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Edição 091 - NOV/2000 

Especial

O futuro das metrópoles

Helô Coimbra

Existe hoje a preocupação mundial em deter o crescimento urbano, e evitar a movimentação desnecessária das pessoas, como um dos meios para diminuir a agressão ao meio ambiente. A Internet e os avanços das telecomunicações permitem agora mudanças antes inimagináveis no exercício de muitas atividades econômicas. As soluções de vanguarda apontam como ideais, os pequenos e médios núcleos, dotados da infra-estrutura necessária para atender suas populações.

Pelas projeções da ONU, a população das cidades do mundo aumenta em cerca de 1 milhão de pessoas por semana e um terço dos moradores em áreas urbanas, vivem em condições insalubres. Para os urbanistas, melhorar as casas que já existem é tão ou mais importante do que construir novas moradias. Existe também o consenso de que os países em desenvolvimento devem começar a incentivar políticas públicas que contenham o crescimento das cidades.

Diz a Agenda 21, um dos documentos resultantes da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em 1992: “Com o objetivo de aliviar a pressão exercida sobre as grandes aglomerações urbanas dos países em desenvolvimento, devem ser implementadas políticas e estratégias que visem ao desenvolvimento de cidades médias, criando oportunidades de emprego para a mão-de-obra ociosa nas áreas rurais e apoiando atividades econômicas desenvolvidas em áreas rurais, embora um manejo urbano saudável seja essencial para que o crescimento urbano não agrave a degeneração dos recursos em uma área de território cada vez mais ampla nem aumente as pressões para urbanizar os espaços abertos, as terras cultivadas e os cinturões verdes.” 

Mas o binômio pobreza-cidade grande, não é uma característica dos países em desenvolvimento. A Fanny Mae Foundation fez uma pesquisa junto a urbanistas norte-americanos para saber quais os 10 principais fatores que irão influenciar as metrópoles dos EUA nos próximos 50 anos. O aumento da concentração da riqueza ganhou disparado em primeiro lugar. 

No Brasil, 80% da população vive nos espaços urbanos, onde se gera  90% da riqueza do País. Mas essas 15 regiões de perfil metropolitano (mais de 200 municípios) e cerca de 400 cidades de médio e grande porte, enfrentam dificuldades gravíssimas.

Em 1940, 69% da população brasileira vivia no campo. Na década de 60, as grandes cidades começaram a inchar, devido ao êxodo da população rural. Já o fantástico processo de migração ocorrido nos anos 70, no Brasil, não se distribuiu homogeneamente por toda a malha urbana. Concentrou-se nas grandes cidades, sendo que 44% do fluxo migratório convergiu para nove áreas urbanas. O fenômeno provocou uma dramática inversão na localização da distribuição da riqueza. Até meados dos anos 70, a proporção de pobres no campo sempre foi duas vezes maior que nas cidades: 73 % e 35% respectivamente. Mas, em 1995, as taxas passaram para 32% no campo e 40% na cidade. 

Na década de 80, a pobreza se tornou um desafio sem tréguas para o meio ambiente. A população pobre, sem ter onde morar, construiu suas casa em lugares sem condições mínimas de segurança, como encostas, beira de rios, embaixo de viadutos e pontes, depósitos de lixo e alagadiços. Para quem não podia apossar-se de um pedaço de terra, aqueles lugares tornaram-se a única solução para a moradia. 

Pobreza e meio ambiente engalfinham-se a partir de então, num duelo sem tréguas nas periferias do país. Áreas ecologicamente mais frágeis como várzeas, alagados, fundos de vales sujeitos a constantes enchentes, beiras de córregos e vizinhanças insalubres de aterros, lixões e estradas tornaram-se o principal cenário desse embate.

Em Manaus, hoje, morrem 17 mil pessoas por ano devido às péssimas condições sanitárias em que vive a maioria da população. 

Em meio à degradação, há quem acredite que as cidades renascerão
Em meio à degradação, há quem acredite que as cidades renascerão como centros de arte e cultura, integrando criatividade à nova tecnologia de comunicações

Quem está deixando as metrópoles? - Os mais ricos tendem sair dos centros urbanos para se enclausurar em propriedades fortificadas ou nos grandes condomínios fechados da elite. 

Os profissionais que podem trabalhar à distância dos escritórios da empresa, os prestadores de serviço autônomos, cada vez mais numerosos, não têm por quê conviver com o caos das metrópoles e podem passar a maior parte do tempo em cidades menores. E essa é uma tendência que apenas começou a se alastrar.

Historicamente, é nas cidades que se concentram serviços importantes e caros. Em alguns casos,  essas atividades são simbolizadas por belos e poderosos edifícios. Os templos católicos são um exemplo clássico dessa grandiosidade que, na Idade Média, refletia o poder da única atividade globalizada da época. O poder visual dos edifícios ainda existe, mas sua importância vem diminuindo com o aumento da mobilidade e com as mudanças no uso do espaço. Se uma empresa não tem clientes numa determinada área, o poder visual de sua sede, nessa localidade, deixa de ter tanta importância. E portanto, manter, por exemplo, grandes escritórios em áreas muito caras, não faz muito sentido.

Ainda na Agenda 21, recomenda-se que “Com o objetivo de aliviar a pressão exercida sobre as grandes aglomerações urbanas dos países em desenvolvimento, devem ser implementadas políticas e estratégias que visem ao desenvolvimento de cidades médias, criando oportunidades de emprego para a mão-de-obra ociosa nas áreas rurais e apoiando atividades econômicas desenvolvidas em áreas rurais, embora um manejo urbano saudável seja essencial para que o crescimento urbano não agrave a degeneração dos recursos em uma área de território cada vez mais ampla nem aumente as pressões para urbanizar os espaços abertos, as terras cultivadas e os cinturões verdes.”

A Internet - Os grandes centros urbanos ainda são importantes porque alguns setores-chaves da economia precisam de uma localização central. Mas a globalização das redes de informação e os avanços das telecomunicações, transformaram as tradicionais diferenças entre as metrópoles e as cidades menores. O modo de vida “urbano” e muitos dos setores tradicionais da economia, espalharam-se, inclusive, para áreas rurais. 

O urbanista inglês, Sir Peter Hall, observou que prever o impacto que a Internet terá nas áreas metropolitanas é tão difícil hoje quanto era, prever o impacto do automóvel, nos seus primórdios. Há 80 anos, poderia-se imaginar que o automóvel mudaria as estruturas urbanas, mas não que surgiriam cidades como São Paulo e Los Angeles. Nos próximos 50 anos, prevê-se que a troca de informações vai, cada vez mais  substituir a produção e movimentação física de bens, como função primária das cidades. Mas quais serão as conseqüências? 

Comparada aos meios físicos de comunicação, como as ferrovias e rodovias, a “superestrada da informação” é infinitamente mais flexível. A Internet pode gerar desenvolvimento econômico em qualquer lugar, do sertão mais ermo ao centro urbano mais densamente povoado e em qualquer lugar entre eles. Alguns observadores afirmam que a Internet vai tornar as cidades obsoletas, à medida que a comunicação no ciberespaço substituir os contatos pessoais que as cidades proporcionam. 

Focos de criatividade - Mas há os que acreditam que as cidades irão renascer como centros de arte e cultura, nos quais a criatividade vai se integrar à nova tecnologia de comunicações. De fato, as cidades foram sempre os focos da criatividade. Não se sabe exatamente porque, mas existem teorias. Entre elas, a de que a grande quantidade de elementos diversos presentes nas cidades, facilita a sua combinação. E a criatividade é a capacidade de combinar elementos que já existem, de uma nova forma.

O que é preciso fazer, já se sabe. A própria Agenda 21 oferece um bom resumo:

Oferecer a todos habitação adequada; 
Aperfeiçoar o manejo dos assentamentos humanos; 
Promover o planejamento e o manejo sustentáveis do uso da terra; 
Promover a existência integrada de infra-estrutura ambiental: água, saneamento, drenagem e manejo de resíduos sólidos; 
Promover sistemas sustentáveis de energia e transporte nos assentamentos humanos; 
Promover o planejamento e o manejo dos assentamentos humanos localizados em áreas sujeitas a desastres; 
Promover atividades sustentáveis na indústria da construção; 
Promover o desenvolvimento dos recursos humanos e da capacitação institucional e técnica para o avanço dos assentamentos humanos.