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HISTÓRIAS E LENDAS DE PRAIA GRANDE
Uma ferrovia no quintal 

Com a interrupção dos serviços ferroviários na linha Santos-Juquiá, trilhos e estações entraram em declínio também em Praia Grande, e a comunidade local passou a ocupar essas áreas, até como extensão de suas casas. O fato foi registrado assim pelo jornal santista A Tribuna, na edição de 26 de julho de 2004:


FERROVIA - Em frente à Estação Pedro Taques, em Praia Grande, um longo trilho enferrujado é a imagem da situação de abandono da antiga linha ferroviária Santos-Juquiá, que ligava a Baixada Santista ao Vale do Ribeira
Foto: Adalberto Marques, publicada com a matéria

INICIATIVA
Ferrovia desativada vira extensão de residências
Área que margeia os trilhos é usada para o cultivo de plantas e para o lazer

Pedro Cunha
Da Sucursal

Em frente à antiga Estação Ferroviária Pedro Taques, na Vila Caiçara, em Praia Grande, um longo trilho enferrujado é a imagem da situação de abandono da antiga linha ferroviária Santos-Juquiá, que ligava a Baixada Santista ao Vale do Ribeira. Enquanto autoridades discutem possíveis formas de aproveitamento do percurso, a comunidade, diante da ociosidade do espaço, passou a ocupá-lo da forma que lhe convém, transformando-o em uma extensão de suas residências.

A própria estação de trem reflete o abandono da ferrovia. Destelhada e tomada pela vegetação, apresenta também sinais claros do processo e ocupação do espaço pela população. Como o local foi relegado ao esquecimento pela antiga concessionária, ex-funcionários da empresa hoje residem na sala onde, outrora, funcionou o guichê para venda de passagens.

Além de servir de moradia, a área da ferrovia é usada, também, como pomar para o grupo, que plantou bananeiras, goiabeiras, mamoeiros e outras árvores. No mesmo bairro, há pelo menos duas áreas aproveitadas pela vizinhança para implantar um jardim público.

Nos finais de semana, a área é tomada pelas crianças do bairro, que aproveitam os poucos trechos gramados para jogar bola. O amplo terreno sem postes da via ferroviária também é considerado ideal para empinar pipa. De carretel na mão e com os olhos voltados para o céu, os meninos ignoram o risco de acidentes na área, caminhando sobre os trilhos cobertos de ferrugem, com dormentes de madeira podres e presos por cravos expostos.

Ferrovia - Cansados de enfrentar problemas com alagamentos e acúmulo de lixo, moradores da Rua Vicente Francisco Cirino, na altura da via marginal à linha férrea, Avenida Roberto de Almeida Vinhas, decidiram contratar uma pessoa para cuidar da área. "A princípio, queríamos apenas manter o lugar limpo. Aos poucos, porém, cada um foi plantando o que achava ideal e agora temos um belo jardim", conta a comerciante Jandira Rosa Lopes.

Morando na Vila Caiçara há 38 anos, ela faz questão de mostrar aos visitantes a variedade de plantas no espaço. Ontem, levou a amiga Cleusa Sardo ao local para pegar um punhado de caninha-do-brejo. "É um matinho usado para fazer chá medicinal", explicou Cleusa.

O paisagismo improvisado pelos moradores locais é valorizado por uma pequena ponte na linha férrea. Apesar de contar com apenas alguns dormentes suspensos, o equipamento, com acabamento em estilo inglês, mostra o capricho com que a via foi construída. Curiosamente, a linha esquecida traz como pano de fundo a Rodovia Padre Manuel da Nóbrega, que poderia ter o intenso tráfego de caminhões de carga reduzido caso trens voltassem a correr pelos trilhos.


A velha estação foi ocupada por ex-funcionários da linha férrea
Foto: Adalberto Marques, publicada com a matéria

Benfeitorias garantem melhor qualidade de vida

Em um ponto da Vila Caiçara mais afastado da estação Pedro Taques, próximo à Avenida São Romério, a área marginal da linha férrea não só ganhou um jardim, como também se tornou um foco de conscientização ecológica. Placas de madeira, com base enfeitada e dizeres claros, orientam a comunidade a respeitar as aves, trafegar a baixa velocidade e limpar as fezes dos animais domésticos.

Responsável pelo serviço de jardinagem e pela instalação das placas, o morador de São Paulo, Marco Antônio da Silva Lemos, recorda que começou a usar a área desde que comprou uma casa na Avenida Roberto de Almeida Vinhas, há aproximadamente sete anos. "Quando cheguei aqui, dava medo passar pela área. Além do mato alto, a rua alagava e era usada para despejo de lixo".

Aos poucos, Lemos limpou o terreno, plantou grama e árvores e instalou placas de orientação e uma lixeira de madeira. Como resultado, mais do que ganhar uma frente bela para a própria residência, passou a conviver com saracuras, quero-queros, garças e outros pássaros, que adotaram o espaço ocioso da linha férrea como lar.


As placas orientam para a segurança e preservação ambiental
Foto: Adalberto Marques, publicada com a matéria

 

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