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HISTÓRIAS E LENDAS DE PRAIA GRANDE
A emancipação... e os emancipadores (2)

Movimento iniciado em 1953 obteve enfim êxito em 19 de janeiro de 1967 
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A história da separação de Praia Grande do município de São Vicente foi contada pelo boletim Informativo Cultural, da Associação Centro de Estudos Amazônicos de Praia Grande (Aceam), no boletim nº 25, de janeiro de 1980, quando se iniciava o 13º ano da emancipação (e repetida no boletim 48, de janeiro de 1982, com outras imagens). No boletim 25, foi ainda incluída esta matéria:
 
NO DEPOIMENTO DOS IDEALISTAS, A VERDADE HISTÓRICA

O nosso trabalho em busca da revalidação dos pioneiros do movimento de Emancipação continua alienado, sem paixões e sem facções políticas, pois o pesquisador e o crítico enfronhados na realidade e na sinceridade devem-se manter a par da verdade, sem interesse determinado, conscientizando-se de que a história de Praia Grande precisa ser descoberta em sua autenticidade. Os próprios homens sedimentaram e acompanharam o movimento, enfatizaram as controvérsias que giram em torno deste comentado e aguçado assunto.

As controvérsias aparecem e é natural que para lá se assentem as baterias dos críticos. Somos a cada semana interrogados por homens que participaram do movimento, pois estão maravilhados com o nosso trabalho, que visa exclusivamente descobrir os valores esquecidos. Esses valores que o tempo a cada dia consome, esses valores que foram tombados com a bandeira da Emancipação.


13 ANOS DEPOIS... - Paulo Fefim, Eládio Eloy Pessoa de Barros e Josias Nunes da Silva,
três grandes nomes do movimento pró-Emancipação
Foto: Deoclécio José da Silva, especial para o Informativo Cultural 25 (janeiro/1980)

ATUALIDADE
Eles opinam sobre a emancipação

Depoimentos exclusivos para este Informativo

ATHIÉ JORGE COURY (deputado federal) - "A cidade de São Vicente, com estrutura formada, não poderia perder Praia Grande; por outro lado, pensava que a mesma não suportaria uma autonomia. Seria uma luta difícil! Passados 13 anos, os meus cumprimentos ao povo desta cidade, e, principalmente àqueles que lutaram pela sua liberdade".

LEOPOLDO ESTÁSIO VANDERLINDE (ex-prefeito de Praia Grande) - "Na época do movimento eu trabalhava na O.C.I.A.N., não participei diretamente do movimento, mas acompanhava analisando todos os fatos. Sempre acreditei na iniciativa destes corajosos homens, a prova disto está no que a Praia Grande é hoje".

LAYDE RODRIGUES REIS (diretora administrativa da Prefeitura Municipal de Praia Grande - PMPG) - "Houve momentos em que o movimento periclitou, mas a nossa fé, o entusiasmo e a vontade férrea de vencer, a cada derrota que sofríamos, acrescentava uma parcela de ânimo a mais. A tocha estava acesa e precisávamos mantê-la viva a qualquer preço, empregando todo nosso esforço físico e mental, que renascia na esperança da vitória. Como em todo movimento e toda causa, houve mudanças de pessoas, de local, até de posições; daí não preferir citar nomes, pois, pelo que realizamos, nossa vitória foi a bandeira de um povo idealista, que soube se unir e lutar na hora exata em que precisávamos de apoio. Praia Grande tem uma história e o capítulo da emancipação é o mais importante, pois exigiu de seu povo uma grande dose de disciplina e patriotismo".

CESÁRIO REIS LIMA (vereador - atual presidente da Câmara) - Na opinião de Cesário Reis Lima, o falecido deputado Osvaldo Massei ocupa posição proeminente. Gosta sempre de afirmar: "Praia Grande deve muito a este homem. Este homem deve ser respeitado por todos aqueles que citarem o assunto Emancipação".

Cesário lembra daquele tempo em que andavam quilômetros e quilômetros a pé, onde após a longa caminhada cansativa e dura, e ainda o desconforto efêmero, partiam para a Assembléia Legislativa, para São Vicente, para Solemar, para os ínvios lugares onde pudéssemos alicerçar a Emancipação de Praia Grande.

Cesário lembra aquele tempo em que o velho Josias, homem forte do movimento, mal dormia para participar do programa do Edson Fernandes, na Rádio Clube, apresentação radiofônica que se estendia pela madrugada nos ares da Baixada. E afirma: "O pessoal tinha alguns minutos para falar da Emancipação e este programa nos deu uma grande força, no que concerne à divulgação". Lembra também o sr. José Santos, de Oswaldo de Oliveira, segundo ele "um dos autores intelectuais do movimento e companheiro respeitado por todos".

Nome de rua do bairro do Boqueirão, homem de confiança do movimento, qualidades inconfundíveis, Osvaldo de Oliveira foi, para Cesário Reis Lima, o gigante forte da árdua luta que consolidou a campanha; e diz: "Ele morreu muito cedo, inclusive era o homem mais capaz e credenciado para ser o prefeito naquela época. Morreu, mas ficou marcado na história com muita justiça e honra".

Cesário Reis Lima lembra daqueles tempos em que a "fraqueza de bolso" e "as noites intermináveis" caracterizavam as reuniões. Certa ocasião, afirmou o entrevistado: "Eu vim de carona de São Paulo até Cubatão, pois tinha ido à Assembléia Legislativa e não tinha dinheiro para voltar. Eu vim de Cubatão a Praia Grande a pé". E adiantou: "por causa da Emancipação vendi relógio, colar e quase tudo o que tinha de valor. E Paulo Pintor perdeu quase tudo".

E continua o Jornal Praia Grande News de 12 de janeiro de 1975: "Eis o perfil de Paulo Pintor: Paulo Fefim, homem que continua fiel ao movimento de emancipação de Praia Grande. Paulo Pintor é um dos principais pioneiros do desmembramento que, na sua opinião, contou com o apoio maciço do povo. Abordado como nasceu o ideal de Emancipação, Paulo assim falou: "naquele tempo minha esposa ficou doente, precisou fazer cesariana e a cidade não tinha pronto-socorro. Então achei que Praia Grande devia ser desmembrada e ter a sua vida própria"".

Na solenidade de primeiro aniversário de emancipação de Praia Grande, o deputado Hilário Torloni assim afirmou, na presença de funcionários da Prefeitura e autoridades: "Amigos funcionários desta Prefeitura, se vocês são funcionários hoje, vocês devem a Paulo Pintor".

Paulo Pintor foi tesoureiro do movimento de emancipação, e sua esposa, dona Genoveva, também foi uma grande incentivadora da campanha.


A ARMA DESLEAL - Os políticos vicentinos, não aceitando a idéia da Emancipação, tiraram várias fotos e as levaram a Brasília. A paisagem das mesmas era uma grande área verde, o que se traduz por mato. Graças ao apoio financeiro da Organização Ocian, foram tiradas algumas fotos aéreas e, em Brasília, puderam notar que Praia Grande lutava por uma causa justa
Foto: Informativo Cultural 25 (janeiro/1980)

JOÃO DE CASTRO LANCHA (um dos pioneiros do movimento) - "A Emancipação nasceu por falta de recurso, por necessidade, pois São Vicente não empregava nem cinco por cento de sua renda em Praia Grande". Com tal alusão, Lancha lembra que a cidade não tinha água e chegavam até a cortar o único cano que servia para abastecer precariamente o pessoal que morava na antiga Avenida Tupiniquins.

Lancha gosta sempre de atinar os fatos nos mínimos detalhes e diz que Osvaldo de Oliveira foi o estopim da idéia, o autor intelectual da emancipação. Frisa: "Embora Osvaldo de Oliveira já seja nome de rua, jamais poderemos esquecer o que ele fez por Praia Grande. Ele foi valoroso e honesto".

Perguntado o motivo da forte reação vicentina, inclusive apresentando, em Brasília, fotos que não condiziam com a realidade, Lancha afirmou: "quando a briga parou em Brasília, São Vicente usou uma arma desleal. Apresentou uma foto antiga onde mostrava Praia Grande vazia, a cidade sem residências. Era um mato. E aí falou-se que nossa cidade estava ligada por interesses de 'grileiros e pinguços'. Graças ao apoio financeiro da organização Ocian, de Roberto Andraus, foram tiradas algumas fotos aéreas e, em Brasília, puderam notar que Praia Grande lutava por uma causa justa".

Muita lembrança surge na trajetória vitoriosa da Emancipação e Lancha, empolgado sempre em suas declarações, recorda o tempo em que ganharam a causa no Supremo Tribunal: "Muita gente chorou" - afirmou. Apontando sempre Torloni, Massei e Osvaldo de Oliveira como os baluartes do movimento, Lancha afirma que a comissão presidida por Luiz dos Santos Reis é que fez voltar a afirmativa da consecução de honra da Emancipação.

Para os que ainda se lembram, Lancha tinha uma imobiliária chamada "28 de Dezembro", uma homenagem que prestou ao dia em que a Assembléia Legislativa do Estado deu ganho de causa à nossa Praia Grande.

Um fato se deve destacar, que no dia que a cidade comemorava o seu desmembramento, houve um grave acidente na Vila Tupi, quando um caminhão, carregando várias pessoas, tombou e seis pessoas ficaram feridas, sendo a mais grave a senhora Zenaide Brajon (Dona Maria).

JOSIAS NUNES DA SILVA (pioneiro) - "Fiz parte do primeiro movimento de desmembramento de Praia Grande e minha grande função era ir de casa em casa fazendo fichas, reunindo o povo para o grande plebiscito. Como membro do movimento, fiz mais de dez programas na Rádio Clube de Santos, no programa do Edson Fernandes, que ia ao ar das 21 às 22 horas. Essa audição era paga por Roberto Andraus para divulgar o movimento da Emancipação. E eu ia quase sempre com Paulo Fefim, um pé forte do movimento.

"Lembro que o Milani presidiu a comissão no início, para depois até o final ser presidida por Luiz dos Santos Reis. Naquele tempo, o que mais nos revoltava era que São Vicente não fazia nada por Praia Grande. Lembro que uma vez a Prefeitura de São Vicente arrancou todos os canos de água que serviam a rede e o pessoal de Praia Grande.

"Considero Osvaldo de Oliveira, Dorivaldo Loria Júnior, Osvaldo Massei e Hilário Torloni um dos grandes do movimento. Recordo-me perfeitamente quando Esmeraldo Tarquínio, de Santos, fez uma promessa, que se Praia Grande fosse emancipada ele viria de Santos a Praia Grande a pé: nós ganhamos e ele não cumpriu a promessa, veio tempos depois, mas de carro".

O jornal O Estado de São Paulo de 30 de maio de 1966 explica a festa da [emancipação][... N.E.: trecho "empastelado" na impressão] "por causa das trezentas pessoas, um pouco de cada lugar, que se reuniram para formar uma comissão. Foram eles que pediram ajuda aos deputados Hilário Torloni e Osvaldo Massei na Assembléia e ao deputado Henrique de La Roque na Câmara.

Essa foi, por exemplo, a luta de Eládio Barros, membro da comissão e dono do bar Guarapari na Cidade Ocian. Sexta-feira, quando voltou de Brasília, escreveu na calçada em frente do bar: VIVA A CIDADE DE PRAIA GRANDE, A PRAIA MAIS QUERIDA DO MUNDO. Ele faz sempre questão de dizer que tudo foi feito só pelo povo.

Para Paulo Pintor, Praia Grande é, antes de tudo, uma grande família. Está sempre disposto a brigar com quem não concorda com isso, e por causa de suas brigas já foi parar na cadeia duas vezes, quando quis bater nos deputados Olavo Hourneaux de Moura e Paulo Mansur.

Outro que está muito contente com o desmembramento é Roberto Andraus, dono da Imobiliária Ocian, a maior de lá. Além do lucro com a valorização de seus prédios, ele não gosta muito de São Vicente. Foi prefeito de lá em 1962, mas não aparecia muito na Prefeitura, e sete meses depois a Câmara exigiu a sua renúncia".

JOÃO CARNEIRO (articulador) - Apontado pelos idealistas de 1967 como o grande articulador do movimento, João Carneiro é figura popular na Cidade, com destaque nos meios políticos. Instado a falar sobre o movimento, João Carneiro sumarizou: "O movimento de Emancipação nasceu de um ideal baseado em razões de ordem pessoal, aliado à revolta pelo descaso da Prefeitura de São Vicente. Contando com o entusiasmo de todos, cresceu e culminou com nossa vitória, do povo que votou no plebiscito, que assinou listas, que contribuiu monetariamente e morando, participando e apoiando tudo. Ao contemplar o incessante progresso de Praia Grande, e recordando os dias de luta ao lado dos emancipadores, pergunto se valeu tanto esforço e sinceramente respondo com grande orgulho: valeu!".

PASQUALINO BORELLI (considerado o "grande" da Emancipação) - "Se Praia Grande perder eu vendo tudo e sumo de minha cidade", estes foram os gritos na Câmara dos Deputados, afrontados por Pasqualino Borelli, de caráter violento, insistente e considerado o homem forte da vitória da Emancipação.

Naquele tempo, o homem modesto era proprietário de um bar no Ocian, elemento principal do movimento do bairro. E gosta sempre de dizer: "Na Emancipação larguei tudo. Quase perdi o meu bar, a minha mulher e a minha família". Considerado por unanimidade o Gigante do Movimento, Borelli afirma que entrou na "briga" porque Praia Grande não tinha escolas e considerava isso fundamental no então lugarejo. "Tudo estava abandonado, esquecido, alguém precisava gritar" - disse.

Cansado, esperando o progresso da Cidade avançar, Borelli continua modesto, atualmente é membro da diretoria da Sociedade Amigos de Cidade Ocian, e além dos méritos creditados como grande emancipador, outro é notório e fundamental: é um dos únicos que desde 1967 não participa de movimento político. "A Emancipação foi minha meta. Vencemos, com isso o meu ideal foi alcançado".

ELÁDIO ELOY PESSOA DE BARROS (um dos destaques do Movimento) - O ideal de liberdade e a vontade de melhorar as condições da terra que escolheu para viver e criar seus filhos foram as causas da efetiva participação de Eládio Eloy Pessoa de Barros no movimento de Emancipação, e com muito orgulho enfatiza: "Praia Grande, como bairro de São Vicente, era carente de tudo e nossas reivindicações não sensibilizavam as autoridades, enquanto cresciam as necessidades e o desespero dos que ali residiam. Não faltaram ao praia-grandense os sentimentos de fé, coragem e sacrifício pelo movimento".

E continua Eládio: "Nunca fui homenageado, poucas vezes sou citado, mas a certeza tenho: a de ter lutado ao lado de grandes idealistas por uma causa justa e relevante. Com muito orgulho confesso que ao contemplar o incessante progresso praia-grandense, sinto que sou parte integrante desse desenvolvimento, e isso para mim supera tudo, até as possíveis mágoas".

MARIA LUIZA LAVALLE (depoimento de uma pioneira) - "Aqui encontrei uma vida cheia de sol, de amor, de paz. Sou uma carioca de coração praia-grandense e as primeiras pessoas que conheci, há 18 anos, ensinaram-me a amar esta cidade. Com isso, participei na luta da Emancipação de Praia Grande, quando numa noite estiveram em minha casa o Dozinho, Layde, Hilário Torloni, Massei e outros grandes incentivadores do movimento. Daí as reuniões sucederam-se. No Maracanã, dona Zilda atendia todos carinhosamente. Nas grandes reuniões que ali se faziam, às vezes, à luz das velas, o trabalho foi intenso. Quando foi marcado o plebiscito, ninguém ficou de braços cruzados, galgaram a areia quente e ensolarada, percorrendo grandes distâncias, a fim de se conseguir voto para a Emancipação de Praia Grande. Os soldados da esperança foram aumentando até que os pássaros do Canto do Forte à Solemar cantaram hinos de louvores à vitória das urnas".


REMINISCÊNCIAS... - Grupo formado por Walter Melotti, interventor dr. Paulo Sandoval, ex-prefeito Leopoldo Estásio Vanderlinde e José Luiz Bezerra,
motorista e atualmente proprietário da Marmoraria São José
Foto: Informativo Cultural 25 (janeiro/1980)