Metrópole
Em busca da
união
Aproveitar as diferenças
para alavancar negócios
Carlos Pimentel Mendes (*)
Sugeriu
um político que em vez de se comemorar os aniversários das
divisões administrativas, que formaram as cidades da região,
recentes, fosse comemorado em bloco o aniversário da Baixada Santista,
destacando assim que cerca de 500 anos de História do Brasil se
passaram nesta região - pois mesmo antes da chegada de Martim Afonso
para constituir a cellula mater da nacionalidade, já existiam
comprovadamente na região os indígenas e mesmo o famoso Bacharel
de Cananéia.
Praias
de Santos, com os belos jardins: citados no Livro dos Recordes
(foto: Secom/Prefeitura
Municipal de Santos)
Assim posta, a idéia foi logo
descartada, pois chega a ser inimaginável nos dias atuais fazer
uma festa metropolitana, quando nem nas questões mais básicas
- como a recente polêmica do lixo urbano - se consegue um acordo
político para resolver problemas que atingem a todos.
Mas, há outro aspecto da questão
que não preocupou ao autor da sugestão. Voltemos então
cinco séculos aos tempos em que os núcleos urbanos, mesmo
entremeados por vastos matagais e áreas lodacentas, ainda assim
mantinham sistemas de mútuo socorro e assistência, para defesa
contra os ataques de índios e piratas.
Esta solidariedade que se perdeu
com o desejo de autonomia das vilas, que passaram a se separar para tratar
dos interesses próprios de cada comunidade, pois já não
existiam índios e piratas a combater, nos séculos XIX e XX.
Porém, nos anos recentes, as atribulações dos tempos
coloniais deram lugar às de caráter metropolitano: sumiram
os matagais e lodaçais entre as cidades, hoje um visitante não
consegue mais saber, num rápido olhar, onde termina uma cidade e
começa outra.
Neste início de milênio,
em que comunidades às vezes de pólos opostos da terra se
irmanam usando para isso as tecnologias de informática e telecomunicações,
ensaiando os primeiros passos para a realização de atividades
colaborativas, chega a espantar que cidades vizinhas não consigam
se unir para a promoção conjunta de atividades geradoras
de renda e emprego, ou ao menos para a solução de problemas
comuns. Mas, não vou repisar o que já foi dito vários
anos antes, há novos temas a debater.
Pier de
Pesca, entre a Ponte Pênsil e a Praia do Gonzaguinha, em São
Vicente
(foto: Márcio
Pinheiro/Prefeitura Municipal de São Vicente)
Um só... – Em toda
a divulgação regional, e mais visível ainda nos eventos
internacionais do Turismo, não se busca atrair visitantes para a
Baixada Santista, mas tão-somente para uma das cidades, quase que
dizendo que as demais são de qualidade inferior. Já por diversas
vezes foi citado nestas páginas que o turista imediatamente associa
um grupo de cidades às propostas turísticas "Serras Gaúchas"
ou "Circuito das Águas", não há uma identidade desse
tipo para o turismo regional. Mesmo porque, pode-se dizer que não
há turismo regional, no melhor significado dessa expressão.
Ora, o turista que vem de longe não
pretende se isolar numa cidade apenas, ele quer passear por toda a região,
conhecer suas atrações. Mesmo porque a Fortaleza da Barra,
vista de Santos, fica em Guarujá, e para ir à área
continental santista, passará por essa cidade ou Cubatão...
Por que não lucrarem todas as cidades, facilitando ao turista se
locomover entre elas, hospedando-se em Santos mas almoçando no Guarujá
e jantando em São Vicente, por exemplo? Na verdade, toda a região
perde com a desunião, pois deixa inclusive de conseguir a atenção
(leia-se: verbas) dos governos estadual e federal para o desenvolvimento
regional.
Mesmo em detalhes sutis se percebe
o problema: Santos vem divulgando que é a terceira cidade paulista
em qualidade de desenvolvimento humano, sexto posto no País, e ainda
a décima na lista Exame de melhores cidades para negócios,
muito à frente das demais, frisa: "Santos também é
a única cidade da Baixada Santista a figurar na listagem das 500
melhores do País em IDH-M - São Vicente aparece em segundo,
na região, com o 604º lugar" reza o texto da Prefeitura de
Santos. Mas, que desenvolvimento humano pode ter, que negócios pode
fazer, se não pode ser separada de um contexto regional que não
ostenta os mesmos predicados? Que, por conta de interesses não harmonizados,
detona as próprias possibilidades de desenvolvimento?
Nessa questão, quem vai a
Santa Catarina, por exemplo, nota outra mentalidade: cidades até
fisicamente distantes entre si estão muito mais próximas
em termos de divulgação, programando por exemplo eventos
que não colidem entre si mas se fundem e complementam, dando ao
visitante uma sensação de dinamismo contínuo, os eventos
de uma cidade sendo divulgados também nas outras, num jogo de ganha-ganha
em que a sinergia potencializa os resultados. O Nordeste é outro
exemplo: as micaretas se sucedem cidade após cidade, prolongando
o Carnaval por até seis meses...
Cachoeira
do Parque Ecológico do Perequê, em Cubatão
(foto: Prefeitura
Municipal de Cubatão)
Nas entrelinhas – Enquanto
isso não acontece, examinemos a "fala do trono", para formular alguns
alertas que ajudem a balizar a política na região. Divulga
o governo paulista que o turismo será prioridade para gerar emprego
e renda, o que em tese seria ótima notícia para toda a Baixada
Santista, pois o governo quer apoiar o empresariado vigorosamente em quatro
setores básicos: turismo de negócios, convencional, ecoturismo
e rural.
Nas entrelinhas, descobre-se as más
notícias. Embora se qualifique para receber apoios em todos esses
setores, a Baixada Santista está prestes a ver a debandada do turismo
de negócios para um local perto de aeroporto importante, onde o
governo quer construir uma estrutura para eventos que comportem 20 mil
pessoas. Por ter demorado décadas numa briga intestina sobre o aeroporto
regional que - espera-se - possa agora sair do papel, a região poderá
ver aquele investimento em turismo aportar em outras plagas.
Informa o governo que no setor do
ecoturismo "é preciso ir além das opções tradicionais",
e lembra que o turismo de pesca é um grande negócio. Ora,
quem conhece a história das comunidades de pescadores às
margens do canal de Bertioga e Estuário sabe que, muito antes de
se falar em turismo de pesca, era ali que os turistas e pescadores de final
de semana iam se abastecer de iscas vivas, até que o assoreamento
e a poluição quase liquidaram o negócio... e as comunidades
que dele dependiam. Os olhos do secretário de turismo estão
na outra ponta do Estado, pousados no rio Paraná... Quem o convidará
a dar uma espiada nas áreas continentais de Santos e São
Vicente?
Para o turismo rural, a visão
do secretário repousa nos "casarões históricos belíssimos"...
do Vale do Paraíba... Enfim, para o turismo convencional, o secretário
se divide entre as belezas das praias e das montanhas. Como as montanhas
parecem mais bem organizadas para atrair sua valiosa atenção,
sobrará tempo para o secretário aceitar um convite para se
bronzear numa praia desta "região metropolitana"?
(*) Carlos
Pimentel Mendes é jornalista, editor do jornal eletrônico
Novo
Milênio. |