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Edição 092 - JAN/2001 

Novo Milênio

O futuro da Baixada Santista 
Investir no turismo de uma metrópole que não se (re)conhece

Carlos Pimentel Mendes (*)

Novo milênio, novo século, novo ano. Bom momento para uma pequena reflexão sobre onde estamos e para onde caminhamos. Ainda mais que parte dos municípios começa o ano com prefeito novo, em outros o prefeito começa novo mandato. Enquanto os países em todo o mundo se unem em blocos econômicos, dentro da idéia de que a união faz a força, a região metropolitana da Baixada Santista – união de municípios que existe de direito há vários anos – continua de fato não existindo. 

Todos esperam que a União faça a força, entendendo União como o governo federal.
Antes que os senhores prefeitos e vereadores venham a público provar por A+Z que a metropolização é um fato na Baixada Santista, analisemos algumas questões que até poderiam estar resolvidas, se os entraves políticos e burocráticos fossem superados. A propósito, a melhor forma de verificar se existe integração de fato entre os serviços públicos em uma região metropolitana é dar uma espiada na linha divisória entre as cidades. Se pudermos perceber ali uma degradação na qualidade dos serviços, é porque a integração não ocorreu de fato.

Entraves – O lixo, por exemplo. Em que lugar está situado o depósito metropolitano de lixo? Problema em todo o mundo, o que fazer com o lixo urbano é um assunto cada vez mais urgente, de vez que as soluções convencionais já estão (quase?!?) esgotadas. Incinerar, reciclar? Projetos...

Transporte regional. Um século atrás, já existiam linhas de bondes e de trens ligando cidades da região. Hoje, não há uma entidade pública ou empresa contratada pelos municípios para gerir os fluxos de transporte público na Baixada Santista. Não há estações intermunicipais de transbordo (algo semelhante ao terminal de ônibus existente ao lado da estação rodoviária de Santos, porém com nível metropolitano). 

Não temos algum tipo de veículo leve sobre trilhos que aproveite de forma inteligente os traçados das ferrovias (em lugar disso, temos trens de carga que às vezes congestionam o trânsito urbano santista, com suas manobras intermináveis). Não temos sequer um padrão mínimo a ser seguido pelas empresas, trafegando em Santos ônibus com o mesmo número de linha, um para transporte local e outro para transporte intermunicipal. Vá explicar isso a um forasteiro! Quantos enganos não ocorreram por falta desse mínimo de integração?

Saúde. Em parte por conta de vícios nacionais do sistema de Saúde, mas em parte igualmente importante por falta de uma política regional, pessoas morrem no trajeto entre hospitais, enquanto se procura uma vaga. Já poderia existir uma central de controle de leitos hospitalares na região e uma política de melhor distribuição da própria atividade hospitalar, até mesmo um cadastro padrão para cada habitante da região, computadorizado, com os principais dados de sua ficha médica, para facilitar o atendimento de emergência em qualquer pronto-socorro da região (“qual é mesmo o tipo sangüíneo do paciente?”). Para não falar de outras iniciativas mais sofisticadas, em termos de medicina preventiva e na área sanitária.

Educação. O simples fato de muitos professores precisarem atravessar três municípios diariamente, no trajeto casa-escola, já bastaria para justificar a adoção de alguma política regional no setor. Este é um exemplo em que o entrave está mais na vontade política ou na boa vontade de agir, do que na falta de verbas para a execução de obras. Um simples computador, desses que ficam encostados num canto de uma repartição, já bastaria para se elaborar um plano regional de distribuição de aulas, professores e alunos, que aproveite melhor os recursos disponíveis. Não, não estou sonhando acordado, é possível fazer isso. Ou estou mesmo sonhando?...

Por falar em voar alto, que tal analisarmos o problema do aeroporto regional. Qual é, mesmo? Guarujá ou Itanhaém? Ou Praia Grande? Que não seja por falta de projetos! Se você precisa se deslocar de Santos a São Paulo (como acontece rotineiramente na área de negócios, ou nos projetos de turismo integrado mar-ar em que o turista desembarca do navio e precisa pegar um avião para conhecer por exemplo as Cataratas do Iguaçu), faria uma viagem a Itanhaém para embarcar num vôo regional até São Paulo? Ou iria pelo Complexo Anchieta/Imigrantes até a capital paulista?

Do ar ao mar: onde está a ponte Santos-Guarujá? Em 1990, um ministro dos Transportes disse num seminário em Santos que quatro meses depois começariam as obras. Sequer sabia se seria ponte ou túnel, aliás. Nem tive dúvidas em duvidar. É só conferir a fantástica obra de engenharia – que não existe.

E não é mais do que hora de pensar nisso? Em menos de dois anos, estará – esperamos – construída a segunda pista da Rodovia dos Imigrantes. Todos prevêem o caos para os transportes na região, que mesmo agora já não suporta todo o tráfego de um final de semana. Que ação conjunta está sendo (já deveria ter sido) adotada por esta região metropolitana? Irem os prefeitos em comissão passar o chapéu em Brasília, pelo menos?

Ah, o turismo! – Existem tantos assuntos que poderiam ser debatidos sobre a bandeira da metropolização, mas vejamos apenas mais este, tão caro à Baixada Santista. É, o turismo! Aliás, ih, oh, o turismo! Todas as iniciativas no setor são isoladas, onde é mesmo que atua a Empresa Metropolitana de Turismo da Baixada Santista? A EMTURBAS? Em turbas de vândalos que a polícia desistiu de tentar controlar, e impedem a realização de espetáculos públicos na região? Uh!

Já tive a ocasião de lembrar isso a alguns secretários de turismo: quando falamos de Serras Gaúchas, vêm à mente um grupo de cidades que lucram muito com um roteiro turístico unificado. Idem, Circuito das Águas, no interior paulista. Idem, Cidades Históricas, em Minas Gerais. Bem, qual a marca do turismo regional? Que nome, que símbolo, serve como referência única para a Baixada Santista?

Temos características comuns, como ser a região que viu nascer a colonização brasileira; nossas belas praias; a presença indígena; um artista como Benedito Calixto, por exemplo, nasceu em Itanhaém e pintou em Santos muitas de suas principais obras, um século atrás. Talvez isso pudesse ser unido numa marca da região.

Não se trata de criar um símbolo, mas de desenvolver uma série de projetos conjuntos de infra-estrutura turística que tornem esse símbolo onipresente, tipo selo ou marca de qualidade e referência. Por quê não podemos ter um pacote turístico em que o visitante desembarca do transatlântico, passeia de bonde pelo centro histórico santista, é levado em ônibus especial para conhecer as famosas praias de Guarujá, vai até Bertioga conhecer sua fortaleza, retorna pelo (despoluído?!?...) parque industrial de Cubatão admirando a floresta típica da Serra do Mar, prossegue até Itanhaém para ver uma pequena cidade histórica, conhece o famoso banho de lama medicinal, volta pelas praias de Mongaguá e Praia Grande até a Ponte Pênsil, e ao anoitecer vê o espetáculo vicentino do desembarque de Martim Afonso de Souza, antes de retornar ao navio?

Tudo isso, com o mesmo símbolo do turismo regional, que também estará estampado em camisetas, CDs, fitas de vídeo, livros, postais, artesanato e até mesmo em páginas de divulgação na Internet, indicando ao mundo inteiro que nos orgulhamos de ostentar essa marca. Dinheiro em caixa, senhores!

Está em nossas mãos, e por delegação de poder nas de nossos políticos, fazer do percurso pelas cidades da zona metropolitana da Baixada Santista uma odisséia agradável ou não. Fazer com que este barco (para sermos mais modernos, esta nave) de nove municípios e um milhão e meio de habitantes em média seja um excelente lugar para se viver e passear, ou apenas um local de passagem em alta velocidade, rumo a outras paragens mais atraentes.

(*) Carlos Pimentel Mendes é jornalista, editor do jornal eletrônico Novo Milênio.

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