INCLUSÃO
URBANA
Acessibilidade
é a chave para 25 milhões de brasileiros
Essa preocupação
pode criar um diferencial com grande poder de atração turística
Carlos Pimentel Mendes (*)
Cerca
de 10% da população dos países em desenvolvimento
porta algum tipo de deficiência, segundo a Organização
das Nações Unidas. No Brasil, dados do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE) apontam um contingente de 25 milhões
de pessoas nesta situação: 15% da população.
São pessoas às quais é necessário garantir
o direito de locomoção com autonomia e independência,
permitindo seu fortalecimento social, político e econômico,
como cidadãos plenos que também são. E isso passa
pelo planejamento das edificações, da sinalização
do trânsito, das calçadas, dos veículos de transporte
urbano e outros equipamentos das cidades.
Ao mesmo tempo em que cresce a preocupação
em atender, com instalações adequadas, todo esse importante
contingente da população, surgem também produtos e
serviços especiais, como as rampas em calçadas pré-produzidas
e pisos intertravados de concreto, apresentados em recentes exposições
pela Associação Brasileira
de Cimento Portland (ABCP), que
lembra inclusive a possibilidade de incremento ao turismo em cidades preparadas
para receber visitantes com necessidades especiais.
Calçada
com marcação podo-táctil, apresentada em recente exposição
da ABCP Foto: Sandra
Mello
Nessa questão, não
basta apenas boa vontade, é necessário reunir conhecimentos
que permitam o correto planejamento dos acessos. Por exemplo, nos cálculos
para um corredor de circulação, deve-se lembrar que um idoso
com bengala ocupa cerca de 75 cm de largura; uma cadeira de rodas, incluindo
o espaço lateral para as mãos, precisa de 0,80 cm (porém,
requer espaço extra para o movimento); uma pessoa que use equipamento
auxiliar andador requer largura mínima de 0,85 cm; já um
jovem acidentado com muletas precisa de 0,95 cm. Em suma, e considerando
até mesmo os usuários da bengala branca, uma boa referência
de largura para corredores, rampas e portas é 1,20 m.
Os projetistas e construtores também
devem ter em mente que as rampas de acesso não devem ter inclinação
transversal maior que 2% e declividade máxima de 7%. Pessoas em
cadeiras de rodas, os chamados cadeirantes, têm limitações
de alcance de objetos com as mãos, o que significa que telefones
públicos, interruptores, balcões e janelas devem levar isso
em consideração no seu planejamento e na instalação.
Os estacionamentos devem incluir vagas para veículos conduzidos
ou conduzindo pessoas com mobilidade reduzida e/ou portadoras de deficiências.
A ligação externa das edificações com as ruas
e com edifícios vizinhos/anexos de uso comum também deve
ser planejada levando em conta essas necessidades especiais. É preciso
criar também áreas de rotação, para que os
usuários de cadeiras de rodas efetuem manobras.
Até mesmo carpetes e capachos
espessos devem ser evitados, pois prejudicam a movimentação
dessas pessoas. Elevadores devem ter sinalização tátil
e sonora, inclusive com a informação sobre o andar em que
se encontram. E a sinalização visual deve seguir um padrão
internacional, de fácil reconhecimento.
Nos banheiros, não basta a
presença de portas largas, é preciso que seu interior permita
uma área de giro para as cadeiras e rodas, as saboneteiras estejam
em altura adequada, existam barras de apoio feitas de material resistente
e em altura apropriada (inclusive junto a bebedouros).
Em locais de reunião, como
teatros e cinemas, é preciso evitar a discriminação
dos portadores de deficiências, resistindo por exemplo à tentação
de reservar a eles os piores lugares na platéia. Espaços
para cadeiras de rodas ou poltronas para obesos devem ser integradas aos
demais assentos, com as mesmas condições de conforto e visibilidade
oferecidas ao restante do público, seguindo os princípios
básicos do Desenho Universal, como lembra o Guia de Acessibilidade
em Edificações, da capital paulista (veja
quadro).
Calçada
com diferenças de cor e textura, apresentada em recente exposição
da ABCP Foto: Sandra
Mello
Ir... e vir - A autonomia
de locomoção pressupõe a existência de condições
para um deslocamento completo, da origem ao destino desejado. Isso quer
dizer que não basta a alguém residir num prédio especialmente
equipado com todas as comodidades para portadores de deficiências
(alô, construtores, eis um bom apelo mercadológico que ainda
não usaram...), é preciso que essa pessoa, chegando à
rua, possa continuar seu caminho, apoiada por equipamentos públicos
como indicadores sonoros e sinalizadores táteis no piso para travessia
nas principais vias, calçadas com guia rebaixada em todas as esquinas,
adequações em ônibus para o recebimento de cadeirantes
etc.
Santos, por exemplo, pode divulgar
que tem tudo isso. Ou que não tem nada disso, conforme quem analisa.
Por exemplo, vários ônibus possuem as plataformas elevatórias
para cadeirantes. Mas são raros, e mais raro ainda é que
funcionem, tanto que nem se pode contar com eles, a não ser que
o Ministério Público, já acionado, consiga fazer a
Piracicabana corrigir o problema (a empresa, como em tudo o que se refere
às suas atividades de exploração do transporte
público regional, prefere apenas negar o óbvio).
Sinalização sonora
para deficientes visuais, existe em dois, talvez três locais da Cidade.
Número ridículo se considerarmos que precisaria haver em
todas as centenas de lugares onde já se concluiu pela necessidade
de semáforos.
Até mesmo uma coisa simples,
já reclamada em telenovelas, como a instalação de
um piso diferenciado ao redor dos telefones públicos orelhões
e outros equipamentos do tipo existentes nas calçadas, não
há sequer um exemplo que permita a alguém afirmar que isso
existe na Baixada Santista. Quantos portadores de bengalas brancas já
não descobriram, batendo a cabeça, a presença de orelhões
que as bengalas não sinalizaram? O mesmo vale para a passagem sob
escadarias: é preciso criar elementos (um pequeno jardim, por exemplo),
sob as escadas, para impedir a passagem por locais com altura inferior
à recomendada de 2,10 m.
(*) Carlos
Pimentel Mendes é jornalista, editor do jornal eletrônicoNovo
Milênio.
Rampa em
calçada pré-fabricada, apresentada pela ABCP em recente mostra Foto: Sandra
Mello
Desenho Universal
O conceito
de "Desenho Universal", criado por uma comissão em Washington, EUA,
no ano de 1963, foi inicialmente chamado de "Desenho Livre de Barreiras",
por ter seu enfoque voltado à eliminação de barreiras
arquitetônicas nos projetos de edifícios, equipamentos e áreas
urbanas. Posteriormente, esse conceito evoluiu para a concepção
de Desenho Universal, pois passou a considerar não só o projeto,
mas principalmente a diversidade humana, de forma a respeitar as diferenças
existentes entre as pessoas e a garantir a acessibilidade a todos os componentes
do ambiente.
São
princípios básicos do Desenho Universal:
1) Acomodar
amplamente as diferenças antropométricas, ou seja, permitir
que pessoas de diversos padrões (adultos, crianças, idosos
etc.) ou em diferentes situações (em pé, sentados
etc.) possam interagir sem restrições com o ambiente projetado.
Significa estar atento a alguns limites físicos e sensoriais capazes
de comprometer a ação e o alcance impostos a pessoas mais
baixas, mais altas ou em cadeiras de rodas, por exemplo. 2) Reduzir
a quantidade de energia necessária para a utilização
de produtos e ambientes. Considerar, enfim, distâncias e espaços,
de modo que estes fatores não obriguem o indivíduo a um esforço
adicional ou cansaço físico. 3) Adequar
ambientes e produtos para que sejam mais compreensíveis, prevendo
inclusive as necessidades de pessoas com perdas visuais ou auditivas, criando
soluções especiais por meio de cores vibrantes, sinais táteis
e sonoros. 4) Integrar
produtos e ambientes para que sejam concebidos como sistemas e não
como partes isoladas.
Extraído
do Guia de Acessibilidade em Edificações, elaborado
pela Comissão Permanente de Acessibilidade (CPA) da Prefeitura Municipal
de São Paulo, sob a coordenação do secretário
executivo Edison Luís Passafaro.
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