FERROVIA - Em frente à Estação Pedro Taques, em Praia Grande, um longo trilho
enferrujado é a imagem da situação de abandono da antiga linha ferroviária Santos-Juquiá, que ligava a Baixada Santista ao Vale do Ribeira
Foto: Adalberto Marques, publicada com a matéria
INICIATIVA
Ferrovia desativada vira extensão de residências
Área que margeia os trilhos é usada para o cultivo de plantas e para o lazer
Pedro Cunha
Da Sucursal
Em frente à antiga Estação Ferroviária Pedro Taques, na
Vila Caiçara, em Praia Grande, um longo trilho enferrujado é a imagem da situação de abandono da antiga linha ferroviária Santos-Juquiá, que ligava
a Baixada Santista ao Vale do Ribeira. Enquanto autoridades discutem possíveis formas de aproveitamento do percurso, a comunidade, diante da
ociosidade do espaço, passou a ocupá-lo da forma que lhe convém, transformando-o em uma extensão de suas residências.
A própria estação de trem reflete o abandono da ferrovia. Destelhada e tomada pela
vegetação, apresenta também sinais claros do processo e ocupação do espaço pela população. Como o local foi relegado ao esquecimento pela antiga
concessionária, ex-funcionários da empresa hoje residem na sala onde, outrora, funcionou o guichê para venda de passagens.
Além de servir de moradia, a área da ferrovia é usada, também, como pomar para o
grupo, que plantou bananeiras, goiabeiras, mamoeiros e outras árvores. No mesmo bairro, há pelo menos duas áreas aproveitadas pela vizinhança para
implantar um jardim público.
Nos finais de semana, a área é tomada pelas crianças do bairro, que aproveitam os
poucos trechos gramados para jogar bola. O amplo terreno sem postes da via ferroviária também é considerado ideal para empinar pipa. De carretel na
mão e com os olhos voltados para o céu, os meninos ignoram o risco de acidentes na área, caminhando sobre os trilhos cobertos de ferrugem, com
dormentes de madeira podres e presos por cravos expostos.
Ferrovia - Cansados de enfrentar problemas com alagamentos e acúmulo de lixo,
moradores da Rua Vicente Francisco Cirino, na altura da via marginal à linha férrea, Avenida Roberto de Almeida Vinhas, decidiram contratar uma
pessoa para cuidar da área. "A princípio, queríamos apenas manter o lugar limpo. Aos poucos, porém, cada um foi plantando o que achava ideal e agora
temos um belo jardim", conta a comerciante Jandira Rosa Lopes.
Morando na Vila Caiçara há 38 anos, ela faz questão de mostrar aos visitantes a
variedade de plantas no espaço. Ontem, levou a amiga Cleusa Sardo ao local para pegar um punhado de caninha-do-brejo. "É um matinho usado para fazer
chá medicinal", explicou Cleusa.
O paisagismo improvisado pelos moradores locais é valorizado por uma pequena ponte na
linha férrea. Apesar de contar com apenas alguns dormentes suspensos, o equipamento, com acabamento em estilo inglês, mostra o capricho com que a
via foi construída. Curiosamente, a linha esquecida traz como pano de fundo a Rodovia Padre Manuel da Nóbrega, que poderia ter o intenso tráfego de
caminhões de carga reduzido caso trens voltassem a correr pelos trilhos.
A velha estação foi ocupada por ex-funcionários da linha férrea
Foto: Adalberto Marques, publicada com a matéria
Benfeitorias garantem melhor qualidade de vida
Em um ponto da Vila Caiçara mais afastado da estação Pedro Taques, próximo à Avenida
São Romério, a área marginal da linha férrea não só ganhou um jardim, como também se tornou um foco de conscientização ecológica. Placas de madeira,
com base enfeitada e dizeres claros, orientam a comunidade a respeitar as aves, trafegar a baixa velocidade e limpar as fezes dos animais
domésticos.
Responsável pelo serviço de jardinagem e pela instalação das placas, o morador de São
Paulo, Marco Antônio da Silva Lemos, recorda que começou a usar a área desde que comprou uma casa na Avenida Roberto de Almeida Vinhas, há
aproximadamente sete anos. "Quando cheguei aqui, dava medo passar pela área. Além do mato alto, a rua alagava e era usada para despejo de lixo".
Aos poucos, Lemos limpou o terreno, plantou grama e árvores e instalou placas de
orientação e uma lixeira de madeira. Como resultado, mais do que ganhar uma frente bela para a própria residência, passou a conviver com saracuras,
quero-queros, garças e outros pássaros, que adotaram o espaço ocioso da linha férrea como lar.
As placas orientam para a segurança e preservação ambiental
Foto: Adalberto Marques, publicada com a matéria
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