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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 05/30/03 21:32:26
Edição 120 - MAI/2003 

Dia da Indústria 

Fronteiras do Balanço Social

Pesquisa mostra que é ainda é pouco lembrada a responsabilidade das indústrias para com a comunidade

Carlos Pimentel Mendes (*)

Qual a relação entre a indústria (de qualquer tipo, sejam as tradicionais fábricas e suas chaminés, seja a agroindústria, seja a indústria turística ou a indústria de programas para computador, o termo tem uma abrangência cada vez maior) e a cada vez mais cobrada responsabilidade social? Ainda é bastante pequena, se considerarmos o que as próprias empresas divulgam em suas páginas Web de informação. 

Para analisar os temas complexos deste novo milênio, só mesmo usando novos métodos, como a pesquisa na Internet. E uma das formas de se obter tais informações é usar um sistema de busca de páginas Web a partir de palavras-chave que devam estar contidas nela. Os mais eficientes retornam com as respostas em menos de um segundo, varrendo milhões de páginas situadas em computadores do mundo inteiro.

Em 0.79 segundos, a pesquisa usando a palavra [indústria] retornou 1,2 milhão de resultados. A eqüivalente inglesa [industry] localizou 43,9 milhões de páginas em seis centésimos de segundo. 

A chave mais restritiva [indústria Brasil] encontrou 469 mil páginas, exatamente o mesmo número retornado pela chave de busca [indústria Brasil lucro]. Ótimo, todas as indústrias brasileiras visam o lucro. Na forma inglesa [industry profit] mostrou 3.010.000 páginas contendo essas palavras. Parece que, mundo afora, o lucro já não é tão importante de ser mencionado, já que só 6,8% das páginas com a palavra [industry] mencionam também o [profit].

A pesquisa continua. A chave [indústria "balanço social"] devolveu 1.220 resultados, menos de 10% dos resultados que se encontra com a chave ["balanço social"] e míseros 0,1% do total de páginas com a palavra [indústria]. A busca por ["responsabilidade social"] devolveu 51.700 resultados, mas ao restringirmos a pesquisa às indústrias no Brasil, em [indústria Brasil "responsabilidade social"],  resultaram 7.160 páginas.

Com a chave ["balanço social"] surgiram 12.800 páginas, mas ao se colocar também a palavra designativa do setor e a referência ao Brasil, em [indústria Brasil "balanço social"], retornaram só 877 páginas, indicando que essa preocupação só está presente em menos de 0,19% das indústrias brasileiras, a julgar por suas páginas na Internet. Embora a busca por [indústria Brasil "responsabilidade social"] devolva 7.160 resultados, 1,52% das páginas dedicadas às indústrias no Brasil, indicando em princípio que só 12,5% das empresas que falam em responsabilidade social atingiram o nível de manter realmente um balanço social, além do contábil.

De fato, situação um pouco melhor que a espelhada pelas páginas em inglês das indústrias mundo afora, que somaram 3.140 respostas para a chave [industry "social balance"] e apenas 369 para [industry "social responsability"]. Mas, muito longe, muito longe mesmo, dos objetivos a serem atingidos, mesmo sem analisarmos a qualidade dos balanços sociais e das preocupações das indústrias com a sociedade humana que, afinal, é que forma o mercado consumidor de seus produtos. E que exige cada vez mais, nestes novos tempos, a prova de que os bens consumíveis foram industrializados seguindo padrões éticos e de preocupação com a comunidade.
 

Quem sair primeiro nessa corrida
pelo melhor balanço social
enfrentará logicamente os custos do pioneirismo,
mas também colherá
mais cedo os louros da vitória

Novo paradigma – Por volta de 1980, o mundo começou a ouvir efetivamente referências a grupos de ecologistas, encarados como verdadeiros quixotes em sua luta por melhores padrões ambientais, tendo como alvo muitas das vezes as atividades industriais. Uns 25 anos depois, vemos multas por poluição ambiental e principalmente empresas perdendo mercado por não terem nos produtos um selo de qualidade ambiental - o ISO 14.000. Antes mesmo de conferir o peso, a funcionalidade ou o preço de um bem, muitos consumidores conferem a história da empresa que o produziu. E até pagam mais por produtos de marcas que conseguiram provar ao mercado sua preocupação com o meio-ambiente.

Neste novo milênio, a cobrança aumenta: cada vez mais - e as manifestações que vemos são apenas o começo - as indústrias de todo tipo terão de mostrar, além do balanço contábil, o balanço social, em que registram os lucros (atividades em prol da comunidade) como também as perdas (os problemas que criaram para a comunidade). Já existem técnicas para quantificar isso, e uma indústria que não tenha resultados sociais positivos tenderá a perder crédito (inclusive financeiro) e acabará fechando as portas. 

O consumidor está mais exigente e consciente. O vendedor sabe que sua imagem comercial será abalada se vender produtos de empresas socialmente irresponsáveis, então procurará conhecer melhor o histórico de seus fornecedores. Estes, por sua vez, podem ter sua imagem prejudicada se comprarem matérias-primas e componentes de parceiros inidôneos. E assim a onda de preocupação social vai se espalhando e forçando as empresas a uma adaptação. E nem dá para adulterar o balanço social no estilo das práticas contábeis de certas empresas estadunidenses, pois toda a sociedade está atenta e os resultados - positivos ou negativos - são visíveis.

Quem sair primeiro nessa corrida pelo melhor balanço social enfrentará logicamente os custos do pioneirismo, mas também colherá mais cedo os louros da vitória. Vitória sobre os concorrentes, que além de terem de se adaptar aos novos padrões, nem poderão se gabar de tê-lo feito, pois apenas terão cumprido uma obrigação, em vez de mostrarem preocupação genuína com a comunidade.

Na passagem de mais um Dia da Indústria, vale refletir sobre isso.

(*) Carlos Pimentel Mendes é jornalista, editor do jornal eletrônico Novo Milênio.


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Foto: enciclopédia Retrato do Brasil (Editora Três/Política Editora, São Paulo/SP, volume I, 1985)