Novo Milênio
O futuro da Baixada Santista
Investir no turismo de uma
metrópole que não se (re)conhece
Carlos Pimentel Mendes (*)
Novo
milênio, novo século, novo ano. Bom momento para uma pequena
reflexão sobre onde estamos e para onde caminhamos. Ainda mais que
parte dos municípios começa o ano com prefeito novo, em outros
o prefeito começa novo mandato. Enquanto
os países em todo o mundo se unem em blocos econômicos, dentro
da idéia de que a união faz a força, a região
metropolitana da Baixada Santista – união de municípios que
existe de direito há vários anos – continua de fato não
existindo.
Todos esperam que a União
faça a força, entendendo União como o governo federal.
Antes que os senhores prefeitos
e vereadores venham a público provar por A+Z que a metropolização
é um fato na Baixada Santista, analisemos algumas questões
que até poderiam estar resolvidas, se os entraves políticos
e burocráticos fossem superados. A propósito, a melhor forma
de verificar se existe integração de fato entre os serviços
públicos em uma região metropolitana é dar uma espiada
na linha divisória entre as cidades. Se pudermos perceber ali uma
degradação na qualidade dos serviços, é porque
a integração não ocorreu de fato.
Entraves – O lixo, por exemplo.
Em que lugar está situado o depósito metropolitano de lixo?
Problema em todo o mundo, o que fazer com o lixo urbano é um assunto
cada vez mais urgente, de vez que as soluções convencionais
já estão (quase?!?) esgotadas. Incinerar, reciclar? Projetos...
Transporte regional. Um século
atrás, já existiam linhas de bondes e de trens ligando cidades
da região. Hoje, não há uma entidade pública
ou empresa contratada pelos municípios
para gerir os fluxos de transporte público na Baixada Santista.
Não há estações intermunicipais de transbordo
(algo semelhante ao terminal de ônibus existente ao lado da estação
rodoviária de Santos, porém com nível metropolitano).
Não temos algum tipo de veículo
leve sobre trilhos que aproveite de forma inteligente os traçados
das ferrovias (em lugar disso, temos trens de carga que às vezes
congestionam o trânsito urbano santista, com suas manobras intermináveis).
Não temos sequer um padrão mínimo a ser seguido pelas
empresas, trafegando em Santos ônibus com o mesmo número de
linha, um para transporte local e outro para transporte intermunicipal.
Vá explicar isso a um forasteiro! Quantos enganos não ocorreram
por falta desse mínimo de integração?
Saúde. Em parte por conta
de vícios nacionais do sistema de Saúde, mas em parte igualmente
importante por falta de uma política regional, pessoas morrem no
trajeto entre hospitais, enquanto se procura uma vaga. Já poderia
existir uma central de controle de leitos hospitalares na região
e uma política de melhor distribuição da própria
atividade hospitalar, até mesmo um cadastro padrão para cada
habitante da região, computadorizado, com os principais dados de
sua ficha médica, para facilitar o atendimento de emergência
em qualquer pronto-socorro da região (“qual é mesmo o tipo
sangüíneo do paciente?”). Para não falar de outras iniciativas
mais sofisticadas, em termos de medicina preventiva e na área sanitária.
Educação. O simples
fato de muitos professores precisarem atravessar três municípios
diariamente, no trajeto casa-escola, já bastaria para justificar
a adoção de
alguma política regional no setor. Este é um exemplo em que
o entrave está mais na vontade política ou na boa vontade
de agir, do que na falta de verbas para a execução de obras.
Um simples computador, desses que ficam encostados num canto de uma repartição,
já bastaria para se elaborar um plano regional de distribuição
de aulas, professores e alunos, que aproveite melhor os recursos disponíveis.
Não, não estou sonhando acordado, é possível
fazer isso. Ou estou mesmo sonhando?...
Por falar em voar alto, que tal analisarmos
o problema do aeroporto regional. Qual é, mesmo? Guarujá
ou Itanhaém? Ou Praia Grande? Que não seja por falta de projetos!
Se você precisa se deslocar de Santos a São Paulo (como acontece
rotineiramente na área de negócios, ou nos projetos de turismo
integrado mar-ar em que o turista desembarca do navio e precisa pegar um
avião para conhecer por exemplo as Cataratas do Iguaçu),
faria uma viagem a Itanhaém para embarcar num vôo regional
até São Paulo? Ou iria pelo Complexo Anchieta/Imigrantes
até a capital paulista?
Do ar ao mar: onde está a
ponte Santos-Guarujá? Em 1990, um ministro dos Transportes disse
num seminário em Santos que quatro meses depois começariam
as obras. Sequer sabia se seria ponte ou túnel, aliás. Nem
tive dúvidas em duvidar. É só conferir a fantástica
obra de engenharia – que não existe.
E não é mais do que
hora de pensar nisso? Em menos de dois anos, estará – esperamos
– construída a segunda pista da Rodovia dos Imigrantes. Todos prevêem
o caos para os transportes na região, que mesmo agora já
não suporta todo o tráfego de um final de semana. Que ação
conjunta está sendo (já deveria ter sido) adotada por esta
região metropolitana? Irem os prefeitos em comissão passar
o chapéu em Brasília, pelo menos?
Ah, o turismo! – Existem tantos
assuntos que poderiam ser debatidos sobre a bandeira da metropolização,
mas vejamos apenas mais este, tão caro à Baixada Santista.
É, o turismo! Aliás, ih, oh, o turismo! Todas as iniciativas
no setor são isoladas, onde é mesmo que atua a Empresa Metropolitana
de Turismo da Baixada Santista? A EMTURBAS? Em turbas de vândalos
que a polícia desistiu de tentar controlar, e impedem a realização
de espetáculos públicos na região? Uh!
Já tive a ocasião de
lembrar isso a alguns secretários de turismo: quando falamos de
Serras Gaúchas, vêm à mente um grupo de cidades que
lucram muito com um roteiro turístico unificado. Idem, Circuito
das Águas, no interior paulista. Idem, Cidades Históricas,
em Minas Gerais. Bem, qual a marca do turismo regional? Que nome, que símbolo,
serve como referência única para a Baixada Santista?
Temos características comuns,
como ser a região que viu nascer a colonização brasileira;
nossas belas praias; a presença indígena; um artista como
Benedito Calixto, por exemplo, nasceu em Itanhaém e pintou em Santos
muitas de suas principais obras, um século atrás. Talvez
isso pudesse ser unido numa marca da região.
Não se trata de criar um símbolo,
mas de desenvolver uma série de projetos conjuntos de infra-estrutura
turística que tornem esse símbolo onipresente, tipo selo
ou marca de qualidade e referência. Por quê não podemos
ter um pacote turístico em que o visitante desembarca do transatlântico,
passeia de bonde pelo centro histórico santista, é levado
em ônibus especial para conhecer as famosas praias de Guarujá,
vai até Bertioga conhecer sua fortaleza, retorna pelo (despoluído?!?...)
parque industrial de Cubatão admirando a floresta típica
da Serra do Mar, prossegue até Itanhaém para ver uma pequena
cidade histórica, conhece o famoso banho de lama medicinal, volta
pelas praias de Mongaguá e Praia Grande até a Ponte Pênsil,
e ao anoitecer vê o espetáculo vicentino do desembarque de
Martim Afonso de Souza, antes de retornar ao navio?
Tudo isso, com o mesmo símbolo
do turismo regional, que também estará estampado em camisetas,
CDs, fitas de vídeo, livros, postais, artesanato e até mesmo
em páginas de divulgação na Internet, indicando ao
mundo inteiro que nos orgulhamos de ostentar essa marca. Dinheiro em caixa,
senhores!
Está em nossas mãos,
e por delegação de poder nas de nossos políticos,
fazer do percurso pelas cidades da zona metropolitana da Baixada Santista
uma odisséia agradável ou não. Fazer com que este
barco (para sermos mais modernos, esta nave) de nove municípios
e um milhão e meio de habitantes em média seja um excelente
lugar para se viver e passear, ou apenas um local de passagem em alta velocidade,
rumo a outras paragens mais atraentes.
(*) Carlos
Pimentel Mendes é jornalista, editor do jornal eletrônico
Novo
Milênio.
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