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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 07/03/01 22:50:26
Diário de Bordo (Recife-Manaus no navio Bianca)
Termos técnicos utilizados

Carlos Pimentel Mendes (*)

Este glossário não constava na matéria original, publicada em um semanário especializado em transportes, cujos leitores conheciam bem a terminologia utilizada. Tempos diferentes, público diferente, tornam necessárias algumas explicações sobre os termos utilizados:

Bacia de evolução - área junto a um porto que os navios utilizam para manobras diversas, como o giro de 180 graus que reposiciona o navio com a proa (frente) para o canal de acesso ao mar.

Bombordo - Lado esquerdo do navio, visto por quem está dentro dele e de frente para a proa. Contrário de boreste.

Boreste - Lado direito do navio, para quem está dentro dele e de frente para a proa desse navio. Nos navios, normalmente, é o lado usado para a atracação ao cais e pelo qual passam as mercadorias embarcadas e desembarcadas, existindo ainda nesse lado a escada que permite o acesso das pessoas a bordo. Também conhecido como estibordo. Contrário de bombordo.

Cábrea - guindaste flutuante, auto-propulsionado ou movido mediante reboque, disponível em vários portos para auxiliar as operações de embarque e desembarque de navios, ou em casos de remoção de equipamentos.
Tela de Racon, com a letra Q (--.-) visivel em código Morse
Cabeçote - equipamento do cais ao qual são amarrados os cabos que mantêm o navio fixo no local de atracação.

Cabotagem - navegação ao longo da costa, geralmente ligando portos de um mesmo país ou de países vizinhos (quando é chamada de grande cabotagem)

Conteiner - cofre de carga, em formatos e tamanhos internacionalmente padronizados, que facilita e agiliza a movimentação de mercadorias, já que pode ser transportado por navios, caminhões, trens, chatas etc. Além disso, permite proteger as mercadorias de intempéries e outros problemas inerentes ao transporte. Dois tamanhos-padrão básicos dos conteineres são 20 e 40 pés de comprimento, o que dá origem a duas unidades de medida relacionadas ao número de conteineres num navio, num depósito ou em movimentação: TEU (Twenty feet Equivalent Unity - unidade equivalente a 20 pés) e FEU (unidade equivalente a 40 pés). 1 FEU corresponde a 2 TEU, portanto.

Faina - tarefa, serviço

Gônio (radiogoniômetro) - Aparelho receptor de rádio que indica a direção em graus em que a estação transmissora é melhor sintonizada. Sintonizando-se duas estações de localização conhecida e situadas em pontos diferentes, pode-se assim, por um processo de triangulação, determinar aproximadamente a posição em que se está, que será o terceiro vértice de um triângulo formado pelas emissoras, com seus graus de angulação. Livros náuticos indicam as principais emissoras e sua localização geográfica, que serve de base para o cálculo matemático, que indica inclusive a distância entre a sede das emissoras e o ponto em que foram captadas. O aparelho funciona como um sistema-reserva para se determinar o posicionamento de uma embarcação ou aeronave, caso falhem os demais.

Luz de navegação - Todas as embarcações utilizam à noite um código de luzes que permite aos pilotos dos outros barcos e navios identificar em que sentido estão navegando: a boreste deve estar acesa uma luz verde e a bombordo uma luz vermelha. Se apenas a luz verde é visível, significa portanto que a embarcação sinalizada está cruzando da esquerda para a direita; se apenas a luz vermelha, está em sentido contrário. Se a luz verde é vista à esquerda e a vermelha à direita, cuidado: a embarcação avistada está se aproximando, em rota de colisão com a sua. Devido à disposição dessas luminárias, não serão avistadas se a embarcação, ao contrário, estiver com a popa apontada para quem a avista, afastando-se portanto.

Miha náutica ou marítima - medida que eqüivale a 1.852 metros. 

Molhe - quebra-mar, aglomerado de rochas construído para proteger uma instalação náutica-portuária da violência das ondas

- medida de velocidade, correspondendo ao percurso calculado em milhas por hora (um nó é o mesmo que uma milha por hora).

Passadiço - ponte de comando, local de onde é pilotada a embarcação

Popa/proa - Partes traseira (popa) e dianteira (proa) de uma embarcação

Prático - marítimo que conhece amplamente um determinado trecho de navegação e é chamado a bordo do navio para orientar a navegação, evitando perigos como bancos de areia, águas rasas, escolhos e restos de embarcações naufragadas etc.

Racon - Sistema que envia sinais codificados especialmente destinados à captação por equipamentos de radar. Esses sinais normalmente são algumas letras em código orse, identificadoras de uma estação transmissora em terra, que piscam na tela do radar. Como o radar informa a distância em que se encontra a estação e sua posição, o navegador pode consultar a carta náutica que assinala essa estação e assim determinar a posição da embarcação. O sistema é usado tanto em navegação marítima como na aérea.

Rebocador - embarcação pequena (para ter agilidade de manobra) e com motores de grande potência, utilizada para rebocar, empurrar e puxar os navios em manobras mais delicadas, como a da atracação/desatracação. Os navios geralmente usam um combustível mais pesado, o fuel oil, de menor custo porém inadequado a motores de manobra que exigem combustível mais refinado para propiciar resposta rápida aos comandos. Assim, são empregados os rebocadores, que além disso podem auxiliar no giro do navio (volta de 180 graus sobre o próprio eixo vertical, geralmente executada nos portos) e no caso de falha em motores do navio. Os navios mais modernos possuem motores auxiliares (bow thrusters) que usam óleo diesel e permitem em certos casos a dispensa do emprego dos rebocadores.

Rumo * graus - Considerado zero grau como o Norte Geográfico, a indicação de rumo do navio pode ser considerada como se ele estivesse navegando do centro para a borda da bússola, na direção do grau referido marcada na escala ao redor do instrumento. 90 graus é Leste, 180 graus é Sul, 270 graus é Oeste, sendo consideradas também todas as posições intermediárias.

SD-14 - classe de navios mercantes para transporte de carga geral e com alguma capacidade para conteineres, construídos em grande escala pelos estaleiros brasileiros durante os anos 1970/1985, durante os planos plurianuais de construção naval definidos pelo governo federal.

Serviço Móvel Marítimo - Rede de estações de radiocomunicação situadas ao longo do litoral brasileiro que fazem a interface entre a rede telefônica terrestre e os diversos sistemas de radiocomunicação usados nos navios. Além disso, retransmite aos navios boletins meteorológicos, comunicados Aviso aos Navegantes, sobre problemas com faróis e bóias, acidentes no mar e exercícios de tiro naval.

Telégrafo de bordo - equipamento eletro-mecânico com um terminal no passadiço e outro na sala de máquinas do navio. Uma chave acionada no passadiço para apontar uma das instruções nele indicadas provoca o acionamento de uma chave correspondente na sala de máquinas, transmitindo a instrução desejada pelo piloto ou comandante do navio (máquinas paradas, toda a força a frente, toda a força a ré etc.).

Vigias das cabines - pequenas janelas em formato geralmente redondo, dotadas de vidros grossos e sistema de travamento estanque, que impeça a entrada na cabine da água das ondas.

Rebocador: o Sabre, no estaleiro da Wilson Sons em Santos (foto: divulgação)
(*) O editor de Novo Milênio fez esta viagem quando atuava como jornalista responsável pelo caderno semanal Marinha Mercante, publicado com o jornal O Estado de São Paulo, em agosto e setembro de 1990.