Opinião
Universidade e soberania nacional
Jamil Murad (*)
São
Paulo é o Estado mais rico do Brasil. Sua economia representa 40%
do PIB. Pólo cientifico e tecnológico, a maior parte da produção
científica do País é realizada nas universidades públicas
paulistas, que são reconhecidas internacionalmente pela qualidade
de suas pesquisas e do ensino que oferecem.
No entanto, somente pequena parte
dos recursos que o Estado repassa para o governo federal é revertida
para São Paulo na forma de investimentos, principalmente no ensino
superior. Apenas duas instituições universitárias
no Estado são federais: a Universidade Federal Paulista (Unifesp)
e a Universidade de São Carlos
(Ufscar), o que demonstra o não comprometimento do governo federal
com esse nível de ensino - que, segundo a Constituição
de 1988, é de sua responsabilidade.
É difícil imaginar
como seria o Brasil, e São Paulo, sem suas universidades públicas.
É no seu interior que se dá a formação dos
profissionais mais qualificados para as mais diferentes atividades da sociedade;
que se constrói o conhecimento necessário para erguer as
grandes cidades e as indústrias, para desenvolver a saúde,
a energia, as ciências básicas, as letras e as artes. Ela
são as responsáveis pela formação dos educadores
e pesquisadores.
Estes são alguns dos elementos
que tornam as universidades públicas indispensáveis para
a construção de um Brasil soberano, democrático e
com justiça social. Apenas 38% das vagas oferecidas no ensino superior
estão nas universidades públicas, enquanto que em países
como a França e o próprio EUA essa relação
é de 90% e 60%, respectivamente.
Em São Paulo, apenas 18% das
vagas no ensino superior são públicas. O restante das vagas,
82%, encontra-se no ensino privado, que pratica mensalidades proibitivas,
excluindo milhares de jovens. Em razão disso é que defendemos,
e aprovamos, na Assembléia Legislativa, a criação
da Universidade Pública da Zona Leste. Uma região com grandes
problemas sociais que precisa dar aos seus jovens possibilidade de acesso
ao ensino superior. No entanto, o governador Geraldo Alckmin vetou o projeto.
Enquanto lutamos para ampliar o acesso
à universidade pública, os recursos das universidades federais
encolheram de 2,9% do PIB para 1,7% do PIB em 1999. Outro ataque desferido
contra a educação é a proposta de cobrar mensalidades
nas universidades públicas. Feita pelo FMI, a proposição
deveria ter sido rechaçada pelo governo. Mas o compromisso do MEC
não é com o povo brasileiro, e sim com seus credores internacionais.
Num País em que há
18 milhões de analfabetos e 25 milhões de analfabetos funcionais,
considerar a educação como mercadoria é condenar o
futuro não só da juventude mas do próprio Brasil como
nação soberana.
Nessas eleições, estão
em disputa dois projetos distintos para o País: um que luta pela
soberania e desenvolvimento nacional, e outro, que mantém a miséria
do povo e a subordinação econômica aos EUA. A luta
pela ampliação das universidades públicas e pelo sistema
de ciência e tecnologia é um indicativo daqueles que anseiam
por um novo rumo para o Brasil.
(*) Jamil Murad
é deputado estadual (PCdoB/SP) e pré-candidato a deputado
federal. |