NO DEPOIMENTO DOS IDEALISTAS, A VERDADE HISTÓRICA
O nosso trabalho em busca da revalidação dos pioneiros do movimento de Emancipação continua alienado, sem
paixões e sem facções políticas, pois o pesquisador e o crítico enfronhados na realidade e na sinceridade devem-se manter a par da verdade, sem
interesse determinado, conscientizando-se de que a história de Praia Grande precisa ser descoberta em sua autenticidade. Os próprios homens
sedimentaram e acompanharam o movimento, enfatizaram as controvérsias que giram em torno deste comentado e aguçado assunto.
As controvérsias aparecem e é natural que para lá se assentem as baterias dos
críticos. Somos a cada semana interrogados por homens que participaram do movimento, pois estão maravilhados com o nosso trabalho, que visa
exclusivamente descobrir os valores esquecidos. Esses valores que o tempo a cada dia consome, esses valores que foram tombados com a bandeira da
Emancipação.
13 ANOS DEPOIS... - Paulo Fefim, Eládio Eloy Pessoa de Barros e Josias Nunes da Silva,
três grandes nomes do movimento pró-Emancipação
Foto: Deoclécio José da Silva, especial para o Informativo Cultural 25
(janeiro/1980)
ATUALIDADE
Eles opinam sobre a emancipação
Depoimentos exclusivos para este Informativo
ATHIÉ JORGE COURY (deputado federal) - "A cidade
de São Vicente, com estrutura formada, não poderia perder Praia Grande; por outro lado, pensava que a mesma não suportaria uma autonomia. Seria uma
luta difícil! Passados 13 anos, os meus cumprimentos ao povo desta cidade, e, principalmente àqueles que lutaram pela sua liberdade".
LEOPOLDO ESTÁSIO VANDERLINDE (ex-prefeito de Praia Grande) - "Na
época do movimento eu trabalhava na O.C.I.A.N., não participei diretamente do movimento, mas acompanhava analisando todos os fatos. Sempre acreditei
na iniciativa destes corajosos homens, a prova disto está no que a Praia Grande é hoje".
LAYDE RODRIGUES REIS (diretora administrativa da Prefeitura Municipal de Praia
Grande - PMPG) - "Houve momentos em que o movimento periclitou, mas a nossa fé, o entusiasmo e a vontade férrea de
vencer, a cada derrota que sofríamos, acrescentava uma parcela de ânimo a mais. A tocha estava acesa e precisávamos mantê-la viva a qualquer preço,
empregando todo nosso esforço físico e mental, que renascia na esperança da vitória. Como em todo movimento e toda causa, houve mudanças de pessoas,
de local, até de posições; daí não preferir citar nomes, pois, pelo que realizamos, nossa vitória foi a bandeira de um povo idealista, que soube se
unir e lutar na hora exata em que precisávamos de apoio. Praia Grande tem uma história e o capítulo da emancipação é o mais importante, pois exigiu
de seu povo uma grande dose de disciplina e patriotismo".
CESÁRIO REIS LIMA (vereador - atual presidente da Câmara) - Na opinião de
Cesário Reis Lima, o falecido deputado Osvaldo Massei ocupa posição proeminente. Gosta sempre de afirmar: "Praia Grande
deve muito a este homem. Este homem deve ser respeitado por todos aqueles que citarem o assunto Emancipação".
Cesário lembra daquele tempo em que andavam quilômetros e quilômetros a pé, onde após
a longa caminhada cansativa e dura, e ainda o desconforto efêmero, partiam para a Assembléia Legislativa, para São Vicente, para Solemar, para os
ínvios lugares onde pudéssemos alicerçar a Emancipação de Praia Grande.
Cesário lembra aquele tempo em que o velho Josias, homem forte do movimento, mal
dormia para participar do programa do Edson Fernandes, na Rádio Clube, apresentação radiofônica que se estendia
pela madrugada nos ares da Baixada. E afirma: "O pessoal tinha alguns minutos para falar da Emancipação e este programa
nos deu uma grande força, no que concerne à divulgação". Lembra também o sr. José Santos, de Oswaldo de Oliveira,
segundo ele "um dos autores intelectuais do movimento e companheiro respeitado por todos".
Nome de rua do bairro do Boqueirão, homem de confiança do movimento, qualidades
inconfundíveis, Osvaldo de Oliveira foi, para Cesário Reis Lima, o gigante forte da árdua luta que consolidou a campanha; e diz: "Ele
morreu muito cedo, inclusive era o homem mais capaz e credenciado para ser o prefeito naquela época. Morreu, mas ficou marcado na história com muita
justiça e honra".
Cesário Reis Lima lembra daqueles tempos em que a "fraqueza de bolso" e "as noites
intermináveis" caracterizavam as reuniões. Certa ocasião, afirmou o entrevistado: "Eu vim de carona de São Paulo até
Cubatão, pois tinha ido à Assembléia Legislativa e não tinha dinheiro para voltar. Eu vim de Cubatão a Praia Grande a pé".
E adiantou: "por causa da Emancipação vendi relógio, colar e quase tudo o que tinha de valor. E Paulo Pintor
perdeu quase tudo".
E continua o Jornal Praia Grande News de 12 de janeiro de 1975: "Eis
o perfil de Paulo Pintor: Paulo Fefim, homem que continua fiel ao movimento de emancipação de Praia Grande. Paulo Pintor é um dos
principais pioneiros do desmembramento que, na sua opinião, contou com o apoio maciço do povo. Abordado como nasceu o ideal de Emancipação, Paulo
assim falou: "naquele tempo minha esposa ficou doente, precisou fazer cesariana e a cidade não tinha pronto-socorro.
Então achei que Praia Grande devia ser desmembrada e ter a sua vida própria"".
Na solenidade de primeiro aniversário de emancipação de Praia Grande, o deputado
Hilário Torloni assim afirmou, na presença de funcionários da Prefeitura e autoridades: "Amigos funcionários desta
Prefeitura, se vocês são funcionários hoje, vocês devem a Paulo Pintor".
Paulo Pintor foi tesoureiro do movimento de emancipação, e sua esposa, dona
Genoveva, também foi uma grande incentivadora da campanha.
A ARMA DESLEAL - Os políticos vicentinos, não aceitando a idéia da Emancipação,
tiraram várias fotos e as levaram a Brasília. A paisagem das mesmas era uma grande área verde, o que se traduz por mato. Graças ao apoio financeiro
da Organização Ocian, foram tiradas algumas fotos aéreas e, em Brasília, puderam notar que Praia Grande lutava por uma causa justa
Foto: Informativo Cultural 25 (janeiro/1980)
JOÃO DE CASTRO LANCHA (um dos pioneiros do movimento) - "A
Emancipação nasceu por falta de recurso, por necessidade, pois São Vicente não empregava nem cinco por cento de sua renda em Praia Grande".
Com tal alusão, Lancha lembra que a cidade não tinha água e chegavam até a cortar o único cano que servia para abastecer precariamente o pessoal que
morava na antiga Avenida Tupiniquins.
Lancha gosta sempre de atinar os fatos nos mínimos detalhes e diz que Osvaldo de
Oliveira foi o estopim da idéia, o autor intelectual da emancipação. Frisa: "Embora Osvaldo de Oliveira já seja nome de
rua, jamais poderemos esquecer o que ele fez por Praia Grande. Ele foi valoroso e honesto".
Perguntado o motivo da forte reação vicentina, inclusive apresentando, em Brasília,
fotos que não condiziam com a realidade, Lancha afirmou: "quando a briga parou em Brasília, São Vicente usou uma arma
desleal. Apresentou uma foto antiga onde mostrava Praia Grande vazia, a cidade sem residências. Era um mato. E aí falou-se que nossa cidade estava
ligada por interesses de 'grileiros e pinguços'. Graças ao apoio financeiro da organização Ocian, de Roberto Andraus, foram tiradas algumas
fotos aéreas e, em Brasília, puderam notar que Praia Grande lutava por uma causa justa".
Muita lembrança surge na trajetória vitoriosa da Emancipação e Lancha, empolgado
sempre em suas declarações, recorda o tempo em que ganharam a causa no Supremo Tribunal: "Muita gente chorou" - afirmou. Apontando sempre Torloni,
Massei e Osvaldo de Oliveira como os baluartes do movimento, Lancha afirma que a comissão presidida por Luiz dos Santos Reis é que fez voltar a
afirmativa da consecução de honra da Emancipação.
Para os que ainda se lembram, Lancha tinha uma imobiliária chamada "28 de Dezembro",
uma homenagem que prestou ao dia em que a Assembléia Legislativa do Estado deu ganho de causa à nossa Praia Grande.
Um fato se deve destacar, que no dia que a cidade comemorava o seu desmembramento,
houve um grave acidente na Vila Tupi, quando um caminhão, carregando várias pessoas, tombou e seis pessoas ficaram feridas, sendo a mais grave a
senhora Zenaide Brajon (Dona Maria).
JOSIAS NUNES DA SILVA (pioneiro) - "Fiz parte do
primeiro movimento de desmembramento de Praia Grande e minha grande função era ir de casa em casa fazendo fichas, reunindo o povo para o grande
plebiscito. Como membro do movimento, fiz mais de dez programas na Rádio Clube de Santos, no programa do Edson Fernandes, que ia ao ar das 21 às 22
horas. Essa audição era paga por Roberto Andraus para divulgar o movimento da Emancipação. E eu ia quase sempre com Paulo Fefim, um pé forte do
movimento.
"Lembro que o Milani presidiu a comissão no início, para depois até o final ser
presidida por Luiz dos Santos Reis. Naquele tempo, o que mais nos revoltava era que São Vicente não fazia nada por Praia Grande. Lembro que uma vez
a Prefeitura de São Vicente arrancou todos os canos de água que serviam a rede e o pessoal de Praia Grande.
"Considero Osvaldo de Oliveira, Dorivaldo Loria Júnior, Osvaldo Massei e Hilário
Torloni um dos grandes do movimento. Recordo-me perfeitamente quando Esmeraldo Tarquínio, de Santos, fez uma
promessa, que se Praia Grande fosse emancipada ele viria de Santos a Praia Grande a pé: nós ganhamos e ele não cumpriu a promessa, veio tempos
depois, mas de carro".
O jornal O Estado de São Paulo de 30 de maio de 1966 explica a festa da
[emancipação][... N.E.: trecho "empastelado" na impressão] "por
causa das trezentas pessoas, um pouco de cada lugar, que se reuniram para formar uma comissão. Foram eles que pediram ajuda aos deputados Hilário
Torloni e Osvaldo Massei na Assembléia e ao deputado Henrique de La Roque na Câmara.
Essa foi, por exemplo, a luta de Eládio Barros, membro da comissão e dono do bar
Guarapari na Cidade Ocian. Sexta-feira, quando voltou de Brasília, escreveu na calçada em frente do bar: VIVA A CIDADE DE PRAIA GRANDE, A PRAIA MAIS
QUERIDA DO MUNDO. Ele faz sempre questão de dizer que tudo foi feito só pelo povo.
Para Paulo Pintor, Praia Grande é, antes de tudo, uma grande família. Está
sempre disposto a brigar com quem não concorda com isso, e por causa de suas brigas já foi parar na cadeia duas vezes, quando quis bater nos
deputados Olavo Hourneaux de Moura e Paulo Mansur.
Outro que está muito contente com o desmembramento é Roberto Andraus, dono da
Imobiliária Ocian, a maior de lá. Além do lucro com a valorização de seus prédios, ele não gosta muito de São Vicente. Foi prefeito de lá em 1962,
mas não aparecia muito na Prefeitura, e sete meses depois a Câmara exigiu a sua renúncia".
JOÃO CARNEIRO (articulador) - Apontado pelos idealistas de 1967 como o grande
articulador do movimento, João Carneiro é figura popular na Cidade, com destaque nos meios políticos. Instado a falar sobre o movimento, João
Carneiro sumarizou: "O movimento de Emancipação nasceu de um ideal baseado em razões de ordem pessoal, aliado à revolta
pelo descaso da Prefeitura de São Vicente. Contando com o entusiasmo de todos, cresceu e culminou com nossa vitória, do povo que votou no
plebiscito, que assinou listas, que contribuiu monetariamente e morando, participando e apoiando tudo. Ao contemplar o incessante progresso de Praia
Grande, e recordando os dias de luta ao lado dos emancipadores, pergunto se valeu tanto esforço e sinceramente respondo com grande orgulho: valeu!".
PASQUALINO BORELLI (considerado o "grande" da Emancipação) - "Se
Praia Grande perder eu vendo tudo e sumo de minha cidade", estes foram os gritos na Câmara dos Deputados, afrontados
por Pasqualino Borelli, de caráter violento, insistente e considerado o homem forte da vitória da Emancipação.
Naquele tempo, o homem modesto era proprietário de um bar no Ocian, elemento principal
do movimento do bairro. E gosta sempre de dizer: "Na Emancipação larguei tudo. Quase perdi o meu bar, a minha mulher e
a minha família". Considerado por unanimidade o Gigante do Movimento, Borelli afirma que entrou na "briga" porque Praia
Grande não tinha escolas e considerava isso fundamental no então lugarejo. "Tudo estava abandonado, esquecido, alguém
precisava gritar" - disse.
Cansado, esperando o progresso da Cidade avançar, Borelli continua modesto, atualmente
é membro da diretoria da Sociedade Amigos de Cidade Ocian, e além dos méritos creditados como grande emancipador, outro é notório e fundamental: é
um dos únicos que desde 1967 não participa de movimento político. "A Emancipação foi minha meta. Vencemos, com isso o
meu ideal foi alcançado".
ELÁDIO ELOY PESSOA DE BARROS (um dos destaques do Movimento) - O ideal de
liberdade e a vontade de melhorar as condições da terra que escolheu para viver e criar seus filhos foram as causas da efetiva participação de
Eládio Eloy Pessoa de Barros no movimento de Emancipação, e com muito orgulho enfatiza: "Praia Grande, como bairro de
São Vicente, era carente de tudo e nossas reivindicações não sensibilizavam as autoridades, enquanto cresciam as necessidades e o desespero dos que
ali residiam. Não faltaram ao praia-grandense os sentimentos de fé, coragem e sacrifício pelo movimento".
E continua Eládio: "Nunca fui homenageado, poucas vezes
sou citado, mas a certeza tenho: a de ter lutado ao lado de grandes idealistas por uma causa justa e relevante. Com muito orgulho confesso que ao
contemplar o incessante progresso praia-grandense, sinto que sou parte integrante desse desenvolvimento, e isso para mim supera tudo, até as
possíveis mágoas".
MARIA LUIZA LAVALLE (depoimento de uma pioneira) - "Aqui
encontrei uma vida cheia de sol, de amor, de paz. Sou uma carioca de coração praia-grandense e as primeiras pessoas que conheci, há 18 anos,
ensinaram-me a amar esta cidade. Com isso, participei na luta da Emancipação de Praia Grande, quando numa noite estiveram em minha casa o Dozinho,
Layde, Hilário Torloni, Massei e outros grandes incentivadores do movimento. Daí as reuniões sucederam-se. No Maracanã, dona Zilda atendia todos
carinhosamente. Nas grandes reuniões que ali se faziam, às vezes, à luz das velas, o trabalho foi intenso. Quando foi marcado o plebiscito, ninguém
ficou de braços cruzados, galgaram a areia quente e ensolarada, percorrendo grandes distâncias, a fim de se conseguir voto para a Emancipação de
Praia Grande. Os soldados da esperança foram aumentando até que os pássaros do Canto do Forte à Solemar cantaram hinos de louvores à vitória das
urnas".
REMINISCÊNCIAS... - Grupo formado por Walter Melotti, interventor dr. Paulo Sandoval,
ex-prefeito Leopoldo Estásio Vanderlinde e José Luiz Bezerra,
motorista e atualmente proprietário da Marmoraria São José
Foto: Informativo Cultural 25 (janeiro/1980)
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