estéticas
islâmicas, a obra reflete a luz especial do deserto, bem como a cultura
e o ambiente de Dubai. Inclui até um aquário de três
andares e paredes de vidro, com túneis para que os pedestres possam
circular dentro dele, observando espécies exóticas da vida
marinha.
No Burj
Dubai, um grande aquário, com túneis para circulação
de pessoas em seu interior Foto: divulgação
Além das áreas residenciais
e de escritórios, e da inevitável torre de observação
no topo, o complexo incluirá também o maior centro comercial
do mundo, o Dubai Mall (concebido pela firma de arquitetura DC Architects
PTE Ltd., para inauguração em 2006). As cerca de mil lojas
serão divididas em 15 sub-centros comerciais. Esse paraíso
das compras terá 464.500 m², algo como 50 campos de futebol...
Dubai terá
não apenas a maior torre, mas também o maior centro comercial
do mundo Foto: divulgação
Ainda ligando centros comerciais
e esportes: o Living Mall de Taipei, com um total de 204.190 m², tem
o formato de uma enorme bola de golfe. Não por acaso, seu arquiteto,
Jon Jerde, é considerado o Pablo Picasso do setor, usando como inspiração
os desenhos incríveis do famoso gravurista Escher.
Uma bola
de golfe inspirou Jon Jerde na obra deste centro comercial de Taipei Foto: divulgação
De olho na Olimpíada
– Enquanto os árabes produzem sonhos das mil e uma noites, os chineses
abrem os olhos para arrojos
arquitetônicos como a sede da China Central Television (CCTV),
em Beijing, de onde serão transmitidas para o mundo as imagens das
Olimpíadas de 2008.
O prédio
da CCTV, projetado como duas letras "L" Foto: divulgação
Imagine duas letras "L" de ponta-cabeça,
ligadas pelas pontas, a 230 m de altura. É a obra que começou
a ser construída em 2003, como parte de um projeto de revitalização
do centro da capital chinesa, ao mesmo tempo que se busca preservar construções
históricas, segundo os engenheiros da Ove Arup & Partners (Arup),
que respeitam assim o projeto de Rem Koolhass, do Escritório de
Arquitetura Metropolitana (OMA), vencedor de uma competição
entre 10 empresas de renome mundial realizada em 2002.
Desafio
foi calcular a estabilidade e o apoio da estrutura, mesmo em caso de terremoto Foto: divulgação
Um dos desafios é calcular
o apoio à estrutura suspensa, inclusive na hipótese de um
terremoto: um programa de computador (OASYS Dyna) foi especialmente desenvolvido
para calcular o efeito de um choque sísmico sobre os 40 mil elementos
estruturais do prédio, onde trabalharão cerca de 10 mil funcionários
da emissora chinesa de televisão.
No Estádio
Nacional de Beijing, atenão será dada à ambientação
para cada atividade Foto: divulgação
Outra obra à prova de terremotos
– Beijing é área de alto risco -, o Estádio
Nacional, em construção para as Olimpíadas, foi
planejado como oito módulos com sistemas independentes de estabilidade,
e a cobertura móvel também terá sistemas especiais
de proteção. O estádio foi planejado para outros usos,
como teatro e estádio atlético, o que implicou em complexos
cálculos, para garantir que cada um dos 100 mil espectadores tenha
conforto e a melhor visão possível do centro do campo.
Estádio
de Beijing éstá sendo construído em módulos
com estabilidade independente Foto: divulgação
Por exemplo, mudar 10 cm na altura
da primeira linha de assentos pode incrementar significativamente a altura
e largura do estádio e elevar muito o custo. E é preciso
considerar que, conforme o espetáculo ou esporte apresentado, o
foco da atenção das pessoas muda, para a linha de chegada
de uma pista de corrida, para o centro do campo no futebol etc. E, para
garantir a atmosfera correta, o teto é formado por painéis
ETFE, com membranas acústicas que refletem e absorvem sons, e individualmente
controlados.
Obras do
Nytt Operahus, em Oslo Foto: divulgação
Navio é problema –
Em Oslo, o Nytt Operahus – National Opera House, a ser entregue em setembro
de 2008, tem parte da estrutura no mar. Ao custo de 3,3 bilhões
de coroas norueguesas, essa casa
de espetáculos terá 1.350 assentos no auditório
principal, 400 num auditório menor, e cerca de mil salas para os
serviços de apoio e ensaios. Para evitar que navios colidam com
a obra, uma barreira de recifes cercará o prédio, que recebeu
fundações especiais sobre pilastras, algumas enterradas 55
m abaixo do nível do mar.
Acústica perfeita foi uma
das preocupações da firma norueguesa Snohetta AS que venceu
o concurso para o projeto arquitetônico da obra, enfrentando outros
230 competidores. Os engenheiros principais são Reinertsen Engineering,
Ingenior Per Rasmussen AS e Erichsen & Horgen AS. A consultoria geotécnica
é do Norges Geortekniske Institut (NGI).
Uma ilha
artificial foi criada para o aeroporto de Kitakyushu Foto: divulgação
No Japão, ao contrário,
navio é solução. Para a construção do
novo
aeroporto da cidade de Kitakyushu, a ser entregue em março de
2006, foi preciso criar uma ilha artificial de 373 hectares. Para reduzir
custos, estuda-se usá-la também como porto marítimo.
E a obra, projetada pela firma HOK de Los Angeles (EUA) para ser a segunda
do Japão no gênero (depois do aeroporto de Kansai), ainda
sofreu um atraso de 6 meses, devido aos estragos causados pelo Tufão
18 em 1999...
Os prédios
do Stata Center, nos EUA Foto: divulgação
Desconstruído – Em
tempo de pós-tudo, talvez um bom exemplo final seja o complexo The
Ray and Maria Stata Center for Computer, Information and Intelligence Services,
do famoso Instituto de Tecnologia de Massachussets, situado em Cambridge,
nos EUA. Entregue
em fins de 2004, consiste numa série de pequenos prédios,
curvados e inclinados em ângulos bem artificiais.
Ângulos
incomuns, a principal característica Foto: divulgação
Custou US$ 300 milhões e foi
projetado por Frank Gehry, com apoio das firmas Cannon Design, Gail Sullivan
Associates e dos arquitetos paisagistas da Olin Partnership. Os engenheiros
estruturais John A. Marlin and Associates Inc. foram contratados para a
construção pela Skanska USA Bulding Inc.
Neste caso, a torre inclinada de
Pisa foi apenas a inspiração inicial...
Os prédios
do Stata Center, nos EUA Foto: divulgação
(*) Carlos
Pimentel Mendes é jornalista, editor do jornal eletrônico
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