Polêmica
Influência
no português provoca críticas
Da Reportagem
A introdução de estrangeirismos no vocabulário
português desagradou muitos pesquisadores. O especialista em Literatura
e professor de Direito da Universidade de Lisboa, José de Oliva
Ascensão, condena nos dicionários a presença de expressões,
por exemplo, que se tornaram comuns por meio da informática.
Oliva Ascensão, que pertence ao grupo Intelectuais do
Mundo, esteve terça-feira no Sesc e participou do encontro promovido
pelo Movimento Nacional em Defesa da Língua Portuguesa, coordenado
na Baixada pela deputada estadual Mariângela Duarte (PT).
O professor afirma que a introdução dos estrangeirismos
o deixou chocado e que a decisão deveria ser revista. ‘‘Não
sou linguista e não quero me pronunciar cientificamente, mas devo
dizer que me chocaram as opções que fizeram’’.
Os estrangeirismos, na maioria dos casos, são decorrentes
da influência do inglês. O uso dessas expressões aumentou
à medida que os modelos de produção aderiram à
informática.
Em 1998, o vocabulário de língua portuguesa da
Academia Brasileira de Letras incorporou várias expressões
estrangeiras usadas no dia-a-dia e os dicionários aderiram. O novo
Aurélio já traz deletar, uma influência da tecla delete
dos computadores.
Segundo Ascensão, a influência do inglês é
tão forte que provoca um fenômeno. A expressão deletar,
na verdade, tem origem histórica no latim, também responsável
pela formação do próprio português. ‘‘O que
é surpreendente. Buscar as nossas origens através da própria
língua inglesa’’. Para ele, as incorporações dos estrangeirismos
deveriam ser revistas.
De acordo com Ascensão, a força de uma língua
está relacionada ao poderio econômico de país que a
emprega. O professor vê com reticências a globalização,
fenômeno importante para a imposição do inglês,
que, para ele, está a serviço dos interesses do Primeiro
Mundo.
Ascensão acredita que as nações mais pobres
não precisam condenar suas línguas às dos países
mais ricos. Ele cita o projeto de unificação da língua
portuguesa como uma alternativa para garantir a identidade cultural de
que a utiliza.
A meta do projeto, entre vários pontos, é unificar
o vocabulário usado nos oito países de língua portuguesa.
Identidade cultural — O encontro no Sesc reuniu professores e
representantes de entidades, como o Elos Clube, Rotary e Vida Ascendente.
Segundo Mariângela, um dos próximos passos do movimento será
convencer os profissionais de marketing e propaganda a evitar o uso de
expressões estrangeiras.
Mariângela explica que o movimento é resultado de
um projeto de lei do deputado federal Aldo Rebelo (PC do B), que prevê
normas para garantir a integridade do idioma. ‘‘O idioma é o principal
traço de identidade cultural de uma nação’’.
Hoje o movimento realiza uma nova reunião às 19
horas, na sede do Sindicato dos Petroleiros, na Avenida Conselheiro Nébias,
248. Os encontros são abertos à toda a população
e acontecem sempre na última quinta-feira do mês. Quem quiser
apresentar opiniões pode ligar para 219-5584 ou consultar o endereço
eletrônico www.novomilenio.inf.br/idioma. O e-mail é idioma@iron.com.br. |