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Movimento Nacional em Defesa
da Língua Portuguesa
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NOSSO IDIOMA
Do Brasil que temos ao Brasil que queremos
José Pascoal Vaz (*)
ATENÇÃO
É um prazer dividir minhas idéias, angústias e esperanças com
as pessoas que se disponham a analisar os quadros a seguir. No entanto, peço atenção para:
Estes são quadros de
palestra longa, muitas vezes dada em mais de um período; outras vezes, mesmo como curso.
É preciso atentar para
o fato de que, sobre cada quadro, são feitos inúmeros comentários adicionais. A leitura simples dos quadros precisa levar isto em
conta.
Devido à quantidade de
informações e à diversidade de conceitos, o conjunto de quadros é adaptado aos objetivos de cada encontro.
Por falta de tempo,
alguns dados e informações que, sabemos, se alteram vagarosamente, não estão totalmente atualizados. As conclusões, todavia,
permanecem.
CAMPOS DO SENHOR "... um grupo de deputados americanos chegou ao campo de refugiados de Korem, na devastada província de Wallo, no
Norte da Etiópia. Seu objetivo era o de apurar, in loco, os efeitos catastróficos da fome que, há um ano e meio assola o
paupérrimo país do Nordeste da África. Sem nada para oferecer aos 50 mil flagelados, os membros da comissão improvisaram.
Empunhando uma caneta, o diplomata Leonard Lefcow, que acompanhava o grupo, passou a desenhar bichinhos e caretas nas palmas das
mãos de uma interminável fila de meninos e meninas. Ao mesmo tempo, com canetas absolutamente iguais, os três médicos franceses
trabalhando como voluntários no campo executavam uma tarefa macabra. Como os carregamentos de alimentos não chegam para todos,
os médicos determinaram que só recebe comida quem tiver alguma possibilidade de sobrevivência. Os escolhidos são marcados, a
caneta, com uma cruz na testa. Os outros estão condenados."
(Fonte: revista Isto é, 12/12/84)
|
QUAL SENHOR?
ATITUDE FILOSÓFICA
"...uma primeira resposta à pergunta 'O que é Filosofia?' poderia ser: A decisão de não aceitar
como óbvias e evidentes as coisas, as idéias, os fatos, as situações, os valores, os comportamentos de nossa existência cotidiana;
jamais aceitá-los sem antes havê-los investigado e compreendido."
(CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1994 – pg. 12.)
"...questões filosóficas. O cientista parte delas como questões já respondidas, mas é a
Filosofia quem as formula e busca respostas para elas. ...Assim, o trabalho das ciências pressupõe, como condição, o trabalho da
Filosofia, mesmo que o cientista não seja filósofo." (CHAUÍ, 1994 – pg. 13)
"...o que... como... por que... A atitude filosófica
inicia-se dirigindo essas indagações ao mundo que nos rodeia e às relações que mantemos com ele. Pouco a pouco, porém, descobre que
essas questões se referem, afinal, à nossa capacidade de conhecer, à nossa capacidade de pensar" (CHAUÍ, 1994
- pg. 14)
Para Adorno, pensar exige quebrar a estrutura do pensamento. Para Einstein, quebramos o
átomo mas não os preconceitos.
"...a Filosofia...opera com conceitos ou idéias obtidos por procedimentos de demonstração e
prova, exige a fundamentação racional do que é enunciado e pensado. Somente assim a reflexão filosófica pode fazer com que nossa
experiência cotidiana, nossas crenças e opiniões alcancem uma visão crítica de si mesmas." (CHAUÍ, 1994 - pg.
15)
BRASIL: SITUAÇÃO SOCIAL
|
|
Brasil |
Cuba |
Lituânia |
Macedônia |
PIB per capita (US$ PPC) |
|
|
|
|
Valor |
6480 |
3100 |
4220 |
3210 |
Colocação (174 países) |
63º |
105º |
84º |
101º |
IDH/PNUD (expectativa de vida, educação, PIB per capita) |
|
|
|
|
Colocação (174 países) |
79º |
58º |
62º |
73º |
|
Brasil |
Cuba |
Paraguai |
China |
PIB per capita (US$ PPC) |
6480 |
3100 |
3980 |
3130 |
Analfabetismo (acima de 15 anos) |
16% |
4% |
8% |
8% |
|
Brasil |
Cuba |
Equador |
Jordânia |
PIB per capita (US$ PPC) |
6480 |
3100 |
4940 |
3450 |
Crianças abaixo do 5º ano |
29% |
0% |
15% |
2% |
|
Brasil |
Egito |
Jamaica |
Guiana |
PIB per capita (US$ PPC) |
6480 |
3050 |
3440 |
3210 |
População sem água potável |
24% |
13% |
14% |
9% |
População sem saneamento |
30%
(48 milhões) |
12% |
11% |
12% |
|
Brasil |
Cuba |
Jamaica |
Croácia |
PIB per capita (US$ PPC) |
6480 |
3100 |
3440 |
4895 |
Mortalidade infantil (p/1000 NV) |
|
|
|
|
até 1 ano (AL=70, RS=19) |
36 |
7 |
10 |
8 |
até 5 anos |
44 |
8 |
11 |
9 |
(PIB = Produto Interno Bruto; PIB pc ou PPC = PIB per capita (por pessoa);
NV = Nascidos vivos; AL= Alagoas; RS = Rio Grande do Sul)
Dos números frios à realidade insuportável:
Adotando a taxa de mortalidade da Croácia: 8 p/ 1.000 nascidos vivos) e considerando a taxa
anual de natalidade de 2,1% da população estimada (taxa de crescimento populacional de 1,3% ao ano), para a população de 168 milhões
de habitantes, teremos: nascimentos/ano = 168 milhões x 0,021 = 3,6 milhões de crianças. Aplicando taxa
desnecessária (36 – 8 = 28) temos (28/1000)
x 3,6 milhões = 100 MIL CRIANÇAS SÃO “ASSASSINADAS” A CADA ANO NO BRASIL
|
Brasil |
Jamaica |
República Dominicana |
Tunísia |
PIB per capita (US$ PPC) |
6480 |
3440 |
4820 |
5300 |
Pobreza (%, pop. com menos de 1 US$ PPC/dia) observada |
|
|
|
|
No Nordeste |
44% |
|
|
|
No Sul |
19% |
|
|
|
No país (49 milhões de hab.) |
29% |
5% |
20% |
4% |
"adequada" (cf. autoridades) |
17% |
32% |
21% |
14% |
Fonte: ONU/PNUD/RDH-99 (com exceção de população: IBGE/PNAD-97) |
Brasil: histórico da perda da participação do
salário mínimo
Fonte: DIEESE/PROCON-SP - Elaboração: DIEESE
Perda de poder aquisitivo em termos práticos
(Fonte: DIEESE/SP)
|
|
1959
|
SM=R$ 151,00 maio/2000 |
carne (coxão mole - kg) |
94
|
26
|
(-72%)
|
leite (tipo C – litros) |
492
|
187
|
(-62%)
|
feijão (kg) |
242
|
119
|
(-51%)
|
arroz (kg) |
210
|
182
|
(-13%)
|
pão (kg) |
255
|
58
|
(-77%)
|
passagens ônibus SP/Capital Q) |
1180
|
131
|
(-89%)
|
O valor de 1 escravo, aplicado às taxas de juro de hoje, renderia
R$ 300,00/mês(fonte: programa de TV
do PSB, abr/2000)
Salário mínimo = R$ 151,00/mês |
100 |
condução [R$ 1,20/viagem, 2 vezes/dia, 22 dias/mês = R$
52,80/mês] |
35 |
jornal [R$ 1,30/dia (considerando domingo), 30 dias por
mês = R$ 39,00] |
26 |
faculdade (apenas mensalidades): |
|
cursos comuns (R$ 350,00/mês)
|
232 |
cursos como Medicina, ... (R$ 1.700,00/mês)
|
1126 |
1 livro (R$ 30,00) |
20 |
1 consulta médica (R$ 80,00) |
53 |
plano de saúde (casal jovem com 2 filhos => R$ 400,00/mês) |
265 |
1 média c/ pão e manteiga (R$ 1,00/dia, 30 dias) |
20 |
Portanto: para 1 casal com 3 filhos, o salário mínimo atual é suficiente apenas para 1
média com pão e manteiga por dia para cada um. |
|
Salário mínimo necessário por família para cumprir o decreto-lei 399/1938 que o criou
(nacional e unifificado, suficiente para proporcionar moradia, educação, saúde, alimentação, lazer etc,)
=> R$ 967,21 (março de 2000, cálculo DIEESE) |
711 |
perda
1938 => R$ 967,21 (março/2000)
2000 => R$ 151,00 (maio/ 2000)
R$ 816,21 => menos 84%, reais |
|
...mas, será significativo o número dos que ganham salário mínimo?
VEJAMOS:
PEA – População Economicamente Ativa
[maiores de 14 anos, ocupados (formal + informal) e desocupados (desde que estejam
procurando emprego)] = |
75,2 milhões |
Renda: |
pessoas
|
acumulado
|
|
sem rendimento |
13,4 milhões
|
13,4 milhões
|
18%
|
|
até ½ salário mínimo |
3,9 milhões
|
17,3 milhões
|
23%
|
|
½ a 1 salário mínimo |
10,6 milhões
|
27,9 milhões
|
37%
|
|
1 a 2 salários mínimos |
13,5 milhões
|
41,4 milhões
|
55%
|
|
2 a 3 salários mínimos |
9,9 milhões
|
51,3 milhões
|
68%
|
|
3 a 5 salários mínimos |
10,0 milhões
|
61,3 milhões
|
82%
|
|
5 a 10 salários mínimos |
7,4 milhões
|
68,7 milhões
|
91%
|
|
10 a 20 salários mínimos |
3,5 milhões
|
72,2 milhões
|
96%
|
|
mais de 20 s. mínimos |
2,1 milhões
|
74,3 milhões
|
99%
|
|
não declararam |
0,9 milhões
|
75,2 milhões
|
100%
|
|
Aposentados |
15,9 milhões |
ganham 1 salário mínimo (conforme o ministro do Trabalho, Dornelles) |
12,2milhões |
77%
|
|
Aposentados + economicamente ativos |
91,1 milhões |
ganham até 1 salário mínimo
(12,2 + 27,9 milhões) |
40,1 milhões |
44% |
|
(*) IBGE/PNAD 1997
|
Pobres e miseráveis: a exatidão estatística dispensável |
(milhões) |
Pobres |
|
PNUD (pessoas com menos de 1 dólar PIB per capita/dia) |
46 |
CEPAL (pessoas com menos de R$ 100,00/mês) |
57 |
IPEA (pessoas com menos de ½ salário mínimo/mês) |
55 |
Miseráveis |
|
CEPAL (pessoas com menos de R$ 50,00/mês) |
21 |
IPEA (pessoas com menos de R$ ?) |
16 |
Pessoas de 10 anos ou mais de idade, ocupadas na semana de
referência, por classe de rendimento mensal do trabalho principal |
69,9 milhões |
Renda: |
pessoas
|
acumulado
|
|
sem rendimento |
9,7 milhões
|
9,7 milhões
|
13,9%
|
|
até ½ salário mínimo |
4,0 milhões
|
13,7 milhões
|
19,6%
|
|
½ a 1 salário mínimo |
10,9 milhões
|
24,6 milhões
|
35,2%
|
|
1 a 2 salários mínimos |
14,6 milhões
|
39,2 milhões
|
56,1%
|
|
2 a 5 salários mínimos |
18,5 milhões
|
57,7 milhões
|
82,5%
|
|
5 a 10 salários mínimos |
6,9 milhões
|
64,6 milhões
|
92,4%
|
|
acima de 10 s. mínimos |
4,4 milhões
|
69,0 milhões
|
98,7%
|
|
não declararam |
0,9 milhões
|
69,9 milhões
|
100%
|
|
Aposentados |
15,9 milhões |
ganham 1 salário mínimo (conforme o ministro do Trabalho, Dornelles) |
12,2milhões
|
76,7%
|
|
Aposentados + economicamente ativos |
85,8 milhões |
ganham até 1 salário mínimo
(12,2 + 24,6 milhões) |
36,8 milhões |
42,9% |
|
(*) IBGE/PNAD 1998 |
Folha de São Paulo, 13/7/97
Fonte: Datafolha - 15.688 entrevistados em 411 municípios
Resultados (alguns) da população brasileira (168 milhões):59% (99 milhões) excluídos (à margem de qualquer meio de ascensão social)
97% (163 milhões) são famílias de renda mensal inferior a R$ 1.120,00
86% (144 milhões) não foram além da 8ª série do primeiro grau
19% (32 milhões) vivem de bicos
“50 MIL CRIANÇAS VIVEM EM LIXÕES NO BRASIL”
manchete da Folha de São Paulo, 17/6/99, página 3-5,
com base em relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef)
|
OLHANDO ALÉM DO BRASIL |
Fome no Mundo |
média 1979/1981
|
920 milhões
|
1995/1997
|
790 milhões
|
(menos 14,1% em 16 anos, ou –0,95% ao ano)
|
|
Declaração de Copenhague sobre o Desenvolvimento Social, 1995:
meta: chegar a 2015 (20 anos) com a fome reduzida à metade (total = 40 anos - com qual
tecnologia?), com redução anual de |
20 milhões
|
|
8 milhões
|
Obs.: 1995/1997 é período anterior às crises financeiras mundiais |
|
Fonte: UNO/FAO e Mailson da Nóbrega (Folha de São Paulo, 15/10/99,
pg. 2-2) |
Número de pobres (os que ganham menos de US$ 1,00/dia) no mundo: |
1987 |
1,2 bilhão de pessoas |
1999 |
1,5 bilhão de pessoas |
2015 |
1,9 bilhão de pessoas (se a tendência for mantida) |
Fonte: BIRD (Folha de São Paulo, 16/9/99, pg. 2-1) |
Pobreza na América Latina
[conceito de pobreza: Renda per capita até US$ (PIB per capita) 2,00/dia]
Fonte: Londoño, Székely e Duryea, 1996,
in Birdsall e Londoño, 1997
BIRD, in Folha de São Paulo,
22/4/2000, pg. 2-1 |
TANTA POBREZA, POR QUÊ?
Será por falta de recursos e de tecnologia?
O Brasil, em termos de produção/disponibilidade, está entre 10 primeiros em:
número de automóveis e
telefones
investimentos
publicitários
absorção de
investimentos estrangeiros
exportação de armas e
soja
produção de ouro, aço,
gusa, armas, alimentos, estanho
imagens via satélite (Landsat)
tamanho de rede de
televisão, empresas siderúrgicas
reservas de urânio,
bauxita, hematita etc.
matas tropicais
usinas hidrelétricas
(1ª = Itaipu, 4ª = Tucuruí)
indústria de papel
Em termos de potencial:
população de 168
milhões de habitantes
povo "bom" (não temos
guerras fratricidas etc.)
superfície de 8,5
milhões de km²
costas de 7.500 km
bom clima
ausência de calamidades
naturais (exceto a seca no Nordeste, solucionável)
solo fértil
consistente e extensa
malha de rios
subsolo rico
energia hídrica,
fóssil, solar, eólica, nuclear
boa infra-estrutura
econômica
boa indústria de bens
de capital
tecnologia avançada
(fibras ópticas, transplantes...)
utilizamos lazer,
sensoriamento remoto
vendemos aviões p/
americanos, ingleses, franceses etc.
vendemos aço para
japoneses e mais 40 países
construímos navios,
trens, metrôs
Tecnologias existentes no mundo:
clonagem animal
celular multimídia
aviões para 500
passageiros, 10.000 m de altura, 1.000 km/h
viagens
interplanetárias
Se não é por falta de recursos e de tecnologia...
não será por insuficiência de crescimento econômico?
|
PIB
(ao ano)
|
População
(ao ano)
|
PIB per capita
(ao ano)
|
PIB Brasil
1970
|
Brasil (1970-1861=109) |
4,6%
US$ Bilhões
(7,4<=1000*)
|
2,2%
|
2,4%
US$
(489<6480*)
|
1000
|
Japão (1960-1878=82) |
4,1%
|
1,2%
|
2,8%
|
593
|
EUA (1960-1840=120) |
3,6%
|
1,9%
|
1,6%
|
351
|
Suécia (1960-1861=99) |
3,1%
|
0,6%
|
2,5%
|
207
|
“URSS” (1958-1860=98) |
2,9%
|
0,9%
|
1,9%
|
168
|
Alemanha (1959-1841=118) |
2,1%
|
0,9%
|
1,2%
|
72
|
França (1960-1841=119) |
1,8% |
0,2% |
1,6% |
52 |
Fonte: Peláez e Suzigam, in Nogueira, Denio
* 6480 => PNUD/RDH-99; 1000 => 6480 x 156 milhões = 1011 |
(1820 a 1987)>>>>
|
PIB per capita
(% ao ano)
|
PIB Brasil
1987
|
Brasil (PIB per capita = 202 em 1820 <=) |
2,1
|
6480
|
Alemanha |
1,9
|
4671
|
Estados Unidos |
1,7
|
3364
|
Suécia |
1,6
|
2854
|
Dinamarca, França e Bélgica |
1,5
|
2428
|
Austrália |
1,4
|
2059
|
Inglaterra |
1,3 |
1746 |
Fonte: Barros, A. “Historical Sources of Brazilian Underdevelopment”,
Revista de Economia Política, 16(62): 123-142, 1996, in Valor, 02/05/2000, pg. F3. |
Brasil: país que mais cresceu no mundo entre 1870 e 1987 |
Fonte: OCDE, in José Serra |
|
1964 |
1984 |
Brasil: colocação na economia mundial |
48º |
8º |
Fonte: Netto, A. Delfim, Só o político pode salvar o economista, Edição do
Autor, 19xx e Figueiredo, João Batista, no seu último discurso como presidente da República (11/3/1985) |
Foram passados para
trás dois países por ano, todo ano (e países que também cresciam).
Em 20 anos, foram
ultrapassados 85% dos países que estavam à nossa frente.
Então, se não é por falta
de recursos,
de tecnologia,
de crescimento
econômico...
não será por excesso de crescimento populacional?
NÃO (embora a educação para o planejamento familiar seja
importante):
(% ao ano) |
PIB
|
População
|
PIB per capita
|
Brasil (1970-1861 = 109) |
4,6
|
2,2
|
2,4
|
(US$ 489 => 6480)
|
Taxa de crescimento demográfico (% ao ano)
|
1950
|
3,0
|
1960
|
2,7
|
1970
|
2,4
|
1980
|
1,7
|
1990
|
1,4
|
2000
|
1,3
|
2010
|
1,0
|
2020
|
0,8
|
Então, se não é por falta
de recursos,
de tecnologia,
de crescimento
econômico,
nem por excesso de
crescimento populacional,
não será por falta de produtividade?
NÃO:
Brasil: evolução da relação salário/produtividade: |
|
Produto real
|
Emprego
|
Produto/
/homem ocupado
|
Salário médio real
|
Salário/
/produtividade
|
1955
|
100
|
100
|
100
|
100
|
100
|
1964
|
206
|
127
|
162
|
126
|
78
|
1985
|
730
|
192
|
362
|
151
|
42
|
1990 |
738 |
200 |
369 |
124 |
34 |
Fonte: Wilson Cano, Introdução à Economia, SP: Unesp, 1998 |
BEM,
se a grande maioria da
população se encontra em situação social tão deplorável;
se o Brasil foi
campeão mundial de crescimento econômico durante um século;
A RESPOSTA COMEÇA A SER DELINEADA:
o grosso da produção é
direcionada para uma minoria
portanto, a renda que
compra tal produção está concentrada nessa minoria (identidade fundamental da Contabilidade Nacional)
DE FATO, basta constatar a concentração da renda
...em termos de Brasil:
|
Coef.
Gini
|
Renda per capita
10% +ricos
10% +pobres
|
Renda per capita
20% +ricos
50% +pobres
|
Renda per capita
20% +ricos
20% +pobres
|
1960
|
0,50
|
34
|
7,5
|
|
1970
|
0,56
|
40
|
10,3
|
|
1980
|
0,59
|
47
|
11,2
|
|
1990
|
0,60
|
78
|
13,5
|
32,1
|
Fontes:
|
Elisa P. Reis/IDS-bulletin,
abr/99, pg. 130
|
IPEA/RDH-Br
1966, pg. 20
|
PNUD/RDH
1999, pg.146
|
Renda per capita
(20%+ricos/20%+pobres), países pinçados entre 51 (Br+50)
|
Sri Lanka 4,4
|
Peru 10,3
|
México 13,5
|
Chile 17,4
|
China 7,1
|
Malásia 11,7
|
Colômbia 15,5
|
África do Sul 19,2
|
Equador 9,7
|
Costa Rica 12,7
|
Venezuela 16,2
|
Panamá 29,9
|
...em termos de Mundo (PNUD/RDH-99,
pg. 3):
SIGNIFICADO ==========>
|
Renda per capita |
Os países da OCDE possuem (final da década 1990) |
Países topo/
Países base
|
população mundial |
19% |
1820
|
3
|
comércio mundial de bens e serviços |
71% |
1870
|
7
|
investimento direto estrangeiro |
58% |
1913
|
11
|
utilizadores da Internet |
91% |
Renda
per capita |
Relação entre as posses do quinto de cima e de baixo (final da década
1990): |
20% + ricos/
20% + pobres
|
mercados de exportação |
86 |
1960
|
30
|
investimento direto estrangeiro |
68 |
1990
|
60
|
linhas telefônicas mundiais |
49 |
1997
|
74
|
As 10 maiores empresas controlavam (1998), do mercado mundial: |
|
pesticidas (de US$ 31 bilhões) |
85% |
comunicações (de US$ 262 bilhões) |
86% |
Desenvolvimento tecnológico mundial (1993) |
10 países eram responsáveis por despesas com Pesquisa & Desenvolvimento |
84% |
patentes concedidas nos países em desenvolvimento e pertencentes a residentes nos
países industrializados |
80% |
Dado que:
Riqueza = capitalização da poupança (parte não gasta da renda)
A grande maioria ganha tão pouco que não consegue poupar nada (=>
riqueza zero)
Tem-se que a concentração da riqueza é infinitamente maior do que a concentração da renda
Brasil: |
1% dos mais ricos detém |
|
14% da renda (IBGE/PNAD-1997) |
|
53% da riqueza (Prof. Reynaldo
Gonçalves/UFRJ) |
Mundo: |
os ativos das 3 pessoas mais ricas eram maiores do que o PIB
dos países mais pobres onde vivem 600 milhões de pessoas (1998) |
Em síntese:
MUITOS VEM TRABALHANDO MUITO PARA POUCOS,
em processo secular de exploração humana
|
Se a Filosofia começa com o espanto (Aristóteles), a relação economia/sociedade é um
manancial filosófico:
como é possível tão
poucos explorarem tanto a tantos por tanto tempo?
será com correntes,
bolas de ferro, grilhões, com armas, que se faz a maioria trabalhar tanto para produzir o sofisticado e supérfluo para poucos, ao
invés de produzir o simples e essencial para si mesma?
Resposta:
NÃO => é com economia de mercado sob renda, riqueza e
conhecimento concentrados, porque:
o empresário investe
pensando no lucro
o lucro depende da
procura pelos produtos
procura = vontade de
comprar + renda disponível
renda disponível no
Brasil está nas mãos de poucos (é das mais concentradas do mundo)
os poucos que detêm a
renda já estão abastecidos do essencial: procuram bens/serviços sofisticados (supérfluos para a grande maioria)
Portanto:
o lucro está na
produção do sofisticado
logo, os empresários
investem em empresas que dão preferência à produção do sofisticado
O Estado, então, é levado:
a investir na
infra-estrutura necessária para sustentar a produção do sofisticado
a gastar com crescentes
demandas sociais
como o poder político
da riqueza e do conhecimento são concentrados
a carga tributária
líquida é insuficiente para atender às demandas sociais.
74% dos gastos sociais
do Estado => 20% + ricos
(Fontes: Min. José Serra, citando pesquisa do BIRD; pesquisa Dr. José Márcio Camargo-PUC/RJ)
Carga tributária x distribuição de renda de países selecionados
|
|
Carga tributária
(% PIB) (fonte* A)
|
Distribuição de renda
20% +ricos/20% +pobres (fonte* B)
|
Estados Unidos |
34,4
|
8,9
|
Japão |
30,8
|
4,3
|
Alemanha |
44,8
|
5,8
|
França |
50,9
|
7,5
|
Itália |
46,4
|
6,0
|
Reino Unido |
40,6
|
9,6
|
Canadá |
43,4
|
7,1
|
Austrália |
33,4
|
9,6
|
Espanha |
40,0
|
4,4
|
Grécia |
39,4
|
|
Nova Zelândia |
40,7
|
8,8
|
Portugal |
41,3
|
|
Coréia do Sul |
25,4
|
|
Hungria |
39,7
|
3,9
|
Polônia |
41,9
|
3,9
|
República Tcheca |
38,9
|
3,6
|
Média aritmética |
39,5
|
6,4
|
Brasil |
28,9 |
32,1 |
(*) Fontes:
A => OCDE e IBGE in BID/Paulo Nogueira Batista Jr., Fiscalização Tributária no Brasil:
Uma Perspectiva Macroeconômica, in Folha de São Paulo, 15/5/2000, pg. B-4 (dados de 1998)
B => PNUD/Relatório do Desenvolvimento Humano/1999/Relação entre PIB per capita
(20% + ricos)/(20% + pobres) - pg. 146 (dados de 1980 a 1998) |
OPORTUNIDADES IGUAIS?
BASQUETE
cesta à altura de 3,05
m
jogadores
participantes:
* em tese: oportunidades iguais para todos
* na prática:
- só jogadores muito altos (homens acima de 2 metros)
EXCLUSÃO
- Homens baixos (com menos de 1,8
metro)
- Mulheres
* intervenção restrita: separação
- Mulheres (inclusão mulheres altas) continua
- Homens
EXCLUSÃO homens e mulheres baixos
BOXE
quadrilátero 4,9 m <
lado < 6,1 m
lutadores
participantes
* em tese: oportunidades equivalentes
para todos
* na prática:
TODOS podem lutar pelo
título mundial
Intervenção
ampla, via
regulamento,
garante
INCLUSÃO |
* 1743: 1º regulamento
categorias (hoje e desde 1904)
- peso mosca (até 51 kg)
- peso pesado (79,4 kg ou
mais)
* luvas (hoje): 114 g a 228 g (conforme categoria) |
PRIVATIZAÇÃO
crítica comum:
- hoje, poucas grandes empresas entram no leilão
logo: ocorre
cartelização do patrimônio público
- tese alternativa "democrática":
* pulverizar a venda de ações (oportunidades iguais
para todos)
mas, na prática: 55% da
população economicamente ativa ganham até 2 salários mínimos => EXCLUÍDOS
. Portanto, propõe-se intervenção específica (oportunidades
equivalentes) garantindo:
* preço médio adequado p/ o Estado
* preços apenas simbólicos para os pobres
* preços bem acima da média para os ricos
- taxa de retorno => não atrativa
- tese alternativa => inviável > EXCLUSÃO
explicação do insucesso: o mercado
- equilibra, iguala preços
- não aceita preços equivalentes (diferentes)
seria aceitar o socialismo ("de cada um conforme suas
possibilidades, a cada um conforme suas necessidades")
Portanto, a solução é
de âmbito muito maior, entre
- Socialismo
- Capitalismo de bem-estar, com o Estado protegendo do mercado os mais
fracos, dando-lhes garantia de oportunidades equivalentes
* regulando o mercado, induzindo a produção pública (ex.:
remédios, camisinha) e privada, de bens essenciais à maioria
* promovendo forte redistribuição da renda, após o que => talvez
redução do Estado
* incentivando o controle social do Estado e do setor privado
Globalização sob o
Neoliberalismo:
Radicaliza a concentração da renda/riqueza => Exclusão
social
PORQUÊ:
Globalização neoliberal: Deus é o Mercado (SUNG, Jung Mo.,
Desejo, mercado e religião, Petrópolis, RJ: Vozes, 1997)
A competência é a Bíblia do mercado transformada de
instrumento para a busca da felicidade em fim em si própria, mesmo que contra a felicidade o
emprego, indispensável à sobrevivência dos pobres (que são a maioria), não atinge a consciência neoliberal que entende ser a
competência, a longo prazo, um bem maior para a humanidade (lembrando o nazismo...)
. algo natural, inquestionável, portanto anti-filosófico
Vejamos a competência dos subdesenvolvidos para enfrentar a
globalização neoliberal (*):
|
América Latina
|
países
desenvolvidos
|
Anos de escolaridade (15 anos ou mais) |
4,3
|
11,3
|
Gastos com Educação (% PIB) |
3,5
|
5,5
|
Graduados universitários (por 1.000 habitantes) |
156
|
592
|
Engenheiros e cientistas (por 100 mil habitantes, população
economicamente ativa) |
99
|
650
|
Gastos em Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) |
|
|
total (% PIB)
|
0,5
|
2,6
|
participação das empresas (% P&D)
|
21
|
57
|
experimental (% P&D) |
27 |
60 |
Fonte: CEPAL/Tendências Econômicas e Sociais na AL e Caribe, 1996
|
(*) Lembrar da diferença atual de competência, da qualidade (educação, por
exemplo) e do tamanho PIB.
Movimento financeiro (derivativos) mundial/1997:
|
US$ 357 trilhões |
PIB mundial/1997: |
US$ 36 trilhões |
Fonte: IBS – International Bank of Settlements, Annual Report/1997 |
Em síntese, conforme o prof. Hermano Tavares, reitor da Unicamp:
Países centrais gastam, em Pesquisa & Desenvolvimento,
40 vezes o que o Brasil gasta
|
Vejamos a situação de competência do Brasil:
taxa de analfabetismo:
Brasil = 14% (Nordeste=27/Sudeste e Sul=8)
|
taxa de analfabetismo funcional (menos 4 anos estudo):
Brasil = 30%
(Nordeste=48/Sudeste=23)
|
Fonte: Síntese IBGE-1999 |
jovens de 15 a 17 anos (idade de ensino médio): |
33% no ensino médio (Argentina = 75%)
|
42% no ensino fundamental
|
25% fora da escola
|
jovens de 20 a 24 anos (idade de ensino superior): |
8% no ensino superior
|
Fonte: Folha de São Paulo, 15/02/2000, pg. 1-2 |
Lembrar ainda as condições gerais de saúde dos alunos, a qualidade do ensino e a falta de
universidades públicas.
A desigualdade social, indo além de limites justos,
democraticamente estabelecidos,
...atua contra a solidariedade social
- A pobreza divina é tolerável
- A desigualdade dos homens é insuportável => violência
...é contra a produtividade social
- Falta de solidariedade: dificulta (ou mesmo impede) a negociação dos ojbetivos coletivos;
exacerba o corporativismo
- a produtividade desigual entre os grupos sociais (muito) diferentes nivela por baixo a
produtividade social média.
...é contra a alocação redistributiva dos recursos, pois a alocação dos investimentos se faz conforme o
perfil de distribuição da renda, da riqueza e do conhecimento.
Solução: todos trabalhando muito
- inicialmente, combatendo a desigualdade social
- depois (vencida a etapa inicial), para todos.
Portanto, precisamos fazer um grande esforço => solidariedade social
(a competência subordinada ao interesse humano)
Projeto de Nação
* Induza os gastos/investimentos (públicos e privados) conforme as necessidades sociais
nacionais (com as pontes "possíveis" com o mundo)
* Reviva as grandes inspirações de Florestan Fernandes, Caio Prado Jr., Darcy Ribeiro, Celso
Furtado, Paulo Freire, ...
Governança mundial
* Respeite a especificidade/soberania das nações
* Controle
- o consumo desbragado dos países ricos
- o movimento financeiro especulativo
(*) José Pascoal Vaz é economista, ex-presidente da Associação
dos Economistas de Santos, ex-secretário de Finanças da Prefeitura Municipal de Santos e professor universitário. Palestra proferida
no dia 27/11/2001, no Sindicato dos Bancários de Santos, durante a cerimônia de encerramento do Projeto Presenteando com Letras
2001. |