Eleições 2004
Políticos
já articulam campanha visando as eleições de outubro
É hora de o eleitor
ficar atento para as promessas de palanque
Carlos Pimentel Mendes (*)
Quando
as principais cidades da Baixada Santista festejam seus aniversários,
e os políticos começam a esquentar os motores de suas campanhas
com vistas à chefia dos Executivos Municipais, é tempo de
eles - e principalmente os eleitores - ficarem atentos à viabilidade
da execução das promessas de campanha. Na prática,
a teoria é outra.
Parceria
é fundamental: em Santos, obras da Administração Municipal, como a
restauração do Teatro Coliseu... Foto: Luiz
Carlos Ferraz
É bem conhecida a Lei de Responsabilidade
Fiscal, pela qual no máximo 60% da arrecadação municipal
pode ser gasta com o funcionalismo público da respectiva cidade.
O que deveria ser o teto acaba sendo o piso, devido às distorções
trabalhistas e à gastança de muitos prefeitos anteriores,
que empregaram muito mais do que poderiam e deveriam, deixando heranças
consideráveis que por muito tempo ainda se refletirão nas
contas públicas.
Desapropriações feitas
em anos (décadas) anteriores geram direitos de ressarcimento que,
em certos casos, podem levar ao empenho das verbas públicas, em
níveis extremos que também tiram qualquer possibilidade de
um novo prefeito escolher como empregará o dinheiro do município.
No primeiro ano do mandato, o novo
prefeito também precisa conviver com um orçamento preparado
pelo prefeito anterior e devidamente aprovado pela Câmara Municipal,
com todas as virtudes e os geralmente muitos defeitos que possa ter (mesmo
que, por razões de baixa política, a administração
anterior não tenha deixado algumas armadilhas orçamentárias
para o novo ocupante do cargo). E nem sempre toda a verba prevista no orçamento
entra de fato no caixa da prefeitura: impostos deixam de ser pagos, certos
impostos são bloqueados na Justiça por ilegalidade flagrante
ou dúvidas que podem demorar bastante até o julgamento.
Não bastassem todas essas
restrições, o novo prefeito encontra ainda uma série
de normas a cumprir, como a que destina 25% das verbas para a Educação,
existindo ainda verbas comprometidas com a Saúde, a manutenção
da Câmara Municipal (se bem que, nos últimos anos, os Legislativos
têm conseguido gastar menos do que a verba disponível, devolvendo
parte do valor aos cofres públicos). Do que sobra, ainda é
preciso considerar uma parte para a manutenção da própria
máquina administrativa: conservação de veículos
e instalações, pagamento aos fornecedores de água
e eletricidade, combustível etc.
... e a
modernização do sistema de comportas dos canais, só
estão sendo possíveis mediante o repasse de verbas do Governo
do Estado Foto: Luiz
Carlos Ferraz
Então, o que sobra?
– Nesse momento, político e eleitor devem estar perguntando: com
tantas restrições, que verba resta para aplicar em todos
aqueles planos anunciados na campanha eleitoral? Bem, muito pouco, talvez
nada. Mas então, aí é que entra o jogo-de-cintura
do político, sua capacidade de administração.
Um dos caminhos é fazer com
que a arrecadação aumente, gerando condições
para que a população consiga pagar os impostos. O político
pode fazer um trabalho de mobilização dos recursos humanos
da cidade de forma a atrair turistas, gerando renda na região. Pode
também identificar as linhas de financiamento - às vezes
a fundo perdido - existentes nas esferas estadual e federal, e apresentar
projetos que se enquadrem nessas linhas de crédito. Vai da habilidade
do político e de sua capacidade como administrador: muitas vezes
- e isso não é lá muito comentado na imprensa - as
verbas são perdidas porque o projeto foi mal feito, faltaram informações
importantes para que ele se enquadrasse nos requisitos para a concessão
da verba, ou simplesmente não foi entregue no prazo.
Diz-se então que não
houve interesse político dos governos estadual e federal em beneficiar
a cidade. Nem sempre este é o verdadeiro motivo, a razão
está mesmo na falha administrativa, como já foi citado por
diversas vezes - verbas à disposição simplesmente
não foram buscadas pelo município no prazo certo, mesmo depois
de aprovadas. Coisas assim são muitas vezes a diferença entre
o prefeito realizador e o que nada consegue fazer.
Em alguns casos,
parcerias entre o Poder Público e a iniciativa particular podem
gerar resultados surpreendentemente bons...
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Custo zero – O prefeito que
consiga mobilizar a comunidade pode fazer muito sem onerar os cofres públicos.
Por exemplo, se convencer artistas locais a se apresentarem em locais públicos,
em vez de contratar artistas desconhecidos de cidades remotas por valores
tremendamente acima da realidade (e depois ainda ter de se explicar por
tais absurdos), o prefeito pode criar atrações turísticas
de grande interesse. Nesse ponto, cabe perguntar se o próximo prefeito
não conseguiria viabilizar a volta dos desfiles de Carnaval a Santos,
e mesmo - com os devidos cuidados para prevenir excessos - o famoso banho
de Dona Dorotéia?
Em alguns casos, parcerias entre
o Poder Público e a iniciativa particular podem gerar resultados
surpreendentemente bons, até mesmo receita para o Município
empregar em outros projetos. Certos impedimentos resultantes da legislação
aplicável à administração direta podem ser
evitados com o uso de fundações e empresas de economia mista.
Lógico, o inverso pode ocorrer, e tais empresas, em função
de má administração (com ou sem má fé),
podem se tornar mais um peso a ser carregado pelas prefeituras. Mais uma
vez, a diferença entre sucesso e fracasso está na capacidade
do prefeito estar atento e se cercar de uma boa equipe de governo.
Uma equipe experiente e capaz saberá
encontrar formas de dialogar com a comunidade, evitando que as iniciativas
públicas sejam entravadas por questionamentos jurídicos intermináveis
(como os que afetam a plataforma do Emissário Submarino santista),
e principalmente evitando erros primários (como quando da estatização
do transporte público em Santos, que levou o Município a
pagar uma soma considerável pela ocupação desnecessária
e indevida de garagens de uma empresa particular).
Até mesmo em questões
menores, o entrosamento na máquina administrativa faz diferença:
é só lembrar quando uma rua, dias depois de ser asfaltada,
é novamente quebrada para a passagem de alguma tubulação;
ou o canteiro central da avenida é alterado ao sabor dos projetos
do momento; ou uma ponte é feita em posição inadequada
às necessidades e cria um elefante branco para ser contornado
depois. Mesmo na aplicação
das verbas carimbadas, há formas e formas. A verba para a
Educação pode ser usada para capacitar os professores, para
equipar as escolas, ou para entregar aos alunos frágeis mochilas
que se rasgam dois dias depois de começarem a ser usadas.
Enfim, cada vez mais, é hora
de o eleitor ficar atento para o tipo de promessa que o político
faz no palanque. Muito pouco do que é prometido pode efetivamente
ser cumprido. Mas muito do que não é prometido pode ser inferido
da capacidade que o político tenha de administrar os recursos disponíveis
e mobilizar a comunidade, aproveitando melhor os ricos recursos humanos
que a própria comunidade gera (e que, muitas vezes, acabam sendo
usados por outras cidades, estados e países)...
(*) Carlos
Pimentel Mendes é jornalista, editor do jornal eletrônico
Novo Milênio. |