Editorial
Indignar-se, sempre
Luiz Carlos Ferraz, editor
Tanto poder
possui o tempo que, entre outras coisas, é capaz de dissipar o vestígio
de civilizações, mudar a geografia do planeta, extinguir
o próprio direito do cidadão, através do instituto
jurídico da decadência. No dia-a-dia, contudo, o vigor do
tempo não pode ter o condão de aniquilar a capacidade de
indignação que é própria da condição
humana.
Faz-se a advertência apenas
para lembrar que, nos dias atuais, em face de tantos desmandos, corrupção,
impunidade, miséria, não se deve admitir a resignação
e aceitar passivamente o caos, seja econômico, ético ou virtual,
como se as aberrações fossem estranhas, longe de nos provocar
danos ou prejuízos.
Nada mais falso. Num mundo globalizado,
onde as distâncias são percorridas em fração
de segundos, o cidadão universal inevitavelmente sofre reflexos,
positivos ou negativos, sobre tudo o que acontece.
Se o governo brasileiro, que alega
não ter recursos para programas sociais contra a seca e a fome,
disponibiliza mais de 12 bilhões de reais para socorrer instituições
financeiras estatais falidas e malversadas, a medida deve merecer repúdio
unânime.
Se a Polícia Federal permite
que o traficante Fernandinho Beira-Mar controle o crime organizado de dentro
de uma cela da própria PF, não resta dúvida que a
promiscuidade impera entre policiais e bandidos.
Quer mais? Exemplos há aos
montes. Porém, desempregado, com fome e sede, a indignação
deve ser a marca do brasileiro do terceiro milênio. |