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Edição 144 - Set/2005
Arquitetura
A Torre de Dubai deverá ser a mais alta do mundo
Foto: divulgação
Sonhos que se concretizam

Obras fora do convencional, projetadas, em execução ou recém-entregues, no mundo todo

Carlos Pimentel Mendes (*)

 Imagine o maior prédio do mundo construído em 1930, logo após a Grande Depressão Econômica causada pela quebra da Bolsa de Valores de New York: o edifício Crysler, com 319 m de altura. E também o Empire State, que o superou no ano seguinte, com 381 m. Empilhe um sobre o outro. Ainda faltarão cinco metros para igualar o que será o maior arranha-céu do mundo dentro de quatro anos. Com 705 metros de altura, o Burj Dubai (Torre Dubai) está sendo construído na capital dos Emirados Árabes Unidos.

Grandes números dificultam a compreensão. Lembre então que cada torre do World Trade Center destruída em 2001 tinha 417 metros de altura. E que a Torre da Liberdade projetada para New York terá 541 metros (ou 1.776 pés – uma referência ao ano da Declaração da Independência dos EUA). Mesmo o maior arranha-céu do mundo atual — a torre Taipei 101 (o número é o de andares e o nome é o da cidade taiwanesa onde se situam), inaugurada em 2004 - tem 509 metros de altura. 

Ou seja, em 75 anos a corrida pelo prédio mais alto resultou num incremento de "apenas" 190 metros. Agora, em menos de cinco anos, teremos um "salto" de mais 196 metros. Para comparar: o primeiro arranha-céu da História, construído em Babel uns 120 anos após o bíblico Dilúvio Universal, uns 7 milênios atrás, tinha apenas 90 metros de altura...


Projeto do Burj Dubai, em obras nos Emirados Árabes Unidos
Foto: divulgação

E os modernos construtores de Babéis têm outros planos. Em Katangi, na Índia, poderá surgir uma torre de 677 metros, a projetada Torre Centro da Índia; em Moscou, a Torre da Rússia, proposta para construção até 2010, chegaria a 649 metros. Em Istanbul, na Turquia, há projetos para se construir a Torre 3 Impérios, com 600 m; na Coréia do Sul, estão propostos o Centro de Negócios Internacionais (580 m) e a Torre Lotte World (555 m), ambas em Seul.


Torre Centro da Índia, pelo projeto, terá 670 metros de altura
Foto: divulgação

Zona de terremoto – Nas construções modernas, segurança é fundamental. É o caso da Taipei 101, inaugurada no último dia de 2004, na presença do presidente de Taiwan. É o único super-arranha-céu no mundo construído em uma zona altamente ativa de terremotos. Mas o único receio dos construtores C.Y. Lee & Partner é que ocorra algum terremoto econômico, pois a obra, também conhecida como Taipei Financial Center, foi projetada para enfrentar sem problemas os abalos da natureza. 


Taipei 101, sem preocupações com terremotos naturais
Foto: divulgação

A estrutura do prédio – que ocupa um terreno de 30.278 m², é em aço com concreto reforçado, com a base em granito. Cada elevador, que custou mais de US$ 2 milhões, tem freios de emergência, pressurização, formas aerodinâmicas e o primeiro sistema com três estágios de segurança antiqueda no mundo.

Ventos – Já em Dubai, a preocupação é chegar ao céu. Os construtores têm um segredo bem guardado: fundações extra-profundas, para garantir a supremacia de sua torre. Se alguma outra tentar sobrepujá-la, novos andares serão acrescentados. A Bauer Spezialtiefbau da Alemanha e a Middle East Foundations (UAE), foram premiadas com um contrato de 14 milhões de euros para esse trabalho subterrâneo. 


Uma flor local inspirou as formas da torre de Dubai, com dois "Y"s cruzados
Foto: captura de tela

Quanto à natureza, o formato inspirado numa flor da região (a Hymenocallis), com dois "Y"s cruzados quando vista de cima, promete reduzir drasticamente o impacto do vento, "enganando-o", garantem os arquitetos e engenheiros Skidmore, Owings and Merrill, de Chicago (EUA). Incorporando referências estéticas islâmicas, a obra reflete a luz especial do deserto, bem como a cultura e o ambiente de Dubai. Inclui até um aquário de três andares e paredes de vidro, com túneis para que os pedestres possam circular dentro dele, observando espécies exóticas da vida marinha.


No Burj Dubai, um grande aquário, com túneis para circulação de pessoas em seu interior
Foto: divulgação

Além das áreas residenciais e de escritórios, e da inevitável torre de observação no topo, o complexo incluirá também o maior centro comercial do mundo, o Dubai Mall (concebido pela firma de arquitetura DC Architects PTE Ltd., para inauguração em 2006). As cerca de mil lojas serão divididas em 15 sub-centros comerciais. Esse paraíso das compras terá 464.500 m², algo como 50 campos de futebol...


Dubai terá não apenas a maior torre, mas também o maior centro comercial do mundo
Foto: divulgação

Ainda ligando centros comerciais e esportes: o Living Mall de Taipei, com um total de 204.190 m², tem o formato de uma enorme bola de golfe. Não por acaso, seu arquiteto, Jon Jerde, é considerado o Pablo Picasso do setor, usando como inspiração os desenhos incríveis do famoso gravurista Escher.


Uma bola de golfe inspirou Jon Jerde na obra deste centro comercial de Taipei
Foto: divulgação

De olho na Olimpíada – Enquanto os árabes produzem sonhos das mil e uma noites, os chineses abrem os olhos para arrojos arquitetônicos como a sede da China Central Television (CCTV), em Beijing, de onde serão transmitidas para o mundo as imagens das Olimpíadas de 2008. 


O prédio da CCTV, projetado como duas letras "L"
Foto: divulgação

Imagine duas letras "L" de ponta-cabeça, ligadas pelas pontas, a 230 m de altura. É a obra que começou a ser construída em 2003, como parte de um projeto de revitalização do centro da capital chinesa, ao mesmo tempo que se busca preservar construções históricas, segundo os engenheiros da Ove Arup & Partners (Arup), que respeitam assim o projeto de Rem Koolhass, do Escritório de Arquitetura Metropolitana (OMA), vencedor de uma competição entre 10 empresas de renome mundial realizada em 2002. 


Desafio foi calcular a estabilidade e o apoio da estrutura, mesmo em caso de terremoto
Foto: divulgação

Um dos desafios é calcular o apoio à estrutura suspensa, inclusive na hipótese de um terremoto: um programa de computador (OASYS Dyna) foi especialmente desenvolvido para calcular o efeito de um choque sísmico sobre os 40 mil elementos estruturais do prédio, onde trabalharão cerca de 10 mil funcionários da emissora chinesa de televisão.


No Estádio Nacional de Beijing, atenão será dada à ambientação para cada atividade
Foto: divulgação

Outra obra à prova de terremotos – Beijing é área de alto risco -, o Estádio Nacional, em construção para as Olimpíadas, foi planejado como oito módulos com sistemas independentes de estabilidade, e a cobertura móvel também terá sistemas especiais de proteção. O estádio foi planejado para outros usos, como teatro e estádio atlético, o que implicou em complexos cálculos, para garantir que cada um dos 100 mil espectadores tenha conforto e a melhor visão possível do centro do campo.


Estádio de Beijing éstá sendo construído em módulos com estabilidade independente
Foto: divulgação

Por exemplo, mudar 10 cm na altura da primeira linha de assentos pode incrementar significativamente a altura e largura do estádio e elevar muito o custo. E é preciso considerar que, conforme o espetáculo ou esporte apresentado, o foco da atenção das pessoas muda, para a linha de chegada de uma pista de corrida, para o centro do campo no futebol etc. E, para garantir a atmosfera correta, o teto é formado por painéis ETFE, com membranas acústicas que refletem e absorvem sons, e individualmente controlados.


Obras do Nytt Operahus, em Oslo
Foto: divulgação

Navio é problema – Em Oslo, o Nytt Operahus – National Opera House, a ser entregue em setembro de 2008, tem parte da estrutura no mar. Ao custo de 3,3 bilhões de coroas norueguesas, essa casa de espetáculos terá 1.350 assentos no auditório principal, 400 num auditório menor, e cerca de mil salas para os serviços de apoio e ensaios. Para evitar que navios colidam com a obra, uma barreira de recifes cercará o prédio, que recebeu fundações especiais sobre pilastras, algumas enterradas 55 m abaixo do nível do mar.

Acústica perfeita foi uma das preocupações da firma norueguesa Snohetta AS que venceu o concurso para o projeto arquitetônico da obra, enfrentando outros 230 competidores. Os engenheiros principais são Reinertsen Engineering, Ingenior Per Rasmussen AS e Erichsen & Horgen AS. A consultoria geotécnica é do Norges Geortekniske Institut (NGI).


Uma ilha artificial foi criada para o aeroporto de Kitakyushu
Foto: divulgação

No Japão, ao contrário, navio é solução. Para a construção do novo aeroporto da cidade de Kitakyushu, a ser entregue em março de 2006, foi preciso criar uma ilha artificial de 373 hectares. Para reduzir custos, estuda-se usá-la também como porto marítimo. E a obra, projetada pela firma HOK de Los Angeles (EUA) para ser a segunda do Japão no gênero (depois do aeroporto de Kansai), ainda sofreu um atraso de 6 meses, devido aos estragos causados pelo Tufão 18 em 1999...


Os prédios do Stata Center, nos EUA
Foto: divulgação

Desconstruído – Em tempo de pós-tudo, talvez um bom exemplo final seja o complexo The Ray and Maria Stata Center for Computer, Information and Intelligence Services, do famoso Instituto de Tecnologia de Massachussets, situado em Cambridge, nos EUA. Entregue em fins de 2004, consiste numa série de pequenos prédios, curvados e inclinados em ângulos bem artificiais.
 

Ângulos incomuns, a principal característica
Foto: divulgação

Custou US$ 300 milhões e foi projetado por Frank Gehry, com apoio das firmas Cannon Design, Gail Sullivan Associates e dos arquitetos paisagistas da Olin Partnership. Os engenheiros estruturais John A. Marlin and Associates Inc. foram contratados para a construção pela Skanska USA Bulding Inc. 

Neste caso, a torre inclinada de Pisa foi apenas a inspiração inicial...


Os prédios do Stata Center, nos EUA
Foto: divulgação


(*) Carlos Pimentel Mendes é jornalista, editor do jornal eletrônico Novo Milênio