Editorial
Ética, nepotismo e justiça
Luiz Carlos Ferraz
Editor
Talvez
seja nas iniciativas culturais que melhor se encaixe a célebre máxima
de Nelson Rodrigues, de que toda unanimidade é burra. Na literatura,
música, dança, cinema, nas artes plásticas, enfim,
a pluralidade de expressões será sempre fator que valorizará
o talento do artista, proporcionando critérios, que seriam exigivelmente
objetivos, porém na cultura subjetivos, e aí está
a sua singularidade, para uma qualificação honesta.
Some-se esta dificuldade, cuja tendência
será repercutir em discussões acadêmicas intermináveis,
à falta de ética, que neste País é histórica,
e teremos uma amarga receita, casuística para alguns, mas para outros
apenas pragmática, para definir uma obra de arte, esteja ela inserida
nesta ou naquela veia do espectro cultural.
Correndo o risco do acaso, agora
não mais imponderável, pois conduzido (só para argumentar)
pelo patrocinador de plantão, o lixo será prestigiado e apresentado
com singularidade tal, porventura incompreendida. Em contrapartida, tudo
o mais, tenha ou não valor intelectual, será depositado na
vala comum, com direito ao esperneio.
Ou, dependendo da gravidade do caso,
se a questão foi pública e envolver favorecimento a grupos
políticos ou econômicos, ou mesmo em situações
imorais, tratando-se, por exemplo, de nepotismo, que aliás contamina
todas as esferas de poder, estar sujeito à investigação
patrocinada pelo Ministério Público, podendo exigir ou não
a palavra do Judiciário. Nesta seara, onde tende a desaguar toda
a lama produzida nas relações humanas - e daí fazer
jus ao apelido de UTI da sociedade -, há de se esperar, no mínimo,
justiça. |