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Movimento Nacional em Defesa
da Língua Portuguesa
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NOSSO IDIOMA
Reforma ortográfica
Troca de mensagens na comunidade Widebiz em 2009
Ano novo, vida nova, ortografia nova. Tem coisa que é como injeção: quanto antes você tomar,
menor a expectativa de sofrimento. Então decidi instalar o Writer do BROffice que já vem com o corretor ortográfico atualizado
para as novas regras e já estou escrevendo com ele.
Para quem se interessar:
Site: http://www.broffice.org/
Download programa: http://www.broffice.org/download
Download corretor atualizado:
http://www.broffice.org/files/Vero_pt_BR_V203AOC.oxt
Foi no download do corretor que apanhei, porque o Windows Vista automaticamente salvou o arquivo com extensão zip e não oxt
como no original. Aí não há como você fazer a instalação do corretor atualizado. Salve do jeito que veio (oxt), abra o BR
Office, Ferramentas > Gerenciador de Extensão > desinstale o dicionário Português Brasil que aparece ali e instale o arquivo
oxt que você baixou.
Fica aí a ideia sem acento.
Mario Persona |
At 03:16 3/1/2009, Lúcio Wandeck wrote:
Mário
Não vou aderir, por vários motivos, a saber:
1- porque se quem faz a língua e a sua expressão ortográfica é o povo, conseqüentemente, a ninguém pode ser dado o direito de
mudar, por decreto, práticas culturais consagradas;
2- porque enquanto as novas regras não forem inculcadas nos meus dois leitores, eles acharão que eu não sei escrever mais ou
menos bem;
3- porque já passei da idade de me submeter a concursos públicos; e
4- porque não me conformo com o banimento do trema e sinais afins, como muito bem se expressou o poeta e cronista Edson
Teixeira, presidente da Confraria dos Poetas Crônicos, da qual tenho a honra de pertencer.
E vou mais adiante, proponho a criação da Ong "SDT - Sociedade dos Defensores do Trema".
Compreendo a sua posição, ou seja, o fato de você ter aderido sem reação a esse decreto.
Como os seus escritos multiplicam-se geometricamente que nem coelhos no seu milhão de
leitores diários, que, como eu, se deliciam com cada sentença da sua lavra, você teme que uma meia-dúzia que adotará a nova
ortografia passe a pensar que o Mário não sabe escrever divinamente bem.
Mas o que pensarão os outros 999.994 ?
É uma pena que o ex-bicho-grilo Mário sucumba, sem fazer uso do jus-esperniandi, à letra fria da lei.
Ou será ex bicho grilo, assim deshifenado? Ops, desifenado!
Sim, sed lex, dura lex, no cabelo, só Gumex, mas convenhamos...
Tornar-me-ei reacionário.
Doravante, colarei no Word cada um dos seus escritos, o corretor ortográfico assinalará os erros, farei as correções e lerei
Mário como sempre gostei. Dará um trabalhinho, mas valerá a pena.
Abraços extremados, porém inconformados, do amigo
Lúcio
PS- Pls, satisfaça a minha curiosidade: por que há décadas vc se antecipou à nova ortografia grafando Mário sem acento?
O adeus ao trema - e sinais afins
A famosa foto do lexicógrafo Quadros, com os pés fora de esquadro, me remete a uma frase cheia de estilo: "Fi-lo porque
qui-lo". Nuance lingüística, tirada artística, sem conseqüência drástica à mudança ortográfica.
De cabeça quente, confesso que me tornei eloqüente e levantei a bandeira do conservadorismo; já os que defendem o
modernismo, fizeram a minha caveira: "purista da língua", "lingüista irascível"... Mas nada me fez baixar o nível. Apenas uma
questão de educação - ou adequação. Há quem não morra de amores pelos "olhos de cobra"; há, porém, os que se desdobram para
preservar os valores dos símbolos que se vão. Que não seja em vão o acordo ortográfico dos catedráticos lusófonos, com a
aprovação altaneira da Nação brasileira.
Ainda tonto, perplexo, tomo como exemplo o circunflexo, que contempla Antônio com um belo chapéu ou com um acento agudo no
cocuruto. Bota o pé na fôrma, cara! Como pode perder um gol feito? Depois de tantos feitos, o craque sofre um baque.
Completamente fora de forma, informa que desta vez pára, vai para casa curtir a vida ao lado da família.
Maravilha! Difícil é responder ao boleiro: como pôde perder aquele gol, cara
a cara com o goleiro?! Sem o acento agudo vai faltar conteúdo àqueles que forem às assembléias para emitir suas idéias. Já o
dia-a-dia do hífen (traço-de-união) instiga a desunião, continua um tormento, coisa de inter-relacionamento.
Agora, como pode um manda-chuva perder o seu sinal e ir direto para o quintal da viúva? Ou ele está sem vergonha ou se tornou
um tremendo sem-vergonha... O certo é que estes sinais estão com os dias contados; assim, os coitados vão viver
apenas de exceção. A regra só vale para os desregrados escritores que aprontavam horrores em Paris: Müller e Anaïs.
Intranqüilo mesmo é o autor que se guarda em sigilo, e usa a Internet para encaminhar o seu protesto. Ressalta a falta que faz
o trema, dispara uma verborragia extrema, e com a adrenalina a mil xinga a tudo e a todos, de delinqüentes ortográficos a
seres de índole eqüina. Suas mãos ensangüentadas e justiceiras quebram os pingüins das geladeiras.
E o trema, lá, nos estertores... Como aliviar minhas dores sem o trema do ungüento? Como freqüentar o Aterro [do
Flamengo] se o trema foi pro desterro? Como argüir meus amigos da Confraria? Como dar seqüência à beleza da poesia? Como
participar do séqüito ao ídolo? Como fechar o capítulo do romance, sem seqüelas? Como assar na brasa uma lingüiça? Como partir
da premissa de escrevinhar por mais um qüinqüênio - ou um qüindênio? Como seqüestrar as mazelas do coração de Graziela? Como
agüentar as conseqüências naturais de mudanças tão radicais? Como deixar de ser inconseqüente se, de repente, o trema e sinais
afins vão para os confins e periferias da Velha Ortografia?
O que me desafia é entender o mistério que envolve esse cemitério de sinais,
inconformados, que pagam seus pecados por terem dado beleza e frescor a uma linguagem brasileira, tornando-a mais brejeira,
mais plena de cores, e mais bonita que a linguagem nativa dos colonizadores.
Na cerimônia de extrema-unção, sem ter o que fazer com essa cara tristonha, respiro fundo e rezo uma última oração ao
moribundo. E antes que a minha voz trema, dou um urro primal: ADEUS, TREMA!!! Depois, cismo de pegar uma figura de retórica, o
paradoxismo, que finalmente me posiciona - de forma simples ou grandiloqüente - nas teias metafóricas de um silêncio
eloqüente...
Edson Teixeira |
Resposta de Mario Persona em 5/1/2009 07:43
Prezado Lúcio,
Circunflexo sobre meu notebook, fui surpreendido por seu e-mail e pelo comentário agudo com acento carioca que, diga-se
de passagem, é consoante à sua crase. Você espera que eu trema de sua preposição? Pareceu-me ser essa a tônica do julgamento
vogal que fez de minha decisão de adotar a nova ortografia.
Apesar de você tentar pontuar, com acentuado sarcasmo, minha adesão à reforma ortográfica, saiba que isso não me torna um
entusiasta da causa. A reação normal, na minha idade, está mais para buscar outro tipo de reforma. Mas, como já não tenho
reforma e nem estou reformado, adoto a nova ortografia como forma de garantir meu assento no mercado.
No fundo, o objetivo do acordo ortográfico é acabar com o excesso de letrinhas do português de Portugal. Para que fosse
acordo, o Brasil acordou com mudanças mínimas, só pra português ver. O português, que trabalhava de facto, agora irá trabalhar
de fato. A gravata permanece a mesma.
Qualquer um sabe que antes de reformar é preciso construir, algo que ainda não foi feito no Brasil e na maioria dos países que
falam Camões. A reforma nem será percebida em muitas escolas onde "acento" ainda é sinônimo de cadeira. Vi uma professora de
português, que ia se casar, convidar as amigas com um cartãozinho grafado "Chá de Conzinha". Pode apostar que professoras
assim adotarão a nova ortografia e passarão a ensinar que o coletivo de aranhas é alcateia.
Para quem digita, as vantagens da nova ortografia são proporcionais aos acentos eliminados. Quantas vezes você precisou voltar
ao "u" para colocar o trema? O corretor de meu Word vivia rindo da minha cara com seus lábios ondulados sob a palavra. Agora
sou eu quem ri. Deixei o Word de lado e adotei o Writer do BrOffice, pelo menos até a Microsoft, corrigir seu corretor. O Bill
Gates deve estar preocupadíssimo com minha decisão.
Não aguento você arguir que usamos pouco o antiquíssimo trema. Isso é consequência da obliquidade de seu julgamento exíguo de
minha linguística. Ainda que eu enxágue meus textos da vã eloquência, até mesmo um delinquente, um alcaguete ou um equino sabe
que é inexequível um texto sem trema na velha ortografia. Especialmente por ser este um alcaguete herdado da consanguinidade
literária de um idioma grandiloquente como o nosso.
É inegável que a reforma movimentará o mercado para adaptar tudo e todos aos novos tempos ortográficos. A falta de informação
criará situações inusitadas, como a da empresa que há alguns anos teve sua importação barrada por um funcionário da alfândega.
A documentação, preenchida no exterior com caracteres não acentuados, indicava a importação de "macas", mas as caixas traziam
"maçãs". Portanto, não se surpreenda se encontrar algum "adevogado" por aí querendo processar, por assédio sexual, quem entrar
na secretaria. E também por agressão, se bater antes de entrar.
A eliminação dos acentos acentuará o ganho das agências de comunicação, que prestarão
serviços de correção dos textos de seus clientes em sites e material impresso. Publicitários e gráficas ganharão com a reforma
geral das embalagens de seus clientes. Ainda vamos ver embalagens de linguiça com "Zero Trema". E por que não, se até
embalagem de água já traz "Zero Caloria"?
Ainda vamos ver na TV entrevistas com "especialistas" sobre os benefícios de se comer linguiça sem trema:
Entrevistadora: "Você acha que a venda de linguiça sem trema será obrigatória em nosso país?"
Entrevistado: "Bem, caso isso aconteça, o Brasil poderá importar o produto de Portugal até adaptar sua produção. Os
portugueses sempre fabricaram linguiça sem trema".
A reforma ortográfica trará problemas para alguns segmentos na hora de vender seus produtos. É o caso dos fabricantes de
para-raios. Aquilo que antes servia para parar os raios tornou-se um aliado deles. Os familiares de paraquedistas já não
poderão processar o fabricante do equipamento que não abriu. Afinal, apenas a versão antiga tinha a função de parar quedas. A
nova é feita para elas acontecerem.
Apesar de não saltar, me preocupo por viajar muito de avião, mas não pense que eu trema por isso. A reforma não irá afetar o
software das aeronaves, que é escrito em inglês sem acentuação, evitando assim um "Bug do Milênio" só nosso, tipo "Bug
do Português". O problema está na fila. Em um país onde o acesso a uma boa educação foi atropelado pelo acesso a um maior
poder de compra, imagine as filas nos balcões das companhias aéreas, com as pessoas querendo saber se precisarão viajar de pé
no voo que perdeu o acento.
---
Mario Persona www.mariopersona.com.br é escritor, palestrante e consultor de comunicação e marketing. |
Dessa troca de mensagens na
comunidade Widebiz resultou a crônica que Mario Persona publicou em seu
MP Cafe resumo 239:
Reforma ortográfica
© Mario Persona
Prezado amigo: Circunflexo sobre meu notebook, fui surpreendido por seu e-mail e pelo comentário agudo com acento
carioca que, diga-se de passagem, é consoante à sua crase. Você espera que eu trema de sua preposição? Pareceu-me ser essa a
tônica do julgamento vogal que fez de minha decisão de adotar a nova ortografia.
Apesar de você tentar pontuar, com acentuado sarcasmo, minha adesão à reforma ortográfica, saiba que isso não me torna um
entusiasta da causa. A reação normal, na minha idade, está mais para buscar outro tipo de reforma. Mas, como já não tenho
reforma e nem estou reformado, adoto a nova ortografia como forma de garantir meu assento no mercado.
No fundo, o objetivo do acordo ortográfico é acabar com o excesso de letrinhas do português de Portugal. Para que fosse
acordo, o Brasil acordou com mudanças mínimas, só pra português ver. O português, que trabalhava de facto, agora irá trabalhar
de fato. A gravata permanece a mesma.
Qualquer um sabe que antes de reformar é preciso construir, algo que ainda não foi feito no Brasil e na maioria dos países que
falam Camões. A reforma nem será percebida em muitas escolas onde "acento" ainda é sinônimo de cadeira. Vi uma professora de
português, que ia se casar, convidar as amigas com um cartãozinho grafado "Chá de Conzinha". Pode apostar que professoras
assim adotarão a nova ortografia e passarão a ensinar que o coletivo de aranhas é alcateia.
Para quem digita, as vantagens da nova ortografia são proporcionais aos acentos eliminados. Quantas vezes você precisou voltar
ao "u" para colocar o trema? O corretor de meu Word vivia rindo da minha cara com seus lábios ondulados sob a palavra. Agora
sou eu quem ri. Deixei o Word de lado e adotei o Writer do BrOffice, pelo menos até a Microsoft, corrigir seu corretor. O Bill
Gates deve estar preocupadíssimo com minha decisão.
Não aguento você arguir que usamos pouco o antiquíssimo trema. Isso é consequência da obliquidade de seu julgamento exíguo de
minha linguística. Ainda que eu enxágue meus textos da vã eloquência, até mesmo um delinquente, um alcaguete ou um equino sabe
que é inexequível um texto sem trema na velha ortografia. Especialmente por ser este um alcaguete herdado da consanguinidade
literária de um idioma grandiloquente como o nosso.
É inegável que a reforma movimentará o mercado para adaptar tudo e todos aos novos tempos ortográficos. A falta de informação
criará situações inusitadas, como a da empresa que há alguns anos teve sua importação barrada por um funcionário da alfândega.
A documentação, preenchida no exterior com caracteres não acentuados, indicava a importação de "macas", mas as caixas traziam
"maçãs". Portanto, não se surpreenda se encontrar algum "adevogado" por aí querendo processar, por assédio sexual, quem entrar
na secretaria. E também por agressão, se bater antes de entrar.
A eliminação dos acentos acentuará o ganho das agências de comunicação, que prestarão serviços de correção dos textos de seus
clientes em sites e material impresso. Publicitários e gráficas ganharão com a reforma geral das embalagens de seus clientes.
Ainda vamos ver embalagens de linguiça com "Zero Trema". E por que não, se até embalagem de água já traz "Zero Caloria"?
Ainda vamos ver na TV entrevistas com "especialistas" sobre os benefícios de se comer linguiça sem trema:
Entrevistadora: "Você acha que a venda de linguiça sem trema será obrigatória em nosso país?"
Entrevistado: "Bem, caso isso aconteça, o Brasil poderá importar o produto de Portugal até adaptar sua produção. Os
portugueses sempre fabricaram linguiça sem trema".
A reforma ortográfica trará problemas para alguns segmentos na hora de vender seus produtos. É o caso dos fabricantes de
para-raios. Aquilo que antes servia para parar os raios tornou-se um aliado deles. Os familiares de paraquedistas já não
poderão processar o fabricante do equipamento que não abriu. Afinal, apenas a versão antiga tinha a função de parar quedas. A
nova é feita para elas acontecerem.
Apesar de não saltar, me preocupo por viajar muito de avião, mas não pense que eu trema por isso. A reforma não irá afetar o
software das aeronaves, que é escrito em inglês sem acentuação, evitando assim um "Bug do Milênio" só nosso, tipo "Bug
do
Português". O problema está na fila. Em um país onde o acesso a uma boa educação foi atropelado pelo acesso a um maior poder
de compra, imagine as filas nos balcões das companhias aéreas, com as pessoas querendo saber se precisarão viajar de pé no voo
que perdeu o acento.
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Mario Persona é escritor, palestrante e consultor de comunicação e marketing.
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