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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 08/23/09 20:06:35

Movimento Nacional em Defesa
da Língua Portuguesa

NOSSO IDIOMA
Resgate do idioma, no Timor

Matéria publicada no jornal santista A Tribuna, edição de 5 de julho de 2009, na página A-11:

Marina pensa em se inscrever novamente no programa do Capes para uma terceira jornada educativa

Foto: Paulo Freitas, publicada com a matéria

SÃO VICENTE

Professora cumpre missão no Timor

 

Marina Pereira Reis, de 54 anos, trabalhou por quase dois anos consecutivos no país

 

Valéria Malzone

Da Redação

Com as tarefas de resgatar a Língua Portuguesa, capacitar professores, ajudar a regulamentar o ensino e até escrever livros didáticos, a professora vicentina Marina Pereira Reis, de 54 anos, viveu e trabalhou por quase dois anos consecutivos no Timor Leste, em duas missões educacionais. O país fica a 2.500 quilômetros de Jacarta (capital da Indonésia).

"Nossas missões foram patrocinadas pela Coordenação de APerfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, do Ministério da Educação (Capes/MEC)", comentou Marina, que pretende voltar, pelo menos mais uma vez, para dar seqüência aos projetos que ajudou a criar naquela nação. Sua primeira ida, em julho de 2007, foi relatada por A Tribuna, naquela ocasião.

"Fui para ensinar matérias didáticas e técnicas de ensino, mas aprendi muitas lições para a vida", assegurou a professora, que entre julho de 2007 e 23 de junho deste ano - com o intervalo de apenas 30 dias do mês de junho de 2008 - mergulhou literalmente na educação, nos hábitos, nos costumes, na vida dos timorenses, que - segundo ela - adoram os brasileiros. "Eles são muito carentes e nós, brasileiros, com nossos típicos despojamentos, simpatia e informalidade, conquistamos o coração daquele povo".

Todo este carinho com a população do Timor é um dos motivos que está impulsionando Marina a se inscrever novamente no programa do Capes, para uma possível terceira missão, a partir de setembro deste ano até dezembro de 2010. "As inscrições ainda estão abertas (seguem até o próximo dia 19) e podem ser feitas para qualquer professor interessado no site www.capes.gov.br". Haverá uma pré-seleção de 70 candidatos e, deste total, 50 irão embarcar e outros 15 ficarão em um cadastro de reserva.

Todo o programa é financiado pelo Capes. "Se não fosse desse modo, não teria como realizar este projeto de vida. Só as passagens aéreas custam  hoje cerca de US$ 5 mil (quase R$ 10 mil)", lembrou Marina. Na sua primeira temporada, ela recebia mensalmente US$ 1.100,00 (R$ 2.200,00), que não eram suficientes, "já que o custo de vida lá é muito alto e a moeda utilizada é o dólar norte-americano".

Custos - Depois de visitas do ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, a bolsa mensal mudou de moeda, para ajudar os professores (na primeira missão eram 35 e, na segunda, 50). "Passamos a receber 1.100 euros (cerca de R$ 3.080,00)". A professora contou que, nos oito primeiros meses, morou em um hotel simples, que custava US$ 600,00 (R$ 1.200,00) por mês. "Depois consegui, com mais dois colegas, alugar uma casinha por US$ 140,00 (R$ 280,00) mensais".

A mudança foi ótima também para o sistema digestivo da professora, que passou a cozinhar em casa. "Na época do hotel, só comia em restaurantes e tive uma infecção intestinal complicada", recordou. "No mais, em termos de saúde, tive até sorte, já que lá a malária, a dengue, a febre amarela e outras moléstias e parasitoses típicas de países subdesenvolvidos são endêmicas".

Marina fez muitas amizades e também conseguiu viajar bastante. "Dos 13 distritos, cheguei a conhecer 12, rodando 1.200 quilômetros", contou a professora, que conseguiu na sua segunda temporada comprar uma Pajero 1998, de origem japonesa e em ótimo estado, por US$ 6 mil (R$ 12 mil). "Fiz um acordo com o vendedor, por escrito, para que ele me vendesse na condição de comprar novamente - o que foi cumprido por uma diferença de US$ 1 mil (R$ 2 mil)".

A professora não teve férias, mas durante recessos escolares (entre dezembro e janeiro) conseguiu viajar para Bali (Indonésia), Tailândia e Camboja. "Estes locais são próximos ao Timor e aproveitei a oportunidade", contou Marina, que também curtiu muito as praias urbanas do Timor. "Depois das aulas, conseguia ir dar um mergulho e umas braçadas até para relaxar. As praias de lá são paradisíacas".

Marina afirmou que hoje é uma mulher diferente. "Em termos profissionais, foi nota 10. No geral, dou nota 8, porque a saudade da família é grande (ela mora em São Vicente com a mãe e com sua filha)". A professora disse que também deixou de ser tão consumista. "Realmente, o ser humano é capaz de se adaptar a qualquer situação e percebi que fazia muitos desperdícios". No mais, ela valorizou a experiência também pelo aumento na sua qualidade de vida. "Que espero manter mesmo que não consiga ir novamente para o Timor".

Ilustração publicada com a matéria

País conquistou a independência em 1999

Descoberto em 1529 pelos portugueses, o Timor é uma ilha que faz parte do arquipélago da Indonésia. Até a metade da década de 70, a parte oriental da região, o Timor Leste, esteve sob o domínio de Portugal. A parte ocidental, ex-colônia holandesa, faz parte da Indonésia desde 1945.

Segundo dados históricos recentes, em 1975, com a retirada portuguesa, duas correntes armadas iniciam uma disputa pelo território. A União Democrática de Timor (UDT), que apóia a integração do Timor Leste à Indonésia, e a Frente Revolucionária do Timor Leste Independente (Fretilin), que defende a independência da região.

Em dezembro de 1975, apoiada pela maioria da população, a Fretilin proclamou a independência do Timor Leste. Dez dias depois, a Indonésia invadiu a ilha e, em julho de 1976, apesar da reprovação da Organização das Nações Unidas (ONU), transformou o território em sua 27ª província. Esta anexação até hoje não foi reconhecida pela ONU.

Com a invasão indonésia, os exércitos da Fretilin se refugiaram nas montanhas e iniciaram combates de guerrilha contra os ocupantes. Segundo consta, a parte crítica dos conflitos já passou. Entretanto, guerrilhas e gangues de rua ainda fazem vítimas pelo país, principalmente com relação à violência sexual a menores.

Católicos - Com tudo isso, o governo da Indonésia fez uma forte repressão militar. Forçou a adoção da língua indonésia e a islamização dos habitantes, que são em sua maioria absoluta formada por católicos. Essa atitude fez com que aumentasse a simpatia pelas forças que pregavam a independência do Timor Leste. A partir daí, surgiram várias lideranças e Xanana Gusmão, líder do Conselho Nacional da Resistência Timorense (CNRT), foi um deles.

Em 1996, outros dois, o bispo Carlos Belo e o ativista exilado José Ramos Horta, receberam o Prêmio Nobel da Paz. Isso fez com que o conflito retornasse aos noticiários de todo mundo, conferindo uma maior dimensão à luta timorense. No dia 5 de maio de 1999, Indonésia e Portugal firmaram, sob o patrocínio da ONU, acordo que abriu caminho para o plebiscito em que a população do Timor Leste iria decidir entre a independência ou anexação - com uma certa autonomia - ao território indonésio.

A consulta popular foi realizada no dia 30 de agosto de 1999 e referendou a opção pela independência. Desde o anúncio da realização do plebiscito, a violência aumentou muito e outras milhares de pessoas foram assassinadas, a maioria pelas mãos de grupos paramilitares pró-Indonésia. O líder do Conselho Nacional da Resistência TImorense (CNRT), Xanana Gusmão, condenado a 20 anos de prisão por complô contra o Estado indonésio, cumpriu sete anos e foi libertado no dia 7 de setembro de 1999.

Chefe da guerrilha do Timor Leste, Xanana representou a alma da luta separatista da ex-colônia portuguesa. Com sistema parlamentarista, o Timor Leste tem hoje como primeiro-ministro, Xanana Gusmão (desde 2007), e como presidente, José Ramos Horta. Em 2002, Gusmão era presidente e Horta o primeiro-ministro. (VM)

A Tribuna não esquece

Imagem publicada com a matéria

A Tribuna - 15 de julho de 2007

Em julho de 2007, A Tribuna registrou os planos da professora vicentina, que partiria para o Timor Leste no dia seguinte. Na época, Marina Pereira Reis era a única moradora de São Vicente de da região a integrar o grupo de docentes selecionados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, do Ministério da Educação, para participar do Programa de Qualificação de Docente e Ensino de Língua Portuguesa no Timor Leste. Ela integrava um grupo de 34 professores que se juntariam a outros 13 que já estavam no país.