Especial
O futuro das metrópoles
Helô Coimbra
Existe
hoje a preocupação mundial em deter o crescimento urbano,
e evitar a movimentação desnecessária das pessoas,
como um dos meios para diminuir a agressão ao meio ambiente. A Internet
e os avanços das telecomunicações permitem agora mudanças
antes inimagináveis no exercício de muitas atividades econômicas.
As soluções de vanguarda apontam como ideais, os pequenos
e médios núcleos, dotados da infra-estrutura necessária
para atender suas populações.
Pelas projeções da
ONU, a população das cidades do mundo aumenta em cerca de
1 milhão de pessoas por semana e um terço dos moradores em
áreas urbanas, vivem em condições insalubres. Para
os urbanistas, melhorar as casas que já existem é tão
ou mais importante do que construir novas moradias. Existe também
o consenso de que os países em desenvolvimento devem começar
a incentivar políticas públicas que contenham o crescimento
das cidades.
Diz a Agenda 21, um dos documentos
resultantes da Conferência das Nações Unidas sobre
o
Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em 1992: “Com
o objetivo de aliviar a pressão exercida sobre as grandes aglomerações
urbanas dos países em desenvolvimento, devem ser implementadas políticas
e estratégias que visem ao desenvolvimento de cidades médias,
criando oportunidades de emprego para a mão-de-obra ociosa nas áreas
rurais e apoiando atividades econômicas desenvolvidas em áreas
rurais, embora um manejo urbano saudável seja essencial para que
o crescimento urbano não agrave a degeneração dos
recursos em uma área de território cada vez mais ampla nem
aumente as pressões para urbanizar os espaços abertos, as
terras cultivadas e os cinturões verdes.”
Mas o binômio pobreza-cidade
grande, não é uma característica dos países
em desenvolvimento. A Fanny Mae Foundation fez uma pesquisa junto a urbanistas
norte-americanos para saber quais os 10 principais fatores que irão
influenciar as metrópoles dos EUA nos próximos 50 anos. O
aumento da concentração da riqueza ganhou disparado em primeiro
lugar.
No Brasil, 80% da população
vive nos espaços urbanos, onde se gera 90% da riqueza do País.
Mas essas 15 regiões de perfil metropolitano (mais de 200 municípios)
e cerca de 400 cidades de médio e grande porte, enfrentam dificuldades
gravíssimas.
Em 1940, 69% da população
brasileira vivia no campo. Na década de 60, as grandes cidades começaram
a inchar, devido ao êxodo da população rural. Já
o fantástico processo de migração ocorrido nos anos
70, no Brasil, não se distribuiu homogeneamente por toda a malha
urbana. Concentrou-se nas grandes cidades, sendo que 44% do fluxo migratório
convergiu para nove áreas urbanas. O fenômeno provocou uma
dramática inversão na localização da distribuição
da riqueza. Até meados dos anos 70, a proporção de
pobres no campo sempre foi duas vezes maior que nas cidades: 73 % e 35%
respectivamente. Mas, em 1995, as taxas passaram para 32% no campo e 40%
na cidade.
Na década de 80, a pobreza
se tornou um desafio sem tréguas para o meio ambiente. A população
pobre, sem ter onde morar, construiu suas casa em lugares sem condições
mínimas de segurança, como encostas, beira de rios, embaixo
de viadutos e pontes, depósitos de lixo e alagadiços. Para
quem não podia apossar-se de um pedaço de terra, aqueles
lugares tornaram-se a única solução para a moradia.
Pobreza e meio ambiente engalfinham-se
a partir de então, num duelo sem tréguas nas periferias do
país. Áreas ecologicamente mais frágeis como várzeas,
alagados, fundos de vales sujeitos a constantes enchentes, beiras de córregos
e vizinhanças insalubres de aterros, lixões e estradas tornaram-se
o principal cenário desse embate.
Em Manaus, hoje, morrem 17 mil pessoas
por ano devido às péssimas condições sanitárias
em que vive a maioria da população.
Em meio à degradação,
há quem acredite que as cidades renascerão como centros de
arte e cultura, integrando criatividade à nova tecnologia de comunicações
Quem está deixando as metrópoles?
- Os mais ricos tendem sair dos centros urbanos para se enclausurar em
propriedades fortificadas ou nos grandes condomínios fechados da
elite.
Os profissionais que podem trabalhar
à distância dos escritórios da empresa, os prestadores
de serviço autônomos, cada vez mais numerosos, não
têm por quê conviver com o caos das metrópoles e podem
passar a maior parte do tempo em cidades menores. E essa é uma tendência
que apenas começou a se alastrar.
Historicamente, é nas cidades
que se concentram serviços importantes e caros. Em alguns casos,
essas atividades são simbolizadas por belos e poderosos edifícios.
Os templos católicos são um exemplo clássico dessa
grandiosidade que, na Idade Média, refletia o poder da única
atividade globalizada da época. O poder visual dos edifícios
ainda existe, mas sua importância vem diminuindo com o aumento da
mobilidade e com as mudanças no uso do espaço. Se uma empresa
não tem clientes numa determinada área, o poder visual de
sua sede, nessa localidade, deixa de ter tanta importância. E portanto,
manter, por exemplo, grandes escritórios em áreas muito caras,
não faz muito sentido.
Ainda na Agenda 21, recomenda-se
que “Com o objetivo de aliviar a pressão exercida sobre as grandes
aglomerações urbanas dos países em desenvolvimento,
devem ser implementadas políticas e estratégias que visem
ao desenvolvimento de cidades médias, criando oportunidades de emprego
para a mão-de-obra ociosa nas áreas rurais e apoiando atividades
econômicas desenvolvidas em áreas rurais, embora um manejo
urbano saudável seja essencial para que o crescimento urbano não
agrave a degeneração dos recursos em uma área de território
cada vez mais ampla nem aumente as pressões para urbanizar os espaços
abertos, as terras cultivadas e os cinturões verdes.”
A Internet - Os grandes centros
urbanos ainda são importantes porque alguns setores-chaves da economia
precisam de uma localização central. Mas a globalização
das redes de informação e os avanços das telecomunicações,
transformaram as tradicionais diferenças entre as metrópoles
e as cidades menores. O modo de vida “urbano” e muitos dos setores tradicionais
da economia, espalharam-se, inclusive, para áreas rurais.
O urbanista inglês, Sir Peter
Hall, observou que prever o impacto que a Internet terá nas áreas
metropolitanas é tão difícil hoje quanto era, prever
o impacto do automóvel, nos seus primórdios. Há 80
anos, poderia-se imaginar que o automóvel mudaria as estruturas
urbanas, mas não que surgiriam cidades como São Paulo e Los
Angeles. Nos próximos 50 anos, prevê-se que a troca de informações
vai, cada vez mais substituir a produção e movimentação
física de bens, como função primária das cidades.
Mas quais serão as conseqüências?
Comparada aos meios físicos
de comunicação, como as ferrovias e rodovias, a “superestrada
da informação” é infinitamente mais flexível.
A Internet pode gerar desenvolvimento econômico em qualquer lugar,
do sertão mais ermo ao centro urbano mais densamente povoado e em
qualquer lugar entre eles. Alguns observadores afirmam que a Internet vai
tornar as cidades obsoletas, à medida que a comunicação
no ciberespaço substituir os contatos pessoais que as cidades proporcionam.
Focos de criatividade - Mas
há os que acreditam que as cidades irão renascer como centros
de arte e cultura, nos quais a criatividade vai se integrar à nova
tecnologia de comunicações. De fato, as cidades foram sempre
os focos da criatividade. Não se sabe exatamente porque, mas existem
teorias. Entre elas, a de que a grande quantidade de elementos diversos
presentes nas cidades, facilita a sua combinação. E a criatividade
é a capacidade de combinar elementos que já existem, de uma
nova forma.
O que é preciso fazer, já
se sabe. A própria Agenda 21 oferece um bom resumo:
Oferecer
a todos habitação adequada;
Aperfeiçoar
o manejo dos assentamentos humanos;
Promover
o planejamento e o manejo sustentáveis do uso da terra;
Promover
a existência integrada de infra-estrutura ambiental: água,
saneamento, drenagem e manejo de resíduos sólidos;
Promover
sistemas sustentáveis de energia e transporte nos assentamentos
humanos;
Promover
o planejamento e o manejo dos assentamentos humanos localizados em áreas
sujeitas a desastres;
Promover
atividades sustentáveis na indústria da construção;
Promover
o desenvolvimento dos recursos humanos e da capacitação institucional
e técnica para o avanço dos assentamentos humanos. |