Arquitetura
Aço invade a construção
civil
Antes restrito a detalhes
no acabamento, agora é parte da própria estrutura
Carlos Pimentel Mendes (*)
Depois da
onda das obras em que tudo era de concreto, os arquitetos e engenheiros
descobrem as vantagens do pleno uso do aço na construção
civil: rapidez, leveza, garantia de prazo de entrega, facilidades para
alterações posteriores, melhor aproveitamento. Nessa descoberta,
são ajudados por ampla campanha
orquestrada pelas siderúrgicas, que incluem cursos e concursos,
páginas na Internet e outras atividades de esclarecimento aos profissionais.
Até mesmo as faculdades de Engenharia
(Fesp), Administração em Produção Industrial
(Fapi) e de Ciências Humanas São Paulo (Fach) se uniram para
um novo curso, Tecnologia em
Construção Civil, explicando: “O aumento do uso de vigas
de aço, coberturas e estruturas metálicas em diversos tipos
de edificações comerciais, industriais e residenciais bem
como em torres e postes metálicos para a eletrotécnica e
telecomunicações impôs a necessidade de especialistas
para acompanhar o desenvolvimento dessas construções. Dessa
forma surgiu a necessidade de tecnólogos de nível superior
para calcular e projetar tais obras, fabricar as peças necessárias
e acompanhar a execução das obras de montagem”.
Com 2.376 horas/aula, o curso compreende
as matérias: Portos, Rios e Canais; Aeroportos; Pontes, Barragens
e Grandes Estruturas; Engenharia Legal (principalmente Direito Civil e
do Trabalho); e Programas de Computador (CAD, 3D e cálculo).
Durante o 55º Congressso da
Associação Brasileira de Metalurgia e Materiais (ABM), o
engenheiro Geoffrey Marston, da Sheffield Forge Masters/Krupp, explicou
que essa empresa funciona desde 1823 e é a mais antiga a atuar na
construção metálica em todo o mundo. Segundo ele,
de 1980 para 1999, a presença do aço aumentou de 30% para
68% nas construções inglesas, que absorvem 28% do aço
produzido naquele país.
Demanda nacional – As siderúrgicas
se preparam para a demanda crescente: a Companhia Siderúrgica de
Tubarão (CST), por exemplo, investiu em um novo laminador
de tiras a quente, que permite a partir de 2001 produzir 2 milhões
de toneladas/ano, enquanto a Cia. Siderúrgica Nacional (CSN) prevê
670 mil toneladas em aços galvanizados.
Estudo da Associação
do Aço do Rio Grande do Sul (AARS), disponível
na Internet, observa que a construção civil deixou de
ser artesanal para se tornar uma linha de montagem .De janeiro a abril
de 1999 foram destinadas a construção civil e perfilação
327.798 toneladas de aço nacional, 13% do aço comercializado
no período pelas siderúrgicas.
Dentre as diversas obras que utilizaram
os aços da Companhia Siderúrgica Paulista (Cosipa),
destaca-se o maior edifício de estrutura metálica da América
Latina, o Centro Empresarial do Aço - CEA, em São Paulo.
Considerado um verdadeiro show room da construção
metálica, consumiu cerca de 4.800 toneladas de aço num total
de 79 mil m² de área construída.
Só no Grupo Gerdau, o setor
da construção civil, responsável por 15% do PIB brasileiro
e por dois terços dos investimentos brutos no País, responde
por quase 60% faturamento global que, em 1998 US$ 2,3 bilhões, com
uma produção de 3,7 milhões de toneladas de aço.
Destaque – Em todo o Brasil,
o uso do aço vem sendo valorizado. O Diário do Nordeste,
de Fortaleza, destaca,
em 27/1/2000: “Uso de aço na construção civil reduz
desperdício em até 30%”. De fato, explica o diretor da Usiminas,
Gabriel Janot: “O desperdício cai para zero, pois a estrutura de
aço proporciona precisão milimétrica no alinhamento
da obra. Na hora de colocar a alvenaria, não é necessário
recorrer a enchimento de massa para acertar diferenças”.
Um ano depois, em
28/1/2001, o jornal A Gazeta, de Vitória, anota: “As
empresas que atuam na área de siderurgia querem aumentar o consumo
interno de aço e elegeram o setor da construção civil
como mercado alvo para incrementar as vendas. (...) a estratégia
é fazer com que o concreto seja substituído pelo aço”.
A matéria, assinada por Rita
Bridi, continua: “O Brasil é o 8º produtor mundial de aço
e o consumo no país, da ordem de 100 quilos/ano/habitante, representa
menos de 30%
do consumo em países desenvolvidos. No setor da construção
civil, o consumo médio de aço na Europa é da ordem
de 30 quilos/ano por habitante. No Brasil, o consumo é estimado
em 3 quilos/ano por habitante. A estimativa do presidente da Associação
Brasileira da Construção Metálica (ABCEM), José
Antônio Pires do Prado, é de que, nos próximos cinco
anos, o consumo no Brasil chegue a 6,5 quilos/ano por habitante”.
Destaca ainda o jornal capixaba declaração
do professor e pesquisador Pedro Sá, do Núcleo de Excelência
em Estruturas Metálicas e Mistas (Nexem), que funciona no Centro
Tecnológico da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes):
o aço é usado em mais de 60% das obras da construção
civil nos países desenvolvidos, podendo chegar a 90% das construções
em alguns segmentos, especialmente o de prédios comerciais.
Cita o professor que no Brasil, com
o grande uso de concreto, emprega-se muita madeira,
produto que a cada dia vai se tornando mais escasso e não pode ser
reutilizado. O tempo de conclusão da obra para os empreendimentos
comerciais é outro ponto negativo da utilização do
concreto, que ainda é competitivo apenas pelo baixo valor da madeira
e da mão-de-obra. Esses fatores, mais a pressa para a conclusão
da obra, devem cada vez mais levar à opção pelo aço
no lugar do concreto, assim que for vencida – pelo maior conhecimento das
vantagens do aço – a barreira cultural existente no setor.
Vantagens – Dados da
European Convention for Constructional Steelwork (ECCS) ressaltam as vantagens
estáticas das construções metálicas: maior
liberdade de expressão; maior possibilidade de criação
no projeto; transparência, esbeltez e leveza; grandes vãos
livres; elegância com simplicidade; oportunidade de expressão
arquitetônica; projeto arquitetônico praticamente ilimitado.
Entre as vantagens econômicas,
a ECCS alinha: projetos funcionais simples; baixo custo de manutenção;
fabricação e montagem eficientes; redução no
tempo de construção; colunas esbeltas, possibilitando maior
área útil nos andares; pé-direito reduzido; fundações
mais baratas devido ao baixo peso da estrutura; redução do
canteiro de obras e de seus custos; durabilidade; flexibilidade; facilidade
de modificação futura (reforço, ampliação);
longos vãos, permitindo espaços mais flexíveis; máxima
flexibilidade no projeto de instalações, de equipamentos
e similares.
O meio-ambiente agradece: melhores
condições de transporte do material; menos barulho,
menos poeira e menos desperdício na construção; material
estrutural reciclável. Performance técnica: soluções
eficientes para isolamento térmico e acústico; fácil
combinação com outros materiais; sistemas de proteção
superficial eficientes; sistemas de proteção contra o fogo
eficientes e baratos. Há também, segundo a ECCS, vantagens
do aço em termos de segurança: capacidade de absorver ações
excepcionais (terremotos, colisões); confiança na qualidade
do material (material homogêneo); conexões visíveis,
permitindo fácil verificação do seu comportamento
estrutural.
Uma construção em aço
é três vezes mais leve que a correspondente convencional,
reduzindo os custos com fundações. Além disso, por
ser material mais fácil de manipular, existe menor custo de mão-de-obra,
e a rapidez na execução permite à construtora também
ganhar com o giro de capital.
Tipos – Mesmo em obras rodoviárias
está se começando a usar soluções mistas -
colunas de concreto e vigas metálicas - pela facilidade e velocidade
de construção e, principalmente, pela economicidade, ressaltou
o presidente-1999 da AARS, Sérgio Neumann.
Ele acrescentou: “Os aços
inoxidáveis combinam bem com outros materiais, podendo o arquiteto
tirar partido das várias opções texturizadas, foscas
ou brilhantes. Acabamentos
brilhantes com superfícies muito reflexivas permitem à obra
assumir as cores do meio ambiente, que variam com a alteração
da luminosidade ao longo das horas do dia e dos meses do ano. Novas ligas
metálicas tornaram os aços resistentes à corrosão
e extremamente competitivos no que se refere a custos de manutenção.
Os revestimentos para as coberturas metálicas podem ser zincados,
aluminizados e pintados, com ou sem revestimento térmico, oferecendo
uma ampla gama de opções para os arquitetos. Além
disso, os aços inoxidáveis não liberam produtos de
corrosão que atacam superfícies de alumínio ou zinco
nem mancham mármores ou outros materiais colocados abaixo. Em função
disto, a indústria da construção civil que utiliza
aço terá um crescimento expressivo."
No Brasil há grande variedade
de tipos de aços planos inoxidáveis, à disposição
dos usuários. Cada tipo foi desenvolvido para atender determinadas
aplicações, considerando as condições ambientais
de resistência à corrosão, as propriedades mecânicas,
a fabricação, o custo total e a disponibilidade do produto.
Basicamente, existem três grupos de aços inoxidáveis,
de acordo com a composição química e características
metalúrgicas: aços austeníticos, aços ferríticos,
e aços martensíticos. Os primeiros, que respondem por cerca
de 70% do total de aços inox produzidos em todo mundo, são
recomendados para uso na arquitetura e os mais usados na construção
civil.
Casas de aço – Apostando
no mercado de habitações populares, onde o aço também
pode ser altamente competitivo, a Cosipa desenvolveu projetos de edifícios
de quatro andares (térreo mais três), com custos compatíveis
a iniciativas similares executadas em estruturas convencionais de concreto.
Cada unidade terá 16 apartamentos (quatro por andar), e cada apartamento
possui área útil de 40,39 m², baseados nos padrões
praticados pela Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU).
Concebido como um sistema aberto, o projeto permite a utilização
de diferentes materiais para acabamento e fechamento, conforme as necessidades
da região onde for implantado.
A Cosipa também aposta na
família de aços Cos Civil, desenvolvida especialmente para
aplicação na construção, permitindo estruturas
mais esbeltas, leves e econômicas, com qualidade internacional certificada
pela norma ISO 9001. Além do Cos Civil e dos aços-carbono
empregados em estruturas de uso geral, a Cosipa possui aços Cos
Ar Cor, mais resistentes à corrosão atmosférica, com
alta resistência mecânica, boa soldabilidade e tenacidade adequada.
Esta propriedade é obtida em função da adição
de pequenos teores de cobre e cromo que propiciam a formação
de uma película em sua superfície, a qual funciona como uma
barreira que protege o aço contra a ferrugem.
Projetos semelhantes existem também
em outras siderúrgicas, como a CSN, que desenvolveu um sistema de
construção de moradias com estruturas metálicas em
chapa de aço zincado. Este tipo de construção tem
muitas vantagens: rapidez na construção, facilidade de montagem,
flexibilidade para ampliação, alta resistência estrutural,
perfeito isolamento térmico e acústico, durabilidade e reciclabilidade,
utilização de materiais não combustíveis, a
prova de cupins. A estrutura e o engradamento em aço galvanizado,
por serem pré fabricados, apresentam uma redução do
custo de construção em relação aos métodos
convencionais. O sistema já está consagrado nos Estados Unidos,
na Inglaterra, na Austrália e na Argentina.
Destaca ainda a CSN: não há
limites para a versatilidade, a durabilidade, economia e segurança
de casas modulares com estruturas em aço, podendo ser ampliada como
e quando se desejar. O material vinílico do revestimento não
propaga fogo, as instalações elétricas passam pelo
espaço vazio existente entre os painéis, o que permite manutenção
sem a necessidade de demolições, como nas alvenarias; os
painéis de gesso, de acordo com testes realizados por entidade credenciadas,
não quebram com facilidade, podem sofrer impactos sem danificarem-se
e nas áreas úmidas são tratados com silicone, podendo,
inclusive, receber azulejo.
E a casa de aço não
é quente: o colchão de ar existente entre os revestimentos
cria um isolamento térmico e, se o cliente quiser, pode pedir que
sejam colocadas mantas térmicas. Pelo fato de conduzirem a eletricidade
para a terra, estas casas estão menos sujeitas às danificações
por descargas atmosféricas. Não há diferenças
na recepção de sinais de rádio e de TV entre casas
metálicas e convencionais. Quadros e adornos, dependendo do seu
peso podem ser pendurados normalmente nas paredes com pregos ou chumbadores.
E, finalmente, casa metálica não enferruja, pois em sua construção
é utilizado o aço zincado protegido contra corrosão.
(*) Carlos
Pimentel Mendes é editor do jornal eletrônico Novo
Milênio. |