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Movimento Nacional em Defesa
da Língua Portuguesa
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A defesa dos idiomas no mundo - Arábia
Não é por acaso que inúmeros idiomas sofreram a influência da
cultura árabe, inclusive o português. Situados a meio caminho entre Ocidente e Oriente, e estimulados por uma religião que incentiva
seus seguidores a procurarem pelo mundo as manifestações divinas, os povos árabes tiveram papel fundamental no recolhimento, na
interpretação e na transmissão até nossos dias das principais obras tanto da Grécia Clássica como da China e da Índia.
A obra de Aristóteles, por exemplo, chegou aos nossos dias graças ao filósofo maghrebino Ibn
Rushd (Averróes); já os textos de Ibn Sînâ (Avicena) sintetizaram as idéias de Platão e Aristóteles. Os próprios algarismos foram
desenvolvidos na Índia, mas chegaram ao Ocidente como fruto do interesse dos árabes pelas ciências e pela cultura de outros povos.
Durante séculos, obras de inúmeras culturas foram traduzidas para o árabe, que por isso (e com isso) evoluiu e acabou por ostentar
depois o papel de língua culta preferida pelos pensadores de várias épocas. Mesmo instrumentos como a bússola e o astrolábio, ou o
papel chinês, só chegaram ao Ocidente por meio dos povos árabes.
Em sua História Universal dos Algarismos (Tomo II, Editora Nova Fronteira, Rio de
Janeiro, págs. 344/5), o autor Georges Ifrah relata, citando L.Massignon e R. Arnaldez:
"Quando se faz traduzir um texto científico da língua em que foi
pensado para uma outra língua igualmente rica, esta tarefa pode apresentar dificuldades gramaticais, mas não de ordem técnica e
conceitual. Tal não era o caso do árabe, quando comparado ao grego (no tempo das primeiras traduções): era necessário, em parte,
criar um léxico, em parte reajustar o vocabulário existente em função das necessidades da ciência. Freqüentemente havia um
intermediário em siríaco, e esta língua semítica podia preparar as vias para o árabe. Assim constituiu-se, pouco a pouco, a língua
científica árabe. Esse trabalho não foi, porém, exclusivamente filológico; fez-se acompanhar por duas pesquisas muito favoráveis ao
desenvolvimento do espírito científico: a identificação e a verificação dos conceitos".
Continua Georges Ifrah, após a citação:
Os lexicógrafos inventariaram, investidos desse espírito, a língua
árabe, como os sábios inventariaram o saber, inventariando os conhecimentos, repensando os conceitos e avaliando-os e após,
reestruturando-os uns em relação aos outros. Quanto aos tradutores e comentadores de textos, procuravam equivalentes árabes às
terminologias estrangeiras e efetuavam suas pesquisas, não somente nos léxicos e na natureza, mas também na experiência e nos
diferentes elementos do saber, seja para introduzir palavras e conceitos novos, seja ainda para introduzir idéias novas sob
expressões verbais antigas.
Foi desta forma que o árabe adquiriu uma aptidão inteiramente
particular para expressar o pensamento científico e desenvolvê-lo no sentido histórico do progresso das ciências exatas.
Compreende-se que essa língua, considerada inicialmente a da Revelação
e como critério fundamental de pertencimento secular de qualquer muçulmano à comunidade islâmica (o Umma), tenha-se tornado
não somente o veículo de um pensamento científico internacional, mas também, e sobretudo, o agente essencial do renascimento e o
fator preponderante da revolução científica feita pelos árabes. |