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Movimento Nacional em Defesa
da Língua Portuguesa
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NOSSO IDIOMA
Leio... Logo existo
Marcus Garrett (*)
Há quem pense "David Copperfield" tratar-se do nome de famoso
ilusionista. Há, tampouco, o que toma "Tom Jones" por nome de roqueiro. "Ana Karenina", há quem a tome como famosa jogadora Russa de
tênis. Você se encontra na situação acima descrita? Mesmo? Desculpe-me: precisa urgentemente da leitura!
O atual emburrecimento da massa brasileira tem patrocínio a ela impingido por duas
vertentes extremamente presentes ao nosso cotidiano: a obsessão pelo visual e pelo belo, assim como a obsessão pelos programas
televisivos batizados de reality shows (bem representados pelos programas Big Brother Brasil e Casa dos Artistas).
Onde estivermos, aonde andarmos, projeta-se sobre nós o ideal de beleza corrente e, por
conseguinte, incute-se à força bruta em nossas mentes o referido modelo, o qual se pretende atingir de quaisquer maneiras,
invariavelmente. Tal utopia é onipresente: seja na televisão, seja nas revistas, seja nos jornais, o indivíduo é sumariamente
bombardeado por esse dogma ao ponto de desconsiderar coisas tão importantes e vitais como a leitura e a subseqüente evolução
intelectual.
O sujeito deseja observar a mulher seminua no comercial de televisão; o garoto objetiva
ficar malhado conforme o galã do programa infanto-juvenil; a adolescente visa ao estereótipo de beleza das modelos
internacionais - o círculo vicioso persiste infinitamente. As obsessões pelo corpo perfeito e pela beleza são, seguramente, males
contemporâneos ao nosso país; a burrice, a ignorância e a desinformação são delas oriundas em grande parcela.
Além do pífio ideal de beleza, o prazer é valorizado sobremaneira na sociedade atual. Tudo é
voltado ao prazer sumário e absoluto: o adolescente deseja saltar de bungee jump; o garotão quer aprender Jiu Jitsu, visando
a molestar o próximo e a se exibir; a universitária ingere enormes quantidades de álcool, a fim de “fazer bonito” para as colegas; e
assim por diante.
O brasileiro vive nessa maratona da busca pelo prazer, estando contaminado por drogas cujos
nomes são egocentrismo e adrenalina. Há nítida impressão de que o jovem não cultiva ideais, não tem perspectivas de vida, não
procura melhorar a situação na qual se encontra inserido, não nutre questionamentos acerca de nada; portanto, acaba por apostar
todas as suas forças e todo o seu tempo na busca pelo prazer e pela beleza.
Tenho o seguinte pensamento: se o escritor irlandês Oscar Wilde - ainda que conhecido
admirador da vida mundana e valorizador do belo - vivesse atualmente no Brasil, ficaria extremamente decepcionado com nossa
sociedade.
Os tais reality shows são outros grandes profanadores da inteligência e do
amadurecimento intelectual de nosso povo. O brasileiro da massa é, de forma contundente, um excluído dos mundos acadêmico e
intelectual devido à condição sócio-econômica à qual está fadado por natureza, infelizmente.
Pão e Circo - Aliadas a essa condição notória, as emissoras de TV do País levam à
sala desse brasileiro programas do quilate dos já mencionados, por meio dos quais o telespectador aplaude e valoriza a
burrice, a estupidez e a ignorância alheias.
Na Roma da Antiguidade Clássica, César dava à massa pobre e faminta os espetáculos vividos
no Coliseu; era a chamada política do “Pão e Circo”. Ao povo fornecia-se pão - para saciar a fome - e shows de combates entre
gladiadores - para saciar a mente. A massa, por conseguinte, dificilmente se rebelava contra os governantes daquela cidade, uma vez
que estava alimentada tanto fisicamente quanto mentalmente. Será mesmo? Isso será suficiente?
No Brasil de hoje também acontece a política do "Pão e Circo", entretanto, ao invés das
batalhas entre gladiadores e das corridas de bigas, temos nossos reality shows, nosso Futebol e nosso Carnaval, dentre outros
circos. A diferença básica existente na política original é: os Romanos recebiam pão; no Brasil a fome mata. Esses programas
são, como citei, outro fator determinante ao emburrecimento do brasileiro, pois dissimulam a atenção desse à prática da leitura e do
crescimento intelectual, ao passo que levam seus participantes a serem erroneamente cultuados e admirados pelo povo. Pergunto:
quando, na História da Humanidade, admirou-se, de modo tão óbvio, a burrice e a ignorância?
A literatura é uma das formas da Arte que nos proporciona crescimento enquanto seres
humanos, enquanto pessoas. As obras literárias nos levam aos lugares mais diversos sem precisarmos nos deslocar fisicamente. O livro
é um mundo em si próprio. Ler nos faz aprender a pensar, aprender a raciocinar e aprender a enxergar as coisas nas entrelinhas
da vida. A cada livro lido, torno-me num indivíduo diferente, pois a mim é possível - entre tantas coisas - enxergar por meio dos
olhos de outrem e, eventualmente, repensar minha vida, bem como rever ideais e filosofias pré-concebidos.
É preciso ao povo brasileiro criar coragem e dar as costas a esse sedutor
mundo atual, repleto de falsas belezas e de frívolos valores. É preciso ler! A nós é necessário deixar um bom legado aos filhos, aos
netos, às futuras gerações; é preciso quebrar essa estúpida corrente em cujo elo avô e neto partilham do mesmo subemprego. Isso só é
possível mediante a leitura! Descubra o enorme prazer de ler, é tão simples! Sugiro a compra de alguns livros a ser feita num sebo
qualquer, pois existe a possibilidade, por exemplo, da compra de excelentes volumes da Literatura Universal por míseros cinco ou dez
reais. É preciso ter a coragem de começar, mas, primeiramente, é preciso existir o desejo de ler.
Mude sua vida! Leia! A literatura é arma vital contra a ignorância. O mundo de hoje se
encontra da forma em que está devido à ignorância; essa provoca a ira entre os povos, provoca o racismo desmedido e provoca a
intolerância. Tenha a coragem de mudar!
Assim, fortalecido, você poderá descobrir quem realmente são "David Copperfield", "Tom
Jones" e "Ana Karenina".
É, "leio, logo existo".
(*)
Marcus Garrett tem página própria na Web,
Vozes de Cybertron, e destaca ainda o
Projeto Mosaico. |