José Pascoal Vaz (*)
Fórum Social Mundial - Sementes de Esperança
Estivemos em Porto Alegre participando do II FSM, 31/jan a 5/fev. Voltamos com os bolsos
cheios de sementes de esperança. Nada mais do que isto. Mas em mundo e Brasil de tanta desagregação social, estas sementes
representam tudo e muita coisa.
Apesar dos pesares, ainda há terra fértil, clima bom e água em abundância. Basta que nos
transformemos em "jardineiros de homens", como diz Exupéry em Terra dos Homens. Ou que tenhamos em mente Tolstoi: "O
objetivo da vida é a união da espécie humana", citação de J. North em Nenhum Homem é Estrangeiro, livro alter ego
do inesquecível Prefeito David Capistrano, humanista eterno.
A quantidade de jovens de olhos brilhando emocionou-nos. Há encontros de todas as
formas. Desencontros, talvez nenhum. A diversidade - isto sim, riqueza - é infinita. Foram entre 50 mil e 70 mil participantes,
de cerca de 150 países, 27 grandes conferências, 140 seminários, 800 oficinas e dezenas de testemunhos, além de várias
manifestações simultâneas.
A primeira semente a plantar é a da transformação pessoal, interior, a da
conscientização de que a competição destrói os objetivos de Exupéry e Tolstoi e, portanto, qualquer sonho socialista. Germinando
esta, todas as demais darão como fruto uma sociedade justa.
O FSM é encantador. Fomos lá representando duas entidades.
Uma, o MNDLP - Movimento Nacional em Defesa da Língua Portuguesa. Discutimos como os
estrangeirismos - delivery, personal bank, fast food, coffee-break, school bus etc. - influem
no funcionamento da economia de país tão desigual quanto o nosso, ajudando a excluir mais e mais pessoas.
A outra é a UniSantos, a quem já representáramos no I FSM/2001, quando divulgamos a
criação do NUDES - Núcleo de Estudos da Desigualdade Social. Havia bom número de pessoas da Baixada, do "Comitê Santista pelo
FSM" que, como diz seu primeiro organizador, o jovem Pablo, está aberto a todos que acreditam que "um outro mundo é possível",
lema do FSM.
Havia também pessoas de outros movimentos, associações e sindicatos da região. O grande
desafio agora, a cada um dos que lá estiveram, é disseminar - espalhar o mais longe possível - os objetivos do FSM. Um bom
início é divulgar a página da Internet - www.forumsocialmundial.org.br - onde
se encontra tudo sobre o FSM, inclusive muitas das palestras proferidas. O outro desafio é estar atento aos oportunistas e à
tentação de certas ofertas de dinheiro ao FSM, pois nem todas devem ser aceitas. À semeadura, pois.
(*) José Pascoal Vaz é economista e professor.
Obs.: no texto original constava a informação de terem ocorrido 480 oficinas. O
correto é 800 oficinas, como foi citado em errata na edição de 24/2/2002 desse jornal. |