Invasão
Paulo Roberto Schiff (*)
Big Brother Brasil é um reality show. China in the Box tem delivery? Trade
Car convida para test drive. Anthony instalou um home theater no living.
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E assim vai. Todas são frases familiares para nós brasileiros. E o denominador comum delas
é o número de palavras estrangeiras maior que o de nativas. Expressões como essas, da língua inglesa, tomaram conta do nosso
cotidiano de maneira impressionante.
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Que significado tem esse fenômeno? Que aspecto da nossa alma ele escancara?
Por que será que é site e não página na Internet? Por que fast food e não
lanche rápido? Por que software, hot line, talk show, e-mail, marketing, country music?
Será que as palavras luso-brasileiras perderam a força? Será que foi a credibilidade que se esgarçou?
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Não se trata de remar contra a corrente. Nem de lutar contra moinhos de vento. A questão de
fundo é desvendar essa descaracterização da linguagem do brasileiro de classe média. Que aprofunda ainda mais o fosso que separa
a elite - que estuda inglês - da legião de excluídos. Que torna a realidade ainda mais incompreensível para quem não tem acesso
à educação – a maioria.
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A línguagem é dinâmica. Incorpora novos termos e coloca outros em desuso. Que algumas
palavras do inglês, mais expressivas, ganhem espaço entre nós e até preencham vácuos da língua portuguesa – show,
marketing – é natural e compreensível. A imitação desenfreada, a macaquice é que faz o brasileiro ridículo quando freeza
uma imagem ou deleta um erro de digitação.
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Não precisa ser assim. Tem a França, a Espanha, a China e tantas outras nações que
aprenderam a preservar a linguagem. E, com ela, os valores culturais, patrimônio maior de uma comunidade. Há um movimento
nacional em defesa da língua portuguesa. Que precisa ser vitaminado. Para que o Sítio do Pica-pau Amarelo, a turma da Mônica e a
Gabriela do Cravo e da Canela continuem competindo com o Harry Potter e o Pikachu e encantando com brasilidade as gerações que
vêm por aí.
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Paulo Roberto Schiff é jornalista. |