Dia da Indústria
Fronteiras
do Balanço Social
Pesquisa mostra que é
ainda é pouco lembrada a responsabilidade das indústrias
para com a comunidade
Carlos Pimentel Mendes (*)
Qual
a relação entre a indústria (de qualquer tipo, sejam
as tradicionais fábricas e suas chaminés, seja a agroindústria,
seja a indústria turística ou a indústria de programas
para computador, o termo tem uma abrangência cada vez maior) e a
cada vez mais cobrada responsabilidade social? Ainda é bastante
pequena, se considerarmos o que as próprias empresas divulgam em
suas páginas Web de informação.
Para analisar os temas complexos
deste novo milênio, só mesmo usando novos métodos,
como a pesquisa na Internet. E uma das formas de se obter tais informações
é usar um sistema de busca de páginas Web a partir de palavras-chave
que devam estar contidas nela. Os mais eficientes retornam com as respostas
em menos de um segundo, varrendo milhões de páginas
situadas em computadores do mundo inteiro.
Em 0.79 segundos, a pesquisa usando
a palavra [indústria] retornou 1,2 milhão de resultados.
A eqüivalente inglesa [industry] localizou 43,9 milhões de
páginas em seis centésimos de segundo.
A chave mais restritiva [indústria
Brasil] encontrou 469 mil páginas, exatamente o mesmo número
retornado pela chave de busca [indústria Brasil lucro]. Ótimo,
todas as indústrias brasileiras visam o lucro. Na forma inglesa
[industry profit] mostrou 3.010.000 páginas contendo essas palavras.
Parece que, mundo afora, o lucro já não é tão
importante de ser mencionado, já que só 6,8% das páginas
com a palavra [industry] mencionam também o [profit].
A pesquisa continua. A chave [indústria
"balanço social"] devolveu 1.220 resultados, menos de 10% dos resultados
que se encontra com a chave ["balanço social"] e míseros
0,1% do total de páginas com a palavra [indústria]. A busca
por ["responsabilidade social"] devolveu 51.700 resultados, mas ao restringirmos
a pesquisa às indústrias no Brasil, em [indústria
Brasil "responsabilidade social"], resultaram 7.160 páginas.
Com a chave ["balanço social"]
surgiram 12.800 páginas, mas ao se colocar também a palavra
designativa do setor e a referência ao Brasil, em [indústria
Brasil "balanço social"], retornaram só 877 páginas,
indicando que essa preocupação só está presente
em menos de 0,19% das indústrias brasileiras, a julgar por suas
páginas na Internet. Embora a busca por [indústria Brasil
"responsabilidade social"] devolva 7.160 resultados, 1,52% das páginas
dedicadas às indústrias no Brasil, indicando em princípio
que só 12,5% das empresas que falam em responsabilidade social atingiram
o nível de manter realmente um balanço social, além
do contábil.
De fato, situação um
pouco melhor que a espelhada pelas páginas em inglês das indústrias
mundo afora, que somaram 3.140 respostas para a chave [industry "social
balance"] e apenas 369 para [industry "social responsability"]. Mas, muito
longe, muito longe mesmo, dos objetivos a serem atingidos, mesmo sem analisarmos
a qualidade dos balanços sociais e das preocupações
das indústrias com a sociedade humana que, afinal, é que
forma o mercado consumidor de seus produtos. E que exige cada vez mais,
nestes novos tempos, a prova de que os bens consumíveis foram industrializados
seguindo padrões éticos e de preocupação com
a comunidade.
Quem sair primeiro
nessa corrida pelo melhor balanço
social enfrentará logicamente
os custos do pioneirismo, mas também
colherá mais cedo os louros da vitória
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Novo paradigma – Por volta
de 1980, o mundo começou a ouvir efetivamente referências
a grupos de ecologistas, encarados como verdadeiros quixotes em sua luta
por melhores padrões ambientais, tendo como alvo muitas das vezes
as atividades industriais. Uns 25 anos depois, vemos multas por poluição
ambiental e principalmente empresas perdendo mercado por não terem
nos produtos um selo de qualidade ambiental - o ISO 14.000. Antes mesmo
de conferir o peso, a funcionalidade ou o preço de um bem, muitos
consumidores conferem a história da empresa que o produziu. E até
pagam mais por produtos de marcas que conseguiram provar ao mercado sua
preocupação com o meio-ambiente.
Neste novo milênio, a cobrança
aumenta: cada vez mais - e as manifestações que vemos são
apenas o começo - as indústrias de todo tipo terão
de mostrar, além do balanço contábil, o balanço
social, em que registram os lucros (atividades em prol da comunidade) como
também as perdas (os problemas que criaram para a comunidade). Já
existem técnicas para quantificar isso, e uma indústria que
não tenha resultados sociais positivos tenderá a perder crédito
(inclusive financeiro) e acabará fechando as portas.
O consumidor está mais exigente
e consciente. O vendedor sabe que sua imagem comercial será abalada
se vender produtos de empresas socialmente irresponsáveis, então
procurará conhecer melhor o histórico de seus fornecedores.
Estes, por sua vez, podem ter sua imagem prejudicada se comprarem matérias-primas
e componentes de parceiros inidôneos. E assim a onda de preocupação
social vai se espalhando e forçando as empresas a uma adaptação.
E nem dá para adulterar o balanço social no estilo das práticas
contábeis de certas empresas estadunidenses, pois toda a sociedade
está atenta e os resultados - positivos ou negativos - são
visíveis.
Quem sair primeiro nessa corrida
pelo melhor balanço social enfrentará logicamente os custos
do pioneirismo, mas também colherá mais cedo os louros da
vitória. Vitória sobre os concorrentes, que além de
terem de se adaptar aos novos padrões, nem poderão se gabar
de tê-lo feito, pois apenas terão cumprido uma obrigação,
em vez de mostrarem preocupação genuína com a comunidade.
Na passagem de mais um Dia da Indústria,
vale refletir sobre isso.
(*) Carlos
Pimentel Mendes é jornalista, editor do jornal eletrônico
Novo
Milênio.
Cubatão
superou o estigma de Vale da Morte,
exemplo mais extremo de como a falta de responsabilidade social das empresas
pode atingir a comunidade Foto: enciclopédia
Retrato do Brasil (Editora Três/Política Editora, São
Paulo/SP, volume I, 1985)
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