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Edição 098 - JUL/2001 

Arquitetura

Aço invade a construção civil 
Antes restrito a detalhes no acabamento, agora é parte da própria estrutura

Carlos Pimentel Mendes (*)

Depois da onda das obras em que tudo era de concreto, os arquitetos e engenheiros descobrem as vantagens do pleno uso do aço na construção civil: rapidez, leveza, garantia de prazo de entrega, facilidades para alterações posteriores, melhor aproveitamento. Nessa descoberta, são ajudados por ampla campanha orquestrada pelas siderúrgicas, que incluem cursos e concursos, páginas na Internet e outras atividades de esclarecimento aos profissionais. 
Até mesmo as faculdades de Engenharia (Fesp), Administração em Produção Industrial (Fapi) e de Ciências Humanas São Paulo (Fach) se uniram para um novo curso, Tecnologia em Construção Civil, explicando: “O aumento do uso de vigas de aço, coberturas e estruturas metálicas em diversos tipos de edificações comerciais, industriais e residenciais bem como em torres e postes metálicos para a eletrotécnica e telecomunicações impôs a necessidade de especialistas para acompanhar o desenvolvimento dessas construções. Dessa forma surgiu a necessidade de tecnólogos de nível superior para calcular e projetar tais obras, fabricar as peças necessárias e acompanhar a execução das obras de montagem”. 

Com 2.376 horas/aula, o curso compreende as matérias: Portos, Rios e Canais; Aeroportos; Pontes, Barragens e Grandes Estruturas; Engenharia Legal (principalmente Direito Civil e do Trabalho); e Programas de Computador (CAD, 3D e cálculo).

Durante o 55º Congressso da Associação Brasileira de Metalurgia e Materiais (ABM), o engenheiro Geoffrey Marston, da Sheffield Forge Masters/Krupp, explicou que essa empresa funciona desde 1823 e é a mais antiga a atuar na construção metálica em todo o mundo. Segundo ele, de 1980 para 1999, a presença do aço aumentou de 30% para 68% nas construções inglesas, que absorvem 28% do aço produzido naquele país.

Demanda nacional – As siderúrgicas se preparam para a demanda crescente: a Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST), por exemplo, investiu em um novo Centro de compras Diamond Mall, em Belo Horizonte/MGlaminador de tiras a quente, que permite a partir de 2001 produzir 2 milhões de toneladas/ano, enquanto a Cia. Siderúrgica Nacional (CSN) prevê 670 mil toneladas em aços galvanizados.

Estudo da Associação do Aço do Rio Grande do Sul (AARS), disponível na Internet, observa que a construção civil deixou de ser artesanal para se tornar uma linha de montagem .De janeiro a abril de 1999 foram destinadas a construção civil e perfilação 327.798 toneladas de aço nacional, 13% do aço comercializado no período pelas siderúrgicas. 

Dentre as diversas obras que utilizaram os aços da Companhia Siderúrgica Paulista Centro Empresarial do Aço, em São Paulo/SP, paradigma de qualidade(Cosipa), destaca-se o maior edifício de estrutura metálica da América Latina, o Centro Empresarial do Aço - CEA, em São Paulo. Considerado um verdadeiro show room da construção metálica, consumiu cerca de 4.800 toneladas de aço num total de 79 mil m² de área construída.

Só no Grupo Gerdau, o setor da construção civil, responsável por 15% do PIB brasileiro e por dois terços dos investimentos brutos no País, responde por quase 60% faturamento global que, em 1998 US$ 2,3 bilhões, com uma produção de 3,7 milhões de toneladas de aço. 

Destaque – Em todo o Brasil, o uso do aço vem sendo valorizado. O Diário do Nordeste, de Fortaleza, destaca, em 27/1/2000: “Uso de aço na construção civil Aeroporto de Curitiba/PR, exemplo de aproveitamento de espaço útilreduz desperdício em até 30%”. De fato, explica o diretor da Usiminas, Gabriel Janot: “O desperdício cai para zero, pois a estrutura de aço proporciona precisão milimétrica no alinhamento da obra. Na hora de colocar a alvenaria, não é necessário recorrer a enchimento de massa para acertar diferenças”.

Um ano depois, em 28/1/2001, o jornal A Gazeta, de Vitória, anota: “As empresas que atuam na área de siderurgia querem aumentar o consumo interno de aço e elegeram o setor da construção civil como mercado alvo para incrementar as vendas. (...) a estratégia é fazer com que o concreto seja substituído pelo aço”.

A matéria, assinada por Rita Bridi, continua: “O Brasil é o 8º produtor mundial de aço e o consumo no país, da ordem de 100 quilos/ano/habitante, representa menos de Concessionária Volkswagen Catalão, em Ipatinga/MG, exemplo da adaptabilidade do aço30% do consumo em países desenvolvidos. No setor da construção civil, o consumo médio de aço na Europa é da ordem de 30 quilos/ano por habitante. No Brasil, o consumo é estimado em 3 quilos/ano por habitante. A estimativa do presidente da Associação Brasileira da Construção Metálica (ABCEM), José Antônio Pires do Prado, é de que, nos próximos cinco anos, o consumo no Brasil chegue a 6,5 quilos/ano por habitante”.

Destaca ainda o jornal capixaba declaração do professor e pesquisador Pedro Sá, do Núcleo de Excelência em Estruturas Metálicas e Mistas (Nexem), que funciona no Centro Tecnológico da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes): o aço é usado em mais de 60% das obras da construção civil nos países desenvolvidos, podendo chegar a 90% das construções em alguns segmentos, especialmente o de prédios comerciais.

Cita o professor que no Brasil, com o grande uso de concreto, emprega-se muita Edifício Capri, em Belo Horizonte/MG, exemplo de economicidademadeira, produto que a cada dia vai se tornando mais escasso e não pode ser reutilizado. O tempo de conclusão da obra para os empreendimentos comerciais é outro ponto negativo da utilização do concreto, que ainda é competitivo apenas pelo baixo valor da madeira e da mão-de-obra. Esses fatores, mais a pressa para a conclusão da obra, devem cada vez mais levar à opção pelo aço no lugar do concreto, assim que for vencida – pelo maior conhecimento das vantagens do aço – a barreira cultural existente no setor.

Vantagens – Dados da  European Convention for Constructional Steelwork (ECCS) ressaltam as vantagens estáticas das construções metálicas: maior liberdade de expressão; maior possibilidade de criação no projeto; transparência, esbeltez e leveza; grandes vãos livres; elegância com simplicidade; oportunidade de expressão arquitetônica; projeto arquitetônico praticamente ilimitado. 

Entre as vantagens econômicas, a ECCS alinha: projetos funcionais simples; baixo custo de manutenção; fabricação e montagem eficientes; redução no tempo de construção; colunas esbeltas, possibilitando maior área útil nos andares; pé-direito reduzido; fundações mais baratas devido ao baixo peso da estrutura; redução do canteiro de obras e de seus custos; durabilidade; flexibilidade; facilidade de modificação futura (reforço, ampliação); longos vãos, permitindo espaços mais flexíveis; máxima flexibilidade no projeto de instalações, de equipamentos e similares. 

O meio-ambiente agradece: melhores condições de transporte do material; menos Canteiro de obras do Big Shopping em Contagem/MGbarulho, menos poeira e menos desperdício na construção; material estrutural reciclável. Performance técnica: soluções eficientes para isolamento térmico e acústico; fácil combinação com outros materiais; sistemas de proteção superficial eficientes; sistemas de proteção contra o fogo eficientes e baratos. Há também, segundo a ECCS, vantagens do aço em termos de segurança: capacidade de absorver ações excepcionais (terremotos, colisões); confiança na qualidade do material (material homogêneo); conexões visíveis, permitindo fácil verificação do seu comportamento estrutural.

Uma construção em aço é três vezes mais leve que a correspondente convencional, reduzindo os custos com fundações. Além disso, por ser material mais fácil de manipular, existe menor custo de mão-de-obra, e a rapidez na execução permite à construtora também ganhar com o giro de capital.

Tipos – Mesmo em obras rodoviárias está se começando a usar soluções mistas - colunas de concreto e vigas metálicas - pela facilidade e velocidade de construção e, principalmente, pela economicidade, ressaltou o presidente-1999 da AARS, Sérgio Neumann. 

Ele acrescentou: “Os aços inoxidáveis combinam bem com outros materiais, podendo o arquiteto tirar partido das várias opções texturizadas, foscas ou brilhantes. Estruturas em aço permitem, pela leveza, criar grandes vãos livresAcabamentos brilhantes com superfícies muito reflexivas permitem à obra assumir as cores do meio ambiente, que variam com a alteração da luminosidade ao longo das horas do dia e dos meses do ano. Novas ligas metálicas tornaram os aços resistentes à corrosão e extremamente competitivos no que se refere a custos de manutenção. Os revestimentos para as coberturas metálicas podem ser zincados, aluminizados e pintados, com ou sem revestimento térmico, oferecendo uma ampla gama de opções para os arquitetos. Além disso, os aços inoxidáveis não liberam produtos de corrosão que atacam superfícies de alumínio ou zinco nem mancham mármores ou outros materiais colocados abaixo. Em função disto, a indústria da construção civil que utiliza aço terá um crescimento expressivo."

No Brasil há grande variedade de tipos de aços planos inoxidáveis, à disposição dos usuários. Cada tipo foi desenvolvido para atender determinadas aplicações, considerando as condições ambientais de resistência à corrosão, as propriedades mecânicas, a fabricação, o custo total e a disponibilidade do produto. Basicamente, existem três grupos de aços inoxidáveis, de acordo com a composição química e características metalúrgicas: aços austeníticos, aços ferríticos, e aços martensíticos. Os primeiros, que respondem por cerca de 70% do total de aços inox produzidos em todo mundo, são recomendados para uso na arquitetura e os mais usados na construção civil.

Casas de aço – Apostando no mercado de habitações populares, onde o aço também pode ser altamente competitivo, a Cosipa desenvolveu projetos de edifícios de quatro andares (térreo mais três), com custos compatíveis a iniciativas similares executadas em estruturas convencionais de concreto. Cada unidade terá 16 apartamentos (quatro por andar), e cada apartamento possui área útil de 40,39 m², baseados nos padrões praticados pela Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU). Concebido como um sistema aberto, o projeto permite a utilização de diferentes materiais para acabamento e fechamento, conforme as necessidades da região onde for implantado.

A Cosipa também aposta na família de aços Cos Civil, desenvolvida especialmente para aplicação na construção, permitindo estruturas mais esbeltas, leves e econômicas, com qualidade internacional certificada pela norma ISO 9001. Além do Cos Civil e dos aços-carbono empregados em estruturas de uso geral, a Cosipa possui aços Cos Ar Cor, mais resistentes à corrosão atmosférica, com alta resistência mecânica, boa soldabilidade e tenacidade adequada. Esta propriedade é obtida em função da adição de pequenos teores de cobre e cromo que propiciam a formação de uma película em sua superfície, a qual funciona como uma barreira que protege o aço contra a ferrugem.

Projetos semelhantes existem também em outras siderúrgicas, como a CSN, que desenvolveu um sistema de construção de moradias com estruturas metálicas em chapa de aço zincado. Este tipo de construção tem muitas vantagens: rapidez na construção, facilidade de montagem, flexibilidade para ampliação, alta resistência estrutural, perfeito isolamento térmico e acústico, durabilidade e reciclabilidade, utilização de materiais não combustíveis, a prova de cupins. A estrutura e o engradamento em aço galvanizado, por serem pré fabricados, apresentam uma redução do custo de construção em relação aos métodos convencionais. O sistema já está consagrado nos Estados Unidos, na Inglaterra, na Austrália e na Argentina.

CSN realiza concursos para escolha dos melhores projetos usando aço na construção
Destaca ainda a CSN: não há limites para a versatilidade, a durabilidade, economia e segurança de casas modulares com estruturas em aço, podendo ser ampliada como e quando se desejar. O material vinílico do revestimento não propaga fogo, as instalações elétricas passam pelo espaço vazio existente entre os painéis, o que permite manutenção sem a necessidade de demolições, como nas alvenarias; os painéis de gesso, de acordo com testes realizados por entidade credenciadas, não quebram com facilidade, podem sofrer impactos sem danificarem-se e nas áreas úmidas são tratados com silicone, podendo, inclusive, receber azulejo. 

E a casa de aço não é quente: o colchão de ar existente entre os revestimentos cria um isolamento térmico e, se o cliente quiser, pode pedir que sejam colocadas mantas térmicas. Pelo fato de conduzirem a eletricidade para a terra, estas casas estão menos sujeitas às danificações por descargas atmosféricas. Não há diferenças na recepção de sinais de rádio e de TV entre casas metálicas e convencionais. Quadros e adornos, dependendo do seu peso podem ser pendurados normalmente nas paredes com pregos ou chumbadores. E, finalmente, casa metálica não enferruja, pois em sua construção é utilizado o aço zincado protegido contra corrosão.

(*) Carlos Pimentel Mendes é editor do jornal eletrônico Novo Milênio.