Especial
Muralha, a obra que uniu a China
Wan-Li Ch’ang-Ch’eng, a Muralha
de 10.000 Li, mais conhecida como a Grande Muralha da China, é um
dos maiores projetos de construção de todos os tempos
Helô Coimbra
Percorrendo
aproximadamente 7.300 quilômetros de território chinês,
no sentido leste-oeste, a Grande Muralha é a única obra feita
pelo homem, visível da Lua a olho nu. Erguida no decorrer de séculos,
ela estende-se do desfiladeiro de Shan-hai, perto de Po Hai (Golfo de Chihli)
ao desfiladeiro de Chia-yü (na atual província de Kansu), freqüentemente
serpenteando ao longo do topo das colinas e montanhas da zona rural chinesa.
Embora seções prolongadas
da muralha estejam hoje em ruínas ou tenham desaparecido completamente,
ela ainda é uma das estruturas mais notáveis da Terra. A
Grande Muralha foi considerada Patrimônio da Humanidade, pela Unesco,
em 1987.
A Grande Muralha nasceu de fortificações
de fronteira dispersas e de castelos de reinos chineses individuais. Durante
vários séculos, esses reinos provavelmente preocuparam-se
tanto em proteger-se de seus vizinhos próximos, quanto das invasões
dos bárbaros.
Tradição e conservação
- Há muito incorporada à mitologia chinesa e ao simbolismo
popular, no Século XX a Grande Muralha veio a ser considerada um
símbolo nacional. Sobre o Portão Oriental (Tung-men), na
Passagem de Shan-hai, há uma inscrição atribuída
ao historiador medieval Hsiao Hsien que foi traduzida como “Primeira Passagem
Sob o Céu”, referindo-se à tradicional separação
entre a civilização chinesa e as terras “bárbaras”do
norte.
Apesar da importância cultural
da parede, ela foi cortada por estradas em vários pontos e vastas
seções sofreram com séculos de negligência.
Na década de 70, um segmento próximo de Ssu-ma-t’ai (110
km nordeste de Pequim) foi desmantelado para se retirar material de construção,
mas acabou sendo subseqüentemente reconstruído. Outras áreas
foram também restauradas. A seção mais conhecida é
a de Pa-ta-ling (70 km a noroeste de Pequim), que foi reconstruída
na década de 50 e que hoje atrai milhares de turistas do mundo todo.
Uma frente de defesa - Verdadeiro
colosso da arquitetura militar, a Grande Muralha contava com um complexo
sistema de administração. Cada uma das principais praças
fortes da linha de defesa era hierarquicamente ligada a uma rede de comandos
militares e administrativos. Durante o reinado de Shih huang-ti, 12 divisões
administrativas foram estabelecidas ao longo da Muralha e na dinastia Ming
a fortificação inteira foi dividida em 9 áreas ou
zonas de defesa. Um Chefe de Posto (chung-ping-kuang) foi nomeado para
cada zona. Juntas elas eram conhecidas como as Nove Guarnições
de Fronteira.
Também chamadas de guias,
as torres de sinalização eram usadas para enviar comunicações
militares durante a noite, através de sinais com fogo ou lanternas
ou através de sinais de fumaça, durante o dia. Outros métodos
empregados eram as bandeiras, os badalos e os tiros de armas de fogo. As
torres geralmente ocupavam o topo das elevações naturais
para permitir o máximo de visibilidade. Nos níveis mais baixos
havia alojamentos para os soldados, além de estábulos, currais
e áreas de armazenamento.
As paredes da muralha em si eram
a parte fundamental do sistema defensivo. Normalmente a largura era de
6,5 metros na base e de 5,8 metros no topo e a altura média ficava
entre 7 e 8 metros, sendo mais baixa nas colinas íngremes. A estrutura
da parede variava de lugar para lugar, conforme a disponibilidade dos materiais
de construção. Foram feitas paredes de terra socada intercalada
entre tábuas de madeira, de tijolos de argila, de uma mistura de
tijolos e pedra, apenas de pedras e de estacas e pranchas de madeira. Em
algumas áreas foram aproveitados diques já existentes e em
outras os acidentes naturais como os precipícios e gargantas.
Portas - Nos desertos ocidentais,
as paredes eram freqüentemente estruturas simples de terra batida
e argila. Muitas das plataformas das áreas orientais, como as que
ficam próximas de Pa-ta-ling, tinham um revestimento de pedra e
incluíam várias estruturas secundárias e dispositivos.
No lado interno dessas paredes, a intervalos pequenos, havia portas em
arco chamadas portas chüan, feitas de tijolos ou pedras.
Dentro de cada chüan havia degraus
de pedra ou de tijolos que levavam às ameias. No topo, no lado que
enfrentaria o inimigo, havia ameias de 2 metros de altura, chamadas to-k’ou.
A parte superior dos to-k’ou eram grandes aberturas usadas para vigiar
e atirar nos atacantes. Na parte baixa havia pequenas aberturas através
das quais os defensores também poderiam atirar.
A intervalos de 200 ou 300 metros,
havia uma plataforma com ameias que avançava ligeiramente no lado
que enfrentava os atacantes. Durante a batalha, essa plataforma propiciava
uma visão privilegiada e a conveniência de atirar lateralmente
contra os atacantes, à medida que eles tentavam escalar a parede.
Em várias plataformas havia cabanas simples p’u-fang que serviam
de abrigo para os guardas durante as tempestades. Algumas plataformas,
bem como as torres de sinalização, tinham dois ou três
pavimentos e podiam ser usadas para guardar armas e munições.
As paredes tinham ainda sistemas de drenagem como proteção
contra o excesso de água da chuva.
Passagens - As passagens eram
as principais praças fortes ao longo da muralha e normalmente ficavam
em pontos chaves como as interseções com rotas de comércio.
As plataformas de várias passagens foram erguidas com tijolos enormes
e pedras usando terra e pedras moídas como enchimento. Os bastiões
tinham cerca de 10 metros de altura e de 4 a 5 metros de largura no topo.
Dentro de cada passagem havia rampas
de acesso para os cavalos e escadas para os soldados. O parapeito externo
era provido de ameias, e o parapeito interior, ou yü-ch’iang (nu-ch’iang),
era uma parede baixa de aproximadamente 1 metro de altura, para evitar
que as pessoas e os cavalos caíssem.
O portão interno da passagem
era usado como uma saída para a guarnição contra-atacar
invasores ou enviar patrulhas, além de servir como ponto de acesso
para os comerciantes e outros civis. Debaixo do arco do portão,
normalmente havia uma enorme porta dupla de madeira. Os painéis
internos das portas tinham parafusos e anéis de aperto.
Em cima de cada portão havia
uma torre que funcionava como atalaia e posto de comando. Normalmente a
torre tinha três níveis e era feita ou só de madeira
ou de madeira e tijolos. Do lado de fora do portão, onde um ataque
inimigo seria provável, havia um weng-ch’eng, ou parapeito semicircular
ou poligonal que protegia o portão de uma agressão direta.
Estendendo-se dos weng-ch’engs mais
estratégicos, havia uma linha adicional de proteção,
o luo-ch’eng que contava freqüentemente com uma torre para vigiar
a área além da muralha, além de dirigir os movimentos
das tropas nas batalhas. Ao redor da entrada do portão havia freqüentemente
um fosso formado no processo de cavar terra para construir as fortificações. |