Metropolização
Mais um ano se passou...
Cidades continuam de costas
uma para a outra, ou batendo de frente na política regional
Carlos Pimentel Mendes (*)
Janeiro
de 2002. Mais uma vez, duas das cidades mais antigas do Brasil (São
Vicente no dia 22 e Santos no dia 26), situadas na mesma ilha, comemoram
seus aniversários. Na mesma época, Guarujá festeja
(no dia 15) seu santo padroeiro e Praia Grande lembra (no dia 19) sua emancipação.
Outras cinco cidades estão de tal forma próximas delas que
se torna difícil dizer onde termina uma e começa outra. É
a tal conurbação, fenômeno em que as cidades crescem
até se juntarem, passando a adotar políticas integradas de
planejamento urbano. Para que a rua de uma cidade não termine nos
fundos de um prédio da cidade vizinha, por exemplo. Nesse momento,
costuma surgir a consciência de metropolização: os
governos municipais percebem a necessidade de ceder parte de seu poder
em favor de um governo regional, que integre as várias políticas:
transportes, saúde, habitação, lixo etc.
Há anos, nove cidades da Baixada
Santista e Litoral Sul estão juridicamente unidas na Região
Metropolitana da Baixada Santista. Sempre que são questionados,
seus políticos dizem que estão trabalhando em inúmeros
projetos metropolitanos, o mesmo fazendo os responsáveis pela gestão
da metrópole. Entretanto, na prática... onde estão
os resultados? Oficialmente, a vaidade de cada governante, o bairrismo,
não influem. O problema é que as verbas estaduais e federais
que irrigariam a metrópole nunca chegam.
Problemas – Relacionar os principais
problemas da metrópole da Baixada Santista é um exercício
de repetição. É só buscar nos arquivos o texto
e reapresentá-lo. Os trilhos da ex-Sorocabana e ex-Fepasa estão
no mesmo lugar, atravessando as zonas urbanas dos principais municípios,
à espera de uma eternamente adiada ligação entre o
Litoral Sul e o porto de Santos por fora da malha urbana. Os chamados veículos
leves sobre trilhos (VLTs), para o transporte de passageiros, ainda não
circulam, mesmo que dividindo os trilhos com os eternos vagões de
carga. Que - estes sim - continuam atravessando as cidades, do mesmo jeito
que há décadas.
Lixo? Sim, é um problema gravíssimo,
demanda solução urgente, pois os aterros sanitários
atuais há muito tempo estão superlotados e criando problemas
para a população próxima. E onde está a solução?
Em alguma gaveta, esperando verbas...
Mas também há verbas
à espera de soluções e até situações
que só dependem de um esforço conjunto para serem resolvidas,
independendo de verbas.
Por quê, um percurso de táxi
entre Santos e São Vicente precisa sofrer um acréscimo de
50%, com a desculpa de que os taxistas de um município não
podem pegar passageiros no outro? No mundo inteiro, conteineres que chegam
com uma carga partem com outra, o mesmo ocorrendo com ônibus, aviões
e trens. Não tem sentido o retorno sem cargas ou passageiros. Exceto
na área metropolitana da Baixada Santista. Por quê uma diferença
de preço, para percursos com a mesma distância e igual duração,
entre a passagem de ônibus urbana e a interurbana?
Uma das grandes e tristes piadas
é a telefonia. Paga-se tarifa maior para telefonar para o outro
lado da rua, se esta tiver um dos lados em São Vicente e outro em
Santos. Promessas de solução existem, todas "para breve",
mas na prática, mesmo, a situação continua a mesma
do tempo em que companhias diferentes operavam a telefonia nessas cidades.
Num tempo em que se fala de superestrada da informação, com
redes para tráfego de dados em alta velocidade gerando as condições
para o desenvolvimento de empresas e estruturas de tecnologia da informação,
base da chamada Nova Economia Digital, em que uma ligação
pela Internet para o outro lado do mundo custa o mesmo que a ligação
local...
Em termos de saúde, não
há impedimento tecnológico em que a rede pública na
região possua um cadastro unificado, de forma que se um cidadão
de Santos tiver uma emergência de saúde em Itanhaém
ou em Guarujá, o serviço de pronto socorro tenha acesso rápido
aos dados dessa pessoa, como tipo sanguíneo e intolerância
a medicamentos. Na prática...
O exemplo mais folclórico
talvez seja o túnel ou a ponte que ligariam a área insular
de Santos a Guarujá ou à região continental de Santos.
Em 1990, depois de décadas, surgiu a promessa ministerial de que
em alguns meses as obras começariam. Até hoje, os políticos
da região não conseguiram se entender para fazer com que
a promessa seja cumprida.
Verbas? – Apesar da eterna crítica
sobre falta de verbas, há casos em que elas existem, mas não
são utilizadas. É que, para usá-las, seria necessário
apresentar projetos conjuntos e isso implica no trabalho em equipe de políticos
de diferentes colorações ideológicas. Envolvendo também
deputados e senadores. Como os que serão (re)eleitos em 2002. A
dispersão de esforços faz com que a região não
consiga representação forte nos Legislativos e Executivos
estaduais e federais, que brigue por verbas para a Baixada Santista do
mesmo modo como fazem os representantes de outros lugares do País.
No início de 2002, Bertioga
se tornou o primeiro município brasileiro a entregar termos de concessão
de uso especial a famílias que residem em áreas públicas:
428 famílias receberam do prefeito Lairton Goulart o termo de concessão
baseado na medida provisória 2.220, publicada no Diário Oficial
da União pela Presidência da República apenas quatro
meses antes, em 4/9/2001. Outras prefeituras poderiam ter feito o mesmo,
reduzindo seus problemas habitacionais, mesmo independendo de políticas
metropolitanas, embora no âmbito da metrópole também
caibam definições e atividades solucionadoras dos problemas
de moradia - que passam pela solução do problema do transporte
intra-regional, já que os trabalhadores precisam de condução
fácil entre o local de moradia e o de trabalho.
A própria região poderia
gerar receita para se tornar auto-sustentável, sem depender das
escassas verbas estaduais e federais. O turismo e a prestação
de serviços, vocações naturais dessa região
metropolitana, seriam as fontes de renda para sustentar os demais projetos.
Entretanto, é aí que melhor fica evidenciada a falta de uma
mentalidade metropolitana: mais de uma vez, numa feira internacional de
turismo realizada na Argentina, Guarujá faz questão de comparecer
com estande próprio, enquanto o estande da Região Metropolitana
da Baixada Santista só é visitado.. pelas moscas.
(*) Carlos
Pimentel Mendes é jornalista, editor do jornal eletrônico
Novo
Milênio.
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