Aeroporto metropolitano
Sonho octogenário
começa a se concretizar
Carlos Pimentel Mendes (*)
Projeto começou em 19/10/1919
com o aviador naval Virginius Brito de Lamare
"Santos
há de ser um centro importante de aviação, em breve
futuro, e o povo paulista, com os progressos feitos em todos os ramos do
conhecimento humano, não ficará atrás dos outros estados
sob o ponto de vista aeronáutico", assim terminou seu discurso o
capitão-tenente aviador naval Virginius Brito de Lamare, durante
recepção em sua homenagem em dependências do Clube
XV, em 19/10/1919, dois dias depois de terminar histórico reide
aéreo Rio de Janeiro-Santos.
De fato, a região de Santos chegou
a ser por várias décadas cogitada para receber um aeroporto
internacional, e teve até pista de pouso da companhia francesa Air
France, que é a conhecida instalação do Aeroclube
de Santos, no Campo da Aviação, em Praia Grande. Nestas mais
de oito décadas, foram muitas as tentativas - frustradas principalmente
pela falta de acordo político quanto ao local das instalações
(Guarujá, Praia Grande ou Itanhaém) -, e só agora
o sonho de 1919 tem oportunidade efetiva de se concretizar.
Em junho de 2001, o chefe do Estado-Maior
do IV Comando Aéreo Regional (IV Comar), Couto Marinho, havia inspecionado
as instalações da Base Aérea e liberado o processo
para implantação do aeródromo - será o primeiro
caso no Brasil em que um aeroporto exclusivamente militar se transformará
também em aeroporto civil metropolitano.
Em 8/2002, a obra recebeu parecer
favorável do Departamento de Aviação Civil (DAC) e
do próprio ministro da Defesa, Geraldo Magela da Cruz Quintão,
durante reunião com prefeitos da Baixada Santista, realizada em
seu gabinete em Brasília. "Desta vez, o aeroporto de Guarujá
sai do papel. Estou batendo o martelo", assegurou também no dia
27/9/2002 o comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro Carlos
de Almeida Baptista, durante reunião na Base Aérea com prefeitos
e autoridades da região, iniciando as discussões de aspectos
técnicos da obra.
O custo para adaptação
das instalações deve variar entre R$ 7 milhões e R$
15 milhões, e a Aeronáutica exige que o uso civil do aeródromo
não crie encargos financeiros para a administração
da Base. Mas as empresas aéreas TAM e Transbrasil já manifestaram
interesse em operar no local, e diversos empresários de hotelaria
e turismo poderão investir nas adaptações, de olho
no desenvolvimento que a existência do aeroporto trará aos
seus negócios. A própria empresa de infra-estrutura de serviços
aeroportuários, Infraero, já está em busca de uma
alternativa para os congestionados aeroportos de Congonhas e Guarulhos,
tendo sido cogitada no ano 2000 a possibilidade de que participasse nos
investimentos em Guarujá.
A importância do aeroporto
metropolitano é grande nesse quadro, segundo o prefeito Alberto
Mourão, de Praia Grande: "Quando se estuda a implantação
de aeroporto leva-se em conta um raio de 55 quilômetros ao redor
do empreendimento para analisar a demanda de passageiros. Esse raio abrange
o ABC e parte da Grande São Paulo. O Aeroporto de Cumbica tem 15
milhões de passageiros/ano. Congonhas tem 10 milhões/ano.
Na região, nosso aeroporto iria desafogar os dois citados, pois
poderiam passar por ele cerca de 5 milhões de passageiros por ano.
Você imagina o que requer esse público de 5 milhões
de pessoas? É uma cidade dentro de outra". A movimentação
de carga aérea é outro aspecto importante da questão,
como salienta por sua vez o prefeito de Guarujá, Maurici Mariano.
Adaptações – Já
existe uma área definida por estudos de viabilidade técnica
realizados pela Aeronáutica. Assim, o Terminal de Passageiros, que
permitirá operações de embarque e desembarque de vôos
domésticos e mesmo do Mercosul, deve ser construído perto
do final da pista, no lado oposto das instalações militares.
A torre de controle é uma só, e já permite operar
pousos e decolagens por instrumentos IFR integral não precisos,
a qualquer hora do dia e da noite (conforme o tipo de aeronaves civis que
se quiser operar nessas instalações, poderão ser
necessários equipamentos
mais sofisticados).
A pista principal será a mesma
já existente, de 1.390 metros de comprimento (o mesmo da pista principal
do aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro) e 43 m de largura, precisando
ser aumentada apenas no caso do uso de aeronaves maiores (já tem
condições técnicas para operar com aviões Fokker-100
e Boeing 737). Não há alterações nas normas
técnicas de pouso e decolagem e sobrevôo da região,
elas valem para todas as aeronaves (a diferença é que aeronaves
mais velozes precisam de mais espaço para cumprir os minutos de
vôo previstos em cada procedimento técnico). Inclusive, a
altitude praticamente zero (ao nível do mar) e a temperatura mais
alta, segundo os aviadores, dá melhores condições
de sustentação aos aviões, reduzindo as necessidades
de pista em relação a aeroportos como o de Guarulhos.
Embora as operações
sejam compartilhadas entre aeronaves civis e militares, as instalações
serão independentes. Inclusive, uma das principais obras de adaptação
é a construção de acessos independentes para o setor
civil, sem ligação com a área militar: a linha divisória
do Zoneamento Civil-Militar será o próprio eixo da pista;
a parte civil ocupará a área situada à esquerda da
pista 17, ressalvados os limites impostos pelas instalações
militares. Na área militar, será preciso realocar um estande
de tiro, paióis e depósitos de armamentos, instalados no
local que será ocupado pelo terminal de passageiros.
Ainda segundo a Aeronáutica,
o Esquadrão de Saúde da Base Aérea apoiará
na implantação de uma sala de emergência médica
no aeroporto. Também será preciso construir um terminal de
passageiros, pátio, pista de acesso, estacionamento de veículos
e hangares, bem como as instalações para operação
com carga aérea.
Impactos – Antes disso, será
preciso obter a aprovação pelo Ibama de um Estudo/Relatório
de Impacto Ambiental (Eia/Rima), o que não deverá ser entrave
por serem obras relativamente pequenas e de baixo impacto, já funcionando
no local as instalações principais do aeroporto. Segundo
o vereador Wanderley Maduro dos Reis, do Partido Verde, além de
tudo a área destinada à construção já
foi desmatada e existe consistência de pista, não sendo necessário
aterrar o mangue.
Talvez mais importante seja o estudo
do impacto que o aeroporto, mais a ampliação do porto e a
duplicação da Rodovia dos Imigrantes, provocarão nas
instalações urbanas de Guarujá, obrigando a um reestudo
completo da infra-estrutura de serviços urbanos (principalmente
do trânsito, além das telecomunicações, dos
serviços públicos etc.).
Essa é a preocupação
da vereadora Maria Antonieta de Brito, de Guarujá: "As questões
relativas aos impactos ambientais e sociais na área e entorno e
sua inserção na dinâmica urbana e viária do
município poderão ser identificadas e analisadas com profundidade
durante o processo de licenciamento ambiental do empreendimento. Apesar
dos benefícios econômicos do empreendimento serem claros e
imediatos, os custos sociais e ambientais ainda não estão
devidamente reconhecidos e esclarecidos". Por isso, ela procurou (sem sucesso)
incluir no projeto do Executivo a realização da Reunião
Técnica Informativa, prevista na Resolução SMA 11/98,
que possibilita uma discussão pública no início do
processo de licenciamento e as audiências públicas do Plano
de Trabalho e do EIA/RIMA.
(*) Carlos
Pimentel Mendes é jornalista, editor do jornal eletrônico
Novo
Milênio.
Veja mais:
Nas
Asas da Panair, dos franceses e do Condor
Nas
asas da Panair
Nas
asas... dos franceses
Nas
asas... do Condor
No
tempo das primeiras companhias aéreas
Um
heróico pescador de avião
Um
vôo pioneiro
As
primeiras aviadoras
Asas
partidas (Tragédia na praia)
Raids
aéreos e outros acontecimentos
Santos
quase teve um aeroporto internacional
Saint-Exupéry:
desfeito o mistério
Santos
Dumont: o vôo final |