Trabalho
Um maio de
expectativas
Marta Suplicy (*)
Há
um sabor especial este ano na passagem de uma data tão cara aos
trabalhadores. Este primeiro de maio já se apresenta marcado por
um representante do trabalho, e não do capital, que chegou a presidente
da República. O maio que esse homem expressa não é
o maio de um dia isolado, mas o de todo dia, o maio profissão de
fé, que vale por uma era inteira, como diria Maiakovski.
Vivemos um momento de expectativas
e esperanças, mas também de enormes dificuldades. Só
na última década, o trabalhador brasileiro amargou políticas
neoliberais que aprofundaram as desigualdades sociais. Entre 1991 e 2000,
foram fechados quase 570 mil postos de trabalho na indústria de
São Paulo. A Grande São Paulo tem hoje cerca de 1,7 milhão
de desempregados. Com isso, a taxa de desemprego médio superou 19%
da população economicamente ativa. Significa dizer que uma
em cada cinco pessoas em condições de trabalhar não
encontra trabalho.
Marta: esperanças
Foto: Imprensa/PMSP
Hoje
há mais desempregados com curso superior do que analfabetos. A falta
de emprego, na década, cresceu nas faixas de 18 a 24 anos e acima
dos 40 anos. O tempo médio de procura por um novo emprego é
de 52 semanas: um ano. O número de pobres aumentou. Dez por cento
dos 3 milhões de chefes de família vive sem renda. Quase
600 mil chefes de família vivem abaixo da linha de pobreza, com
menos de 1,5 salário mínimo mensal. Em 1991, eram 492 mil.
Nos distritos mais populosos, todos
na periferia, um em cada quatro chefes de família é pobre.
O número de mortes violentas subiu 15% na década e cresceu
mais nas regiões mais pobres. Na Grande São Paulo, 3 milhões
moram em cortiços, favelas e loteamentos irregulares. Trabalham
cerca de 4% das crianças com até 14 anos, 40 mil delas só
na capital. Desemprego, pobreza e desigualdade social são problemas
que dependem de outras esferas de governo. Mas é na porta das prefeituras
que eles batem. A de São Paulo encarou esse desafio.
Boa parte de nossos esforços
se concentra em iniciativas integradas para ampliar nossa capacidade produtiva,
incentivar a emancipação econômica dos mais carentes,
investir na geração de postos de trabalho e no desenvolvimento
local.
Reunimos diferentes setores da indústria,
dos trabalhadores e do poder público em fóruns de desenvolvimento.
A idéia é criar empregos na capital, com desenvolvimento
sustentado, ambientalmente correto. Em 2002, fomentamos a criação
de dois fóruns distritais e nove setoriais. Os nossos programas
sociais ultrapassaram o benefício direto e viraram um instrumento
de resgate do trabalhador. Sem eles, a taxa média de desemprego
na cidade seria 8,5% superior ao índice de desempregados atuais.
Significa dizer que há 85,6 mil menos desempregados na cidade porque
tivemos a iniciativa de orquestrar uma política de programas sociais.
Entre dezembro de 2001 e novembro
de 2002, houve queda de 7,9% no rendimento médio mensal do trabalhador
brasileiro (Bacen, Seade/Dieese). Sem os programas sociais, a queda seria
de 11,7% para o paulistano. Com os programas sociais, caiu a violência
nos distritos atendidos, em relação aos que não são
beneficiados. Dos 50 distritos atendidos pelo Renda Mínima, Bolsa
Trabalho e Começar de Novo, houve redução nas taxas
de homicídio em 31 deles.
Já em 2002, houve queda de
44% na evasão escolar entre os beneficiados dos programas nos 13
primeiros distritos. Tivemos aumento de 11,2% na arrecadação
do ISS e 10% de queda no número de mortes violentas. Em 2001, a
Prefeitura investiu R$ 64 milhões em programas sociais. Quadruplicamos
o investimento em 2002, com R$ 250 milhões. Hoje, 300 mil famílias
ou 1,2 milhão de pessoas são beneficiadas. São 12%
dos paulistanos. De cada duas famílias pobres, uma é beneficiada.
Só o Renda Mínima beneficia 186 mil famílias com filhos
de até 15 anos. O Bolsa Trabalho estimula 37 mil jovens desempregados.
O Começar de Novo ajuda 39 mil desempregados, com mais de 40 anos.
Teremos mais de 100 Telecentros, unidades de inclusão digital, que
atenderão cerca de 300 mil pessoas de baixa renda.
O Oportunidade Solidária é
nossa incubadora de empresas. Cerca de 3.600 pessoas começaram a
trabalhar em 180 novos negócios. O São Paulo Confia é
o banco do povo da cidade. Empresta dinheiro para quem precisa ampliar
seus negócios. As taxas de juros ficam abaixo do mercado, vão
de 0,48% (para inscritos nos programas sociais) a 3,9% (para o empreendedor
em geral). Em dois anos, foram 4.120 empréstimos, no valor de R$
3,5 milhões.
A Prefeitura contribui para o desenvolvimento,
a geração de empregos, o combate à pobreza, o financiamento
e a regulação dos serviços públicos em todas
as suas dimensões. A cidade mudou e mudou para melhor. Juntos, vamos
sustentar novos empreendimentos e, sobretudo, gerar empregos. Em 1886,
sete sindicalistas foram condenados à morte em Chicago por lutar
por direitos muito simples, como uma jornada de 8 horas diárias.
De lá para cá, ficou provado que nada é conseguido
com facilidade, mas com muito esforço e luta. Hoje, temos no Brasil
a maior oportunidade de estabelecer um cenário mais positivo para
o trabalhador. Ninguém espera que essa tarefa seja fácil.
Chegamos até aqui com muita luta. Parecia utopia. Mas, tenho certeza,
é apenas o começo.
(*) Marta Suplicy
é prefeita da Cidade de São Paulo. |