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Edição 087 - JUL/2000 

Obra

Pirâmide: "O mais colossal dos edifícios"

Helô Coimbra

Incluídas entre as Sete Maravilhas do Mundo Antigo e Patrimônio Cultural da Humanidade desde 1979, as pirâmides de Gizé, em especial a Grande Pirâmide de Queóps, permanecem um desafio à nossa compreensão.
Pirâmides de Gizé, Queóps, Quéfrem e Miquerinos
Erguidas sobre um platô rochoso na margem ocidental do Nilo, nas proximidades de Al-Jizah, ou Gizé, no norte do Egito, as três pirâmides são a imagem do mistério, um legado da Quarta Dinastia (2575 a 2465 A.C.) e do místico Antigo Egito. A maior delas, Queóps, é talvez o mais colossal dos edifícios já construídos no planeta. É um exemplo de precisão arquitetônica, desenhado, para muitos, como um modelo da galáxia, do sistema solar, da Terra e, em última instância, do próprio homem. Ela é a demonstração palpável da lei hermética: “Como é em cima, é embaixo”.

A melhor representação da mente que concebeu a Grande Pirâmide é a própria Pirâmide. Ela é a demonstração da capacidade do arquiteto de incorporar ciência, arte e geometria numa forma significativa. Verdadeira maravilha da arte conceitual, a Grande Pirâmide coloca em ordem concreta, grandes temas e idéias. Os construtores da Grande Pirâmide sabiam que em todos os aspectos, o mundo e o ser devem se harmonizar com a ordem universal e que o entendimento real de um leva ao entendimento do todo. 

De tudo o que foi dito sobre a Grande Pirâmide, uma das afirmações mais estranhas é a do historiador grego Heródoto de que, segundo o que lhe relataram os sacerdotes egípcios, a Grande Pirâmide foi construída de cima para baixo. Como isso não é fisicamente possível, o que é que ele quis dizer? O fato é que a Grande Pirâmide não tem um ápice. As medidas das laterais na base, têm ligeiras diferenças o que significa que as dimensões da pirâmide não suportam geometricamente a extensão e término em ápice. A estrutura física em si foi desenhada para ser truncada no 206º nível. E como os ângulos da pirâmide são ligeiramente fora de esquadro, o seu topo não é uma extensão da pirâmide concreta. Ele é uma abstração da geometria idealizada, um conceito.

A Grande Pirâmide, portanto, não tem um ápice físico, mas indica um espaço puro acima do topo, um espaço que não é deste mundo. Ela demonstra, assim, que cada indivíduo deve recriar a sua existência. O ápice é um espaço sagrado – eterno, incorruptível e atemporal. Mas seu potencial latente tem que ser suportado pelo mundo material, para que exista. 

Embora a Grande Pirâmide possa ter sido construída numa data posterior, ela foi projetada para comemorar um momento particular da História. Ela é, na realidade, um imenso ponto de referência na Terra e no tempo. 

No jargão do agrimensor, um ponto de referência é um símbolo colocado em um marco permanente que tem uma posição de coordenadas conhecida. Ele é usado como referência estacionária para determinar as coordenadas de outros locais. A Grande Pirâmide funciona do mesmo modo. Mas ao contrário do ponto de referência estático do agrimensor, a Pirâmide também funciona no tempo como um memorial de um momento importante. Sua forma, dimensões, e configuração interna passam uma informação muito específica: onde ela estava na Terra e no cosmo, num determinado momento. Esse momento, acredita-se, foi o dia 2 de janeiro de 2900 A.C., o começo da história da Grande Pirâmide. 

Se tivéssemos estado lá na manhã daquele dia, teríamos observado uma exibição espetacular de objetos luminosos no céu oriental: Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno visivelmente alinhados a poucos graus um do outro. Na Bíblia esse evento é citado no Livro de Jó. No Capítulo 38 Deus pergunta: "Onde estavas tu… quando as estrelas da manhã cantaram juntas e os filhos de Deus clamaram de alegria"? 

Naquele dia, em 2900 A.C., os principais planetas apareceram como estrelas "da manhã". Foi um grande evento astronômico; uma coincidência celestial extraordinária que só aconteceria uma vez em eras - um evento inspirador. Foi também a oportunidade perfeita para começar a tarefa de registrar para a posteridade, a coreografia planetária dos próximos 206 anos. 206 anos que incluiriam sete ciclos completos do planeta Saturno, um protagonista na cosmologia dos construtores. 

Os construtores sabiam que todos os ciclos biológicos e físicos - por exemplo, marés, padrões de tempo etc.- são influenciados pela proximidade da Terra a outros corpos do sistema solar. O conhecimento do movimento dos planetas pelos céus era a chave para entender os ciclos da terra. Porque os planetas exteriores movem-se só alguns graus por ano, alinhamentos planetários acontecem num período longo de tempo. 

À medida que os planetas começam a convergir nos céus, que a Terra começa a sentir o efeito dinâmico crescente do alinhamento. Com os planetas aproximadamente alinhados em 2900 AC, poderia ser determinado, anos depois, como cada um deles havia se distanciado durante seu caminho cíclico ao redor do Sol. As mudanças nas posições desses planetas foram registradas nas dimensões dos níveis de pedra da Pirâmide. As alturas variadas das pedras de cada nível derivaram das medidas diárias do nível da água do Poço de Kephren. As alturas dos níveis correspondem, um curso por ano, às influências orbitais e dinâmicas da lua e planetas sobre a Terra. 

Pode-se observar os efeitos principais do alinhamento no primeiro curso de pedras. Examinando a altura do nível, pode-se ver que no canto nordeste, o primeiro curso é mais alto, indicando que os planetas tiveram maior efeito sobre a Terra durante o começo do ano 2900 A.C. Depois disso, como os planetas se dispersaram das posições alinhadas, a Terra sentiu uma influência decrescente. Qualquer pedra em qualquer nível identifica o dia, mês e ano entre 2900 e 2694 AC que a pedra representa. Invocando uma fórmula simples, podemos extrapolar informação sobre a posição da terra em órbita, sobre a posição da lua, sobre o nível médio da água abaixo da Pirâmide naquele momento e mais.

Gizé: revestimento externo da pirâmide foi retirado

Obra utilizou 20.000 trabalhadores

Muitos engenheiros, astrônomos e estudiosos dedicaram a vida a medir e documentar as várias e complexas características da Pirâmide. Esse nível literal nos informa quase tudo sobre o período de 206 anos que a Pirâmide nos relata. As medidas individuais das pedras relacionam-se a períodos específicos de tempo. Por exemplo, as dimensões atuais dos lados da base não são iguais ou retas. 

Porém, os comprimentos laterais têm um significado. Se o perímetro da base representa o ano, então um lado representa um quarto do ano. Nós notamos que os quatro lados da Pirâmide não são exatamente iguais. Mas os trimestres da órbita solar também não. Cada um é proporcionalmente diferente. Os quatro comprimentos de lado da base representam os quatro trimestres do ano - inverno, primavera, verão, outono. Os construtores não estavam errados, eles foram precisos. 

O núcleo da Grande Pirâmide é feito de blocos de pedra calcária amarela, a cobertura exterior (agora quase completamente inexistente) e as passagens internas são de pedra calcária clara de melhor qualidade, e a câmara interna é construída de enormes blocos de granito. Aproximadamente 2,3 milhões de blocos de pedra foram cortados, transportados e montados para criar a estrutura de 5.750.000 toneladas que é uma obra-prima de habilidade técnica e habilidade criadora. As paredes internas, como também as poucas pedras da cobertura externa que ainda permanecem, têm emendas mais bem feitas do que qualquer outra construção de pedra do antigo Egito. 

Esfinge: 20 metros de altura, 73 de comprimento

A entrada para a Grande Pirâmide fica no lado norte, aproximadamente 18 metros acima do nível do chão. Um corredor inclinado desce dali percorrendo o interior da pirâmide, penetra na terra rochosa sobre a qual a estrutura descansa, e termina numa câmara subterrânea inacabada. Das derivações do corredor descendente, uma passagem ascendente leva a um aposento conhecido como a Câmara da Rainha e para uma grande galeria inclinada com 46 metros de comprimento. 

Na extremidade superior dessa galeria, uma passagem longa e estreita dá acesso à Câmara do Rei, forrada com granito. Da câmara, dois túneis estreitos atravessam obliquamente as paredes para o exterior da pirâmide; não se sabe se eles foram projetados para um propósito religioso ou para ventilação. Sobre a Câmara do Rei há cinco compartimentos separados por grandes lajes horizontais de granito; o propósito provável dessas lajes era proteger o teto da câmara, desviando a imensa pressão exercida pelas camadas superiores de pedra. 

A pergunta de como as pirâmides foram construídas ainda não tem uma resposta completamente satisfatória. O mais plausível é que os egípcios tenham utilizado um dique inclinado, feito ao redor da estrutura com tijolo, terra, e areia que foi crescendo em altura e em comprimento à medida que a pirâmide subia. Os blocos de pedra foram puxados para cima pela rampa, por meio de trenós, rolos, e alavancas. 

De acordo com o historiador grego Herodotus, a Grande Pirâmide levou 20 anos para ser construída e exigiu o trabalho de 100.000 homens. Esse número é aceitável dentro da suposição de que esses homens, que eram trabalhadores agrícolas, só trabalharam nas pirâmides enquanto havia pouco trabalho para ser feito nos campos, isto é, durante as cheias do Nilo. 

Porém, no final do século 20, arqueólogos encontraram indícios de que uma quantidade menor de operários pode ter trabalhado na construção, em bases permanentes e não sazonais. Acredita-se que cerca de 20.000 trabalhadores, juntamente com pessoal de apoio, os padeiros, médicos, sacerdotes etc., tenham realizado a obra.